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quinta-feira, 11 de dezembro de 2025

Os Filhos do Piemonte – A Grande Travessia Italiana

 


Os Filhos do Piemonte: A Grande Travessia Italiana para o Brasil


Origem em San Giovanni: Vida e Esperança no Piemonte

Giuseppe Albertona nasceu entre as colinas verde-escuras de San Giovanni, pequena localidade do município de Biella, no Piemonte. A aldeia, cercada por vinhedos e neblinas persistentes, era um aglomerado de casas de pedra e telhados escuros que resistiam ao tempo, à pobreza e às intempéries.

Desde cedo ele aprendeu o peso do trabalho e o silêncio dos campos. Casou-se com Antonella Ferrari, de Chiavazza, moça de olhos claros e mãos marcadas pela fianda. Ambos cresceram sob o mesmo horizonte de montanhas, dívidas e estações que já não traziam fartura.

A Itália Pós-Unificação e o Início do Êxodo Italiano

A Itália vivia o rescaldo da unificação nacional. O novo Reino prometera progresso, mas o progresso parecia visitar apenas algumas grandes cidades. No Piemonte rural, os contratos agrícolas se dissolviam, as terras eram fragmentadas e a miséria crescia. A fome, antes visita passageira, tornara-se moradora permanente das cozinhas. Nos vilarejos, aumentavam as notícias de partidas. Famílias deixavam tudo para trás rumo ao desconhecido. Chamavam aquele destino de “la Mèrica”. Nos domingos de missa, Giuseppe ouvia histórias sobre terras férteis, trabalho certo e viagem paga — mas pouco se falava do calor tropical, das febres e dos que nunca voltavam.

A Decisão de Emigrar para o Brasil em 1884

Em 1884, quando a neve derreteu nos vales, Giuseppe e Antonella decidiram partir. Não houve cerimônia, apenas um último olhar para a paisagem que moldara suas vidas. Levaram uma arca de madeira com roupas, algumas sementes, um rosário e um punhado de terra do quintal paterno. O resto era esperança.

A Caminho de Gênova: O Trem, o Porto e o Êxodo Italiano

A viagem começou sobre trilhos. O trem que os levou a Gênova cuspia fogo e carvão. No vagão, o casal sentiu pela primeira vez o tamanho do êxodo: vênetos, lombardos, ligures — todos fugindo da mesma pobreza. O porto fervilhava: mulheres com crianças, velhos carregando retratos, jovens tentando esconder o medo. O navio era uma embarcação de ferro, pesada e cansada, carregada de promessas e maus presságios.

A Travessia do Atlântico: 36 Dias Entre Esperança e Sufoco

A bordo, a vida se tornava espera. O ar era pesado, as câmaras inferiores cheiravam a ferrugem e doença. Antonella adoeceu nos primeiros dias, vencida pela vertigem e pela saudade. Giuseppe limpava-lhe o rosto e encarava o oceano como se buscasse decifrar o futuro. À noite, o navio gemia sob o peso das ondas.Crianças choravam, preces ecoavam, e o vento trazia sal misturado à desesperança. Alguns passageiros olhavam o céu tentando reconhecer as estrelas da Itália, mas até o firmamento parecia outro mundo.

A Chegada ao Brasil: Santos e o Trem para Ribeirão Preto

Após trinta e seis dias, o vapor ancorou no porto de Santos. O calor sufocante, o cheiro doce de frutas e a luz brutal dos trópicos cegaram-nos por instantes. De Santos seguiram de trem até Ribeirão Preto, onde agricultores buscavam substituir a mão de obra escrava recém-liberta por imigrantes italianos. As fazendas de café dominavam o horizonte.

A Dura Vida nas Fazendas de Café Paulistas

As casas dos colonos ficavam alinhadas em fileiras de taipa e barro, construídas onde antes havia senzalas. Cada família recebia um pequeno lote para hortaliças e galinhas. Mas todas as demais necessidades precisavam ser compradas no armazém da fazenda — sempre mais caro que nas cidades. O contrato era simples e cruel: plantar, colher e entregar ao fazendeiro. Quase sempre, o salário se perdia nas dívidas. Ainda assim, a esperança persistia: juntar alguns mil réis para, um dia, comprar um pedaço de terra própria.

Trabalho, Resistência e Cotidiano dos Imigrantes Italianos

Giuseppe e Antonella conheceram o peso do sol paulista. O trabalho começava antes do amanhecer e terminava sob um céu violeta. Antonella cuidava dos canteiros e fiava algodão para complementar a renda. À noite, lamparinas iluminavam rostos exaustos, canções antigas, preces e lembranças da Itália. Os meses tornaram-se anos. A fazenda crescia — e as dívidas dos imigrantes também.

Da Dor à Esperança: A Vida Familiar no Brasil

Antonella deu à luz dois filhos. Um morreu de febre antes do primeiro inverno. O outro, Giacomo, sobreviveu e cresceu descalço sobre a terra que os pais custavam a chamar de sua.

Giuseppe o observava e pensava que talvez esse fosse o verdadeiro sentido de emigrar: não partir por si, mas pelos que viriam depois.

Integração Cultural e O Novo Mundo

Com o tempo, o casal aprendeu os sinais das estações tropicais. As palavras portuguesas se misturavam às italianas. No lar, conviviam o rosário piemontês e o café torrado brasileiro — fruto do suor diário. Nas feiras da vila, Giuseppe encontrava outros piemonteses, lombardos e vênetos. Todos sabiam, em silêncio, que compartilhavam a mesma travessia.

O Legado da Imigração Italiana no Século XIX

Quando a década terminou, Giuseppe já não sonhava em voltar à Itália. O tempo apagou memórias e a vida se enraizou na terra vermelha paulista. Certo dia, sentado à sombra de um cafeeiro, ele entendeu: o solo que absorvia seu suor agora guardava também sua história. À noite, quando o vento soprava entre os cafezais, às vezes ele achava ouvir os sinos de Biella. Mas já não sabia se vinham da memória ou do coração.

Nota do Autor

A história narrada é uma obra de ficção literária inspirada em registros reais da imigração italiana no Brasil no século XIX. Os nomes e localidades foram alterados para preservar identidades e garantir liberdade narrativa. Os fatos descritos — a travessia do Piemonte ao Brasil, a chegada às fazendas de café de Ribeirão Preto, as dificuldades e a busca por dignidade — baseiam-se em cartas, diários, documentos e objetos preservados em um museu paulista dedicado aos pioneiros italianos. Cada detalhe foi reconstruído com respeito à coragem, ao sofrimento e à esperança daqueles que deixaram sua terra natal em busca de um futuro melhor.

Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta



sábado, 29 de novembro de 2025

A Emigração Italiana para o Brasil: História, Dor e Esperança

 


A Emigração Italiana para o Brasil: 

Uma História de Esperança, Dor e Silêncio dos Imigrantes Italianos


Entre o final do século XIX e as primeiras décadas do século XX, o Brasil se transformou no destino de centenas de milhares de italianos que, movidos por necessidade e esperança, cruzaram o oceano Atlântico em busca de uma vida melhor. Dentre eles, os vênetos — naturais da região do Vêneto, ao norte da Itália — formaram uma das maiores correntes migratórias rumo às lavouras brasileiras.

O Vêneto e a raiz da partida

Após a unificação da Itália, em 1870, o país enfrentou uma severa crise econômica. No Vêneto, então composto por províncias como Padova, Rovigo, Treviso, Verona, Veneza, Vicenza e Belluno (com Udine até 1900), a pobreza se alastrou entre os pequenos proprietários rurais. A estrutura agrária era arcaica, os impostos aumentaram, e os preços dos produtos agrícolas caíram drasticamente. Famílias numerosas dividiam pequenas parcelas de terra, insuficientes para garantir sustento. A polenta, à base de milho, era o alimento diário das camadas mais pobres, enquanto a carne era consumida apenas em ocasiões festivas. O vinho bom e o pão branco, por sua vez, estavam reservados às épocas de colheita e às casas mais abastadas.

As condições de moradia também eram precárias. Casebres de pedras soltas, chão batido e pouca mobília contrastavam com os altares improvisados com imagens do Sagrado Coração de Jesus e da Virgem Maria, testemunhas silenciosas da fé e da resignação de um povo. Quando os filhos cresciam, os mais velhos assumiam o trabalho do pai, geralmente por volta dos 46 ou 47 anos, e o ciclo recomeçava. O casamento, feito por acordo entre famílias, acontecia cedo: os homens, entre 23 e 25 anos; as mulheres, entre 18 e 23. Viúvos com filhos pequenos costumavam se casar novamente com moças jovens e de braços fortes, valorizadas por sua capacidade de trabalho e fertilidade.

Diante desse cenário, a emigração tornou-se uma válvula de escape para a miséria. Muitos vendiam suas posses logo após a colheita do trigo, entre setembro e novembro, reuniam o que podiam carregar e partiam, muitas vezes em família, sem planos de retorno.

A travessia e a chegada ao Brasil

A chegada ao Brasil se intensificou entre 1870 e 1920, quando mais de 960 mil italianos desembarcaram no país. São Paulo foi o principal destino, recebendo cerca de 70% desse contingente. Outros estados também atraíram italianos: Rio Grande do Sul (10%), Minas Gerais (8%), Espírito Santo (6%), Santa Catarina (4%) e Paraná (2%). Essas estatísticas, colhidas nos registros da Hospedaria dos Imigrantes de São Paulo, mostram uma forte concentração inicial no Sudeste, mas também indicam a dispersão gradual dos imigrantes.

Contudo, os registros italianos apresentam números ainda maiores. Considerando o princípio do jus sanguinis(nacionalidade por descendência), a Itália contabilizou como italianos os filhos nascidos fora do país, o que eleva a estimativa para cerca de 1,5 milhão de emigrantes para o Brasil — 850 mil só para São Paulo. No Brasil, por outro lado, adota-se o critério jus soli, o que reduz os números oficiais.

Ao desembarcar, os recém-chegados aguardavam nos centros de acolhimento a distribuição para as fazendas. Alguns vinham contratados por intermédio de agentes oficiais ou particulares; outros, por conta própria, lançavam-se à busca de trabalho, de fazenda em fazenda, até encontrar colocação. Muitos insistiam para que familiares e conterrâneos fossem mantidos juntos, numa tentativa de preservar os laços de solidariedade.

Do sonho à frustração: a vida nas fazendas brasileiras

A realidade no Brasil, no entanto, mostrou-se dura. Nas lavouras de café paulista, os italianos substituíram os escravizados recém-libertos. O sistema de parceria, em que os colonos plantavam e colhiam o café em troca de uma fração da produção, rapidamente revelou sua face cruel: dívidas crescentes, preços controlados pelos fazendeiros e abusos frequentes. O colono italiano tornou-se refém do patrão. Relatos de maus-tratos se multiplicaram, incluindo agressões físicas e psicológicas.

Em 1895, escandalizado pelas denúncias, o governo da Itália suspendeu temporariamente a imigração subsidiada para o Brasil. Somente pessoas com recursos próprios puderam continuar partindo. Ainda assim, o fluxo não cessou. Em 1902, com o Decreto Prinetti, a Itália proibiu em definitivo o envio de trabalhadores para o Brasil com passagem custeada pelo governo, selando o fim da grande imigração incentivada.

Dos quase um milhão de italianos que vieram entre 1870 e 1920, cerca de 357 mil deixaram o Estado de São Paulo, migrando para países como Argentina e Estados Unidos, que ofereciam melhores condições de trabalho e salários. O movimento não era apenas por ambição, mas por desilusão com a vida nas plantações brasileiras.

Desmemória, dispersão e silêncio

Ao longo das décadas, muitos descendentes deixaram de saber com exatidão a cidade ou a província de origem de suas famílias. O rompimento com o passado, muitas vezes intencional, era uma forma de sobrevivência emocional. Os que chegaram aqui raramente contavam aos filhos sobre as dificuldades vividas na Itália. Sabiam que a volta era impossível — e, por isso, preferiam o silêncio. Os traumas da travessia, da pobreza e da opressão eram engolidos pelo trabalho árduo e pelas novas responsabilidades.

Casos de famílias separadas durante fugas de fazendas não são raros. Um imigrante relatou, por exemplo, que fugiu sozinho após sofrer humilhações, deixando para trás irmãos e tios com os quais viera da Itália. Nunca mais soube deles. Situações como essa explicam por que hoje tantos brasileiros com o mesmo sobrenome não sabem se são parentes. No início do século XX, no entanto, todos conheciam suas raízes — sabiam os nomes dos avós, a aldeia de onde vieram, e a história familiar era parte viva do cotidiano.

Em 1904, um relatório diplomático italiano informou que 424 imigrantes embarcaram de Santos para a Argentina, insatisfeitos com o Brasil. E muitos outros fizeram o mesmo, silenciosamente.

Legado e identidade

Ainda que a memória dos sofrimentos tenha sido abafada, a marca da imigração italiana no Brasil é profunda. Da língua às tradições culinárias, das festas religiosas às comunidades rurais formadas no interior, o legado persiste. Os descendentes podem não saber a origem precisa de seus bisavós, mas herdaram deles a resiliência, o senso de comunidade e o valor do trabalho.

A grande ironia é que muitos dos que partiram em busca de uma nova vida foram recebidos com dureza em seu novo lar. E mesmo assim, plantaram raízes. A dor foi o adubo — e a memória, mesmo fragmentada, ainda brota nas histórias de família contadas em voz baixa, nos sobrenomes repetidos com orgulho, nos documentos antigos guardados como relíquias.

A história da imigração italiana no Brasil não é apenas uma narrativa de deslocamento, mas de reconstrução. E, acima de tudo, de um povo que, mesmo longe da pátria, construiu outra. 

Nota Explicativa

Este texto apresenta, de forma resumida e acessível, o contexto histórico da emigração italiana para o Brasil entre o fim do século XIX e o início do século XX. Explica as causas da partida no Vêneto, as dificuldades da travessia, a dura realidade nas fazendas brasileiras e o impacto dessa migração na memória e na identidade dos descendentes.



domingo, 16 de novembro de 2025

A Jornada de Carlo Venturin: A Vida de um Emigrante Italiano nas Fazendas de Café do Brasil

 


A Jornada de Carlo Venturin: A Vida de um Emigrante Italiano nas Fazendas de Café do Brasil


A travessia de Carlo Venturin rumo ao Brasil marcou o início de uma transformação profunda, típica dos movimentos migratórios que moldaram o final do século XIX. Foram quarenta dias confinados no porão úmido de um navio superlotado, onde a fome, as doenças e o ar rarefeito corroíam lentamente a vitalidade de cada passageiro. Naquele espaço escuro, Carlo compreendeu que deixar a planície nevada próxima a Milão significava renunciar não apenas ao passado, mas também às certezas de sua própria identidade.

Quando o navio finalmente atracou em Santos, a sensação de alívio durou pouco. Os recém-chegados foram rapidamente enviados às fazendas de café do interior paulista, como peças substituíveis de um sistema que prometia trabalho, mas entregava cativeiro disfarçado. Na Fazenda Boa Fortuna, Carlo descobriu um regime silencioso e implacável: preços inflacionados pelo próprio patrão, dívidas que cresciam sem controle e uma rotina intensa que transformava cada dia em prova de resistência.

O sol tropical, muito mais severo do que qualquer verão italiano, marcava sua pele como ferro quente. Ainda assim, Carlo enxergava nos cafezais uma metáfora de sua própria existência. As raízes das plantas, forçadas a se adaptar ao solo estranho, refletiam sua tentativa de fincar lugar em uma terra que exigia mais do que ele imaginara ser capaz de oferecer.

À noite, quando o silêncio tomava o campo, Carlo permitia-se recordar o cheiro da polenta recém-feita, o frio úmido das ruas de Milão e o conforto seco da neve sob as botas. Essas lembranças tinham o peso de um mundo inteiro, mas também a força necessária para mantê-lo de pé. Ele sabia que não havia retorno. Sua persistência era agora uma construção voltada para o futuro, mesmo que seus filhos ainda não existissem. A promessa de oferecer a eles um destino menos árduo guiava seus passos.

Assim se formava a trajetória de Carlo Venturin: uma vida moldada por trabalho incansável, adaptação e esperança teimosa. Seu esforço silencioso refletia a jornada de milhares de italianos que deixaram a Europa em busca de dignidade. No calor intenso das plantações de café, Carlo reconstruía a si mesmo e deixava, sem perceber, as primeiras raízes de uma história que seus descendentes carregariam como legado.

Nota do Autor

Este texto é baseado em elementos históricos reais da imigração italiana no Brasil. Todos os nomes, incluindo Carlo Venturin, são fictícios, utilizados apenas para preservar a privacidade e representar, de forma literária, a experiência coletiva de milhares de emigrantes que enfrentaram a travessia atlântica, o trabalho duro nas fazendas de café e os desafios de reconstruir a vida em um país desconhecido.



segunda-feira, 6 de outubro de 2025

A vida de Matteo Oste – Da planície de Rovigo às terras vermelhas do Brasil


 

A vida de Matteo Oste – Da planície de Rovigo às terras vermelhas do Brasil


Matteo Oste nasceu em Lendinara, pequena localidade da província de Rovigo, no Vêneto, em 1º de novembro de 1861. A infância dele desenrolou-se em meio a campos de arroz que cintilavam ao sol como lâminas douradas e às extensas planícies onde o milho, plantado com sacrifício, sustentava famílias inteiras. Mas por trás da paisagem fértil escondia-se a amarga realidade: a terra já não bastava para todos, e cada colheita parecia menor que a anterior.

Desde menino, Matteo cresceu cercado por histórias de miséria e endividamento. As conversas nas tavernas falavam de impostos que esmagavam os camponeses, de senhores de terra cada vez mais ricos e de famílias inteiras que não tinham mais o que comer. À noite, quando o silêncio caía sobre a aldeia, ele via homens despedindo-se às pressas, partindo em direção a Turim, Milão ou até mais longe, em busca de trabalho nas fábricas nascente da revolução industrial. Ficavam as mulheres, imóveis nos umbrais das portas, com crianças agarradas às saias, olhando para o horizonte como se esperassem que de lá viesse algum milagre.

Para Matteo, essas imagens tornaram-se parte da vida cotidiana. O som dos sinos da igreja misturava-se ao murmúrio de rezas pedindo fartura, enquanto os campos, castigados ora pelas enchentes do Pó, ora pela seca implacável, entregavam colheitas incertas. Na memória do menino, a abundância era apenas um lampejo breve: algumas semanas de saciedade logo substituídas pela dureza do inverno e pela monotonia da polenta, servida dia após dia como único sustento.

Essa infância moldou nele duas certezas. A primeira era que a terra natal, por mais bela que fosse, não oferecia futuro. A segunda, ainda vaga e silenciosa, era que um destino diferente o aguardava além das fronteiras invisíveis de Lendinara.

Foi nesse cenário de penúria e de esperanças frágeis que Matteo conheceu Rosa Zanetti, nascida também em Lendinara, em 8 de setembro de 1867. Ela crescera entre os mesmos arrozais alagados e os mesmos campos de milho castigados pelas enchentes do Pó. Desde menina aprendera a lidar com o peso dos baldes de água, a paciência de ceifar trigo sob o sol inclemente e a resignação de ordenhar vacas magras, cujo leite mal bastava para alimentar os irmãos menores.

A juventude dos dois foi marcada pelo trabalho incessante, de sol a sol. Matteo passava as manhãs inclinado sobre a terra, com a enxada cavando sulcos estreitos, enquanto Rosa, ao lado da mãe, cuidava da horta e das galinhas, preparando a refeição escassa que sustentaria a família até o anoitecer. A mãe de Rosa trabalhava também em arrozais como "mondina". Os dois se viam nas colheitas de arroz, nas festas paroquiais, nos domingos em que a missa reunia toda a comunidade. Entre olhares tímidos e breves conversas à sombra da igreja, nasceu um afeto silencioso, sólido como as pedras que sustentavam as casas da aldeia.

Casaram-se cedo, não apenas por amor, mas também porque o casamento parecia ser, naquela época, um abrigo contra a precariedade da vida. Para Rosa, significava trocar a casa paterna por um lar próprio; para Matteo, significava ter alguém com quem dividir o peso da terra ingrata. Mas nem a união, nem a juventude dos corpos, nem a obstinação dos braços eram suficientes para conter a realidade que se espalhava como uma sombra sobre o Vêneto.

A região mergulhava em uma crise silenciosa: a terra, dividida geração após geração, tornava-se cada vez menor; os impostos devoravam os parcos lucros; e as más colheitas traziam fome ano após ano. A miséria não respeitava lares. Havia dias em que o prato de polenta era o único alimento disponível, e noites em que Matteo e Rosa iam para a cama com o estômago vazio, consolando-se apenas com a esperança de que a manhã seguinte fosse menos dura.

No coração deles, contudo, começava a germinar uma semente de inquietação. O Vêneto, com seus campos dourados e suas aldeias de pedra, era belo demais para ser abandonado — mas, ao mesmo tempo, cruel demais para ser o destino final de suas vidas.

Em 1886, Matteo e Rosa tomaram a decisão que mudaria para sempre o destino de sua linhagem: deixar Lendinara e cruzar o oceano rumo ao Brasil. Não foi escolha fácil. Durante semanas, as conversas na pequena casa de pedra giraram em torno de dívidas impagáveis, colheitas insuficientes e do medo de ver os filhos crescerem na mesma pobreza que eles haviam conhecido. Partir significava arriscar tudo; ficar significava definhar lentamente. A esperança, ainda que remota, venceu o medo.

Com dois filhos pequenos, apresentaram-se ao porto de Gênova, junto a centenas de outros camponeses vindos do Veneto e Lombardia. Ali, diante do gigante de ferro que os esperava, Rosa sentiu um frio no peito, como se estivesse prestes a romper para sempre com o mundo que conhecia. Matteo, firme, segurou-lhe a mão: já não havia retorno.

O navio estava abarrotado de homens exaustos, mulheres assustadas e crianças inquietas. Nos porões, o ar era denso, impregnado de suor, de sal e de um leve odor de mofo que parecia grudar na pele. Cada família defendia com unhas e dentes um pequeno espaço onde espalhava cobertores e trouxas de roupas. O barulho incessante das ondas misturava-se ao ranger das madeiras e ao resfolegar das máquinas, criando uma sinfonia áspera que embalava os dias.

À noite, quando o convés se tornava um palco de ventos fortes e céu estrelado, os imigrantes reuniam-se para rezar, cantar ou simplesmente chorar em silêncio. Lá embaixo, no porão, as crianças choravam de fome ou de enjoo. Rosa embalava seus pequenos contra o peito, murmurando cantigas em dialeto vêneto para disfarçar a própria angústia. Matteo permanecia acordado por horas, deitado sobre o chão duro, ouvindo o som pesado das ondas que batiam contra o casco como se quisessem arrancar o navio do mar.

