Lettera di Don Domenico Munari
Ex Parroco di Fastro, Comune di Arsiè BL
Espaço destinado aos temas referentes principalmente ao Vêneto e a sua grande emigração. Iniciada no final do século XIX até a metade do século XX, este movimento durou quase cem anos e envolveu milhões de homens, mulheres e crianças que, naquele período difícil para toda a Itália, precisaram abandonar suas casas, seus familiares, seus amigos e a sua terra natal em busca de uma vida melhor em lugares desconhecidos do outro lado oceano. Contato com o autor luizcpiazzetta@gmail.com
Lettera di Don Domenico Munari
Ex Parroco di Fastro, Comune di Arsiè BL
Pelo menos até a segunda metade do século XIX, as intervenções promovidas pela Igreja italiana tanto pastoral, assistência moral e material aos emigrantes eram muito limitadas e, em geral, de caráter episódico e marginal.
A sensibilidade inicial da Igreja italiana, diante do novo fenômeno emigratório, era muito pobre como um todo, o que o demonstra não apenas pela ausência de instituições e formas de coordenação específicas para fazer frente a esse grande problema, mas também pelas escolhas e orientações básicas expressas por uma grande parte do episcopado e do clero.
Em um opúsculo intitulado Emigração italiana para a América.
Observações de Giovanni Battista Scalabrini, bispo de Piacenza, publicadas em jornal em 1887, ele apresentou um quadro dramático da situação de abandono geral em que se encontravam os emigrantes italianos:
"Eu os vejo aqueles pobres que desembarcaram em terra estrangeira, no meio de um povo que fala uma língua que eles não entendem, vítimas fáceis de especulações desumanas. Vejo-os molhando com seu suor e lágrimas um sulco ingrato, uma terra que exala miasmas pestilento, quebrado pelo cansaço, consumido pela febre, suspirando em vão pelo céu da pátria distante e pela miséria ancestral da pobre casa nativa, e finalmente sucumbindo sem que o arrependimento de seus entes queridos os consolasse, sem que a palavra de fé lhes mostrasse a recompensa que Deus tem prometido aos bons e aos infelizes. E aqueles que triunfam na luta rude pela existência, aqui estão eles, ai! Lá embaixo no isolamento, para esquecer por completo todas as noções sobrenaturais, todos os preceitos da moral cristã, e a cada dia perder o sentimento religioso, não alimentado pelas práticas de piedade, e deixar que os instintos brutais ocupem o lugar das mais altas aspirações. Diante de um estado de coisas tão lamentável, muitas vezes me pergunto: como remediá-lo? E toda vez que leio alguma circular do governo nos jornais que adverte as autoridades e o público contra as artes de certos especuladores, que na verdade atacam escravos brancos para empurrá-los, ferramentas cegas da ganância, longe da pátria com a miragem de ganhos fáceis e ricos; e quando de cartas de amigos ou de relatos de viagens noto que os párias dos emigrantes são italianos, que as profissões mais vis, embora possa haver covardia no trabalho, são exercidas por ele, que os mais abandonados e, portanto, os menos respeitados, são os nossos compatriotas, que milhares e milhares de nossos irmãos vivem quase sem defesa da pátria, objeto de prepotências muitas vezes impunes sem o consolo de uma palavra amiga, então, confesso, o rubor sobe em meu rosto, sinto-me humilhado como padre e como italiano".
"A emigração - escreveu o bispo de Piacenza em 1887 - é um fato natural e providencial. É uma válvula de escape dada por Deus para esta sociedade conturbada. Em quase todos os casos, a emigração não é um prazer, mas uma necessidade incontornável. Sem dúvida, entre os emigrantes também há maus sujeitos, vagabundos e perversos: mas estes são o menor número. A imensa maioria, sem falar na totalidade dos que expatriados para ir para a longínqua América, não é desse temperamento; não fogem da Itália por aversão ao trabalho, mas porque não o têm e não sabem como viver e sustentar suas famílias".
Dois anos mais tarde, em 1889, escreveu: "Mas curando as feridas que afligem a emigração italiana, as leis, senhores, não bastam, porque algumas dessas pragas são inerentes à própria natureza da emigração, outras derivam de causas remotas que escapam ao controle das leis, e mesmo das melhores leis do mundo e seus inúmeros agentes. e perfeito, não viria a erradicar esses males. [...] É aqui, senhores, que deve começar o trabalho das classes dominantes, aqui onde termina o das leis e do governo. Qual caminho? Estudando e discutindo primeiro o grande problema da emigração, deixando as pessoas entrarem (e esta é a oração que dirijo aos dirigentes do movimento católico), como parte viva da ação das comissões regionais, diocesanas e paroquiais, esta que diz respeito ao bem religioso, econômico e a sociedade civil de muitos dos nossos infelizes irmãos, coletando subsídios, mesmo que materiais, em seu proveito, dissuadindo energicamente a emigração quando é reconhecida como desastrosa, defendendo-a de emboscadas e contratos maliciosos, enfim, cercando-a de todas aquelas ajudas religiosas e civis que servem para fortalecê-la contra os inimigos, compacto e quase invencível, pois a segurança de cada um neste caso passa a ser a segurança de todos".
Texto da página oficial da Prefeitura de Caxias do Sul
A Itália foi unificada muito tardiamente e precisou de um longo tempo para se consolidar como uma nação. Esta se iniciou em 1870, a somente cinco anos do início da grande emigração, quando o país se inseriu no projeto de industrialização, que já tinha sido implementado por muitos outros países europeus. O país chegava com atraso a época da industrialização e os pequenos agricultores não teriam muito espaço nesse novo contexto econômico no qual a máquina, gradualmente, foi substituindo o homem.
O sistema vigente no campo era até então o do arrendamento das terras, no qual se praticava um agricultura antiquada, ainda nos moldes do semi feudalismo, e nas comunidades rurais cada vez mais cresciam os problemas sociais e se tornavam um peso para as autoridades do país. Era uma agricultura era ainda de subsistência, onde o pequeno agricultor, que formavam a grande maioria da população italiana na época, não possuíam a propriedade das terras onde trabalhavam. Viviam em pequenas e antigas comunidades, pequenas vilas do interior e arrendavam dos grandes proprietários rurais acanhados lotes de terras já esgotadas.
Os agricultores italianos rapidamente ficaram tomaram conhecimento que no Novo Mundo a situação era totalmente diferente. No Brasil um país imenso e essencialmente agrícola, com grandes espaços desabitados, ainda cobertos por uma densa floresta nativa, devido a abolição da escravatura e do sucesso da cultura do café, estava precisando de mão-de-obra e passara a incentivar a chegada de emigrantes europeus para trabalharem nas extensas plantações dos estados de São Paulo e Espírito Santo.
O governo imperial brasileiro também estava necessitando de imigrantes agricultores para ocuparem as terras devolutas nos três estados do sul do país, grandes extensões de terras ainda improdutivas. Para tanto estava oferecendo gratuidade nas despesas de viagem para as famílias de imigrantes que quisessem se estabelecer. Para tanto já tinha iniciado um grande programa imigratório, com a criação de várias colônias, inicialmente no Rio Grande do Sul, depois nos outros dois estados Paraná e Santa Catarina.
Essas notícias se espalharam como fogo por toda a zona rural italiana e especialmente naqueles primeiros anos nas províncias do norte, especialmente, o Vêneto e a Lombardia. As notícias que o Brasil estava pagando todas as despesas de viagem até os diversos locais de trabalho, foram exaustivamente propagadas pela grande rede de agentes e sub agentes de emigração rapidamente criadas pelas companhias de navegação italianas, que não queriam perder aquela oportunidade para tirá-las da bancarrota.
Em um primeiro momento as lavouras de café absorveram a maior parte da grande leva de emigrantes italianos com destino ao Brasil. Nessas plantações eles eram assalariados ou contratados com direito a uma pequena porcentagem da colheita, mas não podiam comprar terras. Tinham uma rústica casa na grande propriedade e podiam plantar, entre as fileiras de pés de café, algumas culturas para a sua própria subsistência. Logo os imigrantes se deram conta que tinham saído de um sistema de quase escravidão na Itália, para cairem no Brasil a servir um grande proprietário sem a esperança de um dia chegarem a ser proprietários de um pedal de terra. Para os que que queriam abandonar a fazenda, eram proibidos de fazê-lo até o fim do contrato e do respectivo pagamento de todas as dívidas que haviam contraído com o patrão: alimentos, médico, remédios e outras despesas feitas pelo patrão até chegarem no Brasil.
Por outro lado, um número cada vez maior de imigrantes preferiu se transferir e se fixar nas colônias italianas do sul do Brasil, onde poderiam, desde a chegada aos seus lotes, serem os proprietários das suas terras. O acalentado sonho da propriedade e o enriquecimento rápido foram os principais atrativos para se dirigirem para os estados do sul.
Região da Quarta Colônia Italiana no Rio Grande do Sul |