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terça-feira, 12 de dezembro de 2023

Entre Lágrimas e Esperança: A Saga da Imigrante Italiana na Colônia Nova Itália


 

Entre Lágrimas e Esperança: 
A Saga da Imigrante Italiana na Colônia Nova Itália


Nos versos que ecoam a voz da história,
Relato a jornada de uma alma forte,
Imigrante italiana, longe de casa,
Em busca de um futuro, de um novo norte.

A dor em seu peito, o desamparo,
Ao desembarcar na colônia distante,
A visão desoladora, um mundo rude,
Onde a luta seria constante.

Os olhos cansados encontravam miséria,
Faltavam alimentos, agasalho, abrigo,
Casas precárias, um lar desolado,
Onde a esperança parecia um castigo.

Insetos invasores, portadores de dor,
Causavam feridas, máculas no corpo,
A pele marcada, a alma abatida,
A mulher imigrante enfrenta o escorço.

Mas em meio ao caos, um raio de luz,
A alegria estampada nos rostos sofridos,
Pois mesmo com as adversidades cruéis,
Chegaram com saúde, corações renascidos.

A força da união, das mãos que se dão,
Na colônia de Nova Itália, em Morretes,
A solidariedade, manto de esperança,
E a mulher imigrante se levanta, se refaz.

Os dias difíceis forjaram sua resiliência,
A raiva se tornou em fervor resistente,
No trabalho árduo, na superação diária,
Ela encontrou a força, foi persistente.

Nos campos verdejantes, com suor e sacrifício,
A mulher imigrante semeou sua nova pátria,
Das terras brasileiras, colheu frutos de glória,
Transformou o deserto em jardim, em sinfonia.

Ainda com marcas do passado,
Mas com olhar de gratidão,
A mulher imigrante, símbolo de luta,
Encontrou no Brasil nova comunhão.

Neste poema, celebro sua coragem,
A dor enfrentada, os sentimentos vividos,
Uma mulher imigrante, exemplo de força,
Que escreveu sua história, mesmo nos tempos mais duros e sofridos.