A travessia parecia interminável. Dias de calor sufocante alternavam-se com tempestades que faziam o navio inteiro estremecer. Houve noites em que o medo percorreu cada olhar: uma única onda mais forte poderia engolir tudo. Mas havia também manhãs de calma, em que os passageiros subiam ao convés e, pela primeira vez em semanas, sentiam o sol e o vento livres no rosto. Nessas horas, Matteo erguia os olhos para o horizonte e imaginava o futuro. Não via riquezas nem facilidades — apenas a chance de oferecer aos filhos uma vida em que a fome não fosse companheira diária.

No coração de Rosa, o medo convivia com a esperança. Enquanto cantarolava baixinho, ela se perguntava se algum dia veria novamente os campanários de Lendinara ou os arrozais de sua infância. Mas quando olhava para Matteo, imóvel, com o rosto endurecido pela determinação, sabia que não havia mais recuo: a travessia já não era apenas geográfica, mas também de destino.

E assim, embalados entre rezas e tempestades, suor e saudade, o casal Oste avançava para um continente desconhecido — um mundo novo que os receberia com a dureza da terra vermelha e, ao mesmo tempo, com a promessa silenciosa de um futuro possível.

Após semanas de tormenta e calor sufocante, finalmente avistaram o Brasil. O destino era uma grande fazenda chamada Santa Gertrudes, no interior de São Paulo, onde o nome do Conde do Prado já se impunha sobre vastas áreas plantadas com café. Ali os Oste foram lançados num mundo de trabalho sem descanso. O sol queimava como fogo, a terra parecia não ter fim, e o idioma dos feitores soava áspero aos ouvidos dos recém-chegados.

O peso do destino mostrou-se cruel: Matteo e Rosa em poucos meses perderam os dois filhos para febres desconhecidas e incuráveis com os remédios caseiros que conseguiram. A dor foi silenciosa, sufocada no trabalho diário, mas nunca esquecida.

Com o tempo, a vida se recompôs. Nasceram-lhes outros filhos: Guerino, Domingos, José, Albino e Teresa. A pequena casa de madeira, perdida entre laranjais, encheu-se outra vez de vozes infantis. Matteo, homem prático, instituiu uma disciplina rígida: a mesa de sua família teria apenas o necessário — polenta de milho, que ele adquiria no armazém da própria fazenda. Alguma carne de porco de a de aves que criavam completavam a dieta. Nada era desperdiçado. Cada moeda era guardada como se fosse ouro.

Durante anos, o casal trabalhou de sol a sol, suportando calos, dívidas com o patrão, e o peso de uma vida que parecia nunca melhorar. Mas Matteo carregava consigo uma obstinação férrea. Aos poucos, juntou pequenas economias, fruto do sacrifício de cada um dos dias vividos.

Finalmente, depois de quase seis anos, o momento chegou. Deixaram para trás o trabalho assalariado e adquiriram um pedaço de terra fértil em local promissor conhecido como Mombuca. Aquele chão representava não apenas propriedade, mas dignidade. Ali, Matteo e Rosa reuniram filhos e netos, erguendo casas, plantando lavouras, transformando o mato em cultivos e o medo em esperança. Apenas Teresa não os acompanhou: casara-se com Ângelo Mariani, descendente de italianos, e permanecera mais alguns anos na Santa Gertrudes, junto do marido.

Matteo Oste envelheceu cercado pela família, vendo no rosto dos netos a prova de que sua decisão de emigrar não fora em vão. Partiu deste mundo em 11 de abril de 1942, em Rio Claro. Rosa sobreviveu mais de uma década, falecendo em 19 de janeiro de 1953. Seus olhos se fecharam longe da Itália, mas seu coração estava enraizado no Brasil.

A trajetória dos Oste é um retrato do destino de milhares de imigrantes: camponeses pobres que trocaram o frio de Rovigo pelo calor abrasador das terras paulistas. Homens e mulheres que suportaram perdas inimagináveis, mas legaram aos seus descendentes não apenas a memória da dor, e sim o valor do trabalho, da esperança e da terra conquistada com suor.

Nota do Autor

A história de Matteo Oste e de sua esposa Rosa Zanetti é uma recriação literária, construída a partir de relatos orais que chegaram até mim por meio de uma de suas netas. Foi ela quem, com emoção na voz e brilho nos olhos, narrou a trajetória de seus avós, emigrantes vindos de Rovigo, no Vêneto, em 1886, que deixaram a pátria e atravessaram o oceano rumo ao Brasil.

Embora os nomes tenham sido modificados para preservar a intimidade das famílias envolvidas, os fatos aqui relatados guardam raízes verdadeiras. A pobreza da Itália setentrional no final do século XIX, a travessia em navio abarrotado de imigrantes, as primeiras jornadas em fazendas de café do interior paulista, a perda dolorosa de filhos, a persistência no trabalho agrícola, a vida marcada pela polenta, pelas laranjeiras e pela disciplina severa à mesa, tudo isso é parte de uma memória transmitida de geração em geração.

A neta de Matteo, ao reconstituir a história, não apenas ofereceu datas e lugares, mas também o sentimento de quem cresceu ouvindo sobre o sacrifício dos antepassados. Coube a mim, como escritor, vestir essas lembranças com a roupagem da narrativa, ampliando-as em forma de romance histórico, sem nunca trair a essência do vivido.

Assim, esta obra não é biografia, mas tampouco é invenção gratuita. É a fusão entre memória familiar e literatura, um gesto de respeito aos que partiram do Vêneto em busca de uma vida melhor e acabaram por construir, no interior de São Paulo, raízes tão profundas quanto as árvores que plantaram.

Dr. Luiz C. B. Piazzetta


segunda-feira, 10 de fevereiro de 2025

A Imigração Italiana para o Interior do Estado de São Paulo





A Imigração Italiana para o Interior do 

Estado de São Paulo


A imigração italiana para o interior do estado de São Paulo está diretamente relacionada à expansão das lavouras cafeeiras. A partir da década de 1880, observou-se um expressivo fluxo de italianos para a região, fazendo com que, até 1910, eles representassem o maior contingente de imigrantes, superando os portugueses e espanhóis. Grande parte desses italianos vinha do Vêneto, embora outras regiões, como Calábria, Campânia e Lombardia, também tenham contribuído significativamente para esse movimento migratório.

O estudo de registros de casamento em paróquias católicas de algumas cidades revela a diversidade de localidades de origem dos imigrantes. Entre 1870 e 1930, foram documentadas mais de 500 localidades diferentes, o que evidencia que os italianos traziam consigo uma rica diversidade de costumes, tradições e dialetos regionais. Contudo, ao chegarem ao Brasil, eles ainda não possuíam um forte senso de identidade nacional. Foi no contato com outras comunidades imigrantes, como as alemãs e portuguesas, que começaram a se identificar como um grupo nacional mais amplo, deixando de se ver apenas como calabreses, lombardos ou vênetos.

No Brasil, outro aspecto que marcou a experiência dos italianos foi a percepção de pertencimento ao grupo racial branco. Na Europa, a cor da pele tinha pouca relevância, mas, no contexto brasileiro, essa característica passou a ser valorizada por eles. Esse reconhecimento contribuiu para que os italianos se distanciassem das populações negras, especialmente dos recém-libertos, que ainda enfrentavam condições de vida extremamente precárias.

Essa percepção foi, de certo modo, incorporada ao projeto das elites brasileiras, que buscavam um “embranquecimento” da população por meio do estímulo à imigração europeia. Apesar disso, os italianos enfrentavam condições de trabalho extremamente difíceis nas fazendas de café, que frequentemente eram comparadas à escravidão. O isolamento, a falta de serviços médicos e a dificuldade de acesso à educação eram desafios cotidianos. As condições eram tão severas que, no início do século XX, o governo italiano suspendeu o apoio financeiro à imigração para o Brasil.

