Espaço destinado aos temas referentes principalmente ao Vêneto e a sua grande emigração. Iniciada no final do século XIX até a metade do século XX, este movimento durou quase cem anos e envolveu milhões de homens, mulheres e crianças que, naquele período difícil para toda a Itália, precisaram abandonar suas casas, seus familiares, seus amigos e a sua terra natal em busca de uma vida melhor em lugares desconhecidos do outro lado oceano. Contato com o autor luizcpiazzetta@gmail.com
terça-feira, 12 de dezembro de 2023
Entre Lágrimas e Esperança: A Saga da Imigrante Italiana na Colônia Nova Itália
sábado, 22 de abril de 2023
Colônia Nova Itália: Uma Viagem no Tempo pelas Tradições Italianas no Paraná
terça-feira, 18 de abril de 2023
Sobrenomes Italianos na Colônia Nova Itália: Uma Janela para a História da Imigração Italiana no Paraná
terça-feira, 15 de março de 2022
Colônias Italianas de Alexandra e Nova Itália no Paraná
sábado, 9 de janeiro de 2021
O Triste Fim de Don Angelo Cavalli
Em 16 de novembro de 1877, Don Angelo Cavalli chegou na Colônia Nova Itália, localizada no município de Morretes, no Estado do Paraná, acompanhando os emigrantes vênetos que tinham embarcado com ele. Vieram também os familiares: a mãe Antonia, o irmão Liberale e seus dois filhos Antonio e Domenico, um outro irmão Girolamo, com a sua mulher Giovanna e os quatro filhos do casal: Felicità, Antonia, Angelo e Maria. A Colônia Nova Italia tinha sido fundada em 22 de abril de 1877 e em pouco tempo já estava ocupada por milhares de imigrantes, todos de nacionalidade italiana. No mês de dezembro, desse mesmo ano já eram 2.461 pessoas. Não havia uma estrutura adequada e suficiente para receber tanta gente, e durante vários meses ainda continuava chegando novas levas de imigrantes. Ficavam amontoados em precários barracões construídos apressadamente.
No período de espera da consignação dos lotes, os imigrantes recebiam da administração da colônia, uma diária de seiscentos réis por adulto e trezentos réis para os rapazes com idade superior a 10 anos.
No mês de dezembro de 1877 a Colônia Nova Italia foi palco de uma revolta dos imigrantes. que temiam perder o dinheiro que recebiam, os equipamentos de trabalho prometidos e as sementes. Quando aconteceu essa manifestação dos imigrantes, fazia parte dela, como um dos líderes dos revoltosos, o padre Don Angelo Cavalli, a menos de um mês de sua permanência no Brasil. Pelas correspondências do inspetor especial enviado pelo governador da província, podemos ver um telegrama onde descrevia que: "estão entre os revoltosos os imigrantes apenas chegados nesta colônia". Já existia um outro padre registrado na colônia e que recebia regularmente o seu salário, mesmo que estivesse sempre ausente. Don Cavalli que era o verdadeiro guia espiritual dos imigrantes nunca exibiu os seus documentos clericais para poder também receber o auxílio, apesar das várias solicitações do tesoureiro da colônia para que ele enviasse os seus documentos para regularizar a sua situação como pároco. Don Cavalli nunca os apresentou, porque não os tinha recebido do seu antigo bispo na Itália.
A situação dos imigrantes continuava se agravando na Colônia Nova Italia. O clima típico de litoral na região, quente e muito úmido, era desfavorável ao plantio de certas culturas a que estavam habituados a cultivar. As frequentes inundações, que facilitavam a disseminação de doenças como a febre amarela, transmitida por mosquitos, que abundavam naquele terreno encharcado e localizado muito próximo da floresta tropical.
Devido as precárias condições de vida que estavam passando, os colonos fizeram uma solicitação para o governo da província do Paraná para transferir-los para uma outra localidade. E isso foi feito, com os colonos se estabelecendo em novas áreas do Paraná.
Os antigos paroquianos de Don Angelo Cavalli subiram a Serra do Mar, e se estabeleceram no grande planalto em volta de Curitiba, a capital da província. O local onde se estabeleceram foi a Colônia Alfredo Chaves, fundada em 1879, que disponha de melhores acomodações para receber os imigrantes sendo que o clima e as terras eram de boa qualidade. A Colônia de Alfredo Chaves anos mais tarde deu origem a progressista cidade de Colombo.
Don Angelo Cavalli faleceu com a idade de 39 anos, provavelmente, após dois anos da sua chegada ao Brasil, muito provavelmente vítima da febre amarela. A data exata do seu falecimento, a causa mortis e o local da sua sepultura não foi possível determinar, apesar das várias pesquisas realizadas em vários arquivos do Estado do Paraná, especialmente da Catedral de Curitiba, onde deveria constar o nome de um padre falecido com a assistência de um sacerdote.
A única indicação do seu falecimento, até agora encontrado, foi uma carta enviada por sua mãe com data de 29 de novembro de 1879, dirigida ao presidente da Província do Paraná onde ela escreveu: "A colona Antonia Cavalli, viúva, estabelecida na Colônia Alfredo Chaves, depois da morte do seu filho Angelo e após outras desgraças, se encontra hoje na mais terrível miséria, sendo os seus filhos impossibilitados de manter-la. Por isso a abaixo assinada humildemente suplica à Vossa Excelência se digne ordenar que seja-lhe concedida uma ajuda de qualquer tipo, para que possa manter uma filha ainda jovem...".
É muito possível que ele tenha contraído alguma doença epidêmica, como a febre a amarela ou o cólera, que apareceram nesse período e tivesse sido rapidamente enterrado, em uma fossa comum, devido o medo da propagação do mal.
Na verdade, foi um fim muito triste para aquele que ajudou a tantos seus semelhantes a encontrarem na emigração um melhor destino para as suas vidas.
Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS
quarta-feira, 28 de outubro de 2020
Padre Pietro Colbacchini nas Colônias Italianas do Paraná
O Padre Pietro Colbacchini também é lembrado pelo fato de ter escrito dois longos relatórios para os seus superiores e autoridades italianas, ambos publicados e divulgados. Um destes, no qual trata sobre o tema dos imigrantes, foi escrito em Curitiba e enviado, em outubro de 1892, ao Marquês João Batista Volpe Landi, no município italiano de Piacenza, então Presidente da Sociedade Italiana de São Rafael. O outro relatório, com tema referente a emigração italiana, foi enviado, em 1895, ao Ministro do Exterior da Itália.
No relatório do missionário italiano datado de 1892, ele relatou as precárias condições daqueles colonos que viviam no litoral paranaense, no período de 1875 e 1877. Entre outros tantos problemas, Colbacchini destacava no relatório principalmente as doenças que acometiam os imigrantes causadas pelos insetos. Assim descreveu a situação dos imigrantes das Colônias Alexandra e Nova Itália, ambas no litoral paranaense:
"...Durante o dia os trabalhos eram insuportáveis devido o calor excessivo e por enxames de mosquitos que fazem inchar as partes descobertas das pessoas e produzem fortes incômodos; à noite outra espécie do mesmo rompe o sono e sangra os pobres imigrantes. Entre a carne e a pele as picadas de um outro verme, que assume no seu desenvolvimento a grossura de um feijão, e que vem injetado por uma mosca cor de ouro (berne). Nos pés, especialmente nas extremidades e no calcanhar, coceiras insuportáveis e feridas malcheirosas, produzidas por outro inseto (bicho de pé) que nidifica e incuba, e se desenvolve como uma pequena pulga. As crianças e os velhos são os mais susceptíveis a esta grave enfermidade, que não respeita, todavia, idade e sexo ou condição das pessoas. A isto acrescento as consequências produzidas diretamente pelo clima, isto é, tontura, enfraquecimento dos membros, falta de apetite, desânimo, preguiça e tédio da vida. Esta é a verdadeira condição daqueles que vivem no litoral do Paraná".
Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS
quarta-feira, 9 de setembro de 2020
Emigração Italiana no Paraná
No ano de 1875 chegaram os primeiros italianos na Província do Paraná. Eles eram constituídos por famílias de vênetos e foram destinados às colônias imperiais recém criadas de Morretes e Antonina, localizadas próximas de Paranaguá. Essas colônias foram idealizadas dentro de um grande projeto imperial de imigração, que pretendia trazer milhares de famílias italianas para serem assentadas na região. Grupos de corretores, terceirizados por uma companhia de imigração constituída a propósito, que havia ganho a indicação imperial para a prestação deste serviço, passaram a percorrer as vilas e cidades mais afetadas pelo grande desemprego que assolava a Região do Vêneto em particular e a Itália em geral, naquele período situado nos últimos 25 anos do século XIX.
Distribuíam panfletos e visitavam os locais onde se reuniam os camponeses diaristas à espera de trabalho, como pontos de reunião, praças, bares, igrejas, festas paroquiais e, com muita conversa mas também com inúmeras promessas, exageradas e quase sempre não verdadeiras, conseguiam com facilidade convencer aqueles mais desesperados a empreenderem a longa viagem. Milhares deles respondiam quase prontamente, assinando o devido contrato. Outros os levavam para casa, junto com os panfletos de propaganda, para junto da família decidirem qual o caminho que deveriam tomar. No entanto estavam decididos a mudar de vida, pois, aquela que estavam vivendo não poderiam continuar por mais tempo.
Carroças com Imigrantes Italianos levando produtos agrícolas para Curitiba |
Igreja Matriz Santa Felicidade início século XX |
Os problemas surgidos nessas duas colônias foram sobretudo, decorrentes da má administração dos funcionários da companhia de imigração encarregados em zelar no bem estar dos recém chegados. As precárias instalações colocadas à disposição das famílias; a comida que era servida, escassa e até totalmente desconhecida pelos imigrantes; o clima de litoral encontrado na região, muito quente e úmido, era diferente do que eles estavam acostumados nas suas terras natal; a má qualidade da terra e os tipos de culturas que eram obrigados a cultivar, que não estavam habituados, foram, entre outros, o motivo que levou ao fim dessas colônias italianas no Paraná.
Igreja Matriz de Colombo |
Colombo |
Segundo as estatísticas, no início do século XX, no ano de 1900, viviam no estado do Paraná uma população de mais de trinta mil italianos, espalhados por 14 colônias somente de italianos e em mais 20 outras com população mista com imigrantes de outras procedências.
Colônia Faria 1888 - Colombo |
Dr. Luiz Carlos Piazzetta
Erechim RS
terça-feira, 6 de março de 2018
Colônia Nova Itália e a Imigração Vêneta no Paraná
Em um artigo, surgido no mês de Março de 1878, no jornal Dezenove de Dezembro já se relatava que: "existem mais de trezentos lotes já demarcados, cento e poucos estão ocupados e os restantes tem casas construídas já há seis meses, mas, ainda sem teto, quase todas danificadas por estarem expostas ao tempo, por terem sido construídas com péssimo material adquirido a preço esorbitante. Não existe uma estrada para os lotes e os colonos os recusam pois são invadidos pelas águas durante as cheias dos rios ou localizados em terreno muito montanhoso. Os colonos estão quase na miséria, sem roupas, sem casas habitáveis, sem sementes para as suas primeiras plantações. Estão completamente desencorajados, ainda mais que muitos terrenos distribuídos são ruins e pantanosos".
Em Março do mesmo ano, proveniente do Rio de Janeiro, chegaram alguns navios e com eles doentes com febre amarela. Já no dia 20 de Março a cidade de Antonina foi atingida por uma epidemia desta terrível doença, que apesar dos esforços para contê-la rapidamente atingiu Morretes e Paranaguá, e também a notícia das primeiras mortes.
A Colônia Nova Itália foi bastante atingida pela epidemia de febre amarela e as mortes foram muitas. Porém, outras doenças também graves ceifavam a vida dos primeiros imigrantes: a anemia por verminoses que atingiam especialmente as crianças, as doenças transmitidas por mosquitos que infestavam aquela zona assim como aquelas provocadas por outros parasitos, menos conhecidos, como o bicho-de-pé, que tornavam um inferno a vida daqueles pioneiros. O descontentamento era geral entre os colonos. Alguns procuravam meios para retornarem a seus países, sem encontrarem muita ajuda. Finalmente no mês de Julho o governo do Paraná resolveu transportar parte dos habitantes da Colônia Nova Itália, para colônias localizadas ao redor de Curitiba, a capital do Estado, o que veio a solucionar este problema.