Espaço destinado aos temas referentes principalmente ao Vêneto e a sua grande emigração. Iniciada no final do século XIX até a metade do século XX, este movimento durou quase cem anos e envolveu milhões de homens, mulheres e crianças que, naquele período difícil para toda a Itália, precisaram abandonar suas casas, seus familiares, seus amigos e a sua terra natal em busca de uma vida melhor em lugares desconhecidos do outro lado oceano. Contato com o autor luizcpiazzetta@gmail.com
segunda-feira, 17 de abril de 2023
Colônia Alessandra: A História da Imigração Italiana no Paraná
terça-feira, 15 de março de 2022
Colônias Italianas de Alexandra e Nova Itália no Paraná
sábado, 9 de janeiro de 2021
O Triste Fim de Don Angelo Cavalli
Em 16 de novembro de 1877, Don Angelo Cavalli chegou na Colônia Nova Itália, localizada no município de Morretes, no Estado do Paraná, acompanhando os emigrantes vênetos que tinham embarcado com ele. Vieram também os familiares: a mãe Antonia, o irmão Liberale e seus dois filhos Antonio e Domenico, um outro irmão Girolamo, com a sua mulher Giovanna e os quatro filhos do casal: Felicità, Antonia, Angelo e Maria. A Colônia Nova Italia tinha sido fundada em 22 de abril de 1877 e em pouco tempo já estava ocupada por milhares de imigrantes, todos de nacionalidade italiana. No mês de dezembro, desse mesmo ano já eram 2.461 pessoas. Não havia uma estrutura adequada e suficiente para receber tanta gente, e durante vários meses ainda continuava chegando novas levas de imigrantes. Ficavam amontoados em precários barracões construídos apressadamente.
No período de espera da consignação dos lotes, os imigrantes recebiam da administração da colônia, uma diária de seiscentos réis por adulto e trezentos réis para os rapazes com idade superior a 10 anos.
No mês de dezembro de 1877 a Colônia Nova Italia foi palco de uma revolta dos imigrantes. que temiam perder o dinheiro que recebiam, os equipamentos de trabalho prometidos e as sementes. Quando aconteceu essa manifestação dos imigrantes, fazia parte dela, como um dos líderes dos revoltosos, o padre Don Angelo Cavalli, a menos de um mês de sua permanência no Brasil. Pelas correspondências do inspetor especial enviado pelo governador da província, podemos ver um telegrama onde descrevia que: "estão entre os revoltosos os imigrantes apenas chegados nesta colônia". Já existia um outro padre registrado na colônia e que recebia regularmente o seu salário, mesmo que estivesse sempre ausente. Don Cavalli que era o verdadeiro guia espiritual dos imigrantes nunca exibiu os seus documentos clericais para poder também receber o auxílio, apesar das várias solicitações do tesoureiro da colônia para que ele enviasse os seus documentos para regularizar a sua situação como pároco. Don Cavalli nunca os apresentou, porque não os tinha recebido do seu antigo bispo na Itália.
A situação dos imigrantes continuava se agravando na Colônia Nova Italia. O clima típico de litoral na região, quente e muito úmido, era desfavorável ao plantio de certas culturas a que estavam habituados a cultivar. As frequentes inundações, que facilitavam a disseminação de doenças como a febre amarela, transmitida por mosquitos, que abundavam naquele terreno encharcado e localizado muito próximo da floresta tropical.
Devido as precárias condições de vida que estavam passando, os colonos fizeram uma solicitação para o governo da província do Paraná para transferir-los para uma outra localidade. E isso foi feito, com os colonos se estabelecendo em novas áreas do Paraná.
Os antigos paroquianos de Don Angelo Cavalli subiram a Serra do Mar, e se estabeleceram no grande planalto em volta de Curitiba, a capital da província. O local onde se estabeleceram foi a Colônia Alfredo Chaves, fundada em 1879, que disponha de melhores acomodações para receber os imigrantes sendo que o clima e as terras eram de boa qualidade. A Colônia de Alfredo Chaves anos mais tarde deu origem a progressista cidade de Colombo.
Don Angelo Cavalli faleceu com a idade de 39 anos, provavelmente, após dois anos da sua chegada ao Brasil, muito provavelmente vítima da febre amarela. A data exata do seu falecimento, a causa mortis e o local da sua sepultura não foi possível determinar, apesar das várias pesquisas realizadas em vários arquivos do Estado do Paraná, especialmente da Catedral de Curitiba, onde deveria constar o nome de um padre falecido com a assistência de um sacerdote.
A única indicação do seu falecimento, até agora encontrado, foi uma carta enviada por sua mãe com data de 29 de novembro de 1879, dirigida ao presidente da Província do Paraná onde ela escreveu: "A colona Antonia Cavalli, viúva, estabelecida na Colônia Alfredo Chaves, depois da morte do seu filho Angelo e após outras desgraças, se encontra hoje na mais terrível miséria, sendo os seus filhos impossibilitados de manter-la. Por isso a abaixo assinada humildemente suplica à Vossa Excelência se digne ordenar que seja-lhe concedida uma ajuda de qualquer tipo, para que possa manter uma filha ainda jovem...".
É muito possível que ele tenha contraído alguma doença epidêmica, como a febre a amarela ou o cólera, que apareceram nesse período e tivesse sido rapidamente enterrado, em uma fossa comum, devido o medo da propagação do mal.
Na verdade, foi um fim muito triste para aquele que ajudou a tantos seus semelhantes a encontrarem na emigração um melhor destino para as suas vidas.
Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS
domingo, 18 de outubro de 2020
Imigração Italiana no Paraná
A introdução de imigrantes italianos no Paraná se deu primeiramente através de um contrato firmado entre o Presidente da Província, Venâncio José Lisboa, e o empresário Sabino Tripoti, no ano de 1872. Um total de 262 imigrantes italianos foram instalados em Alexandra, a partir de 1875, uma colônia particular, de propriedade do agenciador, que ficava distante apenas 14 quilômetros da cidade de Paranaguá, já importante porto no Sul do país e porta de entrada dos imigrantes. A colônia de Alexandra era composta por uma sede e três núcleos: São Luís, Piedade e Toural.
Alexandra era uma localidade pequena para o número de imigrantes que foram levados para lá. Os colonos ali instalados não tiveram êxito com as lavouras, devido ao clima de litoral e pela péssima qualidade do solo encontradas em seus lotes, com terras improdutivas e localizadas em terrenos de difícil acesso. Movido por interesses pessoais, o agenciador Sabino Tripoti, tinha fundado esta colônia em uma área pouco adaptada para a agricultura. Os imigrantes não estavam acostumados com aquele clima e também os cultivos que conheciam não se adaptavam àquelas terras. A maioria dos imigrantes era formada de pequenos agricultores vênetos, onde o clima era muito mais frio do que aquele do litoral paranaense. O calor aumentava o cansaço e provocava o aparecimento de doenças, especialmente, aquelas causadas por insetos tão comuns naquela região cercada pela mata atlântica.
O missionário italiano Padre Pietro Colbacchini que passou grande parte de sua estada no Brasil atendendo as colônias paranaenses em um relatório para os seus superiores na Itália, de 1892, o padre escreveu que as condições daqueles colonos que viviam no litoral paranaense, entre os anos de 1875 e 1877. Entre tantos problemas, o missionário Pietro Colbacchini destacava especialmente as doenças causadas pelos insetos: "...de dia era insuportável trabalhar devido ao forte calor e por enxames de mosquitos que faziam inchar as partes descobertas das pessoas produzindo incômodos insuportáveis; à noite outra espécie do mesmo mosquito atrapalha o sonos e pica os pobres trabalhadores. Também, entre a carne e a pele, aparecia um verme, que ao crescer alcançavam a grossura de um feijão, eram injetados por uma mosca cor de ouro (era o berne). Nos pés, especialmente nas extremidades e no calcanhar, apareciam coceiras insuportáveis e feridas malcheirosas, produzidas por outro inseto (bicho de pé) que nidifica e incuba, se desenvolvendo como uma pequena pulga. As crianças e os velhos são os mais susceptíveis a esta grave enfermidade, que não respeita, todavia, idade e sexo ou condição das pessoas. A isto acrescento as consequências produzidas diretamente pelo clima, isto é, tontura, enfraquecimento dos membros, falta de apetite, desânimo, preguiça e tédio da vida. Esta é a verdadeira condição daqueles que vivem no litoral do Paraná".
Descobrindo que tinha sido enganados, o descontentamento já era muito grande entre os imigrantes que ameaçavam retornar para a Itália, abandonando o grande sonho. Assim, em 22.04.1877 o Presidente da Província Adolfo Lamenha Lins rescindiu o contrato com o empresário Sabino Tripoti e promoveu a transferência dos colonos e de algumas outras novas famílias italianas que chegavam, para uma nova colônia denominada Nova Itália. Esta também se localizava na baixada litorânea do Paraná, na região de Morretes, nas proximidades do Porto de Barreiros, nos contrafortes da Serra do Mar. A Colônia Nova Itália tinha dimensões bem maiores que a colônia Alexandra. Era uma colônia governamental e estava dividida em 12 núcleos coloniais: Rio dos Pintos, Sesmaria, Sítio Grande e Cary, América, Marques, Entre Rios e Prainha, Cabrestante, Rio Sagrado, Ipiranga, Graciosa, Zulmira e Turvo. Em 1880 já tinha uma população de cerca de 2.318 pessoas assentadas em 529 lotes.
A localização das colônias litorâneas dificultava a comercialização dos produtos, e as famílias italianas ali instaladas também desejavam trabalhar com a terra produzindo gêneros alimentícios e desenvolvendo a sua própria forma de plantio. Além disso, a maioria das colônias era margeada pelos principais rios do litoral paranaense, como o Rio Nhundiaquara e o Rio Sagrado. Esses rios em época de grandes chuvas transbordavam ocasionando enchentes e dificultando o trabalho nas lavouras. A locomoção pelas estradas era comprometida pela má conservação e pela dificuldade de acesso devido aos terrenos íngremes, levando em conta ainda que praticamente grande parte do acesso aos núcleos coloniais se dava pelas vias fluviais. Em 1878, o Presidente da Província, Rodrigo Octávio de Oliveira Menezes, relatou a precariedade das condições de sobrevivência e a insatisfação dos colonos italianos ali estabelecidos: estavam sem alimentação, sem roupas e acometidos de muitas doenças decorrentes do clima do litoral. Havia mais de 800 famílias ocupando 610 lotes, muitos dos quais eram impróprios para o plantio. Tudo isso dificultava a sua permanência nas terras a eles destinadas. Devido aos mesmos problemas que afetaram e tornaram inviável a Colônia Alexandra, a colônia Nova Itália também não prosperou. Ainda no ano de 1878, portanto somente dois a três anos após a fundação dessas comunidades, restavam na região poucas famílias italianas emigradas e alguns brasileiros.
O projeto inicial do governo do Paraná não era a de remover os colonos italianos insatisfeitos até o planalto Curitibano, porém esse foi o destino da maioria daquelas famílias que deixaram as colônias do litoral. Por conta própria, sozinhos ou em grupos, se dirigiram até Curitiba, onde adquiram lotes de terras, nos arredores da capital paranaense, muito férteis, local com um clima ameno, muito parecido com aquele que estavam acostumados na Itália.
Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS
quarta-feira, 9 de setembro de 2020
Emigração Italiana no Paraná
No ano de 1875 chegaram os primeiros italianos na Província do Paraná. Eles eram constituídos por famílias de vênetos e foram destinados às colônias imperiais recém criadas de Morretes e Antonina, localizadas próximas de Paranaguá. Essas colônias foram idealizadas dentro de um grande projeto imperial de imigração, que pretendia trazer milhares de famílias italianas para serem assentadas na região. Grupos de corretores, terceirizados por uma companhia de imigração constituída a propósito, que havia ganho a indicação imperial para a prestação deste serviço, passaram a percorrer as vilas e cidades mais afetadas pelo grande desemprego que assolava a Região do Vêneto em particular e a Itália em geral, naquele período situado nos últimos 25 anos do século XIX.
Distribuíam panfletos e visitavam os locais onde se reuniam os camponeses diaristas à espera de trabalho, como pontos de reunião, praças, bares, igrejas, festas paroquiais e, com muita conversa mas também com inúmeras promessas, exageradas e quase sempre não verdadeiras, conseguiam com facilidade convencer aqueles mais desesperados a empreenderem a longa viagem. Milhares deles respondiam quase prontamente, assinando o devido contrato. Outros os levavam para casa, junto com os panfletos de propaganda, para junto da família decidirem qual o caminho que deveriam tomar. No entanto estavam decididos a mudar de vida, pois, aquela que estavam vivendo não poderiam continuar por mais tempo.
Carroças com Imigrantes Italianos levando produtos agrícolas para Curitiba |
Igreja Matriz Santa Felicidade início século XX |
Os problemas surgidos nessas duas colônias foram sobretudo, decorrentes da má administração dos funcionários da companhia de imigração encarregados em zelar no bem estar dos recém chegados. As precárias instalações colocadas à disposição das famílias; a comida que era servida, escassa e até totalmente desconhecida pelos imigrantes; o clima de litoral encontrado na região, muito quente e úmido, era diferente do que eles estavam acostumados nas suas terras natal; a má qualidade da terra e os tipos de culturas que eram obrigados a cultivar, que não estavam habituados, foram, entre outros, o motivo que levou ao fim dessas colônias italianas no Paraná.
Igreja Matriz de Colombo |
Colombo |
Segundo as estatísticas, no início do século XX, no ano de 1900, viviam no estado do Paraná uma população de mais de trinta mil italianos, espalhados por 14 colônias somente de italianos e em mais 20 outras com população mista com imigrantes de outras procedências.
Colônia Faria 1888 - Colombo |
Dr. Luiz Carlos Piazzetta
Erechim RS
sábado, 17 de março de 2018
A Colônia Alessandra em Morretes no Paraná - Imigração Italiana no Paraná
Morretes |
quinta-feira, 15 de março de 2018
Imigração Vêneta no Paraná um Pouco da História
Igreja São José - Santa Felicidade em 1891 |