Com o tempo, os imigrantes começaram a se organizar em associações e clubes, inicialmente baseados em suas regiões de origem. No entanto, durante a ascensão do fascismo na Itália, essas associações passaram a ser usadas para promover ideais fascistas, com maior influência nas áreas rurais do que nas capitais. A chegada de Getúlio Vargas ao poder trouxe uma onda de nacionalismo que reforçou a assimilação dos italianos à cultura brasileira. Esse movimento culminou durante a Segunda Guerra Mundial, quando o Brasil declarou guerra contra a Itália, o que enfraqueceu o senso de identidade italiana entre os descendentes.

Somente nas décadas de 1980 e 1990 houve um ressurgimento do interesse pelas origens italianas, com as famílias buscando reconectar-se às suas raízes culturais e históricas. Esse retorno às tradições marcou uma nova fase no processo de construção da identidade ítalo-brasileira, que, ao longo de um século, havia passado por transformações profundas e marcantes no interior paulista.



sexta-feira, 15 de abril de 2022

Os Agricultores Italianos no Brasil




Os primeiros assentamentos de imigrantes do Brasil foram fundados nas províncias do Rio de Janeiro e de São Pedro do Rio Grande do Sul - Nova Friburgo e São Leopoldo respectivamente, surgindo o primeiro em 1818 e o segundo em 1824, formados principalmente por colonos alemães e suíços.


Na época, o governo brasileiro havia planejado uma colonização progressiva das terras, que seria implementada por meio da abertura de colônias habitadas por trabalhadores de nacionalidade majoritariamente alemã; no entanto, os resultados foram bastante decepcionantes sobretudo pela dificuldade de comunicação e entrosamento com as comunidades luso-brasileiras, com o perigo da formação de cistos étnicos dentro do país. 


Os alemães, alegavam então as autoridades brasileiras encarregadas da imigração, tinham a tendência de se manterem isolados do resto da população, falando somente a sua língua e dificilmente se misturando com outros povos além do fato de serem protestantes.
Eles logo foram substituídos preferencialmente pelos imigrantes italianos, mais dóceis e cordatos, além de católicos de religião.


Em 1836, cerca de cinquenta colonos provenientes da Região da Liguria se estabeleceram no vale do Iguaçu ao norte da província de Santa Catarina, provenientes da Argentina, atraídos pelas notícias dos jornais locais, que falavam da possibilidade de enriquecer facilmente nesses lugares indo em busca de ouro e diamantes; no entanto, eles se voltaram para a atividade agrícola e fundaram a pequena colônia da Nova Itália. Após a crise econômica na Argentina, o fenômeno teria se repetido por diversas vezes. 


A colonização agrária do final do século XIX no Brasil se configura como uma verdadeira conquista da terra incentivada pelo próprio Estado brasileiro, que precisava de mão de obra para aproveitá-la. Para resistir às duras condições da floresta, manter a identidade e as tradições eram vitais o que fazia das colônias núcleos bastante unidos. As congregações religiosas tiveram um papel importante na fixação e desenvolvimentos dessas colônias. 


No Brasil, uma grande parte da emigração de colonos italianos ficou concentrada no Rio Grande do Sul, onde surgiram grandes assentamentos formados principalmente por trentinos e vênetos, que desembarcaram em Porto Alegre em 1875 passando a povoar as extensas áreas do planalto interno. 


Esses pioneiros preservaram intacta, além das técnicas e hábitos rurais como da viticultura, a estrutura arquitetônica típica dos campanários vênetos e o uso do dialeto, que para se entenderem, aos poucos foi evoluindo dando lugar a uma língua comum, o Talian, usado por todos os descendentes italianos no estado. Ele é formado por palavras e modos de dizer dos diversos grupos italianos que aqui se estabeleceram.


O elemento religioso foi decisivo na construção das colônias brasileiras, especialmente aquelas dos vênetos: em cada uma delas havia pelo menos um grupo de padres, seguidos de freiras encarregadas da assistência social e escolar, contratadas por irmandades especiais italianas, também dedicadas a incentivar a emigração e pelas congregações dos Jesuítas, Capuchinhos, Salesianos ou irmãs vicentinas.


Este último organizou cursos de economia doméstica para preparar futuras donas de casa experientes, que teriam que se estabelecer nas novas fazendas ítalo-brasileiras.


O impacto que tiveram os colonos italianos ao chegarem no planalto do Rio Grande do Sul não foi muito animador, o local destinado aos colonos, as colônias, era desolado, cercado por uma densa mata virgem, repleta de árvores de tamanho descomunal para eles e de animais desconhecidos, alguns perigosos, desprovido de estradas e de qualquer outro conforto. 


Os colonos italianos tiveram que abrir picadas dentro dessas densas matas e com a madeira obtida com a derrubada construíram suas primeiras moradias. Para aliviar o sofrimento, as primeiras concessões de terras foram rapidamente reconhecidas pelo governo brasileiro e eles se tornaram proprietários dos seus lotes de terra. 


O isolamento e o rápido crescimento populacional das colônias, onde os casais tinham muitos filhos, logo se incrementaram as relações entre as famílias através do casamento. 


Várias famílias chegaram da Itália com dezenas de indivíduos e após alguns anos já somavam centenas de componentes. 









Uma das principais atividades dos agricultores emigrantes do Trentino-Veneto era a produção de vinho. No RS existem dezenas de vinícolas de sucesso que produzem vinhos renomados em todo o mundo. As mudas de parreiras foram trazidas na bagagem pelos primeiros emigrantes vênetos e trentinos. Assim, logo ao chegarem, plantaram castas de uvas como o cabernet, pinot e o tocai, cultivados com no mesmo sistema de terraços e pérgulas encontrados na Itália.






Uma emigração subsequente, composta principalmente por agricultores do centro e do sul da Itália, rumou para o Estado de São Paulo, para substituir a mão de obra dos escravos negros, nas plantações de algodão e café. 


Muitos italianos do sul chegaram, se instalando tanto nas cidade, onde se sujeitavam a empregos mais humildes e arriscados, como nas enormes plantações de café, onde viviam em condições de semiescravidão. 


Esses imigrantes trabalhavam, para um patrão fazendeiro proprietário da terra, na coleta e beneficiamento do café, sendo por contrato obrigados a cuidar de alguns milhares de pés.


Para eles era praticamente impossível comprar uma pequena propriedade como no sul do Brasil. Só podiam abandonar as terras do patrão após o pagamento total das dívidas contraídas, sob pena de estarem infligindo a lei. 


Ganhavam muito pouco, o estritamente necessário para a subsistência. O pouco que sobrava ainda devia consumir dentro da própria fazenda, onde adquiria do proprietário, tudo o que era necessário para ele e a família viverem. 


Um número significativo de imigrantes italianos morreram nessas fazendas precisamente por causa das duras condições de vida que lhes foram impostas e muitos outros, desiludidos, retornaram para a Itália. Na prática, eles assinaram um contrato de escravidão legalizada.


O boom da cafeicultura brasileira e a crise econômica argentina direcionaram muitos emigrantes italianos, na década de 1890, principalmente para o Brasil, incentivados tanto pelo governo daquele estado em busca de mão de obra barata, tanto pelo italiano ao facilitar a emigração.


Essas condições de vida e trabalho estavam longe daquilo que tinha sido apregoado pelos recrutadores na Itália.


Foi a abolição da escravidão em 1871, concedida pelo governo brasileiro aos filhos de escravos, que abriu as portas para a emigração italiana em massa para o Brasil. A partir daquele momento a maioria dos ex-escravos abandonou a dura vida das fazendas. 

Os fazendeiros vendo diminuir a sua mão de obra necessária para o cultivo do açúcar, café e algodão solicitaram ao governo imperial o recrutamento de agricultores do norte da Europa que não se adaptaram e foram rapidamente substituídos pelos italianos.

Em 1887, mais de trinta mil emigrantes chegaram ao Brasil para trabalhar nas fazendas. Em pouco mais de dez anos esse número já alcançava noventa e sete mil.