sábado, 22 de abril de 2023

Colônia Nova Itália: Uma Viagem no Tempo pelas Tradições Italianas no Paraná

Igreja da Colônia Nova Itália no Paraná

Era o ano de 1878 e a grande colônia italiana de Nova Itália, o segundo grande experimento oficial de colonização da província, com uma população de mais de oitocentos imigrantes, localizada próximo de Paranaguá, entre as cidades de Antonina e Morretes, no Paraná, estava passando, desde algum tempo, por um período crítico de grande agitação. Desde a sua fundação em 1872, criada às pressas para acolher os imigrantes retirantes da mal sucedida Colônia Alexandra, esse novo assentamento era bem maior, com vários núcleos de povoamento, ainda não tinha mostrado o desenvolvimento e a pujança que as autoridades do governo tanto esperavam. Já de algum tempo as condições de vida na colônia estavam bastante corroídas, tendo já ocorrido diversas reclamações dos imigrantes contra a administração da colônia. Havia uma falta crônica de material para a construção das casas, de sementes, roupas e até de alimentos para os colonos, os quais depois de seis anos ainda dependiam totalmente do estado para praticamente tudo. Diversos abaixo-assinados foram enviados para as autoridades competentes em Curitiba, sem receberem solução adequada. O descontentamento para esta situação era generalizado e cresciam as manifestações de protestos contra a administração da colônia, as quais estavam ficando cada vez mais violentas. Os colonos exigiam do governo a sua transferência para outro local, fazendo valer uma das cláusulas constante nos seus contratos. Por diversas vezes a autoridades provinciais estiveram no local avaliando a situação, prometendo melhorias que acabaram não acontecendo, mas agora os colonos estavam irredutíveis exigindo transferência de local. Na realidade a extensa região que a colônia tinha sido implantada e onde se estabeleceram os diversos núcleos de povoamento da mesma, tinham condições muito diferentes na qualidade do solo. Alguns dos terrenos tinham áreas com possibilidade de algum cultivo e outros eram quase todo de terreno arenoso e alagadiço, impróprios para as culturas pretendidas. Por outro lado, o clima quente, muito úmido e os incômodos insetos típicos da zona litorânea, que tantas doenças causavam, estavam presentes indistintamente neles todos. O contrato oficial assinado pelos colonos com as autoridades brasileiras, estipulava que se eles, por qualquer motivo, não se adaptassem na colônia oferecida, poderiam solicitar ao governo paranaense a transferência para outro local. Os imigrantes italianos que ali tinham sido assentados, estavam preocupados com o seu futuro naquela colônia de clima ruim e terras magras para o cultivo e teimava em não progredir, isso também devido por se encontrar longe de um grande centro consumidor para os seus produtos. Muitos desses colonos já haviam começado a trabalhar como diaristas nas obras de construção da Estrada da Graciosa e da Estrada de Ferro Paranaguá Curitiba, mas o que conseguiam ganhar segundo eles mal dava para sustentar a família.
Cada vez mais a ideia de se transferir para Curitiba tomava corpo, estimulada pelas notícias que chegavam através dos tropeiros, viajantes comerciais ou mesmo em conversas com o pessoal da ferrovia, muitos deles trazidos da capital. Aqueles imigrantes que ainda tinham alguma reserva financeira, trazida da Itália, se adiantaram e por conta própria empreendiam a viagem até Curitiba, comprando em conjunto terrenos em alguns pontos da cidade, tal como a Colônia Santa Felicidade. Curitiba era uma cidade ainda pequena, mas como uma capital de província tinha um futuro muito promissor e isso era fácil de se perceber. As terras em torno da cidade eram de ótima qualidade para qualquer tipo de cultivo e o clima temperado de montanha, quase idêntico aquele da Itália que haviam deixado. A cidade era movimentada e cheia de vida, em franco crescimento, necessitando de muita mão de obra para as suas fábricas e de gêneros alimentícios para alimentar a população que não parava de crescer. Eles sabiam que não seria fácil se adaptar a um novo lugar, mas estavam dispostos a tentar. Então, a maioria decidiu se mudar para Curitiba. O governo provincial, depois de alguma relutância e atraso, finalmente cedeu e liberou a saída dos colonos da Colônia Nova Itália para aqueles que assim desejassem e até ajudou no transporte e na alocação das famílias em diversas outras colônias que estavam sendo criadas entorno da capital. 


Texto 
Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS






terça-feira, 18 de abril de 2023

Sobrenomes Italianos na Colônia Nova Itália: Uma Janela para a História da Imigração Italiana no Paraná



Alguns Sobrenomes de Imigrantes Italianos 

da Colônia Nova Itália em

Morretes Paraná




Bacci, Bavetti, Belotto, 
Bergonse, Bertholdi, Bertagnolli, Bettega, Bindo, Borsatto, Bortholin, 
Bortholuzzi, Brustolin, 
Buzetti, Canetti, Carazzai, 
Carta, Casagrande, Cavagnolli, 
Cavagnari, Cavalli, Cavallin, 
Cavogna, Cerobin, Cheminazzo, 
Cherobin, Chiarello, 
Cini, Cit, Comandulli, Contin, 
Costa, Cusman, D' Igna, D' Stella, 
Dal'Col, Dalcucchi, Dalla Bianca, 
Dalla Negro, De Bona, De Carli, De Lay, 
De Mio, De Paola, De Rocco, Dirienzo, 
Della Bianca, Dotti, Ercole, Fabris, Favoretto, Ferrari, Ferrarini, Ferruci, 
Filipeti, Foltran, Fontana, Frachino, Fruscolin De Fiori, Gabardo, Galli, Gaio, 
Gasparin, Ghignone, Giglio, Giorgi, 
Gobbo, Grandi, Gregorini, Grossi, 
Guzzoni, Jacomelli, Lati, Lazzarotto, 
Lucca, Lunardeli, Madalozzo, 
Manfredini, Manosso, 
Marchioratto, Marconsin, Marcon, 
Mazza, Meduna, Menegazzo, 
Meneghetti, Menin, Miranda, Mori, 
Moro, Moreschi, Muraro, 
Nadalin, Nori, Olivetti, Orlandi, 
Orreda, Panzolini, Pasquini, 
Pedinato, Pietrobom, Pilatti, 
Piazza, Poletto, Pontoni, Possiedi, 
Possiedi, Ramagnolli, Ramina, 
Robassa, Roncaglio, Rossi, 
Salvare, Santi, Sanson, 
Savio, Scarante, Scarpin, Scorzin, Scremin, Semionatto, Sguário, Simeão, 
Simon, Sperandio, Stocco, Stocchero, Strapasson, Sundin, Talamini, Tessari, 
Tozetto, Todeschini, Trevisan, Trombini, Tramontini, Triacchini, Túllio, Turin, Valério, Valenti, Valenza, Vardanega, Vicentini, Volpato, Zalton, Zampieri, Zanardi, Zanardini, Zanella, Zanetti, Zanier, Zanon, Zem, Zilli, Zortea 
e muitos outros




