Espaço destinado aos temas referentes principalmente ao Vêneto e a sua grande emigração. Iniciada no final do século XIX até a metade do século XX, este movimento durou quase cem anos e envolveu milhões de homens, mulheres e crianças que, naquele período difícil para toda a Itália, precisaram abandonar suas casas, seus familiares, seus amigos e a sua terra natal em busca de uma vida melhor em lugares desconhecidos do outro lado oceano. Contato com o autor luizcpiazzetta@gmail.com
quinta-feira, 29 de agosto de 2024
Raízes de Esperança
sábado, 15 de janeiro de 2022
Os Imigrantes Italianos na Colônia Conde d'Eu atual Garibaldi
Em 1870 o governo imperial criou a Colônia Conde d'Eu, atual município de Garibaldi, localizado na Serra Gaúcha e que abrigou um grande número de imigrantes italianos.
Desde o ano de 1878 a Colônia Conde d'Eu passou a contar com o auxílio da Società Italiana di Mutuo Soccorso Stella D'Italia, formada por sócios italianos, que criou um refúgio seguro, um espaço favorável para atuação dos imigrantes, congregando-os em um ambiente associativo onde podiam cultuar suas crenças e costumes.
A partir de 1880 com o incremento da imigração italiana no Rio Grande do Sul, o número de assentados foi aumentando gradativamente. Entre os anos de 1875 e 1914 o estado gaúcho recebeu um número aproximado de 80.000 imigrantes italianos, que fugindo da miséria cada vez maior na Itália, se transferiram definitivamente para o Brasil, atraídos pelas perspectivas de construir uma vida melhor.
Além da intensa propaganda, que nem sempre primava pela honestidade, feita pelos inúmeros recrutadores a serviço das companhias contratantes de mão de obra com o governo do Império do Brasil, também tiveram um papel muito importante de atração de novos imigrantes, foram as cartas convite enviadas pelos primeiros aqui chegados para os seus amigos e parentes que tinham permanecido na Itália.
Nessas cartas os pioneiros enalteciam o clima do Rio Grande do Sul, muito parecido com aquele do norte da Itália, a fertilidade do solo e a grande facilidade para obtenção de lotes de terra.
Essas cartas, principalmente, enfatizavam a felicidade de terem finalmente se tornado proprietários de terras. Não precisavam mais obedecer a um patrão e, principalmente, não tinham mais que dividir as colheitas com o dono da gleba como acontecia na Itália.
O objetivo do governo imperial, e depois aquele da província do Rio Grande do Sul, de trazer imigrantes era o de suprir os grandes centros das necessidades alimentares e abastecer com produtos agrícolas mercado interno do país.
No entanto, muitos dos imigrantes que aqui chegaram, que se denominavam agricultores, na verdade tinham pouca ou quase nenhuma experiência com as lidas do campo. Eram pequenos artesãos, comerciantes e industriais que aproveitaram aquele momento para obterem a posse da terra.
Esse fato foi até muito favorável para o rápido desenvolvimento interno das colônias, onde, em pouco tempo, surgiram comércios e pequenas indústrias artesanais.
Do Porto do Rio de Janeiro ou de Santos, onde os imigrantes desembarcavam, aqueles imigrantes cujo destino final era o Rio Grande do Sul, eram embarcados em navios menores até a capital Porto Alegre, onde eram alojados, provisoriamente, em precários barracões de madeira, para esperar a transferencia para as colônias a que estavam destinados: Caxias, Dona Isabel ou Conde d'Eu.
Colocados em pequenas embarcações a vapor navegavam por aproximadamente sete horas, subindo as fortes correntes do rio Caí, até o ponto de desembarque, o qual ficava ainda muito distantes das colônias. Essas deviam ser alcançadas após aproximadamente três dias de marcha a pé, no lombo de mulas ou carretas de bois, atravessando a densa mata por estreitas estradas e picadas abertas na floresta.
Chegados no local da colônia ficavam alojados em um outro barracão provisório de madeira, que ficou conhecido por barracão dos imigrantes, até que os lotes fossem devidamente demarcados e distribuídos pelos funcionários representantes do governo.
As condições para se chegar até as colônias eram muito difíceis, os caminhos estreitos e tortuosos. Os lotes demarcados ficavam distantes e os pioneiros precisaram abrir clareiras na mata virgem, abatendo gigantescas árvores, para delimitar uma pequena área a ser cultivada e construir um abrigo bastante precário de pau-a-pique, cobertos por galhos de árvores, folhas de palmeira e grimpa de pinheiros.
Preparada a terra, após a queimada das árvores e galhos, eram plantadas as primeiras roças de milho e feijão, com as sementes recebidas do governo na ocasião da chegada na colônia, juntamente com algumas ferramentas de trabalho.
Enquanto esperavam pela colheita da primeira safra, os imigrantes sobreviviam da caça de aves e pequenos animais, além da coleta de frutos, as vezes consumiam algum mantimento recebido do governo. Em outras ocasiões compravam algumas provisões com o dinheiro arrecadado com a venda da madeira e, mais raramente, com o soldo do trabalho assalariado permitido, por somente quinze dias ao mês, na abertura de estradas, caminhos ou outras benfeitorias que interessassem a administração.
Os bilhetes do transporte marítimo entre a Europa e o Rio Grande do Sul era financiado pelas autoridades brasileiras. Os lotes e alguns eventuais subsídios como transporte dentro do estado, as despesas com estadias, ferramentas e sementes deveriam ser pagos ao governo em um período de 5 a 10 anos, com um tempo de carência.
O título provisório da terra somente era entregue ao colono imigrante quando este já houvesse quitado pelo menos 20% da dívida e o título definitivo, quando a dívida estivesse totalmente paga. Os imigrantes levavam muito a sério essas dívidas com o governo, pois, as famílias inadimplentes podiam ser expulsas dos seus lotes perdendo todo o trabalho já realizado. Para evitar a perda da terra toda a família se empenhava no trabalho, até as mulheres e filhos pequenos ajudavam no esforço familiar.
Com o tempo a produção agrícola das colônias aumentou bastante e surgiu um outro problema que dificultava a venda dos produtos colhidos que era a falta de estradas e de comunicação, o que impedia que as safras fossem escoadas e vendidas devido a falta de contato com as demais regiões.
Os primeiros imigrantes italianos chegaram à Colônia Conde d'Eu em 24 de dezembro de 1875, provenientes da região do Trento, ali encontrando imigrantes prussianos, espanhóis, portugueses e suíços que haviam chegado algum tempo antes. Até o final do século XIX os imigrantes italianos já eram o maior grupo étnico entre os assentados na colônia.
A Colônia Conde d'Eu foi fundada no ano de 1870 e recebeu este nome em homenagem ao genro do imperador D. Pedro II, casado com a Princesa Isabel.
Com a chegada das novas levas de imigrantes a colônia experimentou um crescimento acentuado e já em 1878 possuía 3 mil habitantes na sua maioria italianos.
Em 13 de Abril de 1884 a Colônia de Conde d'Eu foi elevada à categoria de Freguesia de São Pedro e experimentou grande progresso com a construção de estradas e crescimento da área urbana surgindo várias casas de comércio, indústrias, como ferrarias, fábrica de cerveja gasosa, gaitas, pólvora, alguns moinhos sapatarias, alfaiatarias, serrarias, fundição de sinos e o cultivo de videiras.
Uma das principais características de uma propriedade colonial italiana é o fato que nela todos da família trabalhavam, com as tarefas sendo divididas de acordo com o gênero e idade de cada um dos seus membros. Aos homens cabia o trabalho na agricultura, criação de animais e atividades de comércio da produção. Às mulheres estava destinada as ocupações nas tarefas domésticas e em atividades mais leves na horta, na criação de animais e cuidados com os filhos.
As crianças por sua vez começavam a ajudar os pais em pequenas atividades já à partir dos 6 anos de idade até completarem 15 anos, quando então passavam a trabalhar junto com os adultos.