Diante das condições insuportáveis a que estavam sendo tratados os imigrantes nas fazendas de café de São Paulo, em 1902, o governo italiano promulgou o Decreto Prinetti para controlar e reduzir a emigração para este estado do Brasil, proporcionando também aos emigrantes uma assistência e proteção. 

Com o passar do tempo, uma parte desses trabalhadores das fazendas conseguiram melhorar suas condições de vida e, em muitos casos, comprar pequenos lotes de terra no entorno de cidades vizinha a fazenda onde tinham trabalhado. Plantavam e vendiam o produto de seu trabalho nas cidades e muitos outros se empregavam nas indústrias locais.

Alguns, mais audazes, quase sempre dominando alguma profissão, iniciaram pequenos comércios nas mais variadas áreas, que aos poucos se transformaram em grandes industrias, características das cidades do interior paulista.

No Brasil o papel da igreja e das ordens religiosas foi muito importante, proporcionando apoio e ajuda aos imigrantes.

Na Argentina essa ajuda veio sobretudo das autoridades seculares, como armadores e comerciantes genoveses, muitas vezes filiados à Maçonaria local da antiga tradição do Risorgimento, com fins paternalistas e muitas vezes lucrativos.


sexta-feira, 2 de outubro de 2020

A Emigração Italiana e a Escolha pelo Brasil


Quando da decisão de trazer para o Brasil milhares de imigrantes italianos, as autoridades do governo imperial adotaram duas estratégias. A primeira foi trazer  para as recém criadas colônias no sul do Brasil, grande número de famílias italianas, com a finalidade de ocupar e povoar os grandes espaços vazios na época existentes, nos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, fortalecendo com isso as despovoadas fronteiras com outros países sulamericanos, especialmente a Argentina. Essas colônias serviriam também para suprir as cidades vizinhas de alimentos e produtos agrícolas variados. 



A outra estratégia colocada em prática pelo governo foi trazer com urgência milhares de emigrantes italianos para suprirem a  falta de  mão de obra braçal, que surgiu um pouco antes e agravada após a abolição do trabalho escravo, necessária nas grandes fazendas de café de São Paulo e Espírito Santo. Os emigrantes quando ainda na Itália, teoricamente, podiam optar por rumarem para núcleos coloniais mais ao sul ou para as grandes plantações de café do sudeste brasileiro.

Para fazer isso acontecer e atrair os imigrantes, o governo brasileiro efetuava contratos com empresas de emigração registradas ou com empresas particulares, que podiam levar de alguns milhares de emigrantes ou de centenas de milhares. 

O mais famoso desses contratos foi acordado com a Companhia Metropolitana, para executar um projeto ambicioso de trazer um milhão de imigrantes italianos para o Brasil, no espaço de 10 anos. Esta audaciosa meta acabou não sendo atingida. 



Após 1894 o governo federal transferiu para as autoridades estaduais a responsabilidade de prosseguir na politica de imigração. Assim, somente os estados mais ricos conseguiram continuar a politica de trazer imigrantes. 

Os agentes de emigração por sua vez contribuíram para criar uma imagem positiva do Brasil, para facilitar  a vinda em massa de imigrantes italianos. Nos últimos anos do século XIX a ideia de emigrar para o Brasil já se fazia presente na maioria das famílias italianas, especialmente naquelas das regiões mais setentrionais da Italia. De acordo com alguns documentos da época, em 1892 já existiam na Itália cerca de 30 agências de emigração, as quais contratavam 5.172 subagentes, que percorriam toda  a Itália, procurando convencer as pessoas a emigrar para o Brasil. 

Esse número foi crescendo rapidamente e já em 1895 eram 33 agências de emigração, com 7.169 agentes. Apelavam para toda sorte de subterfúgios a fim de fazer a cabeça daqueles desesperados para se dirigirem para o Brasil. Quase sempre eram acompanhados de relatos exagerados e nem sempre verdadeiros, tais como, que uma vez no Brasil o ganho estaria assegurado, teriam uma imensidão de terras os esperando, explorando assim o desejo de todos em se tornarem proprietários rurais, pintando com todas as cores o país como sendo um verdadeiro "El Dorado". 

Por outro lado algumas companhias de navegação, como por exemplo a La Veloce, chegava a pagar de 5 a 25 dólares para aqueles agentes que conseguissem convencer uma família a emigrar para o Brasil. 




Dr. Luiz Carlos Piazzetta
Erechim RS



quinta-feira, 1 de outubro de 2020

Imigração Italiana no Espírito Santo




O estado do Espírito Santo tem hoje uma das maiores colônias italianas do Brasil. Os imigrantes que lá chegaram ocuparam inicialmente as regiões mais altas de serras e montanhas. Tal como aconteceu nas colônias italianas do Rio Grande do Sul, os pioneiros tiveram que enfrentar a mata virgem, abandonados pelo governo à própria sorte no meio da densa floresta. As notícias da situação precária em que viviam os primeiros imigrantes italianos, no estado do Espírito Santo, chegou na Itália através dos relatos daqueles que desistiam do sonho americano e retornavam e principalmente pelas informações do cônsul italiano no estado, conforme documentos da época, que enviava periodicamente notícias para o governo italiano, sobre a situação dos imigrantes, o qual resolveu em 20 de julho de 1895, que fosse proibida definitivamente a emigração de seus cidadãos para o Espírito Santo. A alegação do cônsul da Itália no estado apontava as dificuldades que o imigrante era obrigado a suportar. Entre essas a má alimentação, abusos da polícia e justiça incerta, insalubridade do clima, deficiência de serviços médicos e escolares, demora excessiva na medição dos lotes e na divisão de terras, entre muitas outras. 

O total de imigrantes italianos que desembarcaram no estado foi de 32.900, entre os anos de 1820 e 1900. Após esta última data o seu número decresceu drasticamente com a proibição do governo italiano quando quase cessou por completo. 

A procedência desses imigrantes italianos é muito parecida com a imigração para as colônias italianas do Rio Grande do Sul e do sul do Brasil A maior parte deles, cerca de 70%, provinham das regiões do Vêneto, Lombardia e Trentino Alto Adige, sendo que os imigrantes vênetos constituíam a grande maioria. 

Em 1874 a expedição de Pietro Tabacchi deu início a imigração italiana para o estado, com a chegada no Porto de Vitória de 388 camponeses trentinos e vênetos, um capelão e um médico, além de um auxiliar chamado Pietro Casagrande, que tinham partido do Porto de Gênova em 3 de Janeiro, com o veleiro La Sofia. Após quarenta e cinco dias de viagem, este atracou no dia 17 de fevereiro de 1874 e o desembarque se prolongou até o dia 27 desse ano. Em 1 de março os imigrantes começaram a viagem até o porto de Santa Cruz, em direção as terras de Tabacchi.

Segundo R. Grosselli, no livro Colônias Imperiais na Terra do Café, Pietro Tabacchi o idealizador dessa primeira expedição a qual levou o seu nome, teria sido um comerciante e aventureiro originário de Trento, que deixou a Itália fugindo dos credores, após a falência dos seus negócios. Estabelecido com uma fazenda denominada Monte delle Palme, provavelmente desde 1851, no município de Santa Cruz, atual Aracruz, Tabacchi usou como pretexto para atrair imigrantes a idéia de que a produção de café no Espírito Santo teria um futuro certo na substituição da mão-de-obra escrava. Ao perceber o interesse do governo imperial brasileiro em trazer mão de obra européia, ofereceu as suas terras em troca do direito de derrubar 3.500 jacarandás para exportação. Depois de um longo período de negociação o governo imperial autorizou a Província do Espírito Santo a firmar contrato com Pietro Tabacchi para trazer imigrantes italianos e tiroleses. 

Desde a chegada os imigrantes perceberam que tinham sido enganados com as falsas promessas dos agentes de Tabacchi. A situação no local era de total desorganização, as terras ainda não tinham sido demarcadas e as condições dos alojamentos eram muito precárias. Já estressados com as longas e cansativas viagens, confinados no interior de um navio veleiro, ficaram sabendo das melhores condições de trabalho nas colônias oficiais e da oportunidade de se tornarem proprietários da terra. Não tardaram os protestos e o surgimento da primeira rebelião, somente contida com a intervenção das forças policiais. Menos de um mês após o desembarque, os colonos passaram a pleitear a rescisão do contrato com Tabacchi. Em vez das casas prometidas aos imigrantes, ele construiu um enorme galpão e obrigou-os a viver promiscuamente. Além disso, para alcançar a área agricultável, os trabalhadores tinham que enfrentar uma viagem de seis horas por estradas em condições precárias. Os colonos queriam ir embora para outras terras. 

Tabacchi chegou a publicar anúncio num jornal de Vitória, em maio de 1874, ameaçando levar à Justiça quem contratasse os colonos que ele havia trazido da Itália. O que não impediu que gradativamente os imigrantes, com o apoio do governo, tomassem outro destino. Uns foram para Rio Novo, outros para Santa Leopoldina, alguns fundaram Santa Teresa e, finalmente, um pequeno grupo se deslocou para o Sul do país. Apenas 20 famílias decidiram continuar com Tabacchi. Vislumbrando a falência do seu empreendimento, com prejuízos de grande monta, pois, havia contraído dívidas para levar adiante o projeto de colonização, Tabacchi teve agravado o seu estado de saúde e morreu do coração em 21 de junho de 1874. 

Segundo o sociólogo italiano Renzo M. Grosselli, a Expedição de Pietro Tabachi, foi o primeiro caso de partida em massa de imigrantes da região norte da Itália para o Brasil. O nome da colônia criada no Espírito Santo, pelo Governo Brasileiro, chamava-se Nova Trento, a qual foi a primeira, de pelo menos 3 outras com o mesmo nome, fundadas por trentinos em terras brasileiras. 

A primeira viagem de imigrantes aconteceu no dia 3 de janeiro de 1874, às 13 horas, do Porto de Gênova, em um navio a vela, o La Sofia, na expedição Tabacchi, e a segunda pelo Rivadavia, ambos de bandeira francesa. O Sofia chegou ao Brasil em fevereiro de 1874, com 386 famílias, para as terras de Pietro Tabacchi, em Santa Cruz.

Contudo, oficialmente, a imigração teve início no Brasil com a chegada do navio Rivadavia, que aportou em 31 de maio de 1875, com 150 famílias italianas, encaminhadas para Santa Leopoldina, de onde seguiram para Timbuí e fundaram Santa Teresa, todas localidades situadas no Estado do Espírito Santo. 

De 1874 a 1894 seguiram-se outros navios com imigrantes para o estado: Mobely, Italia, Werneck, Oeste, Izabella, Berlino, Clementina, Adria, Colúmbia, Maria Pia, Regina Margherita, Solferino, Andréa Dória, Savona, Cittá di Genova, Roma, Baltimore, Savoia, Pulcevere, Birmania, Las Palmas, La Valleja e finalmente, Mateo Bruzzo, chegando com 528 famílias em outubro de 1894.




Famílias da Expedição Tabacchi





Abdermarcher Domenico Roncegno
Angeli Giobatta Novaledo
Armallao Andrea Borgo V.na
Armellini Marcellino Roncegno
Bassetti Giovanni Lasino
Baber Valentino Tenna
Bertotti Giuseppe Cavadini
Betti Giovanni Tenna
Bolin Valentino Prov. Veneto
Bolognani Fioravante
Bolognani Giovanni
Boneccher Antonio Borgo Valsugana
Boneccher Próspero Borgo V. na
Bortolletti Simone Vezzano
Capelletti Giobatta Roncegno
Comper Leonardo Besenello
Corn. Domenico Valentino Roncegno
Corn. Guerino Novaledo
Corn. Pietro Paolo Roncegno
Corradi Benedetto Stenico
Damasco Paolo Villa del Banale
Delana Giovanni
Demoner Giuseppe prop. Veneto
Fedele Andrea Telve
Felicetti Domenico Roncegno
Franceschini Leonardo Vigolo?
Furlan Antonio Novaledo
Fusinato Osvaldo Roncegno
Gaiotto Antonio Borgo V. na
Giacomozzi Domenico Segonzano
Giuliani Luigi Roncegno
Guazzo Marco Borgo V. na
Ladini Sebastiano
Lazzari Annibale
Lira Giacomo Castelnuovo
Margoni Costante
Martignoni Giuseppe Novaledo
Martinelli Don Domenico Centa
Merlo Enrico Covelo
Merlo Francesco Covelo
Merlo Giuseppe Covelo
Merlo Paolo Covelo
Merlo Tommaso Covelo
Moratelli Tiziano Novaledo
Motter Clemente Borgo V. na
Palaoro Daniele Novaledo
Paoli Giuseppe Novaledo
Passamani Domenico Tenna
Perli Giobatta Roncegno
Perotti Valentino
Piovesan Pietro província Treviso
Romagna Ermenegildo Roncegno
Rosanelli Giacomo Tenna
Serafini Antonio Tenna
Slomp Bertolo Levico
Slomp Giovanni Levico
Stroppa Prospero Borgo V.na
Tesainer Giuseppe Roncegno
Toler Pietro Giovanni Roncegno
Tonini Annibale Novaledo
Tonini Giobatta Novaledo
Tonini Lázaro Novaledo
Valandro Francesco Castelnuovo
Venzo Giovanni Borgo V.na
Verones Domenico Covelo
Verones Vincenzo Covelo
Zambelli Giuseppe
Zamprogno Luigi Montebelluna (TV)
Zamprogno Sebastiano Montebelluna (TV)
Zen Andrea Novaledo
Zottele Fortunato Roncegno
Zonttele Pietro Roncegno
Zurlo Abramo Novaledo



COLONOS TRENTINOS QUE FORAM PARA RIO NOVO (ES)

(RG)significa retirado para Rio Grande do Sul

(D) Retirado com destino desconhecido


Andreatta Carlo Costasavina
Andreatta Giovanni Bosentino
Antonelli Bernardo (D)
Angeli Giuseppe (RG) Levico
Angeli Magoriano (RG) Levico
Angeli Michele (RG) Levico
Arman Costante (D) Barco
Avancini Antonio (D) Barco
Bachiet Fausto
Bazzan Ricardo(RG) Levico
Berlanda Emanuele
Bernabè Giuseppe S. Giuliana (Levico)
Bernabè Orsola S. Giuliana (Lev.)
Bertol Pietro Mezzolombardo
Bertoldi Albino S. Giuliana (Lev.)
Bertoldi Attilio (RG) S. Giuliana (Lev.)
Bertoldi Giuseppe
Bertoldi Paolo (D)
Bertoldi Pietro (D)
Betti Antonio (RG) Tenna
Bombasaro Alexandro Castelnuovo
Bonella Antonio Telve di Sopra
Broilo Bortolo (RG) Levico
Broilo Maddalena Levico
Caldara Antonio
Caldonazzi Francesco (D) Levico
Capra Giuseppe (RG)
Carlini Giovanni (ou Giuseppe) Caldonazzo
Casale G. B. Levico
Celva Giovanni
Cetto Domenico Levico
Cetto G. B. Levico
Cetto Michele (D) Levico
Ciola Emanuele(D) Caldonazzo
Colma (ou Culmano) Gustavo Levico
Coradello Giacomo Castelnuovo
Curzel Bartolomeo (D) Caldonazzo
Curzel Giuseppe (RG) Caldonazzo
Dallastra Valentino (RG) Barco
Dalmaso Pietro Selva (Lev.)
Debortoli Antonio Ronchi
Degregori G.B. Mezzolombardo
Eccel Bertolo Levico
Eccher Giovanni (RG) Caldonazzo
Eccher Sisto (RG) Caldonazzo
Endrizzi Marianna Dercolo
Erla Domenico (RG) Levico
Espem Ottavio (D) Levico
Faes Claudiano
Fillipi Clementino (D)
Foches Andrea
Fontana Antonio
Francio Angelo (ou G. B.) Caldonazzo
Franzoi Francesco (RG) Castelnuovo
Franzoi Paolo Castelnuovo
Frisetti Paolo
Froner Giuseppe (RG) Levico
Furlan G.B. Selva (Lev.)
Furlan Giuseppe Selva (Lev.)
Furlan Zeffirino Selva (Lev.)
Gabrielli Emilio Levico ou Barco
Gabrielli G.B. Levico
Gabrielli Massimiliano Levico
Gabrielli Pietro (RG) Barco
Gaigher Pietro Levico
Gaigher Taddeo Levico
Gaigher Tommaso Barco
Ghesla Giacomo (RG) Caldonazzo
Ghesla Domenico
Giacomelli Gabriele
Gianeselli Elia Levico
Gottardi Domenico Roncegno
Iob Giovanni
Lenzi Antonio
Libardi Domenica
Libardi Fiorante (RG) Barco
Libardi Geremia Levico
Libardi Giacomo Selva (Lev.)
Libardi Giovanni (RG) Levico
Libardi Giuseppe (D) Levico
Libardi Gregorio (RG) Levico
Libardoni Alessandro (D) Levico
Lorenzini Carlo Levico
Lorenzini Francesco Levico
Lorenzini Terenzio Levico
Lorenzini Giacomo Levico
Lunz Evaristo Selva (Lev.)
Magnago Carlo Levico
Magnago Ottavio Levico
Magnago Pietro Levico
Magnago Ricccardo Levico
Marchiori Luigi (ou Melchiori)
Marcolla Antonio
Martinelli Angelo (D)
Martinelli Valentino Barco
Mattei (ou Mattè) Camillo (RG) Caldonazzo
Mattei (ou Mattè) Domenico (RG) Caldonazzo
Menegazzi Bartolo (D)
Merlo Michele
Molinari Antonio Borgo Valsugana
Moschen Antonio Quaere (Lev.)
Moschen G.B. (RG) Levico
Moschen Giuseppe (D) Selva (Lev.)
Moschen Giuseppe Levico
Moser Carlo Barco
Moser Giovanni Barco
Motter Clemente Roncegno
Negri Clemente (RG) Levico
Noelli Antonio
Oss Bortolo Vignola
Pallaoro G.B. (D) Quaere (Lev.)
Pallaoro Lazzaro Selva (Lev.)
Pallaoro Margherita S. Giuliana (Lev.)
Pallaoro Michele (RG) Quaere (Lev.)
Paoli Francesco Levico
Parotto Agostino Villa Agnedo
Partele Amadeo
Partele Antonio Castelnuovo
Partele Giuseppe Caselnuovo
Passamani Pietro Selva (Lev.)
Passamani Temistocle Barco
Peretti Carlo (RG) Levico
Petri Cesare S. Giuliana (Lev.)
Pezzi Francesco (RG) Dercolo
Pezzi Gioseffa (RG) Dercolo
Pezzi Giovanni (RG)
Piazzarollo Pietro Levico
Piccolo Giuseppe (D)
Poffo Luciano Levico
Pola Francesco Caldonazzo
Polliot (ou Polioti)Luigi
Pompermaier Cristano Roncegno
Raota G.B. Barco
Raota Quirino Barco
Rigotti Andrea Mezzalombardo
Rigotti Antonio
Rigotti Emanuele Mezzalombardo
Sartori Achille
Sartori Antonio Levico
Sartori Lodovico
Sartori Pietro Levico
Serafini Ferdinando (RG) Tenna
Smarzaro Francesco Castelnuevo
Stefanon Antonio
Sterzel Pietro Roncegno
Strada Domenico (RG) Caldonazzo
Tartarotti Rosa (RG) Levico
Tomaselli Giuseppe Levico
Tom(m)asi Alberto (RG) Barco
Tom(m)asi Egidio (RG) Barco
Tom(m)asi Guglielmo (RG) S. Giuliana (Lev.)
Tom(m)asi Quirino (RG) Barco
Tomasini Carlo
Toniolli Bernardo Barco
Trisotto Giustina Samone
Valentini Andrea (RG) Tenna
Valentini Vincenzo Levico
Valentini Demetrio Levico
Vettorazzi Antonio (RG) Levico
Vettorazzi Natale Barco
Vettorazzi Pietro (RG) S. Giuliana (Lev.)
Vettorazzi Pietro (1) Levico
Vettorazzi Pietro (2) Levico
Zambiasio Giovanni (RG) Levico
Zambiasio Zeffiro (RG) Levico
Zanottelli Giacomo
Zurlo Antonio "Meneghin" (RG)
Zurlo Francesco Ronchi




COLONOS TRENTINOS QUE FORAM PARA S. LEOPOLDINA (ES)

(RG)significa retirado para Rio Grande do Sul

(D) Retirado com destino desconhecido


Agostini Giovanni Caldonazzo
Andermarchel( r ) Francesco Roncegno
Andreatta Lazzaro Campiello (Lev.)
Anesini Antonio Pergine
Anesini Giovanni Pergini
Angeli Battista Novaledo
Angeli Daniele Novaledo
Angeli Giovanni Novaledo
Angeli Luigi Novaledo
Armellini Tommaso Roncegno
Armani Anselmo Pannone
Armani Carlo
Arnoldo Leopoldo Madramo
Artioli Giuseppe
Avancini Adone Selva (Lev.)
Avancini Antonio
Avancini Pietro Selva (Lev.)
Baitella Antonio Madrano
Baitella G.B. Madrano
Baldessari Margherita Nogaredo
Baldo Fioravante
Banal Alessandro
Barotto Augusto Novaledo
Bason (?)
Bassetti Francesco
Bassetti Pietro
Battisti Battista Calliano
Battisti G.B. Calliano
Belumat Cirillo Novaledo
Berlanda Arcangelo Madrano
Bertoldi Pietro Roncegno
Bettini Francesco
Bolognani Angelo
Bolognani Luigi
Bonmassar Costante Levico
Bonec( c )her Prospero Borgo V.na
Bortolini Filippo Centa
Bortolini Giuseppe Centa
Boso(a) Celeste
Boso Lorenzo Canal S. Bobo
Bottura Angelo Caldonazo
Bridi Giuseppe Mattarello
Broilo Domenico Mattarello
Broso Angelo Caldonazo
Cappelletti Giuseppe
Carlini Giovanni Mattarelo
Carraro Francesco Villa Agnedo
Casagrande Giuseppe
Casotti Paolo
Casteluber Davide Novaledo
Casteluber giuseppe Novaledo
Cattani Antonio
Cestar Leonardo Mattarello
Ceschini Antonio
Ceschini Giovanni
Cetto Annibale
Chesani Giovanni (RG)
Chistè Antonio
Chistè Francesco (RG)
Chistè Giovanni Lasino
Chistè Giuseppe
Comper Leonardo Besenello
Cordini Giuseppe (D)
Corn Teresa Novaledo
Corradi Benedetto Stenico
Corradini Domenico
Cortelletti Giuseppe Mattarello
Coser Angelo Aldeno
Coser Antonio Aldeno
Coser Carlo
Coser Carlo(Minghel) Aldeno
Coser Giovanni Aldeno
Coser Michele
Coslop Pietro
Costa Caterina Novaledo
Costa Giuseppe Caldonazzo
Costa Pietro Novaledo
Cuel Eugenio
Dalbosco Anselmo
Dalcolmo Giovanni Madrano
Dallafontana Antonio
Dallapiccola Giuseppe Novaledo









Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS