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quarta-feira, 3 de abril de 2024

A Jornada de Matteo de Assisi para o Brasil

 


Nas montanhas verdejantes que circundavam a pitoresca vila não longe de Assisi, na região da Umbria, a parte central da Itália, nasceu Matteo, filho de Giovanni e Maria. Era uma manhã ainda fria de primavera quando ele veio ao mundo, envolto nas esperanças e nas expectativas de seus pais, que há muito tempo trabalhavam na terra fértil da região.
Desde os primeiros momentos de sua vida, Matteo foi imerso na beleza rústica e na simplicidade da vida campestre. Cresceu entre os campos ondulantes de oliveiras e vinhas, respirando o ar fresco das montanhas e ouvindo os cânticos dos pássaros que pairavam nos céus azuis.
Seu pai, Giovanni, era um mezzadro respeitado na comunidade, um homem que dedicava suas horas ao trabalho árduo nos campos em troca de uma modesta parcela de terra para cultivar. Sua mãe, Maria, era o coração do lar, uma mulher forte e amorosa que cuidava da casa e dos filhos com dedicação inabalável.
Matteo cresceu rodeado pelo calor da família e pela solidariedade dos vizinhos. Na pequena vila natal, próxima de Assisi, onde todos se conheciam pelo nome e compartilhavam alegrias e tristezas, ele encontrou um senso de pertencimento que moldaria sua visão de mundo nos anos seguintes.
Enquanto o tempo passava, Matteo testemunhava as estações mudarem, cada uma trazendo consigo suas próprias bênçãos e desafios. Ele aprendeu com seu pai os segredos da terra, trabalhando lado a lado nos campos desde tenra idade, enquanto absorvia as histórias e os ensinamentos dos mais velhos na vila.
No entanto, mesmo em meio à tranquilidade da região, Matteo não conseguia ignorar as histórias de parentes e amigos que partiram em busca de oportunidades além-mar. A situação economica da Itália no pós guerra impedia o desenvolvimento e a criação de novos postos de trabalho para uma população que crescia nas cidades pelo abandono do campo. Embora seu coração estivesse profundamente enraizado na terra que o viu nascer, ele sabia que o mundo além das montanhas guardava segredos e possibilidades desconhecidas.
E foi assim que, apesar de sua resistência inicial, Matteo se viu confrontado com uma escolha difícil em 1924, quando a Itália ainda estava se recuperando da guerra, uma série de más colheitas e dificuldades financeiras assolaram sua família e muitos outros na vila. A tentação da emigração tornou-se irresistível, e junto com outras famílias da província, Matteo embarcou em uma jornada incerta em direção ao Brasil, deixando para trás as colinas verdejantes e os laços de sangue que o ligavam à sua terra natal.
Após desembarcar no Porto do Rio de Janeiro, Matteo se encontrou diante de uma paisagem completamente diferente daquela que deixara para trás na Itália. As ruas movimentadas, os sons estridentes e a mistura de culturas o deixaram maravilhado e um pouco atordoado. No entanto, ele sabia que ali estava apenas o início de uma nova jornada.
Ao chegar em Santos e subir a Serra do Mar até São Paulo, Matteo contemplou as vastas plantações de café que se estendiam pela região, compreendendo a magnitude da economia cafeeira que impulsionava o estado. Em São Paulo, ficou tentado a se estabelecer na cidade, seduzido pela promessa de oportunidades infinitas, mas o convite de seu amigo de infância o levou a seguir rumo ao interior até Ribeirão Preto.
Ao chegar em Ribeirão Preto, Matteo imergiu profundamente no universo da construção civil. Seu domínio das técnicas de alvenaria, cultivado desde a infância enquanto auxiliava um tio em suas empreitadas, rapidamente o destacou pela destreza e dedicação. Logo, viu-se envolvido em projetos audaciosos e desafiadores, contribuindo para erigir os fundamentos de uma cidade em pleno crescimento.
Enquanto se entregava ao trabalho árduo durante o dia, Matteo mergulhava de corpo e alma na riqueza da cultura brasileira durante suas horas de folga. Determinado a se integrar completamente, ele dedicou-se a aprender o idioma local, imergindo em festas tradicionais e estabelecendo laços de amizade que transcendiam fronteiras. Foi em uma dessas celebrações que o destino o presenteou com Giulia, uma mulher cativante, cujas raízes italianas ecoavam as suas próprias. O amor entre eles floresceu de forma arrebatadora e rápida, guiando-os a decidir, em pouco tempo, unirem-se em matrimônio.
Com Giulia como sua companheira, Matteo descobriu uma fonte renovada de motivação para alcançar o sucesso. Unidos, eles ergueram sua morada e deram vida a uma família. Matteo persistiu em sua jornada na construção civil, eventualmente fundando sua própria empresa, que ascendeu para se tornar uma das mais conceituadas da região. Enquanto isso, Giulia dedicava-se incansavelmente ao lar e aos filhos, espelhando a mesma devoção e amor que ele testemunhara em sua própria mãe.
Ao longo dos anos, Matteo testemunhou o florescimento de Ribeirão Preto diante de seus olhos, como um jardim que desabrochava com o tempo. Novas ruas foram meticulosamente pavimentadas, imponentes arranha-céus ergueram-se majestosos onde outrora se estendiam campos abertos, e a cidade transformou-se em um polo econômico vital na região. Enquanto isso, seus filhos foram criados imersos na rica herança italiana que Matteo trouxera consigo, mas também absorveram avidamente as oportunidades oferecidas pelo Brasil em constante evolução.
Matteo, agora idoso, contempla o passado com um coração transbordando de gratidão pela jornada que o conduziu até este ponto. Ele se regozija com o trabalho árduo que desempenhou, com as memórias preciosas que acumulou ao longo dos anos e com a família que teve a honra de construir ao lado de Giulia. Embora as montanhas verdejantes da Umbria permaneçam como um cenário nostálgico em sua mente, ele reconhece plenamente que encontrou um novo lar, uma nova pátria, e uma vida repleta de realizações e significado no caloroso coração do Brasil.



quarta-feira, 13 de março de 2024

La storia di Rosalia: dalla Sicilia al Brasile - Una storia di lotta e superamento.


 

Rosalia era già una signora di sessant'anni quando suo genero, Donato, sposato con sua figlia minore, Giuditta, decise di emigrare, seguendo il destino di migliaia di altri contadini in tutto il paese. Nella casa dell'ultima figlia, aveva trovato rifugio subito dopo la prematura morte del marito in un incidente sul lavoro cinque anni prima. L'Italia era ancora un paese molto giovane, appena unificato nell'allora chiamato Regno d'Italia, e stava affrontando gravi difficoltà economiche. Il Sud, dove vivevano, era stato devastato da diversi anni di guerre e convulsioni sociali, non essendo più un luogo adatto per crescere una famiglia. La mancanza di lavoro, il sottoccupazione e la fame già minacciavano molte case del piccolo villaggio nell'entroterra siciliano. Donato e Giuditta, sposati da circa dodici anni, avevano sei figli, tutti di età inferiore agli undici anni. Rosalia e il suo defunto marito Giacomo, a loro volta, avevano avuto quattro figlie, tutte ora sposate e viventi negli Stati Uniti, dove si erano trasferite alcuni anni prima. Erano distanti l'una dall'altra, in città diverse. Rosalia manteneva un contatto regolare con loro attraverso lettere e sapeva che tutte stavano bene, avevano numerosi figli, tutti sani e alcuni già frequentavano le scuole americane. Rosalia era radicata nel suo piccolo villaggio, dove era conosciuta e stimata da tutti, ma ora non aveva altra scelta se non seguire la figlia più giovane in Brasile, destinazione scelta dalla coppia, per aiutarla a prendersi cura dei sei nipoti. Il genero e la figlia erano stati assunti, così come centinaia di altre famiglie connazionali, per lavorare in una grande piantagione di caffè nell'entroterra di San Paolo, nella regione di Ribeirão Preto. Dopo molti giorni di viaggio in nave, arrivarono al porto di Santos e da lì fino a un luogo di Ribeirão Preto, non molto lontano dalla fattoria, il tragitto fino a lì fu fatto in treno. La grande piantagione di caffè apparteneva a un unico proprietario, che aveva il titolo di Barone e, ai tempi della schiavitù, aveva avuto più di seicento schiavi. Fu proprio in una casa piuttosto umile di questi ex lavoratori che la famiglia di Rosalia fu alloggiata. In realtà, era una vecchia baracca, con il pavimento di terra battuta e le pareti di fango che delimitavano quattro piccole stanze con finestre. Alcuni mobili rustici completavano l'arredamento. Nonostante fossero poveri in Italia, ciò che trovarono in quella fattoria lasciò tutti molto scoraggiati. Si resero conto che avevano smesso di lavorare per un padrone di terra in Italia per dipendere da un altro padrone in un altro paese. Il marito di Giuditta aveva firmato un contratto di lavoro di quattro anni, per avere diritto al passaggio gratuito e a tutti i trasferimenti dall'Italia fino alla fattoria. Questo contratto, che includeva tutti i membri della famiglia, specificava che dovevano occuparsi della pulizia di mille piante di caffè, dovevano anche aiutare nella raccolta e nel trasporto dei chicchi di caffè fino alle grandi aree di essiccazione. Avevano il permesso di coltivare un piccolo orto e di allevare alcuni piccoli animali intorno alla casa. Venivano svegliati molto presto ogni mattina, con il suono di una grande campana non lontano dalla casa di uno dei caporali. Dovevano camminare a piedi per alcuni chilometri, salendo e scendendo per le colline tra lunghe file di piante di caffè, fino al luogo dove, alle sei del mattino, iniziavano a lavorare. Il pranzo e a volte l'acqua dovevano portarli da casa. Avevano una breve pausa di mezz'ora per consumare il pasto all'ombra di una pianta di caffè. Poiché la fattoria era lontana da qualsiasi città, il proprietario manteneva un grande magazzino per rifornire i suoi dipendenti. Di solito, i prezzi erano molto più alti rispetto a quelli praticati nel commercio delle città. Quando arrivava il giorno del pagamento, gli immigrati si rendevano conto che erano stati effettuati molti sconti con una riduzione dei valori che avrebbero dovuto ricevere. Aggiungendo la precarietà delle strutture dove erano stati allocati, questa procedura li scontentava molto, ma, vincolati a un contratto che favoriva solo il padrone, non potevano abbandonare la proprietà. Un immigrato poteva lasciare la fattoria solo dopo il periodo concordato di quattro anni e solo dopo aver saldato tutti i debiti contratti con il padrone, pena dover rimborsare al proprietario tutte le spese di viaggio della famiglia, cosa impossibile per loro. A queste spese, spesso, si aggiungevano i costi dei medici, dei farmaci o delle ospedalizzazioni, che il padrone pagava e poi scontava dai loro dipendenti. Donato e Giuditta compravano nel magazzino della fattoria solo il necessario e facevano ogni sforzo per non contrarre debiti, al fine di poter un giorno lasciare la fattoria, ma questo era ancora lontano dall'accadere. 
Rosalia, nella sua giovinezza, aveva imparato dalla sua nonna paterna, una rinomata guaritrice, l'arte di curare malattie e ferite usando tisane, pozioni e impacchi di erbe raccolte dalla natura. Anche dalla sua nonna aveva imparato l'arte di "aggiustare ossa" e anche di far nascere bambini, non solo nel suo villaggio, ma anche in quelli più vicini. Aveva il dono naturale di curare gli ammalati con le sue erbe e questo lo dimostròcentinaia di volte negli anni in cui visse nella fattoria. Molti immigrati residenti nella grande proprietà si rivolgevano alla vecchia Rosalia per curare i loro mali, alleviare le loro sofferenze, cucire le loro ferite o persino ridurre le loro fratture. Lei vedeva in questa attività una sorta di sacerdozio donato da Dio e, per questo, non chiedeva mai compensi per i suoi servizi, ma accettava donazioni e regali dai suoi pazienti, che costituivano una vera fonte di sostentamento per la famiglia. Nella fattoria viveva ancora una vecchia schiava, che aveva sempre esercitato questa professione di guaritrice, ma ora, con quasi cent'anni, malata e non potendo più vedere chiaramente né camminare, non aveva più la capacità di curare nessuno. Rosalia, nei suoi pochi momenti liberi, la visitava spesso e con lei imparava a riconoscere le centinaia di erbe brasiliane, le loro proprietà e indicazioni terapeutiche, aggiungendo così alle conoscenze che aveva portato dall'Italia. La giovane moglie di uno dei caporali, che comprendeva anche abbastanza l'italiano, faceva da interprete tra Rosalia e la vecchia guaritrice.
Piano piano, la famiglia risparmiava e metteva da parte tutto il denaro che riusciva a guadagnare per la tanto agognata libertà. Le domeniche, dopo la messa nella cappella della fattoria, e anche quando riuscivano a ottenere un po' di riposo, andavano a piedi fino alla piccola città di Ribeirão Preto, la più vicina alla fattoria. Durante queste visite, fecero diversi amici nella località, immigrati come loro, che li aiutarono con molte informazioni preziose. Oltre ad acquistare le cose che mancavano a prezzi migliori, evitando il magazzino della fattoria, approfittavano per sondare i prezzi dei terreni in vendita, specialmente quelli più grandi e un po' più distanti dal centro. Fu così che, un giorno, quando erano già trascorsi quattro anni dall'arrivo nella fattoria, Rosalia, che sapeva leggere e scrivere, molto comunicativa e astuta, venne a sapere attraverso un'amica, che si faceva curare da lei, di un affare unico, una piccola tenuta con una casa ottima e un bellissimo boschetto, non molto distante dal centro della città. Il proprietario, un immigrato italiano, voleva venderla per tornare in Italia, poiché sua moglie non sopportava più stare in Brasile lontano dai suoi parenti. Il prezzo e le condizioni di pagamento erano molto invitanti e rientravano perfettamente nei risparmi della famiglia. Donato e Giuditta, venuti a conoscenza della cosa, non persero tempo, chiesero il permesso di assentarsi per un giorno dalla fattoria, cosa che non fu negata dal caporale, purché fosse scalato dal salario. Andarono a Ribeirão Preto e chiusero l'acquisto della tenuta, pagando quasi tutto in contanti e il resto in due rate. Dopo due mesi, in una mattina soleggiata, lasciarono definitivamente la fattoria dopo essersi congedati dagli amici e dal caporale generale.
Si stabilirono a Ribeirão Preto e la prima cosa che Donato fece fu trovare un lavoro che potesse garantire il sostentamento della famiglia. Analfabeta, trovò un impiego adeguato nei gruppi di riparazione della rete ferroviaria, con possibilità di miglioramento di posizione e salario nel corso degli anni. Accettò con gioia l'opportunità e lavorò per tutta la vita nella rete ferroviaria, raggiungendo infine la posizione di capo generale dei gruppi di manutenzione. Giuditta, abile sarta fin da bambina e una delle figlie più grandi, aprì un salone di sartoria e riparazioni nella propria casa. Col tempo, la clientela aumentò e il nome di Giuditta e sua figlia Maria Augusta divennero sinonimi di buona sartoria a Ribeirão Preto, cucendo per l'alta società locale. Rosalia continuò il suo lavoro di levatrice e guaritrice, diventando una rinomata guaritrice e aggiustatrice di ossa, molto richiesta tra i membri della grande comunità italiana della regione, ma non solo, persino giocatori di squadre di calcio la cercavano spesso. Con il suo lavoro serio riuscì ad attirare persino l'alta società locale che la cercava in massa. Quando la nonna Rosalia, come era conosciuta, morì, ormai quasi novantenne, ebbe uno dei più grandi funerali mai visti a Ribeirão Preto. In vita, tra le varie onorificenze, ricevette il titolo di cittadina onoraria. Dopo la morte, il suo nome fu dato a una delle strade della città e a una piccola piazza, vicino alla casa dove aveva vissuto, sulla quale fu eretto un bellissimo busto in bronzo, che la ritraeva perfettamente, un omaggio da parte del comune per i servizi importanti resi. La sua tomba divenne presto un luogo di pellegrinaggio durante tutto l'anno e, in occasione dei defunti, è ancora oggi piena di fiori e candele, ricevendo una vera e propria folla di ammiratori che formano lunghe file per omaggiarla con una preghiera.



A Jornada de Rosalia: da Sicília ao Brasil - Uma História de Luta e Superação



Rosalia já era uma senhora na casa dos sessenta anos quando seu genro, Donato, casado com sua filha caçula, Giuditta, resolveu emigrar, seguindo o destino dos milhares de outros camponeses por todo o país. Na casa da última filha, tinha encontrado abrigo logo após a morte prematura do marido em um acidente de trabalho cinco anos antes. A Itália ainda era um país muito novo, recém-unificado no agora chamado Reino da Itália, e passava por sérias dificuldades econômicas. O Sul, onde viviam, foi assolado por vários anos de guerras e convulsões sociais, não sendo mais um lugar adequado para criar uma família. A falta de trabalho, o subemprego e a fome já rondavam muitos lares da pequena vila no interior da Sicília. Donato e Giuditta, casados há cerca de doze anos, tinham seis filhos, todos com idades abaixo de onze anos. Rosalia e seu falecido marido Giacomo, por sua vez, haviam tido quatro filhas, todas agora casadas e morando nos Estados Unidos para onde tinham emigrado alguns anos antes. Estavam distantes uma das outras, em cidades diferentes. Rosalia mantinha contato regular com elas através de cartas e sabia que todas estavam bem, que tinham inúmeros filhos, todos saudáveis e alguns já frequentando as escolas americanas.
Rosalia estava enraizada na sua pequena vila, onde era conhecida e estimada por todos, mas agora estava sem outra opção senão seguir a filha mais nova para o Brasil, destino escolhido pelo casal, para ajudá-la a cuidar dos seis netos. O genro e a filha haviam sido contratados, assim como centenas de outras famílias compatriotas, para trabalhar em uma grande fazenda de café no interior de São Paulo, na região de Ribeirão Preto. Depois de muitos dias de viagem de navio, chegaram ao porto de Santos e dali até um local de Ribeirão Preto, não muito distante da fazenda, o trajeto até ali foi feito de trem. A grande plantação de café pertencia a um único proprietário, o qual tinha o título de Barão e, na época da escravidão, havia tido mais de seiscentos escravos. Foi justamente para uma casa bastante humilde desses antigos trabalhadores que a família de Rosalia foi alojada. Na verdade, era um velho casebre, cujo piso de terra batida e paredes de barro delimitavam quatro pequenos aposentos com janelas. Alguns móveis toscos completavam a mobília. Apesar de serem pobres na Itália, o que encontraram naquela fazenda deixou todos muito desanimados. Perceberam que tinham deixado de trabalhar para um dono de terras na Itália para depender de outro patrão em outro país. O marido de Giuditta havia assinado um contrato de trabalho de quatro anos, para ter direito à passagem gratuita e a todos os traslados da Itália até a fazenda. Esse contrato, que incluía todos os membros da família, explicitava que eles ficariam responsáveis pelos cuidados de limpeza de mil pés de café, deviam também ajudar na colheita e transporte dos grãos de café até os grandes terreiros de secagem. Tinham permissão para cultivar uma pequena horta e criar alguns animais pequenos em volta da casa. Eram acordados bem cedo todas as manhãs, com o som de um grande sino que ficava não longe da casa de um dos capatazes. Deviam se dirigir a pé por alguns quilômetros, subindo e descendo ladeiras no meio de longas filas de cafeeiros, até o local onde, às seis horas, iniciavam o trabalho. O almoço e as vezes a água deviam levar de casa. Tinham uma breve pausa de meia hora para fazer a refeição à sombra de algum pé de café. Como a fazenda ficava longe de qualquer cidade, o proprietário mantinha um grande armazém para suprir seus empregados. Geralmente, o preço cobrado era muito mais alto do que os praticados no comércio das cidades. Quando chegavam os dias de pagamento, os imigrantes percebiam que haviam muitos descontos com a diminuição nos valores que deviam receber. Somando a precariedade das instalações onde foram alocados, este procedimento desagradou muito a todos eles, mas, presos a um contrato que só favorecia o patrão, não podiam abandonar a propriedade. Um imigrante só podia deixar a fazenda após o período combinado de quatro anos e ainda após quitar todas as dívidas contraídas com o patrão, sob pena de ter que ressarcir o fazendeiro de todas as despesas de viagem da família, o que para eles era impossível. A essas despesas, muitas vezes, eram somados gastos com médicos, remédios ou internações hospitalares, que o fazendeiro pagava e depois descontava dos seus empregados. Donato e Giuditta compravam no armazém da fazenda somente o estritamente necessário e faziam todo esforço possível para não contraírem dívidas, a fim de um dia poderem deixar a fazenda, mas isso ainda estava longe de acontecer.
Rosalia, em sua juventude, havia aprendido com sua avó paterna, uma reconhecida curandeira, a arte de tratar doenças e ferimentos usando chás, poções e emplastros de ervas recolhidas da natureza. Também com sua avó, aprendeu a arte de "arrumar ossos" e também trazer ao mundo os bebês, não só da sua vila, mas também daquelas mais próximas. Ela tinha o dom natural de curar enfermos com suas ervas e isso pôde demonstrar centenas de vezes nos anos em que morou na fazenda. Muitos imigrantes moradores na grande propriedade recorriam à velha Rosalia para curar seus males, aliviar seus sofrimentos, costurar seus ferimentos ou mesmo reduzir suas fraturas. Ela via nessa sua atividade uma espécie de sacerdócio provido por Deus e, por isso, nunca cobrava pelos seus trabalhos, mas aceitava doações e presentes dos seus pacientes, o que constituía uma verdadeira fonte de recursos para a família. Na fazenda ainda morava morava uma antiga escrava, que sempre tinha exercido este trabalho de curandeira, porém, agora, com quase cem anos de idade, doente sem poder enxergar direito e não podendo mais caminhar, não tinha mais condições de tratar ninguém.  Rosalia, nas suas poucas horas vagas, a visitava com frequência e com ela foi aprendendo a reconhecer as centenas de ervas brasileiras, as suas propriedades e indicações terapêuticas, agregando ao conhecimento que ela tinha trazido da Itália. A jovem esposa de um dos capatazes, que também compreendia bastante de italiano, servia de intérprete entre Rosalia e a velha curandeira.
Aos poucos, a família foi economizando e guardando todo o dinheiro que conseguiam ganhar para a tão sonhada liberdade. Nos domingos após a missa na capela da fazenda, e também quando conseguiam alguma folga, iam a pé até a então pequena cidade de Ribeirão Preto, a mais próxima da fazenda. Nessas visitas, fizeram vários amigos na localidade, imigrantes como eles, que os ajudaram com muitas informações valiosas. Além de comprarem por melhor preço as coisas que faltavam, evitando o armazém da fazenda, aproveitavam para sondar os preços dos terrenos que estavam à venda, especialmente aqueles maiores e um pouco mais afastados do centro. Foi assim que, um dia, quando já haviam se passado quatro anos desde a chegada na fazenda, Rosalia, que sabia ler e escrever, muito comunicativa e astuta, ficou sabendo através de uma amiga, que também se tratava com ela, de um negócio de ocasião, uma pequena chácara com ótima casa e belo arvoredo, não muito afastada do centro da cidade. O proprietário, um imigrante italiano, estava querendo vender para voltar para a Itália, pois sua esposa não aguentava mais ficar no Brasil longe de seus familiares. O preço e as condições de pagamento eram bastante convidativos e cabiam perfeitamente dentro das economias da família. Donato e Giuditta ao saberem não perderam tempo, solicitaram a permissão de se ausentar por um dia da fazenda, o que não foi negado pelo capataz, desde que fosse descontado do pagamento. Foram até Ribeirão Preto e fecharam a compra da chácara, pagando quase todo o valor em dinheiro vivo e o restante em duas prestações. Depois de dois meses, em uma manhã ensolarada, deixaram definitivamente a fazenda após se despedirem dos amigos e do capataz geral.
Estabeleceram-se em Ribeirão Preto e a primeira providência de Donato foi arrumar um trabalho que pudesse garantir o sustento da família. Analfabeto, encontrou um emprego condizente nas turmas de reparo da rede ferroviária, com possibilidades de melhorias de posto e vencimentos com o passar dos anos. Com alegria, aceitou a oportunidade e trabalhou a vida toda na rede ferroviária, no final alcançando o posto de chefe geral das turmas de manutenção. Giuditta, desde menina hábil costureira e uma das filhas mais velhas, abriu um salão de costuras e reparos na própria casa. Com o tempo, a freguesia foi aumentando e o nome de Giuditta e sua filha Maria Augusta tornaram-se sinônimos de boa costura em Ribeirão Preto, costurando para a alta sociedade local. Rosalia continuou com seu trabalho de parteira e de curar os enfermos, se tornou uma afamada curandeira e arrumadora de ossos, muito requisitada pelos membros da grande colônia italiana da região, mas não só, inclusive jogadores de times de futebol a procuravam com frequência. Com seu trabalho sério chegou a atrair até a alta sociedade local que a procurava em massa. Quando nona Rosalia, como era conhecida, faleceu, já com quase noventa anos, teve um dos maiores funerais vistos em Ribeirão Preto. Em vida, entre vária honrarias, recebeu o título de cidadã honorária. Após a morte seu nome foi dado para uma das ruas da cidade e para uma pequena praça, próxima à casa onde viveu, na qual foi erguido um belo busto de bronze, que a retrata com perfeição, uma homenagem da municipalidade pelos importantes serviços prestados. Seu túmulo logo tornou-se local de peregrinação durante todo o ano e, por ocasião de Finados, fica até hoje repleto de flores e velas, recebendo uma verdadeira multidão de admiradores que formam longas filas para homenagea-la com uma oração.