Igreja da Colônia Nova Itália no Paraná
Era o ano de 1878 e a grande colônia italiana de Nova Itália, o segundo grande experimento oficial de colonização da província, com uma população de mais de oitocentos imigrantes, localizada próximo de Paranaguá, entre as cidades de Antonina e Morretes, no Paraná, estava passando, desde algum tempo, por um período crítico de grande agitação. Desde a sua fundação em 1872, criada às pressas para acolher os imigrantes retirantes da mal sucedida Colônia Alexandra, esse novo assentamento era bem maior, com vários núcleos de povoamento, ainda não tinha mostrado o desenvolvimento e a pujança que as autoridades do governo tanto esperavam. Já de algum tempo as condições de vida na colônia estavam bastante corroídas, tendo já ocorrido diversas reclamações dos imigrantes contra a administração da colônia. Havia uma falta crônica de material para a construção das casas, de sementes, roupas e até de alimentos para os colonos, os quais depois de seis anos ainda dependiam totalmente do estado para praticamente tudo. Diversos abaixo-assinados foram enviados para as autoridades competentes em Curitiba, sem receberem solução adequada. O descontentamento para esta situação era generalizado e cresciam as manifestações de protestos contra a administração da colônia, as quais estavam ficando cada vez mais violentas. Os colonos exigiam do governo a sua transferência para outro local, fazendo valer uma das cláusulas constante nos seus contratos. Por diversas vezes a autoridades provinciais estiveram no local avaliando a situação, prometendo melhorias que acabaram não acontecendo, mas agora os colonos estavam irredutíveis exigindo transferência de local. Na realidade a extensa região que a colônia tinha sido implantada e onde se estabeleceram os diversos núcleos de povoamento da mesma, tinham condições muito diferentes na qualidade do solo. Alguns dos terrenos tinham áreas com possibilidade de algum cultivo e outros eram quase todo de terreno arenoso e alagadiço, impróprios para as culturas pretendidas. Por outro lado, o clima quente, muito úmido e os incômodos insetos típicos da zona litorânea, que tantas doenças causavam, estavam presentes indistintamente neles todos. O contrato oficial assinado pelos colonos com as autoridades brasileiras, estipulava que se eles, por qualquer motivo, não se adaptassem na colônia oferecida, poderiam solicitar ao governo paranaense a transferência para outro local. Os imigrantes italianos que ali tinham sido assentados, estavam preocupados com o seu futuro naquela colônia de clima ruim e terras magras para o cultivo e teimava em não progredir, isso também devido por se encontrar longe de um grande centro consumidor para os seus produtos. Muitos desses colonos já haviam começado a trabalhar como diaristas nas obras de construção da Estrada da Graciosa e da Estrada de Ferro Paranaguá Curitiba, mas o que conseguiam ganhar segundo eles mal dava para sustentar a família.
Cada vez mais a ideia de se transferir para Curitiba tomava corpo, estimulada pelas notícias que chegavam através dos tropeiros, viajantes comerciais ou mesmo em conversas com o pessoal da ferrovia, muitos deles trazidos da capital. Aqueles imigrantes que ainda tinham alguma reserva financeira, trazida da Itália, se adiantaram e por conta própria empreendiam a viagem até Curitiba, comprando em conjunto terrenos em alguns pontos da cidade, tal como a Colônia Santa Felicidade. Curitiba era uma cidade ainda pequena, mas como uma capital de província tinha um futuro muito promissor e isso era fácil de se perceber. As terras em torno da cidade eram de ótima qualidade para qualquer tipo de cultivo e o clima temperado de montanha, quase idêntico aquele da Itália que haviam deixado. A cidade era movimentada e cheia de vida, em franco crescimento, necessitando de muita mão de obra para as suas fábricas e de gêneros alimentícios para alimentar a população que não parava de crescer. Eles sabiam que não seria fácil se adaptar a um novo lugar, mas estavam dispostos a tentar. Então, a maioria decidiu se mudar para Curitiba. O governo provincial, depois de alguma relutância e atraso, finalmente cedeu e liberou a saída dos colonos da Colônia Nova Itália para aqueles que assim desejassem e até ajudou no transporte e na alocação das famílias em diversas outras colônias que estavam sendo criadas entorno da capital.
Texto
Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS