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quinta-feira, 29 de agosto de 2024

Raízes de Esperança



O ano era 1875, e a Itália, bela em suas paisagens, estava ferida por crises econômicas e sociais. A pequena vila de Montebello, na região de Vêneto, sentia os efeitos dessa realidade. Era uma terra de vinhedos antigos, mas a promessa de prosperidade já não mais sustentava suas gentes.
Giuseppe, um homem de trinta e cinco anos, de olhar firme e mãos calejadas pelo trabalho na terra, decidiu que era hora de partir. Ao lado de sua esposa, Maria, e seus dois filhos, Enzo, de oito anos, e Sofia, de cinco, Giuseppe tomou a difícil decisão de deixar sua terra natal. Seus pais o aconselharam a ser corajoso, a confiar no futuro, mas as palavras pesavam como chumbo em seu coração.
A travessia do Atlântico foi longa e dolorosa. A bordo de um navio abarrotado de sonhos e incertezas, a família enfrentou tempestades e o medo do desconhecido. Giuseppe passava as noites acordado, segurando a mão de Maria, enquanto ela consolava as crianças, que choravam de saudade e fome. O futuro parecia uma promessa distante, mas a fé os mantinha de pé.
Quando finalmente avistaram terra, após meses de viagem, a família estava exausta. O Brasil os recebeu com um calor que contrastava com o frio que sentiam em suas almas. Chegaram, depois de mais algumas semanas de viagem, à Colônia Conde d’Eu, um pequeno aglomerado de barracos de madeira e terra batida, cercado por uma densa mata virgem. Giuseppe olhou para aquele cenário com uma mistura de alívio e desespero. Era terra nova, mas o trabalho seria árduo.
Giuseppe logo se pôs a trabalhar. Ele e os outros colonos desbravavam a mata, abrindo caminho para as futuras plantações de parreiras cujas mudas haviam trazido da cidade natal. A terra era fértil, mas o isolamento era cruel. As distâncias entre as casas eram enormes, e o silêncio da mata parecia engolir os sons da vida. A saudade da Itália, dos pais, dos amigos, era uma dor constante no peito de Giuseppe e Maria.
As noites eram frias, e o vento assobiava nas frestas das casas mal construídas. Os filhos sentiam falta das brincadeiras no pátio da velha casa em Montebello, agora substituído por um mundo de incertezas. Mas Giuseppe e Maria continuavam a lutar, dia após dia, acreditando que estavam construindo um futuro melhor para seus filhos.
Depois de anos de trabalho duro, finalmente chegou o momento da primeira colheita. Giuseppe sentiu um orgulho imenso ao olhar para as vinhas carregadas de uvas maduras. Ele sabia que aquele era o começo de uma nova vida para sua família. Com a ajuda de outros colonos, começaram a produzir o vinho, seguindo as técnicas que haviam aprendido na Itália.
O primeiro vinho produzido na colônia foi um marco. Era um vinho simples, mas carregado de significados. Para Giuseppe, cada gota daquele líquido representava o suor de seu trabalho, as lágrimas de sua esposa, e a esperança de seus filhos. Quando o vinho ficou pronto, os colonos se reuniram para celebrar. Era uma noite estrelada, e as risadas ecoaram pela colônia, afastando a solidão e a tristeza que tantas vezes os haviam visitado.
Naquela noite, Giuseppe brindou com os outros colonos, olhando para Maria e os filhos. Ele sabia que ainda havia muito a fazer, mas pela primeira vez desde que chegara ao Brasil, sentiu que haviam encontrado seu lugar no mundo.
Os anos passaram, e a colônia começou a crescer. Novos imigrantes chegaram, trazendo consigo novas esperanças e desafios. As casas de madeira foram substituídas por construções mais sólidas, e as plantações se expandiram. Mas com o progresso, vieram também os desafios.
As doenças eram uma ameaça constante. A febre e a malária ceifaram vidas, e os médicos eram raros na região. Maria se dedicou a cuidar dos doentes, usando os conhecimentos de ervas que havia aprendido com sua avó na Itália. Ela se tornou uma referência na comunidade, uma mulher de força e compaixão que todos respeitavam.
Sofia, agora uma jovem mulher, ajudava a mãe no cuidado dos doentes, enquanto Enzo seguia os passos do pai na vinícola. O vinho produzido por Giuseppe começou a ganhar fama na região, e ele sonhava em um dia ver seu nome associado aos melhores vinhos do Brasil.
Mas os tempos de dificuldade não haviam terminado. Uma praga devastadora atingiu as vinhas, ameaçando destruir tudo o que haviam construído. Giuseppe lutou com todas as suas forças para salvar as plantações, mas o futuro parecia incerto. A família se uniu ainda mais, enfrentando as adversidades com coragem e determinação.
Após anos de luta, o progresso finalmente chegou à colônia Conde d’Eu. As estradas foram abertas, facilitando o transporte dos vinhos para outras regiões do Brasil. Giuseppe, com sua visão e determinação, decidiu investir na produção de espumantes, uma bebida que começava a ganhar popularidade no país.
A primeira produção de espumante foi um sucesso. O espumante de Giuseppe se tornou conhecido em todo o Brasil, e a colônia começou a prosperar. A família se tornou uma referência na produção de vinhos e espumantes, e Giuseppe viu seu sonho se realizar.
Enzo, agora um homem feito, assumiu a responsabilidade pela vinícola, trazendo novas ideias e técnicas que aprendeu em suas viagens pela Itália. Sofia se casou com um imigrante italiano, também envolvido na produção de vinhos, e juntos começaram uma nova família.
Maria, sempre ao lado de Giuseppe, viu seus filhos crescerem e prosperarem, e sentiu que todos os sacrifícios haviam valido a pena. Ela e Giuseppe envelheceram juntos, olhando para as colinas cobertas de vinhedos, sabendo que haviam construído algo duradouro, algo que passaria para as próximas gerações.
O ano era 1900, e a colônia Conde d’Eu, agora conhecida como Garibaldi, havia se transformado em um próspero município. As ruas eram repletas de vida, e as cantinas de vinho eram famosas em todo o Brasil. O espumante produzido pela família de Giuseppe era apreciado em festas e celebrações, um símbolo do sucesso dos imigrantes italianos que haviam desbravado aquela terra desconhecida.
Giuseppe, agora com sessenta anos, olhava para tudo o que haviam conquistado com um misto de orgulho e nostalgia. Ele sabia que, sem a coragem de partir, sem a força de sua esposa, sem a determinação de seus filhos, nada daquilo teria sido possível. O nome de sua família estava gravado na história de Garibaldi, e ele sabia que seu legado perduraria.
Em uma noite estrelada, muito parecida com aquela primeira colheita, Giuseppe reuniu sua família e os amigos mais próximos para um brinde. Eles ergueram suas taças, cheias do espumante que havia se tornado o orgulho de Garibaldi, e brindaram ao futuro. Um futuro que, apesar das dificuldades, prometia ser brilhante, como as estrelas que iluminavam o céu acima da colônia.
Garibaldi, a capital brasileira do espumante, é hoje um símbolo de perseverança e sucesso. Os descendentes dos imigrantes italianos continuam a produzir vinhos e espumantes de renome, mantendo viva a tradição que Giuseppe e sua família começaram há mais de um século.
As vinícolas de Garibaldi são um legado da coragem daqueles que, em 1875, decidiram deixar tudo para trás em busca de uma nova vida. E em cada garrafa de espumante, em cada taça erguida, vive a história de uma família que construiu, com amor e suor, um novo lar no sul do Brasil.



sábado, 15 de janeiro de 2022

Os Imigrantes Italianos na Colônia Conde d'Eu atual Garibaldi

 

Imigrantes na Hospedaria da Ilha das Flores, no Rio de Janeiro, em finais do século XIX

Em 1870 o governo imperial criou a Colônia Conde d'Eu, atual município de Garibaldi, localizado na Serra Gaúcha e que abrigou um grande número de imigrantes italianos.

Desde o ano de 1878 a Colônia Conde d'Eu passou a contar com o auxílio da Società Italiana di Mutuo Soccorso Stella D'Italia, formada por sócios italianos, que criou um refúgio seguro, um espaço favorável para atuação dos imigrantes, congregando-os em um ambiente associativo onde podiam cultuar suas crenças e costumes.




A partir de 1880 com o incremento da imigração italiana no Rio Grande do Sul, o número de assentados foi aumentando gradativamente. Entre os anos de 1875 e 1914 o estado gaúcho recebeu um número aproximado de 80.000 imigrantes italianos, que fugindo da miséria cada vez maior na Itália, se transferiram definitivamente para o Brasil, atraídos pelas perspectivas de construir uma vida melhor. 




Além da intensa propaganda, que nem sempre primava pela honestidade, feita pelos inúmeros recrutadores a serviço das companhias contratantes de mão de obra com o governo do Império do Brasil, também tiveram um papel muito importante de atração de novos imigrantes, foram as cartas convite enviadas pelos primeiros aqui chegados para os seus amigos e parentes que tinham permanecido na Itália.    

Nessas cartas os pioneiros enalteciam o clima do Rio Grande do Sul, muito parecido com aquele do norte da Itália, a fertilidade do solo e a grande facilidade para obtenção de lotes de terra. 

Essas cartas, principalmente, enfatizavam a felicidade de terem finalmente se tornado proprietários de terras. Não precisavam mais obedecer a um patrão e, principalmente, não tinham mais que dividir as colheitas com o dono da gleba como acontecia na Itália.




O objetivo do governo imperial, e depois aquele da província do Rio Grande do Sul, de trazer imigrantes era o de suprir os grandes centros das necessidades alimentares e abastecer com produtos agrícolas mercado interno do país. 

No entanto, muitos dos imigrantes que aqui chegaram, que se denominavam agricultores, na verdade tinham pouca ou quase nenhuma experiência com as lidas do campo. Eram pequenos artesãos, comerciantes e industriais que aproveitaram aquele momento para obterem a posse da terra. 




Esse fato foi até muito favorável para o rápido desenvolvimento interno das colônias, onde, em pouco tempo, surgiram comércios e pequenas indústrias artesanais.

Do Porto do Rio de Janeiro ou de Santos, onde os imigrantes desembarcavam, aqueles imigrantes cujo destino final era o Rio Grande do Sul, eram embarcados em navios menores até a capital Porto Alegre, onde eram alojados, provisoriamente, em precários barracões de madeira, para esperar a transferencia para as colônias a que estavam destinados: Caxias, Dona Isabel ou Conde d'Eu.




Colocados em pequenas embarcações a vapor navegavam por aproximadamente sete horas, subindo as fortes correntes do rio Caí, até o ponto de desembarque, o qual ficava ainda muito distantes das colônias. Essas deviam ser  alcançadas após aproximadamente três dias de marcha a pé, no lombo de mulas ou carretas de bois, atravessando a densa mata por estreitas estradas e picadas abertas na floresta. 

Chegados no local da colônia ficavam alojados em um outro barracão provisório de madeira, que ficou conhecido por barracão dos imigrantes, até que os lotes fossem devidamente demarcados e distribuídos pelos funcionários representantes do governo.




As condições para se chegar até as colônias eram muito difíceis, os caminhos estreitos e tortuosos. Os lotes demarcados ficavam distantes e os pioneiros precisaram abrir clareiras na mata virgem, abatendo gigantescas árvores, para delimitar uma pequena área a ser cultivada e construir um abrigo bastante precário de pau-a-pique, cobertos por galhos de árvores, folhas de palmeira e grimpa de pinheiros.

Preparada a terra, após a queimada das árvores e galhos, eram plantadas as primeiras roças de milho e feijão, com as sementes recebidas do governo na ocasião da chegada na colônia, juntamente com algumas ferramentas de trabalho. 




Enquanto esperavam pela colheita da primeira safra, os imigrantes sobreviviam da caça de aves e pequenos animais, além da coleta de frutos, as vezes consumiam algum mantimento recebido do governo. Em outras ocasiões compravam algumas provisões com o dinheiro arrecadado com a venda da madeira e, mais raramente, com o soldo do trabalho assalariado permitido, por somente quinze dias ao mês, na abertura de estradas, caminhos ou outras benfeitorias que interessassem a administração.

Os bilhetes do transporte marítimo entre a Europa e o Rio Grande do Sul era financiado pelas autoridades brasileiras. Os lotes e alguns eventuais subsídios como transporte dentro do estado, as despesas com estadias, ferramentas e sementes deveriam ser pagos ao governo em um período de 5 a 10 anos, com um tempo de carência.

O título provisório da terra somente era entregue ao colono imigrante quando este já houvesse quitado pelo menos 20% da dívida e o título definitivo, quando a dívida estivesse totalmente paga. Os imigrantes levavam muito a sério essas dívidas com o governo, pois, as famílias inadimplentes podiam ser expulsas dos seus lotes perdendo todo o trabalho já realizado. Para evitar a perda da terra  toda a família se empenhava no trabalho, até as mulheres e filhos pequenos ajudavam no esforço familiar.

Com o tempo a produção agrícola das colônias aumentou bastante e surgiu um outro problema que dificultava a venda dos produtos colhidos que era a falta de estradas e de comunicação, o  que impedia que as safras fossem escoadas e vendidas devido a falta de contato com as demais regiões.




Os primeiros imigrantes italianos chegaram à Colônia Conde d'Eu em 24 de dezembro de 1875, provenientes da região do Trento, ali encontrando imigrantes prussianos, espanhóis, portugueses e suíços que haviam chegado algum tempo antes. Até o final do século XIX os imigrantes italianos já eram o maior grupo étnico entre os assentados na colônia. 

A Colônia Conde d'Eu foi fundada no ano de 1870 e recebeu este nome em homenagem ao genro do imperador D. Pedro II, casado com a Princesa Isabel. 

Com a chegada das novas levas de imigrantes a colônia experimentou um crescimento acentuado e já em 1878 possuía 3 mil habitantes na sua maioria italianos.




Em 13 de Abril de 1884 a Colônia de Conde d'Eu  foi elevada à categoria de Freguesia de São Pedro e experimentou grande progresso com a construção de estradas e crescimento da área urbana surgindo várias casas de comércio, indústrias, como ferrarias, fábrica de cerveja gasosa, gaitas, pólvora, alguns moinhos sapatarias, alfaiatarias, serrarias, fundição de sinos e o cultivo de videiras. 

Uma das principais características de uma propriedade colonial italiana é o fato que nela todos da família trabalhavam, com as tarefas sendo divididas de acordo com o gênero e idade de cada um dos seus membros. Aos homens cabia o trabalho na agricultura, criação de animais e atividades de comércio da produção. Às mulheres estava destinada as ocupações nas tarefas domésticas e em atividades mais leves na horta, na criação de animais e cuidados com os filhos.

As crianças por sua vez começavam a ajudar os pais em pequenas atividades já à partir dos 6 anos de idade até completarem 15 anos, quando então passavam a trabalhar junto com os adultos. 







sexta-feira, 27 de agosto de 2021

Padre Bartolomeo Tiecher

Padre Bartolomeo Tiecher




O padre Bartolomeo Tiecher, nascido em Caldonazzo, hoje município da província de Trento, na Região do Trentino Alto Adige, foi o primeiro sacerdote tirolês a emigrar de onde hoje é a Itália, para o Brasil acompanhando 700 pequenos agricultores tiroleses, provenientes da Valsugana (Val Sugana) no ano de 1875. 

Chegou com as primeiras levas de imigrantes italianos no Rio Grande do Sul, acompanhado pelos pais, irmãos e conterrâneos. 

Por saber falar também a língua alemã, foi designado para assumir o posto de Capelão da Colônia Santa Maria da Soledade, no então município de São João de Montenegro, hoje São Vendelino, tomando posse em 23 de dezembro de 1875. 

No dia 21 de Março de 1876 celebrou a 1ª missa na Colônia Conde D'Eu, hoje Garibaldi, na Serra Gaúcha, em um altar improvisado com caixas e baús dos imigrantes, no meio da precária estrada ali existente. 

Como sacerdote exerceu o seu apostolado nas colônias de Conde D'Eu e Dona Isabel onde pela falta de igrejas celebrava as missas ao ar livre e em altares improvisados. Se preocupava muito com o abandono que os imigrantes se encontravam naqueles primeiros anos da chegada ao estado e também com a falta de sacerdotes para dar o atendimento religioso aos imigrantes.

Padre Bartolomeo Tiecher se destacou como naturalista estudando a flora do Rio Grande do Sul.

O sacerdote atuou nas
colônias Conde D’Eu e Dona Isabel
O sacerdote atuou nas
colônias Conde D’Eu e Dona Isabel e celebrava
missas a
o
ar livre
por causa
d
a falta de igreja
s.
P
reocupava
-
se
com a
ausência
de auxilio religioso
nas colônias,
devido
à
falta de sacerdotes
,
e
com
a
situação de abandono em que os colonos italianos se encontravam durante a fase
pioneira. O Padre Tiecher também se destacou como um naturalista
,
sendo um grande estudioso
da flora rio
-
grandense.
Palavras
-
chave

: imigrantes italianos, p
mata