Alguns Nomes de Imigrantes e Cidades de Proveniência na Itália 


Angelo Ciscata, de Belluno
Angelo de Rocco, de Belluno
André Buzetti, de Treviso
André Simon, de Treviso
Antonio Chierigatti, de Mantova
Antonio Consentino, de Cosenza
Antonio de Bona, de Belluno
Antonio Dalcucchi, de Mantova
Antonio Fruscolin, de Belluno
Antonio Orreda, de Treviso
Antonio Pedinato, de Vicenza
Antonio Robassa, de Treviso
Benjamim Zilli, de Treviso
Battista Citti, de Belluno
Bortolo Foltran, de Treviso
Domingos Dall' Negro, de Treviso
Francisco Filipetti, de Treviso
Giuseppe Gnatta, de Vicenza
José Dal' Col, de Treviso
José Fabris, de Vicenza
José Sanson, de Treviso
Júlio Vila Nova, de Belluno
Luiz de Fiori, de Belluno
Luiz Tonetti, de Treviso
Marcos Tosetto, de Vicenza
Marcelino Meduna, de Treviso
Pedro Callegari, de Treviso
Pio Manosso, de Vicenza
Vicente Bettega, de Treviso







terça-feira, 15 de março de 2022

Colônias Italianas de Alexandra e Nova Itália no Paraná

Estação Ferroviária de Alexandra
 






O empresário italiano Savino Tripotti, natural de Teramo, região de Abruzzo, foi quem organizou a Colônia Alexandra, fundada no ano de 1872 e inaugurada logo em seguida com a chegada do primeiro grupo de imigrantes italianos, trazidos pelos navios Anna Pizzorno e Liguria. 

Após uma longa travessia do oceano, desembarcaram na Ilha das Flores, no litoral do Rio de Janeiro. Passados alguns dias embarcaram novamente em outro navio em direção ao Porto de Paranaguá destino final da longa viagem.

Nesta cidade foram abrigados na Casa de Imigração por conta do governo provincial e logo transportados e encaminhados para a Colônia Alexandra para ocuparem os lotes a eles destinados.

A impressão que tiveram não foi das melhores e o desânimo tomou conta de todos. Esmorecidos, perceberam que a tão sonhada terra prometida não era bem aquilo que eles imaginaram e o que tinha sido apregoado pelos agentes de emigração ainda na Itália. Os seus lotes ficavam muito longe das cidades mais próximas de Morretes e Paranaguá, localizados em terrenos inadequados, alagadiços, arenosos ou muito pedregosos, praticamente inabitáveis e onde não seria possível cultivar.

Logo sentiram que o clima da região era muito diferente daquele que eles estavam acostumados na Itália. Muito calor e umidade que provocavam uma sensação de abafamento. A infestação de mosquitos e outros insetos, causavam doenças, algumas desconhecidas, como o irritante bicho de pé e grandes moscas, que depositavam seus ovos em qualquer parte do corpo e cujas larvas causavam o berne. 

Doenças para eles desconhecidas começaram a surgir entre eles, agravadas pela falta de médicos e de um serviço de saúde. Quando nas maiores emergências apelavam para os curandeiros e aos giustaossi, os quais tinham grande prestígio no meio da população nativa brasileira.

Em pouco tempo a Colônia de Alexandra tinha uma população de 870 habitantes, quando o diretor Savino Tripotti os abandonou, alegando não ter mais recursos para manter funcionando a colônia. 

Enquanto isso os imigrantes italianos continuavam chegando em número cada vez maior. Estes recém chegados ao tomarem conhecimento das condições em que estavam os primeiros que chegaram, se negaram em se instalar na Colônia Alexandra.

O governo provincial foi obrigado rescindir o contrato com o empresário e a criar rapidamente uma outra colônia, em Morretes, que foi denominada Colônia Nova Itália. 

Devido a desorganização interna, o rigor do clima tropical e as duras condições de vida, quase iguais aquelas de Alexandra, a colônia Nova Itália não conseguiu progredir e em pouco tempo também teve o mesmo destino. 

Estação Ferroviária de Morretes




Com o declínio da colônia muitos imigrantes italianos já trabalhavam na construção da estrada ferro Paranaguá - Curitiba como uma opção para ganhar a vida.


Entre os colonos muitos deles tinham uma outra profissão, aprendida ainda na Itália. Haviam, entre outros, carpinteiros, pedreiros, marceneiros, ferreiros, canteiros, alfaiates, sapateiros, que aos poucos se estabeleceram em Morretes e Paranaguá.


No livro n° 239 intitulado "Livro de Contas de Colonos de Morretes - 1878", encontram-se registrados muitos nomes de imigrantes italianos que ali se fixaram, depois de uma passagem pelas colônias: Lazarotto Pietro, Taverna Giacomo, Trevizan Giuseppe, Simioni Giovani, Mocelin Adamo, Mottin Giovani, Maschio Francesco e outros. Alguns registros nesse livro apontam que para esses imigrantes o Governo Provincial havia entregue ferramentas, utensílios de trabalho e alimentos.


Mesmo depois do declínio da Colônia Nova Itália muitos desses imigrantes continuaram trabalhando na construção da estrada de ferro, outros, a grande maioria, subiram a Serra do Mar e se fixaram nas terras férteis e de clima ameno, nos arredores de Curitiba.



Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS


sábado, 9 de janeiro de 2021

O Triste Fim de Don Angelo Cavalli

Primeira Igreja da Colônia Nova Itália em Morretes


Em 16 de novembro de 1877, Don Angelo Cavalli chegou na Colônia Nova Itália, localizada no município de Morretes, no Estado do Paraná, acompanhando os emigrantes vênetos  que tinham embarcado com ele. Vieram também os familiares: a mãe Antonia, o irmão Liberale e seus dois filhos Antonio e Domenico, um outro irmão Girolamo, com a sua mulher Giovanna e os quatro filhos do casal: Felicità, Antonia, Angelo e Maria. A Colônia Nova Italia tinha sido fundada em 22 de abril de 1877 e em pouco tempo já estava ocupada por milhares de imigrantes, todos de nacionalidade italiana. No mês de dezembro, desse mesmo ano já eram 2.461 pessoas. Não havia uma estrutura adequada e suficiente para receber tanta gente, e durante vários meses ainda continuava chegando novas levas de imigrantes. Ficavam amontoados em precários barracões construídos  apressadamente. 

No período de espera da consignação dos lotes, os imigrantes recebiam da administração da colônia, uma diária de seiscentos réis por adulto e trezentos réis para os rapazes com idade superior a 10 anos. 

No mês de dezembro de 1877 a Colônia Nova Italia foi palco de uma revolta dos imigrantes. que temiam perder o dinheiro que recebiam, os equipamentos de trabalho prometidos e as sementes. Quando aconteceu essa manifestação dos imigrantes, fazia parte dela, como um dos  líderes dos revoltosos, o padre Don Angelo Cavalli, a menos de um mês de sua permanência no Brasil. Pelas correspondências do inspetor especial enviado pelo governador da província, podemos ver um telegrama onde descrevia que: "estão entre os revoltosos os imigrantes apenas chegados nesta colônia". Já existia um outro padre registrado na colônia e que recebia regularmente o seu salário, mesmo que estivesse sempre ausente. Don Cavalli que era o verdadeiro guia espiritual dos imigrantes nunca exibiu os seus documentos clericais para poder também receber o auxílio, apesar das várias solicitações do tesoureiro da colônia para que ele enviasse os seus documentos para regularizar a sua situação como pároco. Don Cavalli nunca os apresentou, porque não os tinha recebido do seu antigo bispo na Itália.

A situação dos imigrantes continuava se agravando na Colônia Nova Italia. O clima típico de litoral na região, quente e muito úmido,  era desfavorável ao plantio de certas culturas a que estavam habituados a cultivar. As frequentes inundações, que facilitavam a disseminação de doenças como a febre amarela, transmitida por mosquitos, que abundavam naquele terreno encharcado e localizado muito próximo da floresta tropical. 

Devido as precárias condições de vida que estavam passando, os colonos fizeram uma solicitação para o governo da província do Paraná para transferir-los para uma outra localidade. E isso foi feito, com os colonos se estabelecendo em novas áreas do Paraná. 

Estrada de Ferro Curitiba Paranaguá trecho da Serra do Mar

Os antigos paroquianos de Don Angelo Cavalli subiram a Serra do Mar, e se estabeleceram no grande planalto em volta de Curitiba, a capital da província. O local onde se estabeleceram foi a Colônia Alfredo Chaves, fundada em 1879, que disponha de melhores acomodações para receber os imigrantes sendo que o clima e as terras eram de boa qualidade. A Colônia de Alfredo Chaves anos mais tarde deu origem a progressista cidade de Colombo.

Don Angelo Cavalli faleceu com a idade de 39 anos, provavelmente, após dois anos da sua chegada ao Brasil, muito provavelmente vítima da febre amarela. A data exata do seu falecimento, a causa mortis e o local da sua sepultura não foi possível determinar, apesar das várias pesquisas realizadas em vários arquivos do Estado do Paraná, especialmente da Catedral de Curitiba, onde deveria constar o nome de um padre falecido com a assistência de um sacerdote. 

A única indicação do seu falecimento, até agora encontrado, foi uma carta enviada por sua mãe com data de 29 de novembro de 1879, dirigida ao presidente da Província do Paraná onde ela escreveu: "A colona Antonia Cavalli, viúva, estabelecida na Colônia Alfredo Chaves, depois da morte do seu filho Angelo e após outras desgraças, se encontra hoje na mais terrível miséria, sendo os seus filhos impossibilitados de manter-la. Por isso a abaixo assinada humildemente suplica à Vossa Excelência se digne ordenar que seja-lhe concedida uma ajuda de qualquer tipo, para que possa manter uma filha ainda jovem...".

É muito possível que ele tenha contraído alguma doença epidêmica, como a febre a amarela ou o cólera, que apareceram nesse período e tivesse sido rapidamente enterrado, em uma fossa comum, devido o medo da propagação do mal. 

Na verdade, foi um fim muito triste para aquele que ajudou a tantos seus semelhantes a encontrarem na emigração um melhor destino para as suas vidas.  




Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS











quarta-feira, 28 de outubro de 2020

Padre Pietro Colbacchini nas Colônias Italianas do Paraná




O Padre Pietro Colbachini nasceu em 11 de setembro de 1845 no município de Bassano del Grapa, localizado na província de Vicenza, Região do Vêneto, Itália. Ele ingressou na Ordem da Companhia de Jesus com a idade de 18 anos. Ordenou-se em 26 de julho de 1869 com 24 anos e permaneceu por 15 anos em serviço pastoral na Itália. Quando manifestou seu interesse em vir ao Brasil para oferecer assistência religiosa aos imigrantes italianos não recebeu aprovação da Companhia de Jesus, procurando outra congregação para realizar tal feito. Encontrou na Congregação dos Scalabrinianos a possibilidade, chegando ao Paraná no ano de 1885 estabelecendo-se no núcleo colonial Dantas, na paróquia do bairro Água Verde em Curitiba. O padre Pietro Colbachini atuou junto aos Scalabrinianos, a Congregação dos Missionários de São Carlos, que tinha como principal missão a assistência aos imigrantes e por essa razão veio ao Paraná, muito embora não tenha deixado de lado todo o ensinamento recebido da Ordem Jesuítica. Entrava em contradição inclusive com a Ordem Scalabriniana, negando a integração entre o catolicismo e a italianidade. Em vários documentos ainda conservados, podemos observar que o padre também era conhecido como “o feroz Jesuíta” e não como um missionário Scalabriniano. 


 


Passou grande parte de sua estada no Brasil como missionário, atendendo as colônias paranaenses Dantas (Água Verde), Santa Felicidade, Alfredo Chaves, Antonio Rebouças, Campo Comprido, Santa Maria do Novo Tirol da Boca da Serra, Murici e Zacarias. Todas elas no planalto de Curitiba, e que faziam parte da Capelania Curata Italiana, criada para dar assistência religiosa aos imigrantes italianos e estava estabelecida na Capela da Colônia de Santa Felicidade. 



O Padre Pietro Colbacchini também é lembrado pelo fato de ter escrito dois longos relatórios para os seus superiores e autoridades italianas, ambos publicados e divulgados. Um destes, no qual trata sobre o tema dos imigrantes, foi escrito em Curitiba e enviado, em outubro de 1892, ao Marquês João Batista Volpe Landi, no município italiano de Piacenza, então Presidente da Sociedade Italiana de São Rafael. O outro relatório, com tema referente a emigração italiana, foi enviado, em 1895, ao Ministro do Exterior da Itália. 



No relatório do missionário italiano datado de 1892,  ele relatou as precárias condições daqueles colonos que viviam no litoral paranaense, no período de 1875 e 1877. Entre outros tantos problemas, Colbacchini destacava no relatório principalmente as doenças que acometiam os imigrantes causadas pelos insetos. Assim descreveu a situação dos imigrantes das Colônias Alexandra e Nova Itália, ambas no litoral paranaense:

"...Durante o dia os trabalhos eram insuportáveis devido o calor excessivo e por enxames de mosquitos que fazem inchar as partes descobertas das pessoas e produzem fortes incômodos; à noite outra espécie do mesmo rompe o sono e sangra os pobres imigrantes. Entre a carne e a pele as picadas de um outro verme, que assume no seu desenvolvimento a grossura de um feijão, e que vem injetado por  uma mosca cor de ouro (berne). Nos pés, especialmente nas extremidades e no calcanhar, coceiras insuportáveis e feridas malcheirosas, produzidas por outro inseto (bicho de pé) que nidifica e incuba, e se desenvolve como uma pequena pulga. As crianças e os velhos são os mais susceptíveis a esta grave enfermidade, que não respeita, todavia, idade e sexo ou condição das pessoas. A isto acrescento as consequências produzidas diretamente pelo clima, isto é, tontura, enfraquecimento dos membros, falta de apetite, desânimo, preguiça e tédio da vida. Esta é a verdadeira condição daqueles que vivem no litoral do Paraná"



Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS

quarta-feira, 9 de setembro de 2020

Emigração Italiana no Paraná

Igreja da Colônia Italiana de Nova Itália

No ano de 1875 chegaram os primeiros italianos na Província do Paraná. Eles eram constituídos por famílias de vênetos e foram destinados às colônias imperiais recém criadas de Morretes e Antonina, localizadas próximas de Paranaguá. Essas colônias foram idealizadas dentro de um grande projeto imperial de imigração,  que pretendia trazer milhares de famílias italianas para serem assentadas na região. Grupos de corretores, terceirizados por uma companhia de imigração constituída a propósito, que havia ganho a indicação imperial para a prestação deste serviço,  passaram a percorrer as vilas e cidades mais afetadas pelo grande desemprego que assolava a Região do Vêneto em particular e a Itália em geral, naquele período situado nos últimos 25 anos do século XIX. 



Distribuíam panfletos e visitavam os locais onde se reuniam os camponeses diaristas à espera de trabalho, como pontos de reunião, praças, bares, igrejas, festas paroquiais e, com muita conversa mas também com inúmeras  promessas, exageradas e quase sempre não verdadeiras, conseguiam com facilidade convencer aqueles mais desesperados a empreenderem a longa viagem. Milhares deles respondiam quase prontamente, assinando o devido contrato. Outros os levavam para casa, junto com os panfletos de propaganda, para junto da família decidirem qual o caminho que deveriam tomar. No entanto estavam decididos a mudar de vida, pois, aquela que estavam vivendo não poderiam continuar por mais tempo. 

Carroças com Imigrantes Italianos levando produtos agrícolas para Curitiba 

O desemprego atingia cada vez mais trabalhadores camponeses e pequenos artesãos e a fome já rondava há tempo os lares mais pobres em todo o Vêneto. O recrutamento era uma atividade legal, estimulada quase sempre pelo governo italiano para evitar a explosão que se aproximava . A companhia de emigração tinha a autorização para funcionar, e mesmo, falar em nome do governo imperial brasileiro. As autoridades italianas faziam vista grossa, pois, a situação era de calamidade. Foram muito poucos, aqueles que levantaram a voz pedido a interrupção da liberdade para emigrar. Eram especialmente os produtores rurais donos de terras e mais alguns políticos, aqueles que viam na emigração um mal maior para o país.  Evidentemente que estavam falando em causa própria, pois, com a saída de uma grande parte da população os deixaria sem aquela mão de obra barata e de fácil contratação que estavam acostumados. A Igreja em geral apoiava os esforços para liberação da emigração e, em muitos casos, também dela participou em várias paróquias, onde os sacerdotes partiram junto com os seus fiéis em busca de uma nova vida em terras distantes. 

Igreja Matriz Santa Felicidade início século XX

As Colônias Italianas de Alexandra e a de Nova Itália, localizadas nas regiões de intorno a Morretes e Antonina, tiveram inúmeros problemas, desde o início da instalação, que desiludiram e irritaram a maioria dos imigrantes, os quais chegaram a se rebelar contra as suas administrações. Estes acontecimentos influíram decisamente na vida dos primeiros imigrantes vênetos assentados na Província do Paraná. 

Os problemas surgidos  nessas duas colônias foram sobretudo, decorrentes da má administração dos funcionários da companhia de imigração encarregados em zelar no bem estar dos recém chegados. As precárias instalações colocadas à disposição das famílias; a comida que era servida, escassa e até totalmente  desconhecida pelos imigrantes; o clima de litoral  encontrado na região, muito quente e úmido, era diferente do que eles estavam acostumados nas suas terras natal; a má qualidade da terra e os tipos de culturas que eram obrigados a cultivar, que não estavam habituados, foram, entre outros, o motivo que levou ao fim dessas colônias italianas no Paraná. 

Igreja Matriz de Colombo 

A maioria dos imigrantes foi remanejada para terras férteis próximas da capital paranaense, onde desde 1872 já se encontravam outros imigrantes. Também, aqueles imigrantes trabalhadores do campo e os pequenos artesãos que tinham trazido consigo algum dinheiro, geralmente este obtido da venda dos poucos bens que deixaram na Itália, reuniam-se em grupos e adquiriam, por conta própria, terrenos bem situados na periferia de Curitiba e ali se instalavam constituindo uma comunidade. Da venda da produção agrícola desses lotes tiravam o sustento para as famílias, com a venda de produtos hortifrutigranjeiros comercializados por toda a Curitiba. 


Os artesãos logo conseguiam trabalho abrindo oficinas e negócios por conta própria ou trabalhando como operários nas indústrias da capital. Essas colônias se tornaram o ponto de partida para o surgimento de inúmeros importantes bairros curitibanos como: Santa Felicidade, Água Verde (colônia Dantas), Colombo (colônia Alfredo Chaves), Umbará, São José dos Pinhais, Araucária, Campo Largo, Piraquara (colônia de Santa Maria do Novo Tirol da Boca da Serra) e em algumas cidades vizinhas como Cerro Azul (colônia Assunguy) colônia de origem mista, criada em 1860, com recursos próprios da Província do Paraná. 

Colombo

Segundo as estatísticas, no início do século XX, no ano de 1900, viviam no estado do Paraná uma população de mais de trinta mil italianos, espalhados por 14 colônias somente de italianos e em mais 20 outras com população mista com imigrantes de outras procedências. 

Colônia Faria 1888 - Colombo 

Uma outra original colônia italiana no Paraná foi criada em 1890, no atual município de Palmeira, quando um grupo de italianos com ideal libertário, mobilizados por Giovanni Rossi, criaram a primeira experiência anarquista no Brasil. Nos quatro anos que durou a vida dessa colônia chegou a ter uma população de 250 pessoas. Ela tinha uma área de 80 alqueires de terra, doadas pelo Imperador D. Pedro II, pouco antes da Proclamação da República. O fim do experimento anarquista da Colônia Cecília se deu por motivos econômicos e sócio culturais. 


Dr. Luiz Carlos Piazzetta

Erechim RS


terça-feira, 6 de março de 2018

Colônia Nova Itália e a Imigração Vêneta no Paraná

 

Cidade de Morretes


Após o fracasso da Colônia Alexandra, ainda o número de imigrantes italianos, e vênetos em particular, continuava a aumentar nas terras do Paraná. Os recém-chegados eram recebidos em Paranaguá e depois levados para os barracões destinados para os imigrantes na cidade de Morretes, amontoados, com grande promiscuidade, sem conforto e em precárias condições higiênicas. Ali foi criada a Colônia Nova Itália, inaugurada em 22 de Abril de 1877, a qual também teve uma vida curta e muito atribulada, com revoltas e desmandos administrativos que muito caracterizaram a história desta colônia, e também de outras iniciativas colonizadoras similares do período. O rítmo dos trabalhos para a colocação definitiva dessa grande massa de imigrantes que chegava, era muito lento e a organização administrativa deixava muito a desejar. Em Janeiro de 1878 ainda se encontravam nos barracões mais de 800 famílias, portanto há aproximadamente 9 meses, na espera do seu lote de terra para trabalhar. No mês de Março do mesmo ano viviam 3000 pessoas nos barracões esperando a sua colocação. 
Em um artigo, surgido no mês de Março de 1878, no jornal Dezenove de Dezembro já se relatava que: "existem mais de trezentos lotes já demarcados, cento e poucos estão ocupados e os restantes tem casas construídas já há seis meses, mas, ainda sem teto, quase todas danificadas por estarem expostas ao tempo, por terem sido construídas com péssimo material adquirido a preço esorbitante. Não existe uma estrada para os lotes e os colonos os recusam pois são invadidos pelas águas durante as cheias dos rios ou localizados em terreno muito montanhoso. Os colonos estão quase na miséria, sem roupas, sem casas habitáveis, sem sementes para as suas primeiras plantações. Estão completamente desencorajados, ainda mais que muitos terrenos distribuídos são ruins e pantanosos".
Ainda em Fevereiro as condições sanitárias continuavam muito precárias. Assim, em comunicado ao Ministério a presidência advertia que: "Situada em uma localidade pouco salubre, circundada por terrenos pantanosos e baixos, sujeitos à inundações do Rio Nhundiaquara, muito frequentes naquela zona, acarretando, como está acontecendo atualmente, febre tifóide, malária e outras enfermidades graves". 
Em Março do mesmo ano, proveniente do Rio de Janeiro, chegaram alguns navios e com eles doentes com febre amarela. Já no dia 20 de Março a cidade de Antonina foi atingida por uma epidemia desta terrível doença, que apesar dos esforços para contê-la rapidamente atingiu Morretes e Paranaguá, e também a notícia das primeiras mortes. 
A Colônia Nova Itália foi bastante atingida pela epidemia de febre amarela e as mortes foram muitas. Porém, outras doenças também graves ceifavam a vida dos primeiros imigrantes: a anemia por verminoses que atingiam especialmente as crianças, as doenças transmitidas por mosquitos que infestavam aquela zona assim como aquelas provocadas por outros parasitos, menos conhecidos, como o bicho-de-pé, que tornavam um inferno a vida daqueles pioneiros. O descontentamento era geral entre os colonos. Alguns procuravam meios para retornarem a seus países, sem encontrarem muita ajuda. Finalmente no mês de Julho o governo do Paraná resolveu transportar parte dos habitantes da Colônia Nova Itália, para colônias localizadas ao redor de Curitiba, a capital do Estado, o que veio a solucionar este problema.


Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta

Erechim RS