Little Italy em New York
O período que abrange os séculos XIX e início do XX se caracterizou por um extraordinário movimento emigratório na Europa. Entre 1800 e 1930, cerca de 40 milhões de europeus tiveram que deixar suas terras natais em busca de uma qualidade de vida melhor, especialmente nas Américas. Essa melhoria de vida, muitas vezes referida como "em busca da cucagna", nada mais era do que um trabalho digno com o qual pudessem sustentar suas famílias.
Até meados do século XIX, a Península Itálica estava fragmentada em diversos reinos, cada um com seus próprios dialetos e traços culturais distintos. A busca por uma unidade nacional italiana, conhecida como o Risorgimento, teve início em 1848 e só foi concretizada em 1871. Nesse ínterim, a Itália era uma nação dividida por profundas disparidades sociais, concentração de renda em algumas poucas regiões, principalmente do norte, onde iniciava um incipiente processo de industrialização, porém o resto do país era totalmente dependente de uma agricultura atrasada, praticada nos mesmos moldes do século anterior e usando os mesmos implementos agrícolas usados pelos seus avós. Essa agricultura não podia competir com os grãos importados de outros países da Europa, e também dos Estados Unidos, que chegavam com preços abaixo dos produzidos no reino. Também uma série de calamidades naturais nos últimos anos, como longas estiagens e enchentes catastróficas, contribuíram para grandes quebras de safras, empobrecendo o homem do campo que se via obrigado a migrar para cidades.
Antes mesmo da unificação italiana, já havia uma emigração modesta de pessoas da região que hoje conhecemos como Itália. Inicialmente, esse movimento era relativamente pequeno e não permanente. Partindo do norte da Itália, um número considerável de italianos iam em busca de melhores condições de trabalho em outros países europeus, nomeadamente a França, Suíça e Alemanha. Eram em sua maioria pessoas do sexo masculino que partiam por conta própria e, após trabalharem por alguns anos nesses países, retornavam para a Itália. Em certas províncias do norte também as mulheres tiveram que buscar um complemento financeiro nos países vizinhos, como é o caso das amas de leite, conhecidas como "balias", as vendedoras ambulantes que levavam suas mercadorias em caixas nas cestos nas costas, percorrendo a pé cada pequena vila, para vender os seus produtos. Eram as chamadas "kromer" nas zonas alpinas de Belluno e na Áustria.
Com a unificação italiana em 1871, a emigração tornou-se um fenômeno social na Itália. Entre 1871 e 1875, aproximadamente 130.000 italianos emigraram. No início da década de 1880, a saída de italianos já alcançava cifras notáveis, configurando um verdadeiro êxodo. Os fatores dessa saída eram vários, sendo principalmente por motivos socioeconômicos, seguido de razões políticas e pessoais. O sonho da propriedade também foi o que impulsionou muitos deles a empreenderem a difícil jornada. Nos primeiros anos, 80% dos emigrantes partiam do norte da Itália. O fenômeno emigratório só chegou ao Sul da Itália no início do século XX, e esse passou a dominar a fonte de saídas.
Nesse ponto, a emigração transoceânica passou a predominar, com os italianos escolhendo três destinos principais: os Estados Unidos, a Argentina e o Brasil. Inicialmente, o Brasil absorveu a maior parte dos imigrantes italianos nos primeiros anos, sendo superado pela Argentina nos últimos anos do século XIX, enquanto os Estados Unidos se tornaram o maior receptor de italianos no início do século XX.
O governo italiano nada fazia pelos emigrantes, que partiam à própria sorte e muitas vezes caíam em propagandas enganosas de emprego fácil para onde emigravam. A emigração só foi regulamentada em 1888, quando o governo passou a dar apoio àqueles que quisessem emigrar, porém, não lhes prestava nenhuma assistência se algo desse errado. O governo percebeu que a emigração era algo lucrativo, não só para alimentar a criação de companhias de navegação italianas: os emigrantes vendiam tudo o que tinham na Itália antes de partirem e quando já inseridos em outros países, mandavam regularmente dinheiro para os parentes que ficaram. Além disso, o governo estava se livrando de uma grande massa de camponeses e desempregados indesejáveis. A emigração foi uma espécie de válvula de escape que impediu uma grande conflagração social.
A maciça emigração italiana ocorreu até 1914. Com a eclosão da Primeira Guerra Mundial, o número de emigrantes italianos sofreu um processo de baixa, até a eclosão da Segunda Guerra Mundial. Após as duas guerras, a Itália estava destruída e precisava de braços para reerguer o país, fazendo com que a emigração se tornasse pouco expressiva.
Nos Estados Unidos, os italianos começaram a desembarcar em maior número por volta de 1876, atingindo seu auge entre 1910 e 1920. A maioria desses imigrantes era composta por homens originários das zonas rurais da Sicília, que prontamente se adaptaram a novos papéis como trabalhadores urbanos no nordeste dos Estados Unidos, especialmente na região de Nova Iorque. Enfrentando preconceito devido à sua fé católica, sua coloração mais escura, a sua extrema pobreza, os italianos frequentemente se aglomeravam em bairros carentes nas periferias das cidades, onde ocupavam empregos pouco gratificantes. A dificuldade em encontrar trabalho bem remunerado levou muitos a considerar o retorno à Itália. No entanto, mantendo suas raízes culturais, os italianos formaram comunidades vibrantes, estabelecendo bairros inteiros compostos por seus compatriotas, como o icônico Little Italy. A crescente indústria norte-americana demandava mão de obra, e em pouco tempo, a comunidade italiana se tornou uma das mais bem-sucedidas e influentes dos Estados Unidos.
Atraídos pela promessa de terras férteis e oportunidades de emprego, os emigrantes italianos desempenharam um papel crucial na formação da diáspora na Argentina, superando até mesmo os números de imigrantes espanhóis. A maioria desses italianos provinha do sul da Itália, especificamente da Sicília, Campania e Calábria. Eles se estabeleceram principalmente na região urbana de Buenos Aires, enquanto outros escolheram seguiram para colônias agrícolas nas províncias de Santa Fé, Rosário, Córdoba entre outras. Essa onda de imigração italiana desempenhou um papel vital no desenvolvimento econômico da Argentina, contribuindo para sua diversidade cultural e crescimento.
Um considerável contingente de italianos emigrou em massa para o Brasil no final do século XIX e início do século XX, deixando uma marca duradoura na história do país. Eram, em grande parte, famílias inteiras de camponeses do norte da Itália que foram incentivadas pelo governo brasileiro a se estabelecerem como agricultores no sul do país em grandes colônias agrícolas, primeiramente no Rio Grande do Sul e depois Paraná e Santa Catarina. Muitos deles migraram para os estados de São Paulo, Espírito Santo e Minas Gerais, contratados pelos grandes fazendeiros, onde desempenharam um papel crucial na indústria cafeeira substituindo a mão de obra escrava.
No Brasil, a emigração italiana se destacou por sua amplitude e impacto duradouro. Famílias inteiras, principalmente do norte da Itália, embarcaram em uma jornada rumo ao Brasil, incentivadas pela promessa de terras férteis e oportunidades no Sul do país. A maior parte desses imigrantes, provenientes de regiões como Vêneto, Lombardia e Trentino, e também do sul, como Sicília, Puglia, Campania, desembarcou no Porto do Rio de Janeiro e no Porto de Santos, buscando uma nova vida nas vastas plantações de café de São Paulo, Espírito Santo, Minas Gerais e nas colônias recém-criadas no Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina.
Esses italianos, muitos dos quais eram camponeses experientes em suas terras natais, desempenharam um papel vital no crescimento da indústria cafeeira brasileira. Com seu trabalho árduo e dedicação, contribuíram para o desenvolvimento econômico do Brasil, transformando o país em um dos maiores produtores de café do mundo. A migração italiana também deixou uma influência cultural duradoura, como se pode observar na culinária, na arquitetura e em tradições que perduram até os dias de hoje.
Esses imigrantes enfrentaram desafios e dificuldades ao longo de sua jornada, incluindo a adaptação a um novo país, a superação de barreiras linguísticas e o confronto com condições de trabalho muitas vezes desafiadoras. No entanto, sua determinação e resiliência os ajudaram a prosperar e a contribuir significativamente para o Brasil.
A imigração italiana para o Brasil, que alcançou seu auge no início do século XX, deixou um legado profundo no país, enriquecendo sua diversidade étnica e cultural. A influência italiana pode ser vista em diversos aspectos da sociedade brasileira, desde a produção de alimentos até a preservação de tradições e celebrações festivas. A história desses imigrantes italianos é um testemunho da coragem e da determinação daqueles que deixaram sua terra natal em busca de uma vida melhor, e é um tributo à sua contribuição duradoura para a identidade multicultural do Brasil.