Em 16 de novembro de 1877, Don Angelo Cavalli chegou na Colônia Nova Itália, localizada no município de Morretes, no Estado do Paraná, acompanhando os emigrantes vênetos que tinham embarcado com ele. Vieram também os familiares: a mãe Antonia, o irmão Liberale e seus dois filhos Antonio e Domenico, um outro irmão Girolamo, com a sua mulher Giovanna e os quatro filhos do casal: Felicità, Antonia, Angelo e Maria. A Colônia Nova Italia tinha sido fundada em 22 de abril de 1877 e em pouco tempo já estava ocupada por milhares de imigrantes, todos de nacionalidade italiana. No mês de dezembro, desse mesmo ano já eram 2.461 pessoas. Não havia uma estrutura adequada e suficiente para receber tanta gente, e durante vários meses ainda continuava chegando novas levas de imigrantes. Ficavam amontoados em precários barracões construídos apressadamente.
No período de espera da consignação dos lotes, os imigrantes recebiam da administração da colônia, uma diária de seiscentos réis por adulto e trezentos réis para os rapazes com idade superior a 10 anos.
No mês de dezembro de 1877 a Colônia Nova Italia foi palco de uma revolta dos imigrantes. que temiam perder o dinheiro que recebiam, os equipamentos de trabalho prometidos e as sementes. Quando aconteceu essa manifestação dos imigrantes, fazia parte dela, como um dos líderes dos revoltosos, o padre Don Angelo Cavalli, a menos de um mês de sua permanência no Brasil. Pelas correspondências do inspetor especial enviado pelo governador da província, podemos ver um telegrama onde descrevia que: "estão entre os revoltosos os imigrantes apenas chegados nesta colônia". Já existia um outro padre registrado na colônia e que recebia regularmente o seu salário, mesmo que estivesse sempre ausente. Don Cavalli que era o verdadeiro guia espiritual dos imigrantes nunca exibiu os seus documentos clericais para poder também receber o auxílio, apesar das várias solicitações do tesoureiro da colônia para que ele enviasse os seus documentos para regularizar a sua situação como pároco. Don Cavalli nunca os apresentou, porque não os tinha recebido do seu antigo bispo na Itália.
A situação dos imigrantes continuava se agravando na Colônia Nova Italia. O clima típico de litoral na região, quente e muito úmido, era desfavorável ao plantio de certas culturas a que estavam habituados a cultivar. As frequentes inundações, que facilitavam a disseminação de doenças como a febre amarela, transmitida por mosquitos, que abundavam naquele terreno encharcado e localizado muito próximo da floresta tropical.
Devido as precárias condições de vida que estavam passando, os colonos fizeram uma solicitação para o governo da província do Paraná para transferir-los para uma outra localidade. E isso foi feito, com os colonos se estabelecendo em novas áreas do Paraná.
Os antigos paroquianos de Don Angelo Cavalli subiram a Serra do Mar, e se estabeleceram no grande planalto em volta de Curitiba, a capital da província. O local onde se estabeleceram foi a Colônia Alfredo Chaves, fundada em 1879, que disponha de melhores acomodações para receber os imigrantes sendo que o clima e as terras eram de boa qualidade. A Colônia de Alfredo Chaves anos mais tarde deu origem a progressista cidade de Colombo.
Don Angelo Cavalli faleceu com a idade de 39 anos, provavelmente, após dois anos da sua chegada ao Brasil, muito provavelmente vítima da febre amarela. A data exata do seu falecimento, a causa mortis e o local da sua sepultura não foi possível determinar, apesar das várias pesquisas realizadas em vários arquivos do Estado do Paraná, especialmente da Catedral de Curitiba, onde deveria constar o nome de um padre falecido com a assistência de um sacerdote.
A única indicação do seu falecimento, até agora encontrado, foi uma carta enviada por sua mãe com data de 29 de novembro de 1879, dirigida ao presidente da Província do Paraná onde ela escreveu: "A colona Antonia Cavalli, viúva, estabelecida na Colônia Alfredo Chaves, depois da morte do seu filho Angelo e após outras desgraças, se encontra hoje na mais terrível miséria, sendo os seus filhos impossibilitados de manter-la. Por isso a abaixo assinada humildemente suplica à Vossa Excelência se digne ordenar que seja-lhe concedida uma ajuda de qualquer tipo, para que possa manter uma filha ainda jovem...".
É muito possível que ele tenha contraído alguma doença epidêmica, como a febre a amarela ou o cólera, que apareceram nesse período e tivesse sido rapidamente enterrado, em uma fossa comum, devido o medo da propagação do mal.
Na verdade, foi um fim muito triste para aquele que ajudou a tantos seus semelhantes a encontrarem na emigração um melhor destino para as suas vidas.
Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS