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domingo, 10 de dezembro de 2023

Tra Due Mondi: Un Viaggio Epico di Sopravvivenza in Brasile


 


Antonio Calzolar, un emiliano di 33 anni originario di Marzabotto (BO), intraprese un viaggio epico nel 1897 quando si imbarcò a Genova verso il Brasile con sua moglie Sofia Ferraro e i loro cinque figli. Accanto a Antonio, c'era suo fratello Lorenzo e la sua famiglia. Dopo un lungo viaggio di quasi due mesi, finalmente sbarcarono a Vitória, nel cuore dello stato brasiliano dell'Espírito Santo.

Da Vitória, presero il treno diretto a Cachoeiro de Itapemirim, una pittoresca cittadina a sud di Vitória. Dopo alcuni giorni trascorsi presso una Hospedaria de Imigrantes, furono assunti per lavorare nella Fazenda Arcobaleno, situata nel comune di Cachoeiro de Itapemirim. La vita lì non era facile; adulti e bambini si trovavano a lavorare duramente in cambio di modesti salari o piccole razioni di cibo, spesso costituite principalmente da farina di mais.

Insoddisfatti di questa dura realtà, i Calzolar presero una decisione coraggiosa: interruppero il loro contratto di lavoro e si trasferirono nel distretto di Castelo, sempre nell'Espírito Santo. Qui vissero per due anni, affrontando nuove sfide e costruendo il loro destino lontano dalle difficoltà della Fazenda Arcobaleno.

A partire dal 1901, la fortuna sorrise loro quando trovarono lavoro nella fazenda Guatambu. Questa fazenda, successivamente acquisita dal governo dell'Espírito Santo, si trasformò in una colonia di immigranti. Le due famiglie Calzolar, finalmente, videro realizzarsi il loro sogno di diventare proprietari di pezzi di terra, una conquista che avevano cercato per generazioni.

Con il passare degli anni, i figli di Antonio si sposarono con altri immigrati italiani o con i loro discendenti, creando legami duraturi che ancoravano la famiglia nelle terre brasiliane. I Calzolar si stabilirono in diverse città dello stato, tra cui Cachoeiro de Itapemirim, Castelo, Venda Nova do Imigrante, Alegre, Marechal Floriano, e persino nella capitale dell'Espírito Santo, Vitória.

La storia dei Calzolar è un racconto di perseveranza, coraggio e successo. Antonio e Sofia Calzolar, ormai ottantenni, si spensero a breve distanza l'uno dall'altro nel 1949, lasciando dietro di loro una discendenza radicata nelle terre che avevano contribuito a plasmare. La loro storia continua a risuonare attraverso le generazioni, un tributo vivente alla forza e alla resilienza di coloro che hanno forgiato un nuovo destino in terre lontane.




Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS





quarta-feira, 11 de outubro de 2023

De Rovigo ao Interior de São Paulo: a Longa Jornada dos Imigrantes Italianos no Brasil

 



Santo Pazette e sua esposa, Isabella Merlini, deixaram sua terra natal em uma longa jornada transatlântica rumo à América, com destino ao Brasil, no ano de 1886. Santo Pazette nasceu na Itália em 1860, em um pequeno município do interior da província de Rovigo, no Veneto, e veio a falecer em 1941. Sua esposa, Isabella Merlini, também nasceu na mesma província, em 1866, e faleceu em  1942. Com o casal, vieram para o Brasil seus dois filhos pequenos, nascidos na Itália. Ao chegarem ao Brasil, a família se estabeleceu em um lugar distante de grandes centros, onde passaram a trabalhar na extensa fazenda de cultivo de café propriedade de um rico fazendeiro, o qual tinha até o título de Barão. Em meio às vastas terras, Santo Pazette e sua esposa dedicaram-se integralmente a cuidar de milhares de pés de café, limpando a terra do mato que teimosamente não parava de crescer. No tempo da colheita, o trabalho era dobrado. Depois de colhidos manualmente, os grãos eram levados para uma grande área calçada por pedras, para secarem ao sol. Depois de secos, o que demorava alguns dias, os grãos eram ensacados e levados em carroções até a estação ferroviária que ficava em uma comunidade vizinha. No entanto, a vida desse casal de imigrantes começou com tristezas, pois já tendo perdido dois filhos na Itália, agora, infelizmente, perderam também os dois filhos que trouxeram consigo para o Brasil. Com o tempo, o lar deles foi iluminado com o nascimento de seus outros filhos Guerino, Domenico, Giuseppe, Albino e Teresa. Todos os imigrantes que trabalhavam na fazenda, mais de uma centena, precisavam comprar alguns mantimentos no armazém local da propriedade, cujos preços eram bem mais altas que nas cidades, resultando em uma alta conta para Santo Pazette. Decidiram, então, economizar ainda mais, na alimentação diária da família passaria a base de polenta, como quando ainda moravam na Itália, um excelente alimento, e suco de laranja. A farinha de milho para preparar a polenta era adquirida em troca de milho no engenho de açúcar da mesma fazenda. Além disso, eles mantinham, com o consentimento do patrão, uma pequena horta e alguns poucos animais de criação, como 1 ou 2 porcos, uma vaca para leite e aves, cuja carne e ovos complementavam a pobre alimentação. Graças às suas economias, e para isso todos da família contribuíam, vendendo sabão, hortaliças, ovos e os doces que a prendada Isabella e a filha Teresa faziam e vendiam na própria fazenda e até nas cidades próximas, quando íam nos dias de folga ou finais de semana. Ao longo de dez longos anos, eles finalmente conseguiram deixar o trabalho assalariado na fazenda e adquiriram um terreno relativamente grande e fértil em uma cidade vizinha que estava vivendo um período de intenso crescimento da sua população. Decidiram se estabelecer ali pois já a conheciam e lá já tinham alguns amigos e até fregueses para os quitutes das mulheres da casa. Santo e Isabella, junto com todos os filhos já casados e seus primeiros netos, passaram a fazer parte da comunidade italiana local, Santo trabalhando em uma olaria, fabricando tijolos e telhas de barro e os filhos foram se colocando na crescente indústria e no comércio local. A única exceção foi sua filha Teresa Pazette, que se casou com Angelo Marino, também de origem italiana, e se estabeleceu em uma outra fazenda de plantação de cana de açúcar, onde seu marido trabalhava como gerente e ganhava mais que a maioria dos empregados. 
Com o passar dos anos, a família prosperou na nova cidade. O terreno que adquiriram tornou-se um lar acolhedor, onde plantavam não apenas diversas frutas e hortaliças que contribuíam para a mesa farta da família e o que sobrava era vendido na cidade.
Santo Pazette continuou a trabalhar na olaria, aprimorando suas habilidades na produção de tijolos e telhas, enquanto Isabella, com sua experiência culinária, expandiu a produção de doces e quitutes que se tornaram famosos na região. A pequena horta e os animais de criação no quintal contribuíam com ingredientes frescos e sadios. 
A casa dos Pazette foi se tornando um ponto de encontro para a comunidade italiana local, onde as velhas tradições italianas eram preservadas e celebradas. As festas familiares eram marcadas por risos, música e, é claro, boa comida. A história de perseverança e superação dos imigrantes italianos inspirava não apenas os descendentes da família Pazette, mas também aqueles ao seu redor.
Os filhos de Santo e Isabella seguiram caminhos diversos. Os filhos, os mais velhos,  continuaram no ramo industrial, enquanto o caçula, que tinha dom para negócios, explorou as oportunidades no comércio local e nas cidades vizinhas, abrindo uma pequena loja de material de construção, que com o tempo se transformou em um império nas mãos de seus filhos. Teresa e Angelo Marino prosperaram na fazenda de cana de açúcar, contribuindo para a prosperidade da família. Depois de alguns anos ela e marido também adquiriram uma pequena chácara na mesma cidade e passaram a morar perto dos pais.
Com o tempo, a cidade testemunhou o crescimento da comunidade italiana, que se tornou uma parte integral da cultura local. Os Pazette foram reconhecidos não apenas pelo trabalho árduo, mas também por sua generosidade e envolvimento na comunidade. Seu legado perdurou através das gerações, e o nome da família era sinônimo de resiliência e sucesso.
Ao final de suas vidas, Santo e Isabella puderam contemplar o que construíram: uma família unida, uma comunidade fortalecida e uma história de superação que seria contada por muitas gerações. Faleceram com um ano de diferença um do outro e seus túmulos, localizados no cemitério da cidade, eram visitados não apenas pela família, mas por todos que reconheciam a contribuição valiosa dos Pazette para a construção daquele lugar. A jornada que começou em uma pequena vila no interior de Rovigo, na Itália, culminou em uma vida plena e significativa no Brasil, e o nome Santo Pazette tornou-se uma referência de determinação e sucesso.



sexta-feira, 22 de setembro de 2023

Caminhos Além do Sile: Uma Saga de Amor e Prosperidade


 

Maria Augusta, Giuseppina e Antonella eram 3 irmãs com idades de 24, 20 e 17 anos respectivamente, filhas do casal Domenico Zatellon e Anna Mezzomo, moradores no interior de um pequeno município da província de Treviso, na região do Vêneto. Além das três moças Domenico e Anna tinham mais cinco filhos homens, todos vivos e mais duas meninas já falecidas ainda no primeiro ano de vida. Moravam e trabalhavam na agricultura e criação de bichos da seda, em uma grande terra particular margeada pelo rio Sile, de propriedade de uma família nobre veneziana, que já tinha conhecido mais importância e esplendor na época da Sereníssima República de Veneza. Já de alguns séculos era propriedade rural de nobres patrícios venezianos, local de férias de verão da família e de onde obtinham a sua renda. Outrora eram grandes armadores que substituíram a atividade marítima pela produção rural. A propriedade tinha vários empregados, todos morando no próprio local com as famílias, cultivando e produzindo um pouco de tudo, sendo a criação do bicho da seda umas das suas atividades principais.

Na tranquila província de Treviso, aninhada nas margens serenas do rio Sile, erguia-se a imponente Villa del Conte. Um legado de beleza e história, a propriedade era o lar de uma família laboriosa e notável: os Zatellon, que ali trabalhavam a três gerações.

Domenico e Anna, os pilares da família, dedicavam suas vidas à agricultura e, acima de tudo, à laboriosa criação do bicho da seda na Villa del Conte. Domenico, um homem de meia idade, forte e  experiente, era o encarregado geral responsável por tudo na propriedade. Sua palavra era a lei, e ele se reportava somente aos distantes patrões da nobre família veneziana.

Além das três filhas - Maria Augusta, de 24 anos, Giuseppina, com seus 20 anos, e Antonella, a caçula de 17 - Domenico e Anna tinham mais cinco filhos homens, cujas vidas se entrelaçavam com a terra e o rio, assim como as irmãs. Juntos, formavam uma família que trabalhava incansavelmente para a produção e manutenção da Villa.

A produção de seda, atividade fabril cuja técnica foi trazida secretamente do oriente pelos navegadores venezianos, era uma arte que exigia dedicação meticulosa. As amoreiras, cujas folhas alimentavam os bichos da seda, eram cultivadas com carinho. A cada safra, casulos preciosos eram colhidos e cuidadosamente preparados para a venda à indústria da seda, que despontava no Vêneto desde a época da sereníssima. Era uma tarefa que demandava habilidade e paciência, mas os Zatellon haviam dominado essa arte ao longo das gerações.

Enquanto a família Zatellon prosperava na Villa del Conte, as três irmãs e seus irmãos encontraram destinos que os levaram a terras distantes. Os irmãos Luigi e Giovanni, em particular, fizeram uma jornada audaciosa para a colônia Dona Isabel, no Brasil. Os dois jovens eram ambiciosos e tinham grandes sonhos,  queriam progredir na vida e serem proprietários da terra em que trabalhavam. Não concordavam com a vida que a família tinha levado até agora. Uma vida marcada pela submissão à um patrão, onde o que sobrava era somente trabalhar e calar sempre. Sonhavam romper este antigo costume, passando de empregados à patrões.

A vida no Brasil não era fácil no começo, mas com determinação e trabalho árduo, os dois ambiciosos irmãos logo prosperaram. Eles investiram nas terras férteis da colônia, cultivando safras abundantes e expandindo seus negócios. Anos se passaram, e suas vidas na nova terra se transformaram.

Luigi casou-se com Isabella, uma mulher forte e inteligente que compartilhava seu desejo de sucesso. Juntos, eles tiveram filhos que cresceram em meio aos campos e às fazendas que Luigi adquirira ao longo dos anos. Ele não apenas se tornou um grande proprietário de terras, mas também investiu em indústrias, contribuindo para o desenvolvimento econômico da região.

Giovanni, por sua vez, encontrou o amor nos braços de Elena, uma mulher de grande determinação. Eles construíram um legado juntos, à medida que Giovanni expandia seus negócios para além das fronteiras da agricultura. Ele estabeleceu indústrias prósperas e se tornou um dos empresários mais respeitados da colônia. Seu casamento trouxe à vida vários filhos que compartilharam a visão de seu pai.

Enquanto isso, na Villa del Conte, as famílias das três irmãs continuaram a prosperar, celebrando a vida, o amor e os laços familiares. A história dos Zatellon, marcada pela dedicação à terra, à criação do bicho da seda e à busca de novas oportunidades, era um conto duradouro, escrito com o suor e o amor de gerações de Zatellons nas terras abençoadas pelo rio Sile. E mesmo com a partida de Luigi e Giovanni em busca de novas terras no Brasil, o espírito e os valores da Villa del Conte permaneceram firmes, passados de geração em geração, enquanto os dois irmãos realizavam seus sonhos em terras distantes, tornando-se grandes proprietários de terras e líderes industriais. Suas histórias de sucesso ecoavam através do tempo, inspirando futuras gerações a trilharem seus próprios caminhos em busca de realizações e prosperidade.




sexta-feira, 4 de agosto de 2023

A Chegada dos Italianos: Como Foi a Jornada dos Imigrantes Italianos até o Brasil

 



A jornada dos imigrantes italianos até o Brasil era longa e difícil, geralmente levando semanas e em muitos casos até dois meses. Viajavam em velhos navios superlotados, com poucas condições de higiene e conforto. A comida a bordo dos navios geralmente era escassa e muitas vezes de má qualidade, o que levava muitos imigrantes a sofrerem de doenças. Muitos deles também sofriam de enjoo e outros problemas de saúde devido às más condições das acomodações disponíveis a bordo. 
Por outro lado, a viagem para o Brasil também era cara, para aqueles que não tinham nada, o que significava que muitos imigrantes tiveram que economizar durante muito tempo para pagar pela passagem, no entanto, outros puderam aproveitar o período em que o governo imperial concedia viagem com passagens grátis para aquelas famílias que quisessem vir trabalhar no Brasil. 
A chegada ao Brasil muitas vezes era caótica, com muitos imigrantes desembarcando no porto sem saber bem para onde ir. Em muitos lugares os imigrantes italianos às vezes enfrentavam discriminação e preconceito devido à sua origem, à cor da pele, como os meridionais, que eram mais morenos, à pobreza estampada em seus rostos, o que raramente acontecia em nosso país. 
A língua também era uma barreira para muitos imigrantes, que tinham que aprender o português para se comunicar e se adaptar à vida no Brasil. Aqueles que foram para o Rio Grande do Sul chegaram até a criar uma língua, chamada talian, para se comunicar entre eles, pois naquela época a grande maioria não falava o italiano e sim os vários dialetos das regiões de onde provinham. Quando chegaram no sul do país a Itália como nação só existia a menos de 10 anos e grande maioria dos imigrantes desconhecia a língua oficial do país.
Muitos italianos enfrentaram dificuldades no trabalho no Brasil, especialmente nas áreas rurais. No entanto, a maioria deles acabou encontrando trabalho nas plantações de café e pequenas fábricas, como no setor têxtil. 
Os italianos também enfrentaram desafios ao estabelecerem suas próprias comunidades no Brasil, incluindo a falta de infraestrutura e a discriminação por parte de outros grupos étnicos. As primeiras comunidades italianas no Brasil foram formadas na década de 1870, principalmente em São Paulo. 
Essas comunidades italianas no Brasil muitas vezes eram formadas por imigrantes de uma mesma região da Itália, que mantinham suas próprias tradições, costumes e especialmente o seu dialeto. Muitas também se dedicaram à preservação de sua cultura e tradições, incluindo a culinária e as festas religiosas que colaborou para os imigrantes se adaptarem mais rapidamente à vida no país e a superarem os desafios que enfrentavam. 
A presença italiana no Brasil é evidente em muitas áreas, incluindo a arquitetura, a culinária, a música e a arte. O modo de se alimentar italiano se tornou popular em todo o Brasil, com pratos famosos como pizza, pasta, risoto e lasanha se tornando parte da culinária brasileira. A música italiana também teve um impacto significativo no Brasil, especialmente na música popular brasileira. A arte italiana , influenciou os movimentos artísticos no Brasil, com muitas obras de arte italianas sendo expostas em museus e galerias de arte em todo o país. 
A chegada dos imigrantes italianos ao Brasil também teve um impacto na economia do país, especialmente na indústria têxtil, na produção de café e no comércio em geral. Os imigrantes italianos trouxeram habilidades e conhecimentos que ajudaram a desenvolver a indústria, a produção de café e a criação de negócios comerciais, pois muitos deles eram hábeis artesãos e iniciaram negócios próprios. A indústria têxtil foi uma das principais áreas em que os imigrantes italianos se destacaram no Brasil, trazendo suas habilidades de tecelagem e costura. 
A presença italiana no Brasil também teve um impacto na política, com muitos imigrantes italianos se envolvendo em movimentos políticos e sindicais. Muitos italianos se uniram a sindicatos para lutar por melhores condições de trabalho e direitos trabalhistas, esses trabalhadores geralmente eram provenientes do centro da Itália, regiões mais industrializadas daquele país, e que tinham experiência com esses movimentos trabalhistas. Alguns imigrantes italianos também se envolveram em movimentos políticos de esquerda, incluindo o Partido Comunista Brasileiro. 
A presença italiana no Brasil também foi marcada por conflitos e tensões, incluindo a participação de muitos italianos em movimentos fascistas em São Paulo e nos estados do sul do Brasil. Durante a Segunda Guerra Mundial, muitos imigrantes italianos foram presos e até deportados do Brasil devido à sua associação com o regime fascista. 
No entanto, a maioria dos imigrantes italianos no Brasil eram trabalhadores honestos e dedicados que contribuíram significativamente para o país. 
A história da imigração italiana no Brasil é uma parte importante da história do país, marcada por desafios, oportunidades e contribuições significativas para a cultura, economia e política brasileiras.



segunda-feira, 10 de abril de 2023

Um Novo Começo: A História de Uma Família de Imigrantes Vênetos no Brasil

Colheita do Café


Giovanni Scarsea, a esposa Maria Augusta e seus três filhos menores de idade, Francesco, Sofia e Luca, habitavam em uma vila no pequeno município de Alano di Piave, localizado na província de Belluno, região do Vêneto, na Itália. Giovanni, como todos os seus antepassados homens, trabalhava como carpinteiro e marceneiro, profissão que tradicionalmente era passada de pai para filho há gerações. Nos períodos do ano em que a procura pelos seus trabalhos diminuía na sua oficina, se aventurava como trabalhador rural diarista, nas pequenas e também pobres propriedades agrícolas da vizinhança. Maria por sua vez estava sempre atarefada, além do trabalho doméstico, criava os três filhos do casal que ainda eram menores de idade. Eles habitavam uma casa bastante antiga, com pouco terreno à volta, viviam uma vida bastante simples, sempre lutando para sobreviver, especialmente após a morte do pai de Giovanni, há pouco mais de um ano, vítima da pelagra, o que deixou a família com muitas dívidas e quase sem recursos. 
Em um domingo, logo após a missa matinal, que o casal não costumava faltar, na pequena praça defronte a igreja, apareceu um homem desconhecido das pessoas do lugar. Portava alguns cartazes e falava em voz alta. Era um tipo  bem vestido, e de longe já se via que era de cidade grande, aparentando ter entorno de 50 anos de idade. Muito comunicativo, bem falante, logo uma pequena multidão curiosa se acercou do estranho para ouvir o que ele dizia. Explicou que trabalhava para uma agência de viagens de Gênova, filiada a uma grande companhia de navegação italiana com sede naquele porto. Viajava pelo interior do país em busca de candidatos dispostos a emigrar  para o Brasil junto com as suas famílias. Descrevia o grande país sul americano como um paraíso, um verdadeiro El Dorado, onde qualquer um podia ficar rico sem muito esforço e, o principal para aquela pobre gente acostumada a ser mandada a vida inteira, que em pouco tempo podia ser dono da sua própria terra. O sonho da propriedade, ser o senhor da sua vida era a isca final. Explicou à todos que o governo do império brasileiro estava fornecendo passagens de graça até o local onde seriam assentados no país, para todos aqueles que quisessem emigrar para lá. As únicas exigências que faziam era que os candidatos partissem acompanhados pelas suas famílias, fossem jovens e sadios. Explicou que iriam trabalhar como agricultores, em fazendas de café, no interior do estado de São Paulo e  assinariam os respectivos contratos ainda na Itália, para terem o direito da passagem gratuita. Aproveitou para ler algumas cartas, talvez a maioria delas, o se não todas, inventadas por ele mesmo, para assim aumentar a curiosidade e o interesse daquela pobre gente. Eram supostas cartas de pessoas de vários locais da Itália, que já tinham emigrado algum tempo antes, contando para seus parentes e amigos das suas antigas paróquias, as maravilhas sobre o grande país. Disse também que a  próxima partida do navio com um grande grupo de emigrantes estava marcada para dali dois meses. O assunto emigração para o Brasil, ou para a América como diziam na época, não era uma novidade para ninguém, estava sempre presente, obrigatoriamente, nas rodas de conversa nas praças, bares e até mesmo nas igrejas onde, no sermão os padres aconselhavam seus paroquianos à emigrare para fugir da pobreza e conseguir melhorar de vida. De toda a Itália alguns milhares de pobres camponeses, pequenos proprietários rurais e pobres artesãos já tinham deixado definitivamente o país e essas notícias corriam de boca a boca por todo o país como um rastilho de pólvora aumentando o interesse de todos.
Giovanni e Maria ficaram empolgados, até mesmo  entusiasmados com a possibilidade de emigrar, de deixar tudo para trás, sem ter que pagar pelas passagens, que eram muito caras. Estavam cronicamente sem dinheiro e aquela oferta vinha cair perfeitamente nos planos do casal que, de tempo já vinha pensando em deixar o país. A situação econômica da Itália estava se agravando cada vez mais e não viam boas perspectivas para o futuro. O desemprego no campo era muito grande e nas pequenas praças frente as igrejas grupos de homens ficavam o dia inteiro esperando, quase sempre sem sucesso, que alguém viesse contratar os seus serviços. Quando tinham sorte de arrumar algum trabalho o pagamento recebido era pouco para sustentar a família. A fome já rondava muitas casas na vila onde moravam e eles mesmos estavam em precária situação, com as refeições racionadas. Muitas vezes os adultos não faziam uma refeição completa para deixar alguma coisa para os filhos pequenos.
Depois desse encontro com aquele tipo estranho, foi que Giovanni e Maria decidiram definitivamente em emigrar para o Brasil, em busca de uma vida melhor para eles e para os filhos. Eles já tinham ouvido falar de oportunidades de trabalho em grandes plantações de café no interior de São Paulo, e agora decidiram arriscar tudo e tentar a sorte no novo país. Giovanni foi até a prefeitura local obter os passaportes para todos o membros da família. Depois procurou pelo agente de viagem para assinar o contrato de trabalho e dar os seus nomes para o embarque. Eles rapidamente fizeram uma única grande mala com os poucos pertences que possuíam, se despediram de seus amigos e familiares, e um dia antes da data de partida do navio deixaram a sua pequena vila para nunca mais voltarem, embarcando em uma longa jornada rumo ao desconhecido. 
A partida da família foi emocionante e difícil, com muitas despedidas e lágrimas. Alguns outros amigos e vizinhos também estavam naquele pequeno grupo que partia. Tinham tomado coragem e resolvido abandonar o país. Enquanto deixavam a pequena vila, ouviram pela última vez o sino principal do campanário da igreja local, que em tom grave e triste, aquele mesmo timbre que habitualmente anunciava os falecimentos de pessoas do lugar. Era a última saudação do velho padre para aqueles seus queridos paroquianos que partiam para tão longe e com certeza não os veria mais. Foram levados de carroça até a estação de trem mais próxima, onde embarcaram em um trem que os levou até o porto de Gênova, onde o navio a vapor Giulio Mazzini já estava aguardando ancorado junto ao cais. O comboio era lento, fazia inúmeras paradas durante todo o trajeto, se firmando por alguns minutos em cada  pequena estação do caminho, onde novos emigrantes como eles entravam e seguiam o mesmo destino.  A viagem de trem tinha sido longa e bastante cansativa, durou perto de doze horas, com todo o grupo sem poder dormir durante toda a noite, ficaram felizes quando finalmente chegaram ao porto. 
Eles encontraram uma pequena multidão perto do cais, com centenas de outros emigrantes italianos como eles, que também estavam prestes a embarcar no mesmo navio. Por toda a parte se podia ver dezenas de carregadores do porto e da companhia de navegação, transportando malas e grande caixas que eram rapidamente levadas para dentro do navio. Os marinheiros por sua vez, agitados e gritando ordens, corriam pelo convés do grande barco ultimando os preparativos para o embarque dos passageiros. Três curtos apitos de tom grave foram ouvidos partindo da embarcação anunciando o início do recebimento dos passageiros a bordo, que em fila iam subindo, os homens carregando sacos e caixas com seus pertences nas costas, alguns deles com os bilhetes ou passaporte presos entre os lábios por falta de braços desocupados. As mulheres com os filhos pequenos nos braços, muitos deles chorando assustados com todo aquele movimento desconhecido. Subiam resignadamente pela alta escada inclinada colocada ao lado do navio. Uma vez a bordo receberam a ordem de separação das famílias nas acomodações coletivas: os homens e os meninos maiores de oito anos deveriam ficar juntos, em um grande alojamento e as mulheres, com as meninas e as crianças menores em outro também bastante grande. Essas acomodações de terceira classe eram grandes salões comunitários, localizados nos porões da grande embarcação, na estiva do navio, com pouca ventilação e iluminação precária, situados bem abaixo da linha da água. O ar naqueles salões era fétido, e cheirava a fumaça expelida pelos chaminés da embarcação. Era um ar pesado para respirar e quente por falta de ventilação. Os passageiros deviam se acomodar em precários catres tipo beliche, dispostos em filas e fixados firmemente ao piso. Não havia instalações sanitárias e nem água potável suficiente para banhos para todos aqueles mais de mil passageiros que o navio iria transportar, um número sempre muito acima daquele permitido pelas autoridades do porto, mas, que por algumas liras eram liberados e ninguém mais falava sobre isso. No fim de cada fila de beliches estavam colocados grandes baldes de madeira com tampa, para servirem de latrina para todos esses passageiros usarem sem qualquer privacidade. O cheiro fétido que exalava desses porões, após alguns dias de viagem, era insuportável, uma mistura de fumaça, de corpos suados mal lavados com o odor dos dejectos desse grande número de passageiros. A higiene a bordo era por vezes muito precária e a troca desses baldes nem sempre frequentes como seria necessário.
A bordo, a família de Giovanni teve que se adaptar às condições precárias e apertadas do navio, que estava lotado de pessoas de todas as idades, provenientes da região norte da Itália. A comida era escassa e a higiene era precária, mas os imigrantes se uniram para conseguir superar essas dificuldades. Como ainda não havia frigoríficos a bordo, as aves e o gado eram levados vivos, em um curral fechado, e abatidos durante a viagem para fornecer carne para os passageiros.
Com um longo apito o navio começou a se afastar do cais e a grande aventura tinha então começado. Do convés os emigrantes viam a Itália ficando cada vez mais para trás. Muitos choravam de tristeza pelos familiares que lá tinham deixado. Outros mantinham-se calmos e até mesmo alegres por deixarem aquele país que não tinha tido condições de oferecer-lhes o mínimo necessário: um trabalho digno para manterem suas famílias. Deixavam a Itália agradecendo a Deus por reservar-lhes um futuro melhor com liberdade. Outros amargurados, mas contentes, imprecavam frases e cantavam pequenos versos maldizendo os seus antigos patrões,  antevendo com alegria o fato de que agora, com as suas saídas, os senhores das terras teriam que trabalhar. No primeiro momento até acharam o navio espaçoso, porém não sabiam que passados mais dois dias atracariam no porto de Nápoles, no sul da Itália, em uma parada anteriormente programada, mas não muito divulgada, onde embarcariam mais de 500 passageiros, pobres emigrantes como eles, provenientes das províncias mais meridionais do país. Quando esse novo grande grupo embarcou era uma profusão de gritos, choros, imprecações e palavras em vários dialetos, todos desconhecidos e não compreendidos pelos passageiros que embarcaram no porto de Gênova. Parecia até que estavam em um outro país e não na própria Itália. Aos poucos todos foram se acomodando, se bem que não havia muito dialogo entre eles, pois, com algumas poucas excessões, não falavam italiano e sim os seus próprios dialetos regionais. A convivência deles nem sempre era pacífica e algumas rusgas logo surgiram nos primeiros dias por disputa de lugares ou pela distribuição das refeições. Algumas delas até precisaram de intervenção da tripulação para apaziguar os ânimos. 
A viagem que durou trinta dias foi longa e cansativa, mas a família de Giovanni encontrou conforto em conhecer outros imigrantes e na medida do possível compartilhar histórias e culturas diferentes. A viagem foi marcada pelo aparecimento de alguns casos de doenças a bordo, principalmente entre as crianças, causadas pelas precárias condições de higiene do navio, o confinamento forçado e também o excesso de lotação, mas eles superaram tudo e chegaram ao porto do Rio de Janeiro com sucesso sem ter que lamentar por mortes a bordo. 
A chegada no porto do Rio de Janeiro foi uma experiência totalmente nova para todos aqueles pobres imigrantes que pouco ou nada conheciam além das suas pequenas vilas. A maioria não tinha nunca viajado de trem. Eles foram recebidos por um clima tropical quente e úmido, e uma cultura muito diferente da que estavam acostumados. Eles ficaram maravilhados com as praias de areia branca e as montanhas cobertas de vegetação exuberante. Os antigos escravos, pela cor da sua pele, se constituíram em uma grande novidade para eles pois, nunca tinham visto um. Depois de desembarcarem foram levados para a Hospedaria dos Imigrantes onde foram examinados por médicos, alimentados e acomodados em alojamentos limpos e organizados. Uma parte dos passageiros tinha como destino São Paulo, tal como a família de Giovanni e os seus amigos, assim tiveram que  ficar hospedados por mais três dias na hospedaria, esperando chegar  um outro navio de menor calado, que os levaria até o porto de Santos, já no estado de São Paulo.
Eles embarcaram em um navio menor para seguir viagem até Santos, onde finalmente chegaram após dois dias de viagem. A chegada em Santos foi emocionante e estressante ao mesmo tempo. Eles foram recebidos por um agente de imigração que os ajudou na transferência de Santos para São Paulo até a Hospedaria de Imigrantes dessa cidade onde foram hospedados por um dia e ficaram esperando pelo encontro com os empregados e representantes dos fazendeiros. De lá, eles foram transferidos para as fazendas onde trabalhariam com o cultivo de café. Para algumas cidades não havia trem e seguiram em carroças, outros foram de trem até próximos da fazenda. Giovanni e os demais do seu grupo estavam entre esses mais privilegiados. A fazenda que tinha contratado Giovani e seus amigos era grande e bonita, cercada por colinas e campos verdes que se estendiam a perder de vista. A família Giovanni ficou impressionada com a beleza do lugar e também com a quantidade de trabalho que teriam pela frente. Eles foram recebidos pelo administrador da fazenda, um homem chamado Antônio, que os levou para conhecer as instalações e as áreas onde eles trabalhariam. 
A primeira tarefa da família era manter limpo de ervas daninhas e cuidar de mil pés de café. Também na safra deveriam ajudar na colheita de café. Eles trabalhavam das primeiras horas da manhã até o pôr do sol, e o trabalho era muito cansativo e difícil. No entanto, eles eram gratos por terem encontrado um emprego e uma casa para morar mas ainda preocupados com o futuro, pois este trabalho no cafezal jamais os levaria a serem proprietários de sua própria terra. 
A fazenda era um lugar bastante isolado e tranquilo, longe da da cidade mais próxima. A família de Giovanni foi se adaptando lentamente à nova vida, aprendendo a língua, as tradições e a cultura local. Eles conheceram outros imigrantes italianos que também trabalhavam na fazenda, e formaram laços fortes de amizade com eles. Quando os administradores da fazenda tomaram conhecimento das habilidades de Giovanni como carpinteiro e ótimo marceneiro, ele não fez outra coisa do que trabalhar na construção e reparos de casas dentro da área da fazenda e fabricar móveis até para a casa do proprietário rural para o qual trabalhavam. Maria também era muito hábil com a horta e animais que podiam criar entorno da sua casa, herança dos seus antepassados agricultores. Colhia ovos e vendia galinhas, assim como fazia sabão, que negociava com outros colonos e até com a casa do patrão. Maria era muito econômica e prendada, com a filha Sofia faziam bolos e outros doces que vendiam no âmbito da fazenda e até mesmo na cidade mais próxima quando podiam ir até lá. Esse dinheiro que o casal e filhos ganhavam eram guardados com os salários do trabalho  de cuidados do pés de café e colheita, com a finalidade de um dia poderem adquirir um terreno na cidade e montar uma oficina de marcenaria e carpintaria.
A família também passou por momentos difíceis, como quando Francesco, o filho mais velho, ficou doente e precisou ser levado à cidade para receber tratamento médico. Eles não tinham dinheiro suficiente para pagar pelo tratamento, mas o dono da fazenda ajudou-os, cobrindo todas as despesas em forma de empréstimo, que deveria ser pago nos próximos acertos de conta. 
Passados alguns anos de trabalho árduo na fazenda, a família de Giovanni decidiu que já era hora de seguir em frente e comprar a sua própria propriedade. Já se tinham passados oito anos desde que a tinham chegado ao Brasil. Depois de acertar as contas com o proprietário da fazenda, condição contratual indispensável para poder deixar a fazenda, pagaram todas as dívidas que tinham contraído durante todo esse tempo e abandonaram definitivamente o emprego na plantação de café. Com o dinheiro que tinham economizado, há pouco mais de um ano, já haviam comprado um terreno com casa localizado em um bairro próximo do centro da pequena cidade, que ficava não muito longe da sede da fazenda. Era um lugar simples, mas suficiente para eles morar e trabalhar. Na cidade, Maria e Sofia, já tinham alguns clientes fiéis para os doces que faziam e continuaram trabalhando com esse ramo de atividade.
No quintal, ao lado da casa, Giovanni construiu uma oficina de marcenaria e carpintaria. Seus trabalhos eram elogiados e muito solicitados pelos habitantes do lugar. Os filhos Francesco e Luca, já grandes, trabalhavam ajudando o pai no seu trabalho e aprendendo a profissão de família, mantendo assim a antiga  tradição dos Scarsella. A família estava feliz por estar trabalhando em seu próprio negócio e criando algo para suas futuras gerações. Eles se dedicaram ao trabalho com amor e paciência, sabendo que o sucesso viria com o tempo e a perseverança. Com o passar dos anos a pequena oficina de Giovanni se transformou em uma grande fábrica de móveis em sociedade com os filhos a qual deram o nome de Fábrica de Móveis Piave, de Giovanni Scarsella e Filhos. Ainda continuaram com a carpintaria, mas em outro terreno, mais amplo, que tinham adquirido, que com o tempo se transformou em uma concorrida construtora, tendo sido necessário contratar diversos empregados, que se encarregavam do trabalho de construção e reparação de casas. Maria e a filha Sofia abriram um negócio de venda de pães e doces que com o tempo se transformou em uma grande confeitaria, com várias empregadas. Os filhos foram se casando, chegaram os netos mas, continuaram unidos entorno aos pais, fazendo parte dos negócios da família que eles haviam ajudado criar.
A família nunca se esqueceu de suas raízes italianas, mas também se sentiam em casa no Brasil. Eles amavam a terra, as pessoas e as tradições locais, e estavam gratos por terem encontrado uma nova vida em um lugar tão bonito e acolhedor. 
A família se tornou uma das mais respeitadas e abastadas da cidade, participando ativamente das festividades paroquiais e dos movimentos sociais da localidade. Mesmo com o sucesso, a família nunca esqueceu suas raízes e sempre se lembrava de sua jornada desde a pequena vila no Vêneto até a grande propriedade onde estavam agora. Eles se sentiam gratos por terem encontrado um lugar para chamar de lar no Brasil e por terem tido a oportunidade de construir sua própria vida.



Conto de
Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS