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domingo, 15 de junho de 2025

Raízes da Esperança: Histórias de um Imigrante Italiano no Brasil

 

Raízes da Esperança 

A História de Giovanni, um Imigrante 

Italiano no Brasil


Em uma pequena localidade nas ondulantes colinas da Toscana, no final do século XIX, vivia Giovanni Bianchi, um jovem agricultor de 28 anos. A terra que cultivava era árida e pouco produtiva, tornando difícil sustentar sua esposa, Maria, e seus dois filhos pequenos, Luca e Sofia.

As histórias sobre oportunidades no Brasil começavam a circular entre os moradores do pequeno e quase esquecido município toscano, prometendo terras férteis e uma vida melhor.

Certa noite, após um dia exaustivo no campo, Giovanni sentou-se à mesa de madeira desgastada de sua modesta casa e falou à sua mãe, Letizia:

"Partiremos em um mês, minha mãe. Iremos para bem longe. Muitos estão indo para um novo mundo. Promete-se uma nova vida e terras extensas para plantar e colher. Deixarei a saudade ficar amarga, porque talvez eu nunca mais volte a este lugar."

A decisão de Giovanni não foi fácil. Deixar a terra natal, a velha mãe, os irmãos e os amigos era doloroso, mas a perspectiva de um futuro melhor para seus filhos pesou mais. Maria, embora apreensiva, apoiou o marido, compartilhando do sonho de prosperidade.

A viagem de navio foi longa e árdua. As condições a bordo eram precárias, com pouco espaço, água potável e alimentos escassos. Giovanni observava seus filhos tentando transformar o ambiente hostil em uma aventura, enquanto Maria cuidava deles com ternura, apesar do cansaço evidente.

Ao desembarcarem no porto do Rio de Janeiro, foram recebidos por um calor sufocante e uma língua desconhecida. Foram encaminhados a uma hospedaria de imigrantes, onde aguardariam a ordem de encontrar os encarregados do novo patrão. O ambiente era caótico, com famílias de diversas nacionalidades tentando se comunicar e entender o que viria a seguir.

Após semanas de espera, Giovanni e sua família já contratados por um fazendeiro paulista, foram direcionados ao interior de São Paulo, para trabalhar nas plantações de café. Isso os obrigou a embarcar novamente em outro navio até o porto de Santos e dali, de trem, subir a serra até São Paulo, onde os representantes do futuro patrão os esperavam para levá-los ao interior do estado. Junto com um grande grupo de famílias escolhidas, seguiram de trem até Araraquara. As terras eram vastas, mas o trabalho era exaustivo, e as condições de moradia rudimentares. Giovanni, porém, não desanimou. Via naquele solo vermelho a esperança de um futuro promissor.

As dificuldades enfrentadas pelos imigrantes italianos eram imensas e multifacetadas. A adaptação ao clima tropical era um desafio constante, já que vinham de regiões de clima temperado, onde as estações eram bem definidas e os verões não atingiam temperaturas tão altas. A umidade intensa, as chuvas tropicais e a vegetação densa tornavam o ambiente ainda mais opressivo. O impacto dessas condições sobre a saúde era severo: doenças tropicais, como febre amarela, malária e disenteria, rapidamente se tornaram ameaças reais para aqueles que haviam cruzado o oceano em busca de uma vida melhor.

A barreira linguística agravava o isolamento. Muitos colonos falavam apenas dialetos italianos e não dominavam o português, o que dificultava tanto a comunicação com os brasileiros locais quanto o acesso a informações vitais, como instruções agrícolas.

As casas destinadas aos colonos eram antigas habitações degradadas, que antes abrigavam os escravos da fazenda. Eram estruturas simples e precárias, feitas de barro e madeira, sem ventilação, iluminação ou conforto básico. Telhados frequentemente vazavam, as paredes apresentavam rachaduras e o chão de terra batida expunha as famílias a insetos e à umidade.

Apesar disso, os colonos começaram a transformar esses espaços com muito esforço e perseverança. Reparavam como podiam os telhados, reforçavam paredes e criavam pequenas hortas ao redor das casas, buscando recriar um pouco das vilas italianas. A vida na fazenda era marcada pelo intenso trabalho agrícola e pelas difíceis condições de moradia, mas os imigrantes italianos encontraram maneiras de fortalecer seus laços comunitários e preservar suas tradições. Ainda que sob as rígidas regras impostas pelo sistema de colonato, Giovanni e os demais colonos começaram a cultivar vínculos culturais e religiosos. Durante os raros momentos de descanso, reuniam-se para celebrar datas especiais, compartilhar histórias de sua terra natal e planejar o futuro.

Embora a construção de uma escola e igreja independente fosse quase impossível devido às restrições impostas pelos proprietários da fazenda, os colonos improvisavam espaços para encontros religiosos e atividades comunitárias. Em um barracão emprestado para o uso coletivo, Giovanni destacou-se pela liderança. Ele organizava missas conduzidas por padres itinerantes e, em ocasiões festivas, liderava a preparação de refeições típicas e danças tradicionais. Essas celebrações, ainda que simples, tornavam-se poderosos símbolos de resistência cultural e esperança.

Ao longo dos anos, esse espírito colaborativo ajudou os imigrantes a manterem vivas suas raízes, mesmo em meio às adversidades. Giovanni, com seu entusiasmo, tornou-se uma figura central nesses momentos de união, não apenas fortalecendo a identidade de sua comunidade, mas também deixando um legado de resiliência para as gerações futuras.

Com o passar dos anos, o trabalho árduo começou a dar frutos. Depois de economias rigorosas, Giovanni adquiriu um pedaço de terra próprio em uma vila nascente ao redor da fazenda. Plantou suas primeiras videiras, escolhendo mudas que remetiam aos vinhedos da Toscana.

A vila prosperou graças à dedicação das famílias que transformaram terras inóspitas em campos produtivos. Os filhos de Giovanni cresceram nesse ambiente de trabalho e esperança, fluentes em italiano e português, integrando-se à cultura brasileira sem abandonar suas raízes.

Em uma tarde ensolarada, sentado na varanda de sua casa, Giovanni escreveu à sua mãe:

"Querida mãe, a saudade de nossa terra é constante, mas o Brasil nos acolheu com generosidade. As crianças crescem fortes e felizes. A terra aqui é fértil e tem nos dado sustento. Sinto falta da Toscana, mas neste novo lar encontramos uma forma de honrar nossas origens."

A história de Giovanni, como tantas outras, é um testemunho de coragem e determinação. Neste livro, Piazzetta revela com sensibilidade como os imigrantes italianos ajudaram a moldar a história do Brasil, mantendo vivas suas tradições enquanto transformavam dificuldades em oportunidades.


quarta-feira, 30 de abril de 2025

La Zornada de Bepi Morettini: Un Lassado Tra Do Mondi


La Zornada de Bepi Morettini: 

Un Lassado Tra Do Mondi


Capìtolo 1: La Partensa

Albettone, Véneto, Itàlia, 1886

Bepi Morettini se sentava su la ponta del leto, con le man che mostravano i segnài del lavor, tegnendo un vècio capel. La dessision la zera ciara: el doveva partir par el Brasile in serca de ‘na vita mèio. Le lètare de un conoscente, che el zera partì do ani prima, parlava de tere vaste e de promesse de lavor. “Torno fra pochi ani, con abastansa schei par ripartir qua,” ghe diseva a tuti che ghe chiedeva del so viàio. Ma drento, el saveva che forse no l’avria mai pì rivisto la so tera".

La mama, Giulia, pianseva in silensio intanto che la meteva un rosàrio drento la so valisia. “Prega, Bepi, e Dio te protegerà. No importa quanto lontan te vadi, saremo sempre unì ´ntela preghiera.

Al porto de Genova, Bepi e altri sentenai de emigranti i ga salì sul Vittoria, un bastimento pien de speranse e de incertesse. Fra i passegièri, el conòsse la famèia Zanetti, che, come lù, sercava de rifar la vita in un posto sconossùo.

Capìtolo 2: La Quarantena

Isola dei Fiori, Brasile, 1886

El viàio in mar el zera duro, con poco magnar e la paura contìnua de le malatie. Quando el bastimento el ga rivà al porto de Rio de Janeiro, tuti i passegièri i ga dovù fare la vassina contra la variola. Bepi, però, el ga reasionà mal, gavendo ‘na forte reassion che i ga prostà. Lu el ze stà isolà in ‘na quarantena a l’Isola dei Fiori, mentre che i Zanetti i ga continuà el so viàio.

Par setimane, Bepi el gà lotà contra la solitudine e l’angosia. Ogni dì el vardava i bastimenti che partiva e se imaginava come saria sta la so vita. “Mi son solo, in un posto che no so manco pronunsiar. Ze questo el fin del me sònio?”

Finalmente liberà, el ga rivà a la grande sità de São Paolo sensa saver léser, scrìver o anca parlar portoghese. Se sentiva perso in ‘na sità agità che cresseva sgoelta, ma el ga trovà drento de lù ‘na determinassion incrolàbile.

Capìtolo 3: El Contadin

Inte la stassion de imigrassion, Bepi el ga incontrà con Bartolomeo Franco, un rico fasendero de Araraquara che sercava lavoradori italiani. Ma le famèie che ze arivà i zera zà destinà a altri posti. Sensa trovar lavorador par so propietà, Bartolomeo el ga deciso de portar Bepi da solo.

El viàio con el tren par Araraquara el zera interminàbile. Quando i ze rivà al capolinea, Bepi el ga scoprìo che el resto del traieto el saria stà fato a piè, in meso a la selva. La fasenda di Bartolomeo, Monte Alegre la zera isolà, sircondà da foresta vèrgine. Bepi el ze stà el primo taliano a lavorar lì, enfrentando condisioni quasi insalubri e zornade stracanti.

Capìtolo 4: Una Nova Comunità

Dopo la stinsion de la schiavitù ´ntel 1888, la fasenda la ga scomensià a recever pì imigranti taliani. Fra lori, ghe zera la famèia Paolon, de Treviso. Bepi el se ga sùito inamorà de Elena Paolon, na tosa con oci vivi e un soriso caloroso. Nonostante la resistensa inisiale del so pare, i do se ga sposà, mesi dopo, in ‘na serimónia semplice ´ntela pìcola capela de la fasenda.

Elena la ga portà speransa a Bepi. Insieme, i ga scomensià a costruir ‘na vita sòlida, coltivando cafè par el paron, tirando su par lori qualche pìcola bèstia, risparmiando ogni scheo e, con el tempo, dopo sinque ani i ga comprà un pìcolo poder ´ntela nova sità che cresceva vicina a la fasenda.

Capìtolo 5: El Legado

Tra el 1890 e el 1905, Bepi e Elena i ga avù oto fiòi. La fasenda la se ingrandiva, come anca la comunità italiana vissina. Bepi, che ga imparà a léser e scrìver gràssie a Elena, el ze diventà un capo locale, mediando confliti e aiutando i novi imigrà rivà ad ambientarse. Ma el sapea che, par lavorar la so tera nova, el doveva lassar la fasenda.

La nostalgia de l’Itàlia no la ze mia sparì, ma el sònio de tornar el se alontanava sempre de pì. Bepi el manteneva contati con la so famèia in Itàlia scrivendo lètare, ndove el contava le dificoltà e i trionfi de la so zornada. “Qua no ze mia fàssile, ma la tera la ze generosa con chi che lavora. Stamo construindo qualcosa de cui i nostri fiòi e i nostri nepoti i se pol vantar.

Capìtolo 6: Un Segno ´ntel Tempo

Nel 1938, a 72 ani, Bepi Morettini el ze morto, sircondà da la so grande famèia. Al so funerale, tanti i ga ricordà el so coràio e la so resiliensa. La tera, che ‘na volta la zera foresta vèrgine, la ga ora piantassion, case e na comunità vibrante.

Al sentro de la sitadina, un pìcolo monumento el ze stà ereto in so onor, con la iscrission:

A chi che ga trasformà i sòni in radisi profonde. El leassà de Bepi Morettini el vive in ogni racolta e in ogni generassion.

La stòria de Bepi la ze diventà un sìmbolo de la forsa e del spìrito dei imigranti italiani in Brasile, che, nonostante le adversità incredìbili, i ga costruì le so vite e lassà na eredità eterna.


Nota de l’Autor

Mi scrivo sta stòria con ´na gran passion e un profondo rispeto par i nostri antinati che i ga lassà tuto par ´ndar via, par inseguir ‘na speransa. "La Zornada de Bepi Morettini" no la ze solo ‘na stòria de emigrassion, ma anca un omaio a la forsa, al coraio e al spìrito de resiliensa de chi che, come tanti veneti, i ze partì sensa saver cossa che i li aspetava.

Con sto lavoro, mi vao onorar no solo la memòria de chi che ga vissuto sti momenti, ma anca tegner viva la léngoa talian, ´na léngoa che porta con lei no solo parole, ma anca emossion e tradission. Credo fermamente che costodir sta léngoa la ze un ato de amore verso la nostra identità culturale, che vive ´nte le voci dei nostri vèci e ´ntei nostri cuori.

Sta stòria anca se fitìssia, parla de radisi, de speransa e de un futuro che i nostri antinati i ga costruì con le so man, lassandose guidar dal sònio de na vita mèio. Che el viaio de Bepi possa inspirar chi che incòi se trova smarìo fra do mondi, parchè ogni transission, no importa quanto dura, la porta con se ´na promessa de rinassita.

Con afeto e gratitùdine,


Dr. Piazzetta

segunda-feira, 17 de março de 2025

A Jornada dos Irmãos Morette: Italianos que Forjaram um Legado em São Paulo



A Jornada dos Irmãos Morette: 
Italianos que Forjaram um Legado em São Paulo

Em 1878, no final do século XIX, em uma pequena vila nas planícies de Mantova, na Lombardia, Itália, os irmãos Giuseppe e Angelo  Morette passavam seus dias ajudando os pais no cultivo da pequena propriedade rural da família. A vida apesar de tranquila, não dava sinais de  trazer melhorias nas condições financeiras daqueles pobres agricultores. Apesar do pai ser proprietário do pequeno terreno, herdado dos seus antepassados, e o fato de estarem financeiramente muito melhores que a maioria dos outros habitantes do lugar, não os faziam imunes ao que estava acontecendo em todo o país, especialmente no período que se seguiu a unificação da Itália em um único reino. O crescente aumento dos preços dos produtos que precisavam adquirir, impulsionados por uma inflação crônica, somados a criação de novos impostos e,  principalmente, pela concorrência com os grãos importados, tornavam insustentável a continuação daquele trabalho na agricultura, já considerado sem futuro para os pequenos produtores. As frustrações seguidas de safras, devido alterações climáticas, agravavam a situação na zona rural também na Lombardia. Inúmeros outros produtores rurais, até mais abastados que eles, já tinham vendido as suas propriedades e partido em emigração para outros países, tanto vizinhos da Itália como, principalmente, para a distante América. O desejo de melhorar de vida, de fugir daquela falta de perspectiva de futuro e o desejo de aventura  estava gravado em seus corações.
Em 1893, movidos por histórias de sucesso no Brasil contadas pelas cartas que chegavam dos emigrantes, Giuseppe, que era o irmão mais velho, e Angelo, o caçula, decidiram embarcar em uma jornada incerta. Com a benção dos pais deixaram para trás sua família, esperando que a promessa de terras distantes e oportunidades os recompensasse. Para os pais asseguraram que assim que se estabelecessem no Brasil mandariam dinheiro para as passagens para eles os encontrar.
Depois de uma longa e tumultuada viagem, que durou um mês, chegaram no interior de São Paulo, onde começaram a vida em uma terra estrangeira. Aos poucos, com tenacidade foram construindo suas vidas em solo brasileiro. Com o pouco dinheiro que o pai lhes deu Giuseppe se aventurou no comércio local, abrindo uma pequena loja para venda de secos e molhados  que se tornou uma referência na cidade. Mais tarde ele também investiu em uma olaria, fabricando tijolos e telhas para atender  as necessidades de uma cidade em constante crescimento.
Angelo, por outro lado, viu uma oportunidade na criação suínos que os engordava e vendia para uma fábrica de salames e banha de uma cidade vizinha. Suas atividades muito contribuíram  para o desenvolvimento da economia local. Depois de cinco anos, como tinham prometido, mandaram dinheiro para os pais que então passaram a morar no Brasil.
Em 1913, Giuseppe, agora casado e pai de seis filhos, decidiu fazer uma viagem de volta à Itália para rever parentes e amigos que ainda lá moravam. Infelizmente, sua visita coincidiu com o início da Primeira Guerra Mundial, e ele foi recrutado, deixando para trás sua família e seu comércio. Só conseguiu retornar ao Brasil em 1919, onde foi recebido com alegria pela esposa e filhos, incluindo o seu sétimo filho, que recebeu por isso o nome de Settimo, que ainda não conhecia.
Nos anos que se seguiram, Giuseppe fez várias viagens à Itália, uma das quais acompanhado pelo filho mais velho Attilio, que permaneceu na península por três anos, absorvendo a cultura de seus ancestrais.
Infelizmente, em 1930, uma tragédia abalou a família Morette quando Angelo faleceu prematuramente, deixando para trás sua esposa e sete filhos. A família se uniu para superar a adversidade, mantendo o legado de trabalho árduo e perseverança deixado por Angelo.
Hoje, os descendentes dos irmãos Giuseppe e Angelo Morette estão espalhados em diversas cidades dos estados de São Paulo e Paraná, preservando as tradições e histórias de seus antepassados italianos, que deixaram sua marca na história da região.






quarta-feira, 23 de outubro de 2024

Na Stòria de Vita

 


Na Stòria de Vita

Carmela la ze nassesta nel 1890, in te na pìcola frasion de la provìncia de Padova, in Itàlia, circondà de monti verdi e un fiume tranquilo. Fin da toseta, la gà imparà el valor de la famèia e del laoro duro, aiutando i so genitori ´ntel laoro nei campi e curando i fradèi pì pìcoli. Con alora 20 ani, qualchi ani prima de la Granda Guera, la se ga sposà con el sartor Michelle, un toso pien de sòni che ghe gà promesso na vita de aventure e amore. Insieme, lori i ze emigrà sùito dopo a São Paulo, in Brasile, che la zera deromai na grande sità, ndove i gà tirà su i so quatro fiòi in na casa modesta, ma sempre piena de risi, stòrie e con el olor consolante de la cusina casalinga.

Carmela la zera na gran cusiniera, conossùa par i so rotóli de carne mascinà e i so ovi farcì, che i fasea sempre festa ne le zornade de famèia. Oltre a questo, la so abilità nel pontacruzo trasformava teli semplici in òpere d’arte che ricamava la so casa e che i zera dati in regalo ai so cari. La vita la zera semplice, ma piena, e Carmela la zera fiera de vardar i so fiòi crèscer e intraprender la so strada.

Con el tempo, i fiòi i ze sposà e i gà avù i so fiòi. Carmela la ze diventà nona e, dopo, bisnona. La so casa, che una volta la zera silenssiosa, la se ze de novo impinì de risi de toseti e de stòrie contade intorno a la tola. Ma, con el passar de i ani, le visite le ze diventà sempre pì rare. I so nevòdi, ciapadi da le so vite, i gavea sempre manco tempo de vardarla. I fiòi, che i zera zà inveciài, i zera presi da le so responsabilità, e a la fine l’idea de vardar Carmela la ze diventà un peso che nessun parea pì disposto a portar.

Con la salute che la ze pegiorà e Michelle oramai morto, Carmela la ze stà portà in un ricovero par vèci. Là, in una stanza de 12 metri quadrati, la gà scomenssià a passar i so zornade. I mobili che i zera sui, i ze restà indrìo; solo qualche foto e ricordi i ze vignù con lei. Carmela, che la gavea 89 ani, la se catava circondada da zente sconossùa, in un ambiente che, anca se neto e ben organisà, ghe pareva fredo e lontan.

Lei tentava ancora de tegnerse ocupà con passatempo e parole incrosà, ma gnente la podea sostituir la giòia de gaver la so famèia visin. Le visite de i fiòi e dei nevòdi i ze diventà eventi sporàdici, e Carmela la se catava a contar i zorni par ogni visita, solo par restar delusa quando queste se fasea sempre pì rare. Ne le note solitàrie, la teneva le foto de la so famèia, tentandose de ricordar el calore de quei zorni che pariva tanto lontani.

Carmela la gà inisià a coinvolgersi ne le atività del ricovero, aiutando chi stava peso. Ma lei savéa che no dovea atacarse massa, parchè la vedea spesso questi novi amici sparir, portài via da la morte. La solitudine la ze diventà na so compagna constante, e Carmela, no ostante tuto, la tentava de mantegner la speransa e la dignità.

Ne le so riflession, Carmela la se domandava el senso de na vita longa, specialmente quando la ze vissùa in solitudine. Lei pensava a le generassioni pì zovani e a quel che lori i podea imparar da la so esperiensa. La famèia, lei la credeva, la ze la base de tuto, e la dovea èsser curada e preservada con amore e dedissione. Lei sentiva che la so vita, anca se longa, la stava rivando a la fine, ma la sperava che la so stòria la podesse servir de lession par quei che sareve vignùdi dopo de lei.

Carmela no la gà mai portà rancore, ma la sentiva na tristessa profonda par vardar la so vita, che na volta la zera tanto piena de significà, ridota a la spetativa de la fine. Lei ghe desirava che i so fiòi lori i capisse el valor del tempo, che i se ricordasse de l’amore che lei ghe gavea dà e che lori ghe lo restituisse fin che l’era ancora possibile. Lei savéa che la morte la zera inevitàbile, ma la ghe desirava che i so ùltimi momenti i fusse circondà de amore, no de muri vuoti.

Nei so ùltimi zorni, Carmela la vardava le foto, sussurrando orassioni silenssiose. Lei savéa che presto la se saria reunida con Michelle e con i amici che lei gavea perso lungo i ani. E, con un sospiro, la acetava el so destin, desiderando solo che la so vita, anca ne i ùltimi momenti, la ghe gavessi algun significà par quei che lei gavea amà.





sexta-feira, 11 de outubro de 2024

Piantassion de Cafè el Sònio Amaro

 



Piantassion de Cafè el Sònio Amaro


El viàio el ze stà longo e infiancante. La vècia  imbarcassion con che i lori ga vignesto da l’Itàlia fin al Brasile la ndava su e zo con le grande onde, intanto che i Buonarotti lori i tegnea viva la speransa drento ai soi cuori. Francesco e Amàlia, tuti e do con trent’ani, lori i ga in man i so tre fioi – Alessandro, Tranquilo, e la picina Giuseppina. A canto loro, el patriarca Tranquilo, el pare de Francesco, védovo e con altri fiòi anca lori oramai emigrài, ndai in Stati Uniti, el varda l’orisonte con òci stanchi, pensando al passato e con paura de el futuro.

Tuti lori i ga sbarcà al porto de Santos sora un sol forte che parea de dismanciar i sòni de chi ga rivà. Le promesse che i agenti de emigrassion italiani che i ga contà prima de partir, le parea lontane e ormai intangibili. In treno, lori i ze incaminà verso lo interior de São Paulo, ´ntel distrito de Ribeirão Preto, alora in quei ani, na pìcola vila del munissípio de São Simão, ndove lori i ga scominssiar na nova tapa de la so vita. Francesco el se sentiva na méscola de paura e determinassion, pensando cossa che i ghe aspetea. La nostalgia de la so tera nàtia la se mescolava con el desidèrio de costruir qualcosa de suo.

La grande proprietà Pica Pau, dove lori i ze sta assunti par laorar, la zera imponente, con filari senza fine de piante de cafè da pèrder a vista de i òci. Francesco, lu el ze abituà ai campi fèrtili de l’Emilia Romagna, el savea che el laor lu el ze duro, ma no se ga mia spetà de trovar in Brasile condissioni così dure. Le case ndove lori i ga messi, na volta le ze stà sistemà i schiavi lori adesso pena liberà, le ze modeste, male tenùe, e le ga ancora drento l’olor de la soferensa de chi ga stà prima.

Amàlia, na dona con spìrito forte, la varda i so fiòi con na tristessa ben nascosta. Lei savea che i sfide ghe saria tanti, ma lei la ga decisa a proteger la so famèia a tuti i costi. Con quel po’ de risparmi che lori i ga missi via con tanto sacrifìssio, lei la sperava un zorno de poderse comprar na sua tera. Ma la realtà che i ghe trovà gera dura e spietada.

El primo ano ´tela piantassion el ga segnà da un laor sensa fine e disumano. Francesco e Amàlia, insieme a altre famèie de emigranti, lori i se sveiava prima del sorger el sol e i tornava indrio solo a sera tarde, oramai note, con le man rovinate e i corpi strachi. La racolta del cafè la ze fata tuto a man, e ogni gran racolto el rapresentea un picinin passo verso el sònio che i ghe ga portà fin qua. Ma el sudor versà ´ntei campi no zera mia bastante par cancelar i dèbiti con el paron che i se ga amucià.

Tranquilo, el pare de Francesco, lu el sentiva el peso de l’età e de la responsabilità d’aver portà la so famèia fin qua. El ghe dava na man come podèa, ma le so forse ormai ghe mancava. No obstante, el no se lamentea; el savea che ogni sacrifìcio zera necessàrio par assicurar un futuro mèio ai so nepoti.

El secondo ano el ghe portò altre dificultà. I campi de cafè, che prima parea prometar fortuna, i se rivelava problemi. Le malatie, le sicità e le pestilenze i zera nemici contìnui. El paron, un omo duro e senza pietà, el ghe domandava sempre de più da chi laorava, in cambio de quel po’ che zera necessàrio par farli sopraviver e continuar a laorar.

Le sere le ze momenti de riflession e paura. Francesco e Amàlia i parlea piano, proietando cossa far par risparmiar e scampar da quela situassion. Lori i savea che el contrato de laoro no ghe dava alcun dirito su la tera, ma lori i ze decisi a meter via ogni soldo par, un zorno, conquistar la libertà che tanto i lori bramava. I lori fiòi, benché ancora pìcoli, i ghe dava na man come podèa, e la picina Giuseppina, con solo do ani, parea già capir la pesantessa de la responsabilità che cadeva su la so famèia.

El terso ano el zera ancor pi duro. Le speranse scominciava a sparir, sostituìe da na resignassion silensiosa. Amàlia, che ga sempre stà na dona otimista, lei sentiva la tristessa penetrar drento ´ntel so cor. Ma no obstante le aversità, la paura no zera ´ntel vocabolàrio de i Buonarotti. Lori i zera zente forte, e savea che el futuro dipendeva da la so capacità de resistar ai colpi de la vita.

Quando che el quarto ano el ze finì, Francesco e Amàlia lori i feci na valutassion de la situassion. Lori i ze riuscìi a risparmiar abastansa par comprar na pìcola proprietà ntela vila di Santa Rita do Passa Quatro, na citadina che la ze nassesta vicina a la grande propietà ndove lori i ze vivesto per quatro ani. La dessision de lassar la grande piantassion Pica Pau la zera difìcile, ma lori i savea che restar là volea dir restar incatenài a un ciclo de povertà e suditansa.

La transission a la vita fora da la proprietà rural la ze stà dura. Il pìcolo tereno che lori i ga comprà la ghe domandava ancor pi sacrifici, ma par la prima volta lori i se sentiva paroni, che i laorava par lori. Dopo tanto tempo adesso finalmente lori i ze lìberi. Francesco el scominssiò a sercar laoro ´ntei pìcoli opifici che naséa in quel posto, e Amàlia, con la so coràio e agilità manuale, la se mise a far sachi de iuta, aprofitando el gran quantità de quel materiale ´ntela vila. L’idea de slevar na pìcola fàbrica la ga scominssià a creare vita ´ntel so sarvel.

Nei ani sucessivi, la famèia Buonarotti laorò duro sensa sosta par far diventar la so pìcola atività cualcosa de pi sostansiale. Tranquilo, ormai par debilità da l’età, el no ga rinunssià a partissipar con la so sagassità e speriensa. Sora la so guida, Francesco e Amàlia lori i ga imparà a farse strada tra i ostacoli de sta nova tera e sta nova cultura.

Santa Rita do Passa Quatro la ze cressesto pian pian, e con el avanso de la sità, la pìcola fàbrica de sachi de iuta de i Buonarotti la ga scominssià a prosperar. El sucesso che tanto lori spetea el scominssiò finalmente a se concretisar, e par la prima volta dopo tanti ani, lori i se sentia che l’emigrassion verso el Brasile la ze stà na dessision giusta. Ma el camin fin qua el ze stà pien de sacrifissi, de dolori e de delusioni.

Giuseppina, ormai na toseta de quindese ani, la ghe dava na gran man in fàbrica con na abilità incredìbile. Alessandro e Tranquilo, adesso do bei tosati, lori i ga mostrà el stesso spìrito laorador de i so genitori. La famèia, con el comune pensier, la ga trasformà el sònio amaro che i ghe portà traversar el oceano in na realtà pi dolse.

No obstante el sucesso, la nostalgia de su paese ndove lori i ze nassesto ´ntel ’Itàlia no ghe i lassava mai. Francesco e Amàlia, ´ntele sere pi calme, lori i se ricordea ancora de le coline de Castelnuovo Rangone, de soi parenti e amissi che i ga lassà là. Ma adesso, vardando i so fiòi, lori i vardea el futuro che tuti i do i ga costruìo, un futuro che, nonostante tuti i sacrîfici, el giustificava ogni làgrema versada, ogni grano de cafè racolto, ogni erba cavada con le so man.

E così, ´ntei campi de cafè, dove na volta el sònio el zera amaro, la famèia Buonarotti la ghe trovò la forsa de ricominssiar. La nova vita, costruìda con sudor e determinassion, la ze na dimostrassion de coràio de chi no ga mai gavè paura de le sfide e che, anca lontan da la so tera natia, i ga riuscì a meter radisi in tera straniera.




sexta-feira, 23 de agosto de 2024

A Jornada de Antonio Mansuetto

 



Em 1946, logo após o término da Segunda Guerra Mundial, a pequena cidade de Marano di Castelnovo, na Emilia Romagna, estava lentamente se recuperando dos estragos do conflito. Antonio Mansuetto, um jovem aventureiro de 34 anos, havia decidido que seu destino estava além das fronteiras da Itália. Com um espírito indomável e um desejo ardente de explorar novas terras, Antonio deixou a segurança de sua casa e da família para buscar fortuna em terras distantes.

Com uma formação sólida como mecânico-eletricista e uma experiência valiosa servindo no exército italiano, Antonio tinha a habilidade e a determinação necessárias para prosperar. O Brasil, então em plena fase de crescimento industrial, oferecia oportunidades que pareciam feitas sob medida para suas habilidades. Com um pouco de dinheiro economizado e uma esperança ilimitada, ele embarcou em um navio rumo ao desconhecido.

São Paulo, a vibrante metrópole sul-americana, recebeu Antonio com a energia frenética de uma cidade em transformação. Rapidamente encontrou trabalho na indústria do aço, na siderúrgica nacional, um setor em franca expansão. A sua expertise foi bem recebida, e, com o tempo, ele se estabeleceu na cidade. Seus primeiros anos foram marcados por uma série de mudanças de residência, mas o destino parecia sempre o levar ao bairro do Bixiga, onde a comunidade italiana era forte e acolhedora.

O Bixiga, conhecido por suas casas de comércio italianas e a imersão cultural, tornou-se o novo lar de Antonio. Foi ali que encontrou Maria, uma mulher encantadora que compartilhava suas raízes italianas e seus sonhos de uma vida melhor. Casaram-se e formaram uma família, tendo quatro filhos e, eventualmente, dez netos. A vida de Antonio foi marcada por trabalho árduo, dedicação à família e uma profunda gratidão por suas novas oportunidades.

A aposentadoria, aos 65 anos, trouxe a Antonio a chance de refletir sobre sua jornada. Ele se aposentou com orgulho, mas nunca deixou de ser ativo na comunidade. Seus filhos e netos eram sua maior alegria, e ele se dedicou a passar adiante os valores e a cultura italiana que sempre amou.

Antonio Mansuetto faleceu aos 91 anos, deixando um legado de trabalho duro e determinação. Sua história é um testemunho do espírito aventureiro e da capacidade de transformar desafios em oportunidades, sempre com uma visão voltada para um futuro melhor.

sexta-feira, 9 de agosto de 2024

São Paulo: Um Epicentro da Imigração Italiana no Brasil



Após a unificação da Itália em 1870, o país se viu imerso em uma onda migratória em resposta à pobreza e instabilidade econômica. Enquanto isso, o Brasil, em meio ao processo de abolição da escravidão e de industrialização, empenhava-se em atrair imigrantes para impulsionar sua economia em mutação.
Os italianos embarcaram em jornadas rumo a novas terras impulsionados por desafios econômicos e dinâmicas socioculturais. O intenso fluxo migratório italiano teve início após a unificação da Itália em 1870. Inicialmente, uma grande parcela desses imigrantes trabalhou nas plantações de café, porém, diante das dificuldades em acumular capital, muitos migraram das fazendas para os centros urbanos em busca de oportunidades. São Paulo tornou-se um epicentro italiano, ganhando o apelido de “cidade italiana”, pois os imigrantes encontraram emprego principalmente na indústria e nos serviços urbanos. Em 1901, os italianos representavam cerca de 90% dos 50.000 trabalhadores nas fábricas paulistas.
Com o fim do sistema escravocrata, entre 1885 e 1902, uma política migratória favorecia os italianos. Posteriormente, entre 1902 e 1920, São Paulo implementou suas próprias estratégias para atrair imigrantes. Esse período foi marcado pela chegada de mais de 1 milhão de italianos em São Paulo até 1920, conforme registros de alguns pesquisadores.
Após o término do regime escravocrata, uma estratégia de imigração foi estabelecida entre os anos de 1885 e 1902, com uma preferência clara pelos italianos. Este período de políticas migratórias distintas teve um impacto significativo na composição étnica e cultural do Brasil, especialmente nas regiões que receberam esses fluxos migratórios em maior intensidade.
Ao chegar ao Brasil, os imigrantes italianos direcionavam seus passos para os estados centrais em ascensão, como São Paulo, onde vislumbravam promissoras perspectivas. Essa inclinação reverberava na composição demográfica paulista, que em 1920 abrigava aproximadamente 9% da população italiana do Brasil, representando cerca de 70% do total de italianos no país naquele período.
Não é por acaso que São Paulo em determinado momento tenha sido apelidada de "cidade italiana". O impacto desses imigrantes na cultura local era palpável, permeando não apenas os aspectos linguísticos, culinários e vestimentas, mas também na persistência de sobrenomes que até hoje ecoam a ascendência italiana.