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sexta-feira, 15 de abril de 2022

Os Agricultores Italianos no Brasil




Os primeiros assentamentos de imigrantes do Brasil foram fundados nas províncias do Rio de Janeiro e de São Pedro do Rio Grande do Sul - Nova Friburgo e São Leopoldo respectivamente, surgindo o primeiro em 1818 e o segundo em 1824, formados principalmente por colonos alemães e suíços.


Na época, o governo brasileiro havia planejado uma colonização progressiva das terras, que seria implementada por meio da abertura de colônias habitadas por trabalhadores de nacionalidade majoritariamente alemã; no entanto, os resultados foram bastante decepcionantes sobretudo pela dificuldade de comunicação e entrosamento com as comunidades luso-brasileiras, com o perigo da formação de cistos étnicos dentro do país. 


Os alemães, alegavam então as autoridades brasileiras encarregadas da imigração, tinham a tendência de se manterem isolados do resto da população, falando somente a sua língua e dificilmente se misturando com outros povos além do fato de serem protestantes.
Eles logo foram substituídos preferencialmente pelos imigrantes italianos, mais dóceis e cordatos, além de católicos de religião.


Em 1836, cerca de cinquenta colonos provenientes da Região da Liguria se estabeleceram no vale do Iguaçu ao norte da província de Santa Catarina, provenientes da Argentina, atraídos pelas notícias dos jornais locais, que falavam da possibilidade de enriquecer facilmente nesses lugares indo em busca de ouro e diamantes; no entanto, eles se voltaram para a atividade agrícola e fundaram a pequena colônia da Nova Itália. Após a crise econômica na Argentina, o fenômeno teria se repetido por diversas vezes. 


A colonização agrária do final do século XIX no Brasil se configura como uma verdadeira conquista da terra incentivada pelo próprio Estado brasileiro, que precisava de mão de obra para aproveitá-la. Para resistir às duras condições da floresta, manter a identidade e as tradições eram vitais o que fazia das colônias núcleos bastante unidos. As congregações religiosas tiveram um papel importante na fixação e desenvolvimentos dessas colônias. 


No Brasil, uma grande parte da emigração de colonos italianos ficou concentrada no Rio Grande do Sul, onde surgiram grandes assentamentos formados principalmente por trentinos e vênetos, que desembarcaram em Porto Alegre em 1875 passando a povoar as extensas áreas do planalto interno. 


Esses pioneiros preservaram intacta, além das técnicas e hábitos rurais como da viticultura, a estrutura arquitetônica típica dos campanários vênetos e o uso do dialeto, que para se entenderem, aos poucos foi evoluindo dando lugar a uma língua comum, o Talian, usado por todos os descendentes italianos no estado. Ele é formado por palavras e modos de dizer dos diversos grupos italianos que aqui se estabeleceram.


O elemento religioso foi decisivo na construção das colônias brasileiras, especialmente aquelas dos vênetos: em cada uma delas havia pelo menos um grupo de padres, seguidos de freiras encarregadas da assistência social e escolar, contratadas por irmandades especiais italianas, também dedicadas a incentivar a emigração e pelas congregações dos Jesuítas, Capuchinhos, Salesianos ou irmãs vicentinas.


Este último organizou cursos de economia doméstica para preparar futuras donas de casa experientes, que teriam que se estabelecer nas novas fazendas ítalo-brasileiras.


O impacto que tiveram os colonos italianos ao chegarem no planalto do Rio Grande do Sul não foi muito animador, o local destinado aos colonos, as colônias, era desolado, cercado por uma densa mata virgem, repleta de árvores de tamanho descomunal para eles e de animais desconhecidos, alguns perigosos, desprovido de estradas e de qualquer outro conforto. 


Os colonos italianos tiveram que abrir picadas dentro dessas densas matas e com a madeira obtida com a derrubada construíram suas primeiras moradias. Para aliviar o sofrimento, as primeiras concessões de terras foram rapidamente reconhecidas pelo governo brasileiro e eles se tornaram proprietários dos seus lotes de terra. 


O isolamento e o rápido crescimento populacional das colônias, onde os casais tinham muitos filhos, logo se incrementaram as relações entre as famílias através do casamento. 


Várias famílias chegaram da Itália com dezenas de indivíduos e após alguns anos já somavam centenas de componentes. 









Uma das principais atividades dos agricultores emigrantes do Trentino-Veneto era a produção de vinho. No RS existem dezenas de vinícolas de sucesso que produzem vinhos renomados em todo o mundo. As mudas de parreiras foram trazidas na bagagem pelos primeiros emigrantes vênetos e trentinos. Assim, logo ao chegarem, plantaram castas de uvas como o cabernet, pinot e o tocai, cultivados com no mesmo sistema de terraços e pérgulas encontrados na Itália.






Uma emigração subsequente, composta principalmente por agricultores do centro e do sul da Itália, rumou para o Estado de São Paulo, para substituir a mão de obra dos escravos negros, nas plantações de algodão e café. 


Muitos italianos do sul chegaram, se instalando tanto nas cidade, onde se sujeitavam a empregos mais humildes e arriscados, como nas enormes plantações de café, onde viviam em condições de semiescravidão. 


Esses imigrantes trabalhavam, para um patrão fazendeiro proprietário da terra, na coleta e beneficiamento do café, sendo por contrato obrigados a cuidar de alguns milhares de pés.


Para eles era praticamente impossível comprar uma pequena propriedade como no sul do Brasil. Só podiam abandonar as terras do patrão após o pagamento total das dívidas contraídas, sob pena de estarem infligindo a lei. 


Ganhavam muito pouco, o estritamente necessário para a subsistência. O pouco que sobrava ainda devia consumir dentro da própria fazenda, onde adquiria do proprietário, tudo o que era necessário para ele e a família viverem. 


Um número significativo de imigrantes italianos morreram nessas fazendas precisamente por causa das duras condições de vida que lhes foram impostas e muitos outros, desiludidos, retornaram para a Itália. Na prática, eles assinaram um contrato de escravidão legalizada.


O boom da cafeicultura brasileira e a crise econômica argentina direcionaram muitos emigrantes italianos, na década de 1890, principalmente para o Brasil, incentivados tanto pelo governo daquele estado em busca de mão de obra barata, tanto pelo italiano ao facilitar a emigração.


Essas condições de vida e trabalho estavam longe daquilo que tinha sido apregoado pelos recrutadores na Itália.


Foi a abolição da escravidão em 1871, concedida pelo governo brasileiro aos filhos de escravos, que abriu as portas para a emigração italiana em massa para o Brasil. A partir daquele momento a maioria dos ex-escravos abandonou a dura vida das fazendas. 

Os fazendeiros vendo diminuir a sua mão de obra necessária para o cultivo do açúcar, café e algodão solicitaram ao governo imperial o recrutamento de agricultores do norte da Europa que não se adaptaram e foram rapidamente substituídos pelos italianos.

Em 1887, mais de trinta mil emigrantes chegaram ao Brasil para trabalhar nas fazendas. Em pouco mais de dez anos esse número já alcançava noventa e sete mil.

Diante das condições insuportáveis a que estavam sendo tratados os imigrantes nas fazendas de café de São Paulo, em 1902, o governo italiano promulgou o Decreto Prinetti para controlar e reduzir a emigração para este estado do Brasil, proporcionando também aos emigrantes uma assistência e proteção. 

Com o passar do tempo, uma parte desses trabalhadores das fazendas conseguiram melhorar suas condições de vida e, em muitos casos, comprar pequenos lotes de terra no entorno de cidades vizinha a fazenda onde tinham trabalhado. Plantavam e vendiam o produto de seu trabalho nas cidades e muitos outros se empregavam nas indústrias locais.

Alguns, mais audazes, quase sempre dominando alguma profissão, iniciaram pequenos comércios nas mais variadas áreas, que aos poucos se transformaram em grandes industrias, características das cidades do interior paulista.

No Brasil o papel da igreja e das ordens religiosas foi muito importante, proporcionando apoio e ajuda aos imigrantes.

Na Argentina essa ajuda veio sobretudo das autoridades seculares, como armadores e comerciantes genoveses, muitas vezes filiados à Maçonaria local da antiga tradição do Risorgimento, com fins paternalistas e muitas vezes lucrativos.


sexta-feira, 2 de outubro de 2020

A Emigração Italiana e a Escolha pelo Brasil


Quando da decisão de trazer para o Brasil milhares de imigrantes italianos, as autoridades do governo imperial adotaram duas estratégias. A primeira foi trazer  para as recém criadas colônias no sul do Brasil, grande número de famílias italianas, com a finalidade de ocupar e povoar os grandes espaços vazios na época existentes, nos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, fortalecendo com isso as despovoadas fronteiras com outros países sulamericanos, especialmente a Argentina. Essas colônias serviriam também para suprir as cidades vizinhas de alimentos e produtos agrícolas variados. 



A outra estratégia colocada em prática pelo governo foi trazer com urgência milhares de emigrantes italianos para suprirem a  falta de  mão de obra braçal, que surgiu um pouco antes e agravada após a abolição do trabalho escravo, necessária nas grandes fazendas de café de São Paulo e Espírito Santo. Os emigrantes quando ainda na Itália, teoricamente, podiam optar por rumarem para núcleos coloniais mais ao sul ou para as grandes plantações de café do sudeste brasileiro.

Para fazer isso acontecer e atrair os imigrantes, o governo brasileiro efetuava contratos com empresas de emigração registradas ou com empresas particulares, que podiam levar de alguns milhares de emigrantes ou de centenas de milhares. 

O mais famoso desses contratos foi acordado com a Companhia Metropolitana, para executar um projeto ambicioso de trazer um milhão de imigrantes italianos para o Brasil, no espaço de 10 anos. Esta audaciosa meta acabou não sendo atingida. 



Após 1894 o governo federal transferiu para as autoridades estaduais a responsabilidade de prosseguir na politica de imigração. Assim, somente os estados mais ricos conseguiram continuar a politica de trazer imigrantes. 

Os agentes de emigração por sua vez contribuíram para criar uma imagem positiva do Brasil, para facilitar  a vinda em massa de imigrantes italianos. Nos últimos anos do século XIX a ideia de emigrar para o Brasil já se fazia presente na maioria das famílias italianas, especialmente naquelas das regiões mais setentrionais da Italia. De acordo com alguns documentos da época, em 1892 já existiam na Itália cerca de 30 agências de emigração, as quais contratavam 5.172 subagentes, que percorriam toda  a Itália, procurando convencer as pessoas a emigrar para o Brasil. 

Esse número foi crescendo rapidamente e já em 1895 eram 33 agências de emigração, com 7.169 agentes. Apelavam para toda sorte de subterfúgios a fim de fazer a cabeça daqueles desesperados para se dirigirem para o Brasil. Quase sempre eram acompanhados de relatos exagerados e nem sempre verdadeiros, tais como, que uma vez no Brasil o ganho estaria assegurado, teriam uma imensidão de terras os esperando, explorando assim o desejo de todos em se tornarem proprietários rurais, pintando com todas as cores o país como sendo um verdadeiro "El Dorado". 

Por outro lado algumas companhias de navegação, como por exemplo a La Veloce, chegava a pagar de 5 a 25 dólares para aqueles agentes que conseguissem convencer uma família a emigrar para o Brasil. 




Dr. Luiz Carlos Piazzetta
Erechim RS



quinta-feira, 1 de outubro de 2020

Imigração Italiana no Espírito Santo




O estado do Espírito Santo tem hoje uma das maiores colônias italianas do Brasil. Os imigrantes que lá chegaram ocuparam inicialmente as regiões mais altas de serras e montanhas. Tal como aconteceu nas colônias italianas do Rio Grande do Sul, os pioneiros tiveram que enfrentar a mata virgem, abandonados pelo governo à própria sorte no meio da densa floresta. As notícias da situação precária em que viviam os primeiros imigrantes italianos, no estado do Espírito Santo, chegou na Itália através dos relatos daqueles que desistiam do sonho americano e retornavam e principalmente pelas informações do cônsul italiano no estado, conforme documentos da época, que enviava periodicamente notícias para o governo italiano, sobre a situação dos imigrantes, o qual resolveu em 20 de julho de 1895, que fosse proibida definitivamente a emigração de seus cidadãos para o Espírito Santo. A alegação do cônsul da Itália no estado apontava as dificuldades que o imigrante era obrigado a suportar. Entre essas a má alimentação, abusos da polícia e justiça incerta, insalubridade do clima, deficiência de serviços médicos e escolares, demora excessiva na medição dos lotes e na divisão de terras, entre muitas outras. 

O total de imigrantes italianos que desembarcaram no estado foi de 32.900, entre os anos de 1820 e 1900. Após esta última data o seu número decresceu drasticamente com a proibição do governo italiano quando quase cessou por completo. 

A procedência desses imigrantes italianos é muito parecida com a imigração para as colônias italianas do Rio Grande do Sul e do sul do Brasil A maior parte deles, cerca de 70%, provinham das regiões do Vêneto, Lombardia e Trentino Alto Adige, sendo que os imigrantes vênetos constituíam a grande maioria. 

Em 1874 a expedição de Pietro Tabacchi deu início a imigração italiana para o estado, com a chegada no Porto de Vitória de 388 camponeses trentinos e vênetos, um capelão e um médico, além de um auxiliar chamado Pietro Casagrande, que tinham partido do Porto de Gênova em 3 de Janeiro, com o veleiro La Sofia. Após quarenta e cinco dias de viagem, este atracou no dia 17 de fevereiro de 1874 e o desembarque se prolongou até o dia 27 desse ano. Em 1 de março os imigrantes começaram a viagem até o porto de Santa Cruz, em direção as terras de Tabacchi.

Segundo R. Grosselli, no livro Colônias Imperiais na Terra do Café, Pietro Tabacchi o idealizador dessa primeira expedição a qual levou o seu nome, teria sido um comerciante e aventureiro originário de Trento, que deixou a Itália fugindo dos credores, após a falência dos seus negócios. Estabelecido com uma fazenda denominada Monte delle Palme, provavelmente desde 1851, no município de Santa Cruz, atual Aracruz, Tabacchi usou como pretexto para atrair imigrantes a idéia de que a produção de café no Espírito Santo teria um futuro certo na substituição da mão-de-obra escrava. Ao perceber o interesse do governo imperial brasileiro em trazer mão de obra européia, ofereceu as suas terras em troca do direito de derrubar 3.500 jacarandás para exportação. Depois de um longo período de negociação o governo imperial autorizou a Província do Espírito Santo a firmar contrato com Pietro Tabacchi para trazer imigrantes italianos e tiroleses. 

Desde a chegada os imigrantes perceberam que tinham sido enganados com as falsas promessas dos agentes de Tabacchi. A situação no local era de total desorganização, as terras ainda não tinham sido demarcadas e as condições dos alojamentos eram muito precárias. Já estressados com as longas e cansativas viagens, confinados no interior de um navio veleiro, ficaram sabendo das melhores condições de trabalho nas colônias oficiais e da oportunidade de se tornarem proprietários da terra. Não tardaram os protestos e o surgimento da primeira rebelião, somente contida com a intervenção das forças policiais. Menos de um mês após o desembarque, os colonos passaram a pleitear a rescisão do contrato com Tabacchi. Em vez das casas prometidas aos imigrantes, ele construiu um enorme galpão e obrigou-os a viver promiscuamente. Além disso, para alcançar a área agricultável, os trabalhadores tinham que enfrentar uma viagem de seis horas por estradas em condições precárias. Os colonos queriam ir embora para outras terras. 

Tabacchi chegou a publicar anúncio num jornal de Vitória, em maio de 1874, ameaçando levar à Justiça quem contratasse os colonos que ele havia trazido da Itália. O que não impediu que gradativamente os imigrantes, com o apoio do governo, tomassem outro destino. Uns foram para Rio Novo, outros para Santa Leopoldina, alguns fundaram Santa Teresa e, finalmente, um pequeno grupo se deslocou para o Sul do país. Apenas 20 famílias decidiram continuar com Tabacchi. Vislumbrando a falência do seu empreendimento, com prejuízos de grande monta, pois, havia contraído dívidas para levar adiante o projeto de colonização, Tabacchi teve agravado o seu estado de saúde e morreu do coração em 21 de junho de 1874. 

Segundo o sociólogo italiano Renzo M. Grosselli, a Expedição de Pietro Tabachi, foi o primeiro caso de partida em massa de imigrantes da região norte da Itália para o Brasil. O nome da colônia criada no Espírito Santo, pelo Governo Brasileiro, chamava-se Nova Trento, a qual foi a primeira, de pelo menos 3 outras com o mesmo nome, fundadas por trentinos em terras brasileiras. 

A primeira viagem de imigrantes aconteceu no dia 3 de janeiro de 1874, às 13 horas, do Porto de Gênova, em um navio a vela, o La Sofia, na expedição Tabacchi, e a segunda pelo Rivadavia, ambos de bandeira francesa. O Sofia chegou ao Brasil em fevereiro de 1874, com 386 famílias, para as terras de Pietro Tabacchi, em Santa Cruz.

Contudo, oficialmente, a imigração teve início no Brasil com a chegada do navio Rivadavia, que aportou em 31 de maio de 1875, com 150 famílias italianas, encaminhadas para Santa Leopoldina, de onde seguiram para Timbuí e fundaram Santa Teresa, todas localidades situadas no Estado do Espírito Santo. 

De 1874 a 1894 seguiram-se outros navios com imigrantes para o estado: Mobely, Italia, Werneck, Oeste, Izabella, Berlino, Clementina, Adria, Colúmbia, Maria Pia, Regina Margherita, Solferino, Andréa Dória, Savona, Cittá di Genova, Roma, Baltimore, Savoia, Pulcevere, Birmania, Las Palmas, La Valleja e finalmente, Mateo Bruzzo, chegando com 528 famílias em outubro de 1894.




Famílias da Expedição Tabacchi





Abdermarcher Domenico Roncegno
Angeli Giobatta Novaledo
Armallao Andrea Borgo V.na
Armellini Marcellino Roncegno
Bassetti Giovanni Lasino
Baber Valentino Tenna
Bertotti Giuseppe Cavadini
Betti Giovanni Tenna
Bolin Valentino Prov. Veneto
Bolognani Fioravante
Bolognani Giovanni
Boneccher Antonio Borgo Valsugana
Boneccher Próspero Borgo V. na
Bortolletti Simone Vezzano
Capelletti Giobatta Roncegno
Comper Leonardo Besenello
Corn. Domenico Valentino Roncegno
Corn. Guerino Novaledo
Corn. Pietro Paolo Roncegno
Corradi Benedetto Stenico
Damasco Paolo Villa del Banale
Delana Giovanni
Demoner Giuseppe prop. Veneto
Fedele Andrea Telve
Felicetti Domenico Roncegno
Franceschini Leonardo Vigolo?
Furlan Antonio Novaledo
Fusinato Osvaldo Roncegno
Gaiotto Antonio Borgo V. na
Giacomozzi Domenico Segonzano
Giuliani Luigi Roncegno
Guazzo Marco Borgo V. na
Ladini Sebastiano
Lazzari Annibale
Lira Giacomo Castelnuovo
Margoni Costante
Martignoni Giuseppe Novaledo
Martinelli Don Domenico Centa
Merlo Enrico Covelo
Merlo Francesco Covelo
Merlo Giuseppe Covelo
Merlo Paolo Covelo
Merlo Tommaso Covelo
Moratelli Tiziano Novaledo
Motter Clemente Borgo V. na
Palaoro Daniele Novaledo
Paoli Giuseppe Novaledo
Passamani Domenico Tenna
Perli Giobatta Roncegno
Perotti Valentino
Piovesan Pietro província Treviso
Romagna Ermenegildo Roncegno
Rosanelli Giacomo Tenna
Serafini Antonio Tenna
Slomp Bertolo Levico
Slomp Giovanni Levico
Stroppa Prospero Borgo V.na
Tesainer Giuseppe Roncegno
Toler Pietro Giovanni Roncegno
Tonini Annibale Novaledo
Tonini Giobatta Novaledo
Tonini Lázaro Novaledo
Valandro Francesco Castelnuovo
Venzo Giovanni Borgo V.na
Verones Domenico Covelo
Verones Vincenzo Covelo
Zambelli Giuseppe
Zamprogno Luigi Montebelluna (TV)
Zamprogno Sebastiano Montebelluna (TV)
Zen Andrea Novaledo
Zottele Fortunato Roncegno
Zonttele Pietro Roncegno
Zurlo Abramo Novaledo



COLONOS TRENTINOS QUE FORAM PARA RIO NOVO (ES)

(RG)significa retirado para Rio Grande do Sul

(D) Retirado com destino desconhecido


Andreatta Carlo Costasavina
Andreatta Giovanni Bosentino
Antonelli Bernardo (D)
Angeli Giuseppe (RG) Levico
Angeli Magoriano (RG) Levico
Angeli Michele (RG) Levico
Arman Costante (D) Barco
Avancini Antonio (D) Barco
Bachiet Fausto
Bazzan Ricardo(RG) Levico
Berlanda Emanuele
Bernabè Giuseppe S. Giuliana (Levico)
Bernabè Orsola S. Giuliana (Lev.)
Bertol Pietro Mezzolombardo
Bertoldi Albino S. Giuliana (Lev.)
Bertoldi Attilio (RG) S. Giuliana (Lev.)
Bertoldi Giuseppe
Bertoldi Paolo (D)
Bertoldi Pietro (D)
Betti Antonio (RG) Tenna
Bombasaro Alexandro Castelnuovo
Bonella Antonio Telve di Sopra
Broilo Bortolo (RG) Levico
Broilo Maddalena Levico
Caldara Antonio
Caldonazzi Francesco (D) Levico
Capra Giuseppe (RG)
Carlini Giovanni (ou Giuseppe) Caldonazzo
Casale G. B. Levico
Celva Giovanni
Cetto Domenico Levico
Cetto G. B. Levico
Cetto Michele (D) Levico
Ciola Emanuele(D) Caldonazzo
Colma (ou Culmano) Gustavo Levico
Coradello Giacomo Castelnuovo
Curzel Bartolomeo (D) Caldonazzo
Curzel Giuseppe (RG) Caldonazzo
Dallastra Valentino (RG) Barco
Dalmaso Pietro Selva (Lev.)
Debortoli Antonio Ronchi
Degregori G.B. Mezzolombardo
Eccel Bertolo Levico
Eccher Giovanni (RG) Caldonazzo
Eccher Sisto (RG) Caldonazzo
Endrizzi Marianna Dercolo
Erla Domenico (RG) Levico
Espem Ottavio (D) Levico
Faes Claudiano
Fillipi Clementino (D)
Foches Andrea
Fontana Antonio
Francio Angelo (ou G. B.) Caldonazzo
Franzoi Francesco (RG) Castelnuovo
Franzoi Paolo Castelnuovo
Frisetti Paolo
Froner Giuseppe (RG) Levico
Furlan G.B. Selva (Lev.)
Furlan Giuseppe Selva (Lev.)
Furlan Zeffirino Selva (Lev.)
Gabrielli Emilio Levico ou Barco
Gabrielli G.B. Levico
Gabrielli Massimiliano Levico
Gabrielli Pietro (RG) Barco
Gaigher Pietro Levico
Gaigher Taddeo Levico
Gaigher Tommaso Barco
Ghesla Giacomo (RG) Caldonazzo
Ghesla Domenico
Giacomelli Gabriele
Gianeselli Elia Levico
Gottardi Domenico Roncegno
Iob Giovanni
Lenzi Antonio
Libardi Domenica
Libardi Fiorante (RG) Barco
Libardi Geremia Levico
Libardi Giacomo Selva (Lev.)
Libardi Giovanni (RG) Levico
Libardi Giuseppe (D) Levico
Libardi Gregorio (RG) Levico
Libardoni Alessandro (D) Levico
Lorenzini Carlo Levico
Lorenzini Francesco Levico
Lorenzini Terenzio Levico
Lorenzini Giacomo Levico
Lunz Evaristo Selva (Lev.)
Magnago Carlo Levico
Magnago Ottavio Levico
Magnago Pietro Levico
Magnago Ricccardo Levico
Marchiori Luigi (ou Melchiori)
Marcolla Antonio
Martinelli Angelo (D)
Martinelli Valentino Barco
Mattei (ou Mattè) Camillo (RG) Caldonazzo
Mattei (ou Mattè) Domenico (RG) Caldonazzo
Menegazzi Bartolo (D)
Merlo Michele
Molinari Antonio Borgo Valsugana
Moschen Antonio Quaere (Lev.)
Moschen G.B. (RG) Levico
Moschen Giuseppe (D) Selva (Lev.)
Moschen Giuseppe Levico
Moser Carlo Barco
Moser Giovanni Barco
Motter Clemente Roncegno
Negri Clemente (RG) Levico
Noelli Antonio
Oss Bortolo Vignola
Pallaoro G.B. (D) Quaere (Lev.)
Pallaoro Lazzaro Selva (Lev.)
Pallaoro Margherita S. Giuliana (Lev.)
Pallaoro Michele (RG) Quaere (Lev.)
Paoli Francesco Levico
Parotto Agostino Villa Agnedo
Partele Amadeo
Partele Antonio Castelnuovo
Partele Giuseppe Caselnuovo
Passamani Pietro Selva (Lev.)
Passamani Temistocle Barco
Peretti Carlo (RG) Levico
Petri Cesare S. Giuliana (Lev.)
Pezzi Francesco (RG) Dercolo
Pezzi Gioseffa (RG) Dercolo
Pezzi Giovanni (RG)
Piazzarollo Pietro Levico
Piccolo Giuseppe (D)
Poffo Luciano Levico
Pola Francesco Caldonazzo
Polliot (ou Polioti)Luigi
Pompermaier Cristano Roncegno
Raota G.B. Barco
Raota Quirino Barco
Rigotti Andrea Mezzalombardo
Rigotti Antonio
Rigotti Emanuele Mezzalombardo
Sartori Achille
Sartori Antonio Levico
Sartori Lodovico
Sartori Pietro Levico
Serafini Ferdinando (RG) Tenna
Smarzaro Francesco Castelnuevo
Stefanon Antonio
Sterzel Pietro Roncegno
Strada Domenico (RG) Caldonazzo
Tartarotti Rosa (RG) Levico
Tomaselli Giuseppe Levico
Tom(m)asi Alberto (RG) Barco
Tom(m)asi Egidio (RG) Barco
Tom(m)asi Guglielmo (RG) S. Giuliana (Lev.)
Tom(m)asi Quirino (RG) Barco
Tomasini Carlo
Toniolli Bernardo Barco
Trisotto Giustina Samone
Valentini Andrea (RG) Tenna
Valentini Vincenzo Levico
Valentini Demetrio Levico
Vettorazzi Antonio (RG) Levico
Vettorazzi Natale Barco
Vettorazzi Pietro (RG) S. Giuliana (Lev.)
Vettorazzi Pietro (1) Levico
Vettorazzi Pietro (2) Levico
Zambiasio Giovanni (RG) Levico
Zambiasio Zeffiro (RG) Levico
Zanottelli Giacomo
Zurlo Antonio "Meneghin" (RG)
Zurlo Francesco Ronchi




COLONOS TRENTINOS QUE FORAM PARA S. LEOPOLDINA (ES)

(RG)significa retirado para Rio Grande do Sul

(D) Retirado com destino desconhecido


Agostini Giovanni Caldonazzo
Andermarchel( r ) Francesco Roncegno
Andreatta Lazzaro Campiello (Lev.)
Anesini Antonio Pergine
Anesini Giovanni Pergini
Angeli Battista Novaledo
Angeli Daniele Novaledo
Angeli Giovanni Novaledo
Angeli Luigi Novaledo
Armellini Tommaso Roncegno
Armani Anselmo Pannone
Armani Carlo
Arnoldo Leopoldo Madramo
Artioli Giuseppe
Avancini Adone Selva (Lev.)
Avancini Antonio
Avancini Pietro Selva (Lev.)
Baitella Antonio Madrano
Baitella G.B. Madrano
Baldessari Margherita Nogaredo
Baldo Fioravante
Banal Alessandro
Barotto Augusto Novaledo
Bason (?)
Bassetti Francesco
Bassetti Pietro
Battisti Battista Calliano
Battisti G.B. Calliano
Belumat Cirillo Novaledo
Berlanda Arcangelo Madrano
Bertoldi Pietro Roncegno
Bettini Francesco
Bolognani Angelo
Bolognani Luigi
Bonmassar Costante Levico
Bonec( c )her Prospero Borgo V.na
Bortolini Filippo Centa
Bortolini Giuseppe Centa
Boso(a) Celeste
Boso Lorenzo Canal S. Bobo
Bottura Angelo Caldonazo
Bridi Giuseppe Mattarello
Broilo Domenico Mattarello
Broso Angelo Caldonazo
Cappelletti Giuseppe
Carlini Giovanni Mattarelo
Carraro Francesco Villa Agnedo
Casagrande Giuseppe
Casotti Paolo
Casteluber Davide Novaledo
Casteluber giuseppe Novaledo
Cattani Antonio
Cestar Leonardo Mattarello
Ceschini Antonio
Ceschini Giovanni
Cetto Annibale
Chesani Giovanni (RG)
Chistè Antonio
Chistè Francesco (RG)
Chistè Giovanni Lasino
Chistè Giuseppe
Comper Leonardo Besenello
Cordini Giuseppe (D)
Corn Teresa Novaledo
Corradi Benedetto Stenico
Corradini Domenico
Cortelletti Giuseppe Mattarello
Coser Angelo Aldeno
Coser Antonio Aldeno
Coser Carlo
Coser Carlo(Minghel) Aldeno
Coser Giovanni Aldeno
Coser Michele
Coslop Pietro
Costa Caterina Novaledo
Costa Giuseppe Caldonazzo
Costa Pietro Novaledo
Cuel Eugenio
Dalbosco Anselmo
Dalcolmo Giovanni Madrano
Dallafontana Antonio
Dallapiccola Giuseppe Novaledo









Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS














segunda-feira, 14 de setembro de 2020

Imigração Italiana no Estado de São Paulo


Quando, nos últimos 20 anos do século XIX, as autoridades imperiais do Brasil pensaram em trazer milhares de imigrantes italianos o fizeram com vários objetivos visando o progresso do grande império. Alguns desses objetivos são hoje em dia muito polêmicos e causam certo desconforto em algumas áreas. Dentre os objetivos principais podemos citar dois, que são consenso entre os historiadores, e foram responsáveis diretos pelo crescimento da economia do Brasil. O primeiro foi aquele implementado na Província de São Paulo no qual os imigrantes italianos seriam contratados para trabalhar em determinada fazenda de café, morando nas terras da fazenda nas casas antes ocupadas pelos escravos. Foi apenas uma substituição de mão de obra sem se importarem, com raras exceções, com a criação de colônias de imigrantes como aconteceu no Sul do Brasil, onde o imigrante ficava dono da terra e o objetivo era, além de preencher os espaços vazios existentes, criar condições de melhoria do abastecimento de produtos alimentares derivados do campo, localizados próximas, ou com fácil acesso por rios e mais tarde por estradas, para as grandes cidades. 


Com a abolição da escravidão, que durava desde o período do Brasil colônia, as grandes plantações de café, de províncias economicamente importantes como São Paulo, ficaram desconfortavelmente desprovidas da mão de obra barata representada pelos milhares de escravos negros que até então tinham sido a força motriz da economia. 


O primeiro objetivo do Império Brasileiro foi procurar na Europa países disponíveis que passavam por severas dificuldades econômicas. Nesses seria mais fácil contratar os trabalhadores braçais que tanto precisava e por um custo muito barato, proporcionalmente, somente um pouco mais alto que os investimentos em escravos. Nesse período histórico a Itália era ainda um país muito jovem, pois, somente surgiu como uma nação unificada na segunda metade do século XIX. Nesse época a jovem nação italiana estava passando por uma série de dificuldades econômicas, que vinham desde as várias guerras de libertação, passando por aquelas necessárias para a unificação e formação do Reino da Itália. Também a Itália era um país muito atrasado que ainda não participava da grande revolução industrial que já estava presente em outros países europeus, como a Inglaterra, a Alemanha e a França. O grande aumento populacional de toda a Europa, ocorrido nesse período, decorrente da melhoria das condições de higiene e o aumento da perspectiva de vida média do povo, agravavam sobremaneira a situação. A agricultura da Itália dessa época era bastante atrasada, em algumas regiões ainda praticada como nos tempos medievais e não aguentou a concorrência dos produtos importados dos Estados Unidos, na época já despontando como um dos maiores produtores rurais.



O desemprego no campo era muito grande, atingindo inicialmente os camponeses e os pequenos proprietários rurais das zonas montanhosas, locais onde desde muitos séculos era praticada uma agricultura precária, somente, de subsistência,  e os artesãos que também constituíam uma grande parte da população. O desemprego foi aumentando rapidamente, atingindo as planícies italianas, que tinham terras mais férteis, deixando na miséria milhões de italianos das pequenas cidades do norte ao sul. A fome rondava a casa da maioria desses desempregados, que no desespero se agarravam as novas notícias da emigração. 


A pressão exercida pelos grandes proprietários rurais da Província de São Paulo apressou a decisão das autoridades imperiais e pouco tempo depois os primeiros grupos de imigrantes italianos já chegavam ao Porto de Santos. Ali eram recebidos pelos capatazes dos fazendeiros que os haviam contratado. De Santos, inicialmente em comboios de carros de bois e depois pela estrada de ferro,  subiam a Serra do Mar, em direção as terras no interior do estado a que estavam destinados.   


Os contratos que eles assinaram na Itália os prendia por muitos anos aos fazendeiros proprietários das terras. Os colonos eram contratados na Europa e trazidos para as fazendas de café. Tinham sua viagem paga, assim como o transporte até as fazendas. Essas despesas, entretanto, pelo contrato que tinham assinado, entravam como adiantamento feito ao colono pelo proprietário, assim como, igualmente, lhe era adiantado o necessário à sua manutenção, até que ele pudesse se sustentar. A cada família deveria ser atribuída uma porção de cafeeiros, na proporção da sua capacidade de cultivar, colher e beneficiar. Aos colonos também era facultado o plantio, em certos locais pré-determinados pelo fazendeiro, dos mantimentos necessários ao seu sustento. Vendido o café, o fazendeiro era obrigado a entregar ao colono metade do lucro líquido. Sobre as despesas feitas pelo fazendeiro em adiantamento aos colonos, eram cobrados 6% de juros, a contar da data do adiantamento e aplicando-se na sua amortização, pelo menos, metade dos seus lucros anuais. O colono, além de ser obrigado a cultivar e manter o café, não podia abandonar a fazenda sem ter previamente comunicado por escrito a sua intenção de retirar-se, e só o poderia fazer após saldar todos os seus compromissos. 



O descontentamento por parte dos colonos era o sistema de contas, feito para deduzir sua parcela de lucro sobre a produção de café obtida. Rezavam os contratos que, vendido o café, caberia ao colono a metade do seu lucro líquido; porém, na maior parte das vezes, os colonos sentiam-se roubados. Com o intuito de reduzir esse tipo de queixa, acabou-se por estabelecer o pagamento ao colono de um preço fixo por alqueire cultivado ou para outras fórmulas, em geral baseadas num sistema de salários. Esse último sistema parece ter-se revelado mais adequado, naquela época, do que o sistema de parceria. Mesmo nos melhores tempos, o trabalho de um colono de café era muito penoso. Os fazendeiros mantinham um controle estrito sobre a rotina diária dos trabalhadores. Os cuidados médicos não existiam e quando eram extremamente necessários, custava muito caro. Poucas escolas eram mantidas para colonos. Em muitos casos, sofriam violência física, recebiam salários reduzidos por multas e tinham que pagar preços exorbitantes por gêneros essenciais nos armazéns das fazendas.



Em fins da década de 1920, com a proporção do imposto de exportação de café caindo na receita do Estado e as fontes não-subsidiadas de trabalhadores crescendo, o colapso da economia internacional atingiu São Paulo duramente logo após o término do programa subsidiado. Como resultado, os cafezais mais velhos foram abandonados, ocorrendo, conseqüentemente, uma retração na necessidade de mão-de-obra, gerando uma diminuição no fluxo de imigrantes e fazendo com que a economia regional entrasse num período de retração. A classe dos grandes proprietários de fazendas, os produtores de café, com muito raras exceções, estava acostumada até então de lidar com os pobres escravos africanos, que aceitavam quase tudo com muita resignação e certo grau de estoicismo, teve agora de se adaptar com os trabalhadores italianos recém chegados mais experientes, um povo orgulhoso, determinado e por sua vez, também muito mais contestador. As relações de trabalho dos imigrantes italianos com os seus patrões proprietários das terras, sempre foi muito conflituosa. Multas por supostos descumprimentos dos contratos, provocações, dispensas por justa causa eram pretextos que os proprietários das fazendas encontravam para diminuir o ganho do trabalhador. Ocorria também que a fazenda com freqüência era um enclave de jurisdição particular, onde o fazendeiro agia como juiz e fazia cumprir as leis com a ajuda de pistoleiros. Outras causas de conflitos se davam por roubos nas medidas de café, e casos de espancamentos, assassinatos, estupros e perseguições eram comuns. Os imigrantes estavam à mercê dos proprietários das fazendas, e estar subordinados a tais homens não era o mais feliz dos destinos, principalmente porque a estrutura da vida rural restringia-se ao poder que os fazendeiros exerciam sobre os seus colonos. Os casos de protestos dos trabalhadores do café expressavam-se nas exigências de salários ou greves. As reclamações iam se difundindo pelas casas das colônias, pelas vendas, e se espalhavam por toda a fazenda causando grande inquietação, principalmente no começo da colheita do café, período em que os fazendeiros estavam mais vulneráveis. Às vezes obtinham sucesso, às vezes fracassavam. Mas as reclamações não passavam do espaço circunscrito a cada fazenda e tinham curta duração, pois os contatos com o mundo fora da fazenda eram estritamente vigiados. Em favor deles estava somente o consulado, o único recurso que os trabalhadores agrícolas estrangeiros tinham para não serem lesados. Diante de tantos obstáculos, os imigrantes se deslocavam seguidamente para outras fazendas ou para os centros urbanos e muitos desistiam do sonho americano e repatriavam, em busca de melhores oportunidades de trabalho. Nas fazendas de café geralmente os imigrantes não tinham opção e até já tinham assinar os contratos de trabalho estabelecidos pelos fazendeiros. Eles podiam escolher entre quatro formas de contrato, considerando que o café obedecia a várias etapas, particulares a cada uma delas. A primeira etapa correspondia à derrubada para a formação ou ampliação das fazendas, realizada pelos trabalhadores por turma, contratados por um empreiteiro sem vínculos à fazenda. Esses trabalhadores recebiam um salário mensal ou trimestral, casa e comida. 

O serviço compunha-se da derrubada e queimada das florestas. A segunda etapa compreendia a formação do cafezal convencionalmente chamada de empreitada no Estado de São Paulo. O trabalho nesta etapa referia-se à abertura de covas, já previamente marcadas para plantar o café e manter o terreno limpo durante quatro anos. No decorrer do período era permitido plantar milho e feijão no espaço entre as fileiras do cafezal. O pagamento, nesse tipo de contrato, diferia de acordo com as possibilidades financeiras do imigrante. Quem dispunha de um capital e podia arcar com todas as despesas da empreitada, inclusive a contratação de outros empregados e a derrubada da floresta, recebia uma soma em dinheiro correspondente ao número de pés de café entregues ao fim do contrato, ficava com todo o lucro obtido na venda do excedente de cereais e o lucro da primeira safra do café. Mas, para o empreiteiro que não possuía capital para cobrir todas as despesas, o que era mais comum, recebia apenas uma parte da primeira colheita do café. Os imigrantes também podiam optar pelo contrato colônico, o chamado sistema de colonato ou ainda trabalhar como camarada. O colonato constituía-se numa relação de trabalho essencialmente familiar, na qual, pelo contrato colônico, cada família recebia um número determinado de pés de café que eram cultivados durante o contrato de um ano, incluindo quatro a seis limpezas por ano para manter os cafezais sempre livres de ervas; o cuidado com as mudas para o caso de alguma substituição de cafezais mortos; amontoamento do cisco na preparação para colheita; e o espalhamento do cisco após a colheita. Em geral, eram responsáveis pela manutenção das árvores e, no momento apropriado, pela colheita. Também constava do contrato alguns serviços não restituídos que eram realizados na fazenda quando requisitados, por exemplo, reparar cercas, construir estradas, cuidar dos pastos etc. Os pés de café eram dispostos em filas, no meio das quais os colonos tinham o direito de cultivar outros produtos, em geral, milho e feijão. Em caso de cafezais velhos, o colono recebia um pedaço de terra em separado para plantar os seus cereais. Quanto às tarefas realizadas pelos camaradas, de acordo com o contrato de trabalho, correspondiam ao beneficiamento do café; colheita; abertura de caminhos e estradas; conserto de pontes, prédios e cercas; entre outras. Os salários eram pagos por dia ou por mês. Desde o começo, o confronto entre os interesses econômicos por parte dos fazendeiros e, por outro lado, a resistência dos trabalhadores às imposições destes causaram situações permeadas por conflitos e tensões. Na verdade, os fazendeiros não mediam esforços para reprimir e impor um rígido controle, visto que a experiência que haviam tido no período da escravidão lhes dava plena consciência de que era fundamental ter um controle efetivo sobre os trabalhadores. Um outro fator que pode explicar o certo grau de animosidade e desentendimento entre os imigrantes italianos foi o fato que diferente do que aconteceu na imigração no sul do Brasil, principalmente no Rio Grande do Sul, a maior uniformidade quanto a região de origem do imigrante, que eram na maioria do norte e nordeste da Itália: vênetos, lombardos e trentinos. Também importantíssimo foi o fato que nessas colônias do sul terem criado, pelos próprios imigrantes, uma nova língua para se comunicarem entre si, pois, a maioria não conhecia a língua italiana e se comunicavam somente através dos seus dialetos regionais, alguns muito diferentes uns dos outros. Os casamentos entre imigrantes italianos de várias procedências regionais impulsionou a necessidade e a difusão da nova língua da imigração representada pelo Talian. Trata-se de uma língua e não dialeto, pois, é formada por expressões da língua dessas várias regiões italianas sobre uma base do dialeto Vêneto, devido qua a predominância era de imigrantes vênetos. Mais tarde, na evolução natural de qualquer língua, sofreu alguma influência de palavras portuguesas que foram incorporadas, após uma certa italianização dos termos. Nas fazenda paulistas parecia que não havia apenas uma só emigração de italianos, onde todos se confraternizariam na qualidade de oriundos do mesmo país, mas, sim de pessoas originárias da península itálica sem necessariamente forte identidade comum. Inclusive a língua que se constituiu em um grande obstáculo na comunicação entre os empregados das fazendas. Com tudo isso as primeiras deserções começaram a aparecer e as famílias, depois de quitarem os seus débitos com o proprietário da fazenda, passaram a se colocar por conta própria, nas pequenas vilas e cidades que já estavam surgindo no interior paulista. Os que primeiro deixavam as fazendas foram aqueles que tinham conseguido algum economizar algum dinheiro, ou possuíam alguma habilidade profissional, geralmente trazida da Itália, tais como os artesãos e aqueles que se estabeleciam em lotes nas periferias das cidades, ganhando a vida com a venda de produtos agrícolas, conseguidos de pequenas roças e, mais tarde, como empregados de fábricas que começavam a se estabelecer na região. Ainda muito pouco estudada, houve também em São Paulo, mas em bem menores proporções, uma política de fixação dos imigrantes na terra, parecida com a ocorrida no Sul, a partir da venda de lotes nos chamados Núcleos Coloniais. Alguns destes núcleos que se destacaram na compra de lotes pelos italianos são os de São Caetano (São Caetano do Sul), Quiririm (Taubaté), Santa Olímpia e Santana (Piracicaba), Barão de Jundiaí (Jundiaí), Sabaúna (Mogi das Cruzes), Piaguí (Guaratinguetá), Cascalho (Cordeirópolis), Canas (Canas), Pariquera-Açú (Pariquera-Açú), Antônio Prado (Ribeirão Preto), entre outros. Mais tarde, já na metade do século XX, com a descoberta das férteis terras do norte do Paraná, muitos daqueles imigrantes ou seus descendentes, que tinham trabalhado com o café no interior de São Paulo, adquiriam grandes lotes de terras e continuaram com as plantações de café. Como curiosidade, essas ricas terras vermelhas, propícias para a cultura do café, são denominadas de terras roxas, isso porque em italiano se dizia "terra rossa".




Dr. Luiz Carlos Piazzetta

Erechim RS