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segunda-feira, 17 de abril de 2023

Colônia Alessandra: A História da Imigração Italiana no Paraná

Estação Ferroviária de Alexandra



A Colônia Alessandra, a primeira do gênero criada em solo paranaense, foi fundada no dia 14 de fevereiro de 1872, após intermediação do controvertido empresário italiano Savino A. Tripoti, nascido em 184o, na província de Teramo. Proprietário das terras e dono da concessão de colonização da área, Tripoti pretendia trazer, no decorrer de alguns anos, milhares de agricultores italianos para a província do Paraná. Foi somente a partir de 1877 que ela mudou de nome passando a ser chamada de Colônia Alexandra. No ano de 1875, com o veleiro Anna Pizzorno e o vapor Liguria, chegaram os primeiros imigrantes italianos, pouco mais de trezentas pessoas, provenientes das províncias de Teramo, na região de Abruzzo, de Caserta, na Campania e de Potenza, na Basilicata. Uma vez desembarcados no porto de Paranaguá, foram alojados na Casa da Imigração, recebendo sua primeira alimentação em terra, ocasião quando alguns tiveram uma grande decepção pelo tipo de alimentos que eram consumidos no país, especialmente a sem sabor farinha de mandioca tão consumida pelos brasileiros, ainda desconhecida para eles, que desapontados confundiram com o queijo ralado. Da Casa da Imigração, eram levados à Colônia Alessandra, com as despesas de hospedagem e transporte correndo por conta do governo da província. Ao chegarem no local onde se situavam os seus lotes, os colonos perceberam de imediato que aquela terra não era o que sempre tanto tinham sonhado. Muitos dos lotes ficavam em lugares praticamente inabitáveis, com os terrenos posicionados em áreas alagadiças, arenosas ou muito pedregosas, localizados em uma zona isolada e afastada dos centros mais povoados, como Morretes e Paranaguá, o que causou um grande desânimo em todos os recém chegados. Não tinham o menor conhecimento prévio do clima que encontrariam, com ar abafado, muito quente e úmido, típicos de zonas do litoral cercadas por montanhas. Chamou atenção de todos a grande quantidade de incômodos insetos que infestavam o lugar, além da presença de animais selvagens que não conheciam e cujos gritos e rugidos muito os amedrontava. Não viam por onde pudessem começar a implantar uma agricultura rentável naquele lugar. Ficaram esmorecidos e isso também influiu negativamente no futuro sucesso econômico da colônia. Os primeiros casos de doenças graves como a malária logo começaram a aparecer em vários pontos da colônia. A falta de assistência médica ficou rapidamente evidente e os poucos médicos disponíveis estavam nas cidades vizinhas mas, segundo eles, cobravam muito caro pelos atendimentos e assim eram pouco procurados pelos imigrantes. Recorriam freqüentemente aos charlatães e curandeiros que gozavam de grande prestígio entre a população brasileira nativa, pessoas ignorantes e também, como os italianos, bastante supersticiosas. Casos de frequentes deserções e desavenças entre o empresário e alguns colonos, assim como os desentendimentos constantes, com as autoridades provinciais, foram se acirrando. A chegada de novos contingentes de imigrantes italianos era intensa e por essa época mais 870 colonos, provenientes da Lombardia, Tirol e do Piemonte, chegaram ao porto de Paranaguá, trazidos pelo mesmo empresário e que também tinham como destino final a Colônia Alessandra, o que agravaria as condições já deficientes desta colônia. Tripoti dizendo que estava sem recursos até para manter os antigos colonos, abandonou-os declarando que não tinha meios sequer para entregar os primeiros suprimentos. Por sua vez os imigrantes recém chegados alegaram que tinham sido ludibriados pelo empresário e ao saberem da situação de penúria, que estavam passando os colonos já moradores na colônia, não quiseram de forma alguma ser assentados naquele lugar sem futuro. Apresentaram reclamações junto à direção da colônia e também às autoridades provinciais exigindo a transferência de Alexandra para a recém criada Colônia Nova Itália, localizada em Morretes. Caso não fossem atendidos pretendiam a recisão dos contratos firmados com os empresários e as autoridades do império. Segundo alguns historiadores, como a prestigiada escritora paranaense Altiva P. Balhana, que diz: "o empresário Savino Tripoti não se interessou nem pelos colonos, nem pela colonização. Seu objetivo era apenas atrair o maior número de imigrantes para assim poder usufruir maiores ganhos". Por sua vez, a pesquisadora e escritora Jussara Cavanha, revela o contrário em seu livro intitulado "Colônia Alessandra" onde diz: "o empresário Savino Tripoti era uma pessoa preparada para implantar e gerir colônias agrícolas" e continuando baseia essa afirmativa em documentos preservados que provam "que produtos obtidos na Colônia Alessandra receberam diplomas especiais de honra na Feira Mundial da Philadelphia em 1876". Ainda de acordo com as suas pesquisas: "Tripoti se empenhou para construir um projeto viável, mas, que sucumbiu por motivos alheios à sua vontade". Com a situação dos colonos de Alexandra se agravando a cada dia e a chegada e um novo grande grupo de imigrantes, o então presidente da província do Paraná, Adolfo Lamenha Lins, por motivos políticos ou mesmo econômicos da província, talvez ainda por ter percebido o rumo que estava sendo dado ao empreendimento, por decreto assinado em 1877, rescindiu o contrato realizado e confiscou as terras do empresário, que acabou extraditado para a Itália, vindo a falecer poucos anos depois. Mas o descontentamento ainda continuou reinando na colônia de Nova Itália, para onde foi transferida a maior parte dos imigrantes de Alexandra, com muitos colonos em situação de miséria, iniciando uma nova debandada. Nesse meio tempo as autoridades provinciais providenciavam a aquisição de terrenos em torno de Curitiba para a formação de novas colônias.


Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS







terça-feira, 15 de março de 2022

Colônias Italianas de Alexandra e Nova Itália no Paraná

Estação Ferroviária de Alexandra
 






O empresário italiano Savino Tripotti, natural de Teramo, região de Abruzzo, foi quem organizou a Colônia Alexandra, fundada no ano de 1872 e inaugurada logo em seguida com a chegada do primeiro grupo de imigrantes italianos, trazidos pelos navios Anna Pizzorno e Liguria. 

Após uma longa travessia do oceano, desembarcaram na Ilha das Flores, no litoral do Rio de Janeiro. Passados alguns dias embarcaram novamente em outro navio em direção ao Porto de Paranaguá destino final da longa viagem.

Nesta cidade foram abrigados na Casa de Imigração por conta do governo provincial e logo transportados e encaminhados para a Colônia Alexandra para ocuparem os lotes a eles destinados.

A impressão que tiveram não foi das melhores e o desânimo tomou conta de todos. Esmorecidos, perceberam que a tão sonhada terra prometida não era bem aquilo que eles imaginaram e o que tinha sido apregoado pelos agentes de emigração ainda na Itália. Os seus lotes ficavam muito longe das cidades mais próximas de Morretes e Paranaguá, localizados em terrenos inadequados, alagadiços, arenosos ou muito pedregosos, praticamente inabitáveis e onde não seria possível cultivar.

Logo sentiram que o clima da região era muito diferente daquele que eles estavam acostumados na Itália. Muito calor e umidade que provocavam uma sensação de abafamento. A infestação de mosquitos e outros insetos, causavam doenças, algumas desconhecidas, como o irritante bicho de pé e grandes moscas, que depositavam seus ovos em qualquer parte do corpo e cujas larvas causavam o berne. 

Doenças para eles desconhecidas começaram a surgir entre eles, agravadas pela falta de médicos e de um serviço de saúde. Quando nas maiores emergências apelavam para os curandeiros e aos giustaossi, os quais tinham grande prestígio no meio da população nativa brasileira.

Em pouco tempo a Colônia de Alexandra tinha uma população de 870 habitantes, quando o diretor Savino Tripotti os abandonou, alegando não ter mais recursos para manter funcionando a colônia. 

Enquanto isso os imigrantes italianos continuavam chegando em número cada vez maior. Estes recém chegados ao tomarem conhecimento das condições em que estavam os primeiros que chegaram, se negaram em se instalar na Colônia Alexandra.

O governo provincial foi obrigado rescindir o contrato com o empresário e a criar rapidamente uma outra colônia, em Morretes, que foi denominada Colônia Nova Itália. 

Devido a desorganização interna, o rigor do clima tropical e as duras condições de vida, quase iguais aquelas de Alexandra, a colônia Nova Itália não conseguiu progredir e em pouco tempo também teve o mesmo destino. 

Estação Ferroviária de Morretes




Com o declínio da colônia muitos imigrantes italianos já trabalhavam na construção da estrada ferro Paranaguá - Curitiba como uma opção para ganhar a vida.


Entre os colonos muitos deles tinham uma outra profissão, aprendida ainda na Itália. Haviam, entre outros, carpinteiros, pedreiros, marceneiros, ferreiros, canteiros, alfaiates, sapateiros, que aos poucos se estabeleceram em Morretes e Paranaguá.


No livro n° 239 intitulado "Livro de Contas de Colonos de Morretes - 1878", encontram-se registrados muitos nomes de imigrantes italianos que ali se fixaram, depois de uma passagem pelas colônias: Lazarotto Pietro, Taverna Giacomo, Trevizan Giuseppe, Simioni Giovani, Mocelin Adamo, Mottin Giovani, Maschio Francesco e outros. Alguns registros nesse livro apontam que para esses imigrantes o Governo Provincial havia entregue ferramentas, utensílios de trabalho e alimentos.


Mesmo depois do declínio da Colônia Nova Itália muitos desses imigrantes continuaram trabalhando na construção da estrada de ferro, outros, a grande maioria, subiram a Serra do Mar e se fixaram nas terras férteis e de clima ameno, nos arredores de Curitiba.



Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS


sábado, 9 de janeiro de 2021

O Triste Fim de Don Angelo Cavalli

Primeira Igreja da Colônia Nova Itália em Morretes


Em 16 de novembro de 1877, Don Angelo Cavalli chegou na Colônia Nova Itália, localizada no município de Morretes, no Estado do Paraná, acompanhando os emigrantes vênetos  que tinham embarcado com ele. Vieram também os familiares: a mãe Antonia, o irmão Liberale e seus dois filhos Antonio e Domenico, um outro irmão Girolamo, com a sua mulher Giovanna e os quatro filhos do casal: Felicità, Antonia, Angelo e Maria. A Colônia Nova Italia tinha sido fundada em 22 de abril de 1877 e em pouco tempo já estava ocupada por milhares de imigrantes, todos de nacionalidade italiana. No mês de dezembro, desse mesmo ano já eram 2.461 pessoas. Não havia uma estrutura adequada e suficiente para receber tanta gente, e durante vários meses ainda continuava chegando novas levas de imigrantes. Ficavam amontoados em precários barracões construídos  apressadamente. 

No período de espera da consignação dos lotes, os imigrantes recebiam da administração da colônia, uma diária de seiscentos réis por adulto e trezentos réis para os rapazes com idade superior a 10 anos. 

No mês de dezembro de 1877 a Colônia Nova Italia foi palco de uma revolta dos imigrantes. que temiam perder o dinheiro que recebiam, os equipamentos de trabalho prometidos e as sementes. Quando aconteceu essa manifestação dos imigrantes, fazia parte dela, como um dos  líderes dos revoltosos, o padre Don Angelo Cavalli, a menos de um mês de sua permanência no Brasil. Pelas correspondências do inspetor especial enviado pelo governador da província, podemos ver um telegrama onde descrevia que: "estão entre os revoltosos os imigrantes apenas chegados nesta colônia". Já existia um outro padre registrado na colônia e que recebia regularmente o seu salário, mesmo que estivesse sempre ausente. Don Cavalli que era o verdadeiro guia espiritual dos imigrantes nunca exibiu os seus documentos clericais para poder também receber o auxílio, apesar das várias solicitações do tesoureiro da colônia para que ele enviasse os seus documentos para regularizar a sua situação como pároco. Don Cavalli nunca os apresentou, porque não os tinha recebido do seu antigo bispo na Itália.

A situação dos imigrantes continuava se agravando na Colônia Nova Italia. O clima típico de litoral na região, quente e muito úmido,  era desfavorável ao plantio de certas culturas a que estavam habituados a cultivar. As frequentes inundações, que facilitavam a disseminação de doenças como a febre amarela, transmitida por mosquitos, que abundavam naquele terreno encharcado e localizado muito próximo da floresta tropical. 

Devido as precárias condições de vida que estavam passando, os colonos fizeram uma solicitação para o governo da província do Paraná para transferir-los para uma outra localidade. E isso foi feito, com os colonos se estabelecendo em novas áreas do Paraná. 

Estrada de Ferro Curitiba Paranaguá trecho da Serra do Mar

Os antigos paroquianos de Don Angelo Cavalli subiram a Serra do Mar, e se estabeleceram no grande planalto em volta de Curitiba, a capital da província. O local onde se estabeleceram foi a Colônia Alfredo Chaves, fundada em 1879, que disponha de melhores acomodações para receber os imigrantes sendo que o clima e as terras eram de boa qualidade. A Colônia de Alfredo Chaves anos mais tarde deu origem a progressista cidade de Colombo.

Don Angelo Cavalli faleceu com a idade de 39 anos, provavelmente, após dois anos da sua chegada ao Brasil, muito provavelmente vítima da febre amarela. A data exata do seu falecimento, a causa mortis e o local da sua sepultura não foi possível determinar, apesar das várias pesquisas realizadas em vários arquivos do Estado do Paraná, especialmente da Catedral de Curitiba, onde deveria constar o nome de um padre falecido com a assistência de um sacerdote. 

A única indicação do seu falecimento, até agora encontrado, foi uma carta enviada por sua mãe com data de 29 de novembro de 1879, dirigida ao presidente da Província do Paraná onde ela escreveu: "A colona Antonia Cavalli, viúva, estabelecida na Colônia Alfredo Chaves, depois da morte do seu filho Angelo e após outras desgraças, se encontra hoje na mais terrível miséria, sendo os seus filhos impossibilitados de manter-la. Por isso a abaixo assinada humildemente suplica à Vossa Excelência se digne ordenar que seja-lhe concedida uma ajuda de qualquer tipo, para que possa manter uma filha ainda jovem...".

É muito possível que ele tenha contraído alguma doença epidêmica, como a febre a amarela ou o cólera, que apareceram nesse período e tivesse sido rapidamente enterrado, em uma fossa comum, devido o medo da propagação do mal. 

Na verdade, foi um fim muito triste para aquele que ajudou a tantos seus semelhantes a encontrarem na emigração um melhor destino para as suas vidas.  




Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS











domingo, 18 de outubro de 2020

Imigração Italiana no Paraná



No ano de 1853 a província do Paraná se desmembrou definitivamente de São Paulo e a partir de então foi dado início ao processo de colonização do seu território, com a criação de algumas colônias destinadas a receber os imigrantes de várias nacionalidades que começariam a chegar no estado.

A introdução de imigrantes italianos no Paraná se deu primeiramente através de um contrato firmado entre o Presidente da Província, Venâncio José Lisboa, e o empresário Sabino Tripoti, no ano de 1872. Um total de 262 imigrantes italianos foram instalados em Alexandra, a partir de 1875, uma colônia particular, de propriedade do agenciador, que ficava distante apenas 14 quilômetros da cidade de Paranaguá, já importante porto no Sul do país e porta de entrada dos imigrantes. A colônia de Alexandra era composta por uma sede e três núcleos: São Luís, Piedade e Toural. 

Alexandra era uma localidade pequena para o número de imigrantes que foram levados para lá. Os colonos ali instalados não tiveram êxito com as lavouras, devido ao clima de litoral e  pela péssima qualidade do solo encontradas em seus lotes, com terras improdutivas e localizadas em terrenos de difícil acesso.   Movido por interesses pessoais, o agenciador Sabino Tripoti, tinha fundado esta colônia em uma área pouco adaptada para a agricultura. Os imigrantes não estavam acostumados com aquele clima e também os cultivos que conheciam não se adaptavam àquelas terras. A maioria dos imigrantes era formada de pequenos agricultores vênetos, onde o clima era muito mais frio do que aquele do litoral paranaense. O calor aumentava o cansaço e provocava o aparecimento de doenças, especialmente, aquelas causadas por insetos tão comuns naquela região cercada pela mata atlântica. 



O missionário italiano Padre Pietro Colbacchini que passou grande parte de sua estada no Brasil atendendo as colônias paranaenses em um relatório para os seus superiores na Itália, de 1892,  o padre escreveu que as condições daqueles colonos que viviam no litoral paranaense, entre os anos de 1875 e 1877. Entre tantos problemas, o missionário Pietro Colbacchini destacava especialmente as doenças causadas pelos insetos: "...de dia era insuportável trabalhar devido ao forte calor e por enxames de mosquitos que faziam inchar as partes descobertas das pessoas produzindo  incômodos insuportáveis; à noite outra espécie do mesmo mosquito atrapalha o sonos e pica os pobres trabalhadores. Também, entre a carne e a pele, aparecia um verme, que ao crescer alcançavam a grossura de um feijão, eram injetados por  uma mosca cor de ouro (era o berne). Nos pés, especialmente nas extremidades e no calcanhar, apareciam coceiras insuportáveis e feridas malcheirosas, produzidas por outro inseto (bicho de pé) que nidifica e incuba, se desenvolvendo como uma pequena pulga. As crianças e os velhos são os mais susceptíveis a esta grave enfermidade, que não respeita, todavia, idade e sexo ou condição das pessoas. A isto acrescento as consequências produzidas diretamente pelo clima, isto é, tontura, enfraquecimento dos membros, falta de apetite, desânimo, preguiça e tédio da vida. Esta é a verdadeira condição daqueles que vivem no litoral do Paraná". 

Descobrindo que tinha sido enganados, o descontentamento já era muito grande entre os imigrantes que ameaçavam retornar para a Itália, abandonando o grande  sonho. Assim, em 22.04.1877 o Presidente da Província Adolfo Lamenha Lins rescindiu o contrato com o empresário Sabino Tripoti e promoveu a transferência dos colonos e de algumas outras novas famílias italianas que chegavam, para uma nova colônia denominada Nova Itália. Esta também se localizava na baixada litorânea do Paraná, na região de Morretes, nas proximidades do Porto de Barreiros, nos contrafortes da Serra do Mar. A Colônia Nova Itália tinha dimensões bem maiores que a colônia Alexandra. Era uma colônia governamental e estava dividida em 12 núcleos coloniais: Rio dos Pintos, Sesmaria, Sítio Grande e Cary, América, Marques, Entre Rios e Prainha, Cabrestante, Rio Sagrado, Ipiranga, Graciosa, Zulmira e Turvo. Em 1880 já tinha uma população de cerca de 2.318 pessoas assentadas em 529 lotes. 




A localização das colônias litorâneas dificultava a comercialização dos produtos, e as famílias italianas ali instaladas também desejavam trabalhar com a terra produzindo gêneros alimentícios e desenvolvendo a sua própria forma de plantio. Além disso, a maioria das colônias era margeada pelos principais rios do litoral paranaense, como o Rio Nhundiaquara e o Rio Sagrado. Esses rios em época de grandes chuvas transbordavam ocasionando enchentes e dificultando o trabalho nas lavouras. A locomoção pelas estradas era comprometida pela má conservação e pela dificuldade de acesso devido aos terrenos íngremes, levando em conta ainda que praticamente grande parte do acesso aos núcleos coloniais se dava pelas vias fluviais.  Em 1878, o Presidente da Província, Rodrigo Octávio de Oliveira Menezes, relatou a precariedade das condições de sobrevivência e a insatisfação dos colonos italianos ali estabelecidos: estavam sem alimentação, sem roupas e acometidos de muitas doenças decorrentes do clima do litoral. Havia mais de 800 famílias ocupando 610 lotes, muitos dos quais eram impróprios para o plantio. Tudo isso dificultava a sua permanência nas terras a eles destinadas. Devido aos mesmos problemas que afetaram e tornaram inviável a Colônia Alexandra, a colônia Nova Itália também não prosperou.  Ainda no ano de 1878, portanto somente dois a três anos após a fundação dessas comunidades, restavam na região poucas famílias italianas emigradas e alguns brasileiros. 

O projeto inicial do governo do Paraná não era a de remover os colonos italianos insatisfeitos até o planalto Curitibano, porém esse foi o destino da maioria daquelas famílias que deixaram as colônias do litoral. Por conta própria, sozinhos ou em grupos, se dirigiram até Curitiba, onde adquiram lotes de terras, nos arredores da capital paranaense, muito férteis, local com um clima ameno, muito parecido com aquele que estavam acostumados na Itália.  

 



Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS

















 
















quarta-feira, 9 de setembro de 2020

Emigração Italiana no Paraná

Igreja da Colônia Italiana de Nova Itália

No ano de 1875 chegaram os primeiros italianos na Província do Paraná. Eles eram constituídos por famílias de vênetos e foram destinados às colônias imperiais recém criadas de Morretes e Antonina, localizadas próximas de Paranaguá. Essas colônias foram idealizadas dentro de um grande projeto imperial de imigração,  que pretendia trazer milhares de famílias italianas para serem assentadas na região. Grupos de corretores, terceirizados por uma companhia de imigração constituída a propósito, que havia ganho a indicação imperial para a prestação deste serviço,  passaram a percorrer as vilas e cidades mais afetadas pelo grande desemprego que assolava a Região do Vêneto em particular e a Itália em geral, naquele período situado nos últimos 25 anos do século XIX. 



Distribuíam panfletos e visitavam os locais onde se reuniam os camponeses diaristas à espera de trabalho, como pontos de reunião, praças, bares, igrejas, festas paroquiais e, com muita conversa mas também com inúmeras  promessas, exageradas e quase sempre não verdadeiras, conseguiam com facilidade convencer aqueles mais desesperados a empreenderem a longa viagem. Milhares deles respondiam quase prontamente, assinando o devido contrato. Outros os levavam para casa, junto com os panfletos de propaganda, para junto da família decidirem qual o caminho que deveriam tomar. No entanto estavam decididos a mudar de vida, pois, aquela que estavam vivendo não poderiam continuar por mais tempo. 

Carroças com Imigrantes Italianos levando produtos agrícolas para Curitiba 

O desemprego atingia cada vez mais trabalhadores camponeses e pequenos artesãos e a fome já rondava há tempo os lares mais pobres em todo o Vêneto. O recrutamento era uma atividade legal, estimulada quase sempre pelo governo italiano para evitar a explosão que se aproximava . A companhia de emigração tinha a autorização para funcionar, e mesmo, falar em nome do governo imperial brasileiro. As autoridades italianas faziam vista grossa, pois, a situação era de calamidade. Foram muito poucos, aqueles que levantaram a voz pedido a interrupção da liberdade para emigrar. Eram especialmente os produtores rurais donos de terras e mais alguns políticos, aqueles que viam na emigração um mal maior para o país.  Evidentemente que estavam falando em causa própria, pois, com a saída de uma grande parte da população os deixaria sem aquela mão de obra barata e de fácil contratação que estavam acostumados. A Igreja em geral apoiava os esforços para liberação da emigração e, em muitos casos, também dela participou em várias paróquias, onde os sacerdotes partiram junto com os seus fiéis em busca de uma nova vida em terras distantes. 

Igreja Matriz Santa Felicidade início século XX

As Colônias Italianas de Alexandra e a de Nova Itália, localizadas nas regiões de intorno a Morretes e Antonina, tiveram inúmeros problemas, desde o início da instalação, que desiludiram e irritaram a maioria dos imigrantes, os quais chegaram a se rebelar contra as suas administrações. Estes acontecimentos influíram decisamente na vida dos primeiros imigrantes vênetos assentados na Província do Paraná. 

Os problemas surgidos  nessas duas colônias foram sobretudo, decorrentes da má administração dos funcionários da companhia de imigração encarregados em zelar no bem estar dos recém chegados. As precárias instalações colocadas à disposição das famílias; a comida que era servida, escassa e até totalmente  desconhecida pelos imigrantes; o clima de litoral  encontrado na região, muito quente e úmido, era diferente do que eles estavam acostumados nas suas terras natal; a má qualidade da terra e os tipos de culturas que eram obrigados a cultivar, que não estavam habituados, foram, entre outros, o motivo que levou ao fim dessas colônias italianas no Paraná. 

Igreja Matriz de Colombo 

A maioria dos imigrantes foi remanejada para terras férteis próximas da capital paranaense, onde desde 1872 já se encontravam outros imigrantes. Também, aqueles imigrantes trabalhadores do campo e os pequenos artesãos que tinham trazido consigo algum dinheiro, geralmente este obtido da venda dos poucos bens que deixaram na Itália, reuniam-se em grupos e adquiriam, por conta própria, terrenos bem situados na periferia de Curitiba e ali se instalavam constituindo uma comunidade. Da venda da produção agrícola desses lotes tiravam o sustento para as famílias, com a venda de produtos hortifrutigranjeiros comercializados por toda a Curitiba. 


Os artesãos logo conseguiam trabalho abrindo oficinas e negócios por conta própria ou trabalhando como operários nas indústrias da capital. Essas colônias se tornaram o ponto de partida para o surgimento de inúmeros importantes bairros curitibanos como: Santa Felicidade, Água Verde (colônia Dantas), Colombo (colônia Alfredo Chaves), Umbará, São José dos Pinhais, Araucária, Campo Largo, Piraquara (colônia de Santa Maria do Novo Tirol da Boca da Serra) e em algumas cidades vizinhas como Cerro Azul (colônia Assunguy) colônia de origem mista, criada em 1860, com recursos próprios da Província do Paraná. 

Colombo

Segundo as estatísticas, no início do século XX, no ano de 1900, viviam no estado do Paraná uma população de mais de trinta mil italianos, espalhados por 14 colônias somente de italianos e em mais 20 outras com população mista com imigrantes de outras procedências. 

Colônia Faria 1888 - Colombo 

Uma outra original colônia italiana no Paraná foi criada em 1890, no atual município de Palmeira, quando um grupo de italianos com ideal libertário, mobilizados por Giovanni Rossi, criaram a primeira experiência anarquista no Brasil. Nos quatro anos que durou a vida dessa colônia chegou a ter uma população de 250 pessoas. Ela tinha uma área de 80 alqueires de terra, doadas pelo Imperador D. Pedro II, pouco antes da Proclamação da República. O fim do experimento anarquista da Colônia Cecília se deu por motivos econômicos e sócio culturais. 


Dr. Luiz Carlos Piazzetta

Erechim RS


sábado, 17 de março de 2018

A Colônia Alessandra em Morretes no Paraná - Imigração Italiana no Paraná

Morretes




A Colônia Alessandra, ou Alexandra, também conhecida pelos imigrantes italianos como "O Purgatório", foi fundada em 10 de Fevereiro de 1872, localizada a aproximadamente 14 km de Paranaguá, cidade litorânea e porto de mar do Estado do Paraná.

O clima muito quente e úmido predominante naquela zona, propiciava o aparecimento de inúmeras doenças tropicais causadas por insetos, as quais muito breve foram motivo de irritação e descontentamento entre os imigrantes com muito sofrimento e mortes.

As desventuras dessa colônia, que chegou a ter um grande número de imigrantes, começaram muito antes da sua fundação, já na escolha do local a ela destinado.

O homem de negócios Savino Tripoti, natural de Teramo, província de Abbruzzo, fugindo da justiça italiana, veio se refugiar na América, primeiramente na Argentina por volta de 1864, foi posteriormente absolvido das acusação que lhe pesavam. Na Argentina, ainda antes de 1870, adquiriu experiência com projetos de colonização tendo chegado a assumir o cargo de diretor a Colônia Emilia, província de Santa Fé e na Colônia Ausonia, esta na província do Chaco.

Em 07 de Junho de 1871 este empresário assinou contrato com o governo imperial brasileiro que previa a chegada de 2.500 imigrantes nos próximos 6 anos.

Tripoti, como tantos outros empresários daquela época que se dedicavam a ganhar rapidamente dinheiro com projetos de colonização, equiparavam os agricultores imigrantes com qualquer outro tipo de mercadoria e pouco distinguiam as necessidades dos homens com aquelas dos animais. Muito sofrimento, desespero e vidas perdidas durante este processo de colonização mal conduzido.

Também o governo imperial brasileiro teve a sua parcela de culpa, na medida que pouco exigia na escolha dos seus contratados, mergulhado em uma burocracia que tornava ineficaz a vigilância do trabalho desses empresários.


A Colônia Alessandra durou até meados de 1877, quando após uma série de acontecimentos trágicos, que se sucederam em rítmo contínuo, apressaram a sua extinção.

Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS

quinta-feira, 15 de março de 2018

Imigração Vêneta no Paraná um Pouco da História

 
Estação Ferroviária de Morretes no início século XX


Enorme e com um índice populacional baixíssimo, a Província do Paraná era, nos últimos anos do século XIX, um território muito novo no interior de um jovem país, o Brasil.

O Paraná, Província do Estado de São Paulo, se torna um estado independente em 1853, possuindo um vasto território e algumas regiões inexploradas ainda no início do século XX. Tudo ali estava por se fazer, para se construir, para se criar. Havia a necessidade urgente de ocupar aqueles amplos vazios do grande território e promover rapidamente a sua colonização.

A idéia de trazer imigrantes europeus se consolidou e transformou-se em realidade. Já tinha sido iniciada quando Província de São Paulo, com a criação em 1828 da colônia Rio Negro, de imigrantes alemães. Estava aberta as portas para a grande imigração que em poucos anos transformou o Estado do Paraná em um dos mais importantes e ricos da federação.

Os primeiros imigrantes vênetos começaram a chegar no Paraná já a partir do ano de 1875, através do porto de Paranaguá, após o período obrigatório de quarentena na Ilha das Flores, no Rio de Janeiro, então capital do Brasil.

Os vênetos vieram juntos com famílias italianas provenientes de outras regiões da Itália. Faziam parte das primeiras levas de imigrantes que, naqueles anos do final do século XIX, transformaram o Brasil na meta preferencial da imigração italiana.

Naquele período, a Estrada de Ferro Curitiba - Paranaguá ainda não estava concluída e ao chegarem a Paranaguá eram transferidos inicialmente para o alojamento de imigrantes de Morretes e depois para as colônias italianas especialmente criadas, sobretudo na cidade de Morretes.

Entre essas colônias italianas destacamos a Colônia Nova Itália, pela sua breve e conturbada existência, a prova do falimento daquele modelo de colonização implantado.

As condições de vida nesses locais eram bastante precárias e em alguns deles, como nessa Colônia Nova Itália, imperava o descontentamento e a desorganização, chegando ao ponto de ocorrem alguns motins dos colonos ali residentes contra a direção da Colônia.

O tempo quente do litoral, a selva úmida e a presença em grande quantidade de mosquitos e outros insetos que causavam grande desconforto aos imigrantes, como as infestações de bicho-de-pé, tornavam um inferno a vida daqueles pioneiros.

Mais tarde, quando o serviço diminuia nas colônias, muitos homens encontravam algum trabalho na construção da Estrada de Ferro Curitiba - Paranaguá, obra gigantesca, triunfo da engenharia brasileira, que exigiu o esforço de milhares de trabalhadores.

Mas, apesar de estarem na "América", sonho acalentado por todos, continuava grande o descontentamento dos imigrantes com o local onde foram colocados para viver. As queixas eram gerais e quando ocorreu o falimento da colônia, e apartir de 1878 os imigrantes começaram a ser distribuídos para outros locais, principalmente subindo a Serra do Mar, se estabelecendo nos arredores de Curitiba, a capital do Estado do Paraná, situada em um altiplano, a quase mil metros de altura em relação ao mar.

Este local foi de inteiro agrado dos imigrantes italianos, pois, além de ser uma terra fértil para plantar, tem um clima muito parecido com aquele europeu. Tinha início uma outra mentalidade de colonização experimentada pelo governo do Paraná: a ocupação de áreas próximas às grandes cidades, dando impulso à agricultura local. Muitos também vieram a se colocar expontaneamente, em pequenas propiedades rurais, ao redor de Curitiba, tirando o seu sustento como agricultores e executando trabalhos como artesãos.

Assim foram-se formando comunidades italianas, onde os vênetos constituiam sempre a maioria, em torno da cidade de Curitiba, em colônias menores, disponibilizadas pelo governo paranaense.


Igreja São José - Santa Felicidade em 1891

 Essa antigas colônias em Curitiba, em breve se transformaram em bairros, como os de Santa Felicidade e Água Verde, onde ainda hoje, é grande a presença dos descendentes de vênetos.

A chegada de novos imigrantes não cessava. Com o passar dos anos os vênetos foram se espalhando por todo o Estado do Paraná, sendo que um grande número foi encaminhado para a cidade da Lapa.

Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS