Mostrando postagens com marcador imigração italiana no RS. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador imigração italiana no RS. Mostrar todas as postagens

segunda-feira, 13 de março de 2023

A Vida, as Doenças e a Morte nas Colônias Italianas do Rio Grande do Sul

 

Mercado da Praça Dante Alighieri na colônia Caxias na década 1890



A vida dos imigrantes italianos pioneiros no Rio Grande do Sul no final do século XIX era difícil e muitas vezes perigosa. Quando adoeciam, eles muitas vezes não tinham acesso a médicos ou hospitais, pois esses, quase inexistentes,  geralmente ficavam em cidades muito distantes da colônia onde o imigrante vivia, assim tinham que se virar sozinhos, contando com seus próprios meios para enfrentar as doenças.

Os imigrantes italianos, com algumas raras excessões, quase não tinham conhecimentos médicos e confiavam em remédios caseiros para tratar as doenças. Eles usavam plantas medicinais e outras técnicas de cura tradicionais para aliviar os sintomas e combater a doença. Alguns desses remédios caseiros eram baseados em tradições antigas da Itália, enquanto outros eram baseados em plantas e ervas encontradas na região do Rio Grande do Sul, práticas aprendidas com os negros, índios e caboclos brasileiros que viviam nas matas entorno da colônia.

Muito poucos imigrantes italianos tinham conhecimentos básicos de medicina, aprendidos através de experiências passadas ou de amigos e familiares que tinham adquirido algum conhecimento quando ainda na Itália. Eram geralmente os curadores, giustaossi e parteiras dessas comunidades. Alguns deles tinham aprendido com os pais e o dom, como chamavam, na verdade uma profissão passava de geração em geração como na tera de origem na Itália. Eles também tinham um profundo conhecimento de seus próprios corpos e prestavam atenção às mudanças de comportamento da sua saúde e muitas vezes sabiam quando algo estava errado. Quando ficavam doentes, recorriam a esses conhecimentos para tentar curar a si mesmos ou ajudar seus familiares.

No entanto, quando as doenças eram muito graves, os imigrantes italianos tinham que buscar ajuda fora da comunidade. Muitas vezes, isso significava viajar longas distâncias em cidades maiores para chegar a um médico ou hospital. Para muitos imigrantes, isso era um desafio, pois eles não tinham dinheiro suficiente para pagar pelos serviços médicos ou a viagem.

Nesses casos, os imigrantes italianos muitas vezes contavam com a ajuda de outras pessoas da comunidade. Os vizinhos se uniam para ajudar a transportar os doentes para os médicos ou hospitais mais próximos. Às vezes, eles até mesmo criavam um fundo comunitário para ajudar a pagar as despesas médicas.

Além disso, os imigrantes italianos muitas vezes dependiam de suas próprias habilidades para tratar os doentes. Eles tinham que ser criativos e encontrar soluções para os problemas de saúde. Por exemplo, em casos de ferimentos ou cortes, eles usavam plantas medicinais e outros remédios caseiros para aliviar a dor e ajudar a curar a ferida.

Para os imigrantes italianos, a morte era uma parte inevitável da vida. Quando alguém ficava muito doente, eles sabiam que a morte poderia estar próxima. Muitas vezes, a família e a comunidade se reuniam em torno do doente para oferecer conforto e apoio. Eles cantavam hinos e oravam juntos, pedindo a Deus por cura e proteção.

Quando a morte chegava, os imigrantes italianos tinham seus próprios rituais e tradições para lidar com a perda. Eles faziam o velório na própria casa e preparavam o corpo para o enterro. A comunidade se reunia para prestar homenagem ao falecido, cantando hinos e orando juntos. O corpo era então levado para a igreja local para uma missa de funeral e, em seguida, era enterrado no cemitério da comunidade.

Para os imigrantes italianos, a morte era uma oportunidade para reunir a comunidade e reforçar os laços entre as famílias. Eles acreditavam que a vida após a morte era uma continuação da vida terrena, e que os falecidos estavam em paz e ainda faziam parte da comunidade.

No entanto, a falta de assistência médica adequada significava que muitas doenças acabavam sendo fatais para os imigrantes italianos pioneiros. As condições de vida na época eram precárias, com falta de saneamento básico, falta de água potável e moradias precárias. Isso levava a um maior risco de infecções e doenças, especialmente em comunidades rurais isoladas como eram as colônias italianas no Rio Grande do Sul.

As doenças mais comuns na época eram a malária, a febre amarela, a varíola e a cólera. Muitas vezes, essas doenças eram transmitidas por mosquitos, ratos ou outros animais. A malária, por exemplo, era transmitida por mosquitos e era comum em áreas onde havia muitos pântanos e áreas úmidas.

Os imigrantes italianos também enfrentavam doenças relacionadas ao trabalho, como ferimentos e fraturas causadas por ferramentas agrícolas ou dores nas costas e problemas respiratórios causados pelo trabalho duro nos campos.

No entanto, mesmo com todas essas dificuldades, os imigrantes italianos pioneiros no Rio Grande do Sul continuaram a trabalhar duro e a construir uma vida melhor para suas famílias. Eles eram resilientes e criativos, encontrando maneiras de superar os desafios que enfrentavam todos os dias.

Eles produziam seus próprios alimentos, criavam animais para o leite e carne, construíam suas próprias casas e plantavam suas próprias hortas. Eles eram hábeis em todas as áreas da vida rural, desde a agricultura até a carpintaria e marcenaria, e tinham um profundo respeito pela terra e pelos recursos naturais.

A religião também desempenhava um papel importante na vida dos imigrantes italianos pioneiros. A grande maioria era de católicos e dependiam da fé e da igreja para encontrar conforto e orientação. No entanto, a falta de padres na região significava que eles não tinham acesso regular aos sacramentos, como a comunhão e a confissão.

Em muitos locais, a comunidade se unia para realizar missas e outros serviços religiosos, com a ajuda de padres leigos, mas isso não era sempre possível. Os imigrantes italianos também encontravam consolo na leitura da Bíblia e na oração, e muitas vezes realizavam serviços religiosos em casa.

Em resumo, a vida dos imigrantes italianos pioneiros no Rio Grande do Sul no final do século XIX era difícil e perigosa, especialmente quando se tratava de lidar com doenças e falta de assistência médica. No entanto, eles eram resilientes e encontravam maneiras criativas de enfrentar esses desafios, dependendo da ajuda de suas comunidades e de seus próprios conhecimentos e habilidades. Eles construíram uma vida melhor para suas famílias, baseada em sua habilidade para produzir seus próprios alimentos e recursos, e encontraram conforto e orientação na religião, apesar da falta de padres e recursos religiosos adequados.

A vida dos imigrantes italianos pioneiros no Rio Grande do Sul pode parecer difícil e distante da realidade moderna, mas seus esforços e sacrifícios contribuíram significativamente para a construção da cultura e da sociedade do estado. A presença italiana é vista e sentida até hoje em muitos aspectos da vida no Rio Grande do Sul, desde a arquitetura e a gastronomia até as tradições culturais e a religião.

Hoje, o estado conta com uma infraestrutura médica muito mais avançada e acessível do que a que existia na época dos imigrantes italianos pioneiros. No entanto, muitas comunidades rurais ainda enfrentam desafios quando se trata de acesso a cuidados médicos de qualidade, especialmente em regiões mais remotas. Ainda assim, os imigrantes italianos pioneiros nos deixaram um legado de resiliência, determinação e solidariedade que continua a inspirar gerações até hoje.

É importante lembrar que as histórias dos imigrantes italianos pioneiros no Rio Grande do Sul são apenas uma parte do mosaico da imigração no Brasil. Muitos outros grupos étnicos e culturais deixaram suas marcas no país, contribuindo para a diversidade e a riqueza da cultura brasileira.

A imigração é um processo complexo e muitas vezes doloroso, mas também pode ser uma oportunidade para começar de novo e construir uma vida melhor. Os imigrantes italianos pioneiros no Rio Grande do Sul são um exemplo disso, enfrentando desafios inimagináveis ​​e construindo uma vida nova e vibrante em uma terra inóspita e distante.

Eles deixaram suas casas e famílias em busca de uma vida melhor, enfrentando dificuldades e obstáculos ao longo do caminho. No entanto, eles também encontraram apoio e solidariedade em suas comunidades e, através de sua força e determinação, criaram uma nova vida para si mesmos e para suas famílias.

A história dos imigrantes italianos pioneiros no Rio Grande do Sul é uma história de perseverança, resiliência e coragem. É uma história que merece ser contada e lembrada, não apenas como um exemplo da luta dos imigrantes no Brasil, mas como uma lição de como podemos encontrar forças em tempos difíceis e construir um futuro melhor para nós mesmos e para os outros.

Texto 
Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS





segunda-feira, 27 de fevereiro de 2023

Missionários para os Emigrantes Italianos



Pelo menos até a segunda metade do século XIX, as intervenções promovidas pela Igreja italiana tanto pastoral, assistência moral e material aos emigrantes eram muito limitadas e, em geral, de caráter episódico e marginal. 

A sensibilidade inicial da Igreja italiana, diante do novo fenômeno emigratório, era muito pobre como um todo, o que o demonstra não apenas pela ausência de instituições e formas de coordenação específicas para fazer frente a esse grande problema, mas também pelas escolhas e orientações básicas expressas por uma grande parte do episcopado e do clero. 

Em um opúsculo intitulado Emigração italiana para a América

Observações de Giovanni Battista Scalabrini, bispo de Piacenza, publicadas em jornal em 1887, ele apresentou um quadro dramático da situação de abandono geral em que se encontravam os emigrantes italianos: 

"Eu os vejo aqueles pobres que desembarcaram em terra estrangeira, no meio de um povo que fala uma língua que eles não entendem, vítimas fáceis de especulações desumanas. Vejo-os molhando com seu suor e lágrimas um sulco ingrato, uma terra que exala miasmas pestilento, quebrado pelo cansaço, consumido pela febre, suspirando em vão pelo céu da pátria distante e pela miséria ancestral da pobre casa nativa, e finalmente sucumbindo sem que o arrependimento de seus entes queridos os consolasse, sem que a palavra de fé lhes mostrasse a recompensa que Deus tem prometido aos bons e aos infelizes. E aqueles que triunfam na luta rude pela existência, aqui estão eles, ai! Lá embaixo no isolamento, para esquecer por completo todas as noções sobrenaturais, todos os preceitos da moral cristã, e a cada dia perder o sentimento religioso, não alimentado pelas práticas de piedade, e deixar que os instintos brutais ocupem o lugar das mais altas aspirações. Diante de um estado de coisas tão lamentável, muitas vezes me pergunto: como remediá-lo? E toda vez que leio alguma circular do governo nos jornais que adverte as autoridades e o público contra as artes de certos especuladores, que na verdade atacam escravos brancos para empurrá-los, ferramentas cegas da ganância, longe da pátria com a miragem de ganhos fáceis e ricos; e quando de cartas de amigos ou de relatos de viagens noto que os párias dos emigrantes são italianos, que as profissões mais vis, embora possa haver covardia no trabalho, são exercidas por ele, que os mais abandonados e, portanto, os menos respeitados, são os nossos compatriotas, que milhares e milhares de nossos irmãos vivem quase sem defesa da pátria, objeto de prepotências muitas vezes impunes sem o consolo de uma palavra amiga, então, confesso, o rubor sobe em meu rosto, sinto-me humilhado como padre e como italiano". 

"A emigração - escreveu o bispo de Piacenza em 1887 - é um fato natural e providencial. É uma válvula de escape dada por Deus para esta sociedade conturbada. Em quase todos os casos, a emigração não é um prazer, mas uma necessidade incontornável. Sem dúvida, entre os emigrantes também há maus sujeitos, vagabundos e perversos: mas estes são o menor número. A imensa maioria, sem falar na totalidade dos que expatriados para ir para a longínqua América, não é desse temperamento; não fogem da Itália por aversão ao trabalho, mas porque não o têm e não sabem como viver e sustentar suas famílias". 

Dois anos mais tarde, em 1889, escreveu: "Mas curando as feridas que afligem a emigração italiana, as leis, senhores, não bastam, porque algumas dessas pragas são inerentes à própria natureza da emigração, outras derivam de causas remotas que escapam ao controle das leis, e mesmo das melhores leis do mundo e seus inúmeros agentes. e perfeito, não viria a erradicar esses males. [...] É aqui, senhores, que deve começar o trabalho das classes dominantes, aqui onde termina o das leis e do governo. Qual caminho? Estudando e discutindo primeiro o grande problema da emigração, deixando as pessoas entrarem (e esta é a oração que dirijo aos dirigentes do movimento católico), como parte viva da ação das comissões regionais, diocesanas e paroquiais, esta que diz respeito ao bem religioso, econômico e a sociedade civil de muitos dos nossos infelizes irmãos, coletando subsídios, mesmo que materiais, em seu proveito, dissuadindo energicamente a emigração quando é reconhecida como desastrosa, defendendo-a de emboscadas e contratos maliciosos, enfim, cercando-a de todas aquelas ajudas religiosas e civis que servem para fortalecê-la contra os inimigos, compacto e quase invencível, pois a segurança de cada um neste caso passa a ser a segurança de todos". 

Da mesma forma, em maio de 1900, Mons. Geremia Bonomelli estava entre os promotores, em Cremona, da Obra Assistencial para Italianos que Emigraram para a Europa e o Levante, denominado abreviadamente Opera Bonomelli, cujo objetivo era fornecer assistência material e religiosa aos emigrantes italianos na Europa e no Levante.

Foram justamente as alarmadas solicitações e os constantes pedidos emitidos não só por personalidades eclesiásticas da península, como Mons. Bonomelli e Mons. Scalabrini, mas também pelos episcopados dos países europeus e do continente americano, meta dos principais fluxos migratórios, a despertar nos papas e na cúria romana uma consciência mais aguda das dramáticas condições espirituais e materiais em que se encontravam os emigrantes italianos e da consequente necessidade de preparar formas de sensibilização e estratégias de intervenção a altura do desafio. 

Continua em outro post











quarta-feira, 29 de junho de 2022

Os Imigrantes Italianos nos Campos de Cima da Serra do RS

 

Colônia Caxias no ano de 1884



A expansão do capitalismo, no final do século XIX, foi o contexto sobre o qual desenrolou-se a história da imigração europeia para o Brasil e, mais especificamente, para o Rio Grande do Sul. Em território brasileiro, especialmente nas lavouras cafeeiras, os imigrantes europeus gradativamente substituíram a mão de obra escrava, que vinha tornando-se escassa e cara desde a abolição do tráfico com a África em 1850.

Em solo gaúcho, a política imigratória justificava-se pela necessidade de colonização e povoamento. A experiência positiva com a imigração alemã possibilitou o surgimento de novos núcleos coloniais que seriam ocupados por imigrantes italianos. Esses núcleos foram organizados na Encosta Superior do Nordeste, região formada por terras devolutas, delimitadas pelos Campos de Cima da Serra e pela região dos vales, de colonização alemã. A opção por esta área coube ao governo da província que, em 1869, decidiu pela ocupação do território mais tarde denominado Região Colonial Italiana.

A organização dos trabalhos coube a órgãos governamentais responsáveis pela identificação e exploração das terras, medição, demarcação e recepção dos imigrantes nas colônias. Nas sedes das colônias, a responsabilidade pelos trabalhos ficava a cargo da Diretoria da Colônia, subordinada à Inspetoria Especial de Terras e Colonização e, no caso do Rio Grande do Sul, sediada em Porto Alegre e esta, por sua vez, subordinada à Inspetoria Geral de Terras e Colonização do Rio de Janeiro.

A estrutura administrativa, prevista pela Lei de Terras de 1850 e legislação posterior, era mantida pelo trabalho de engenheiros, agrimensores, desenhistas, topógrafos, tradutores e escriturários e sustentou a criação na região da Serra Gaúcha, entre 1872 e 1875, de três colônias: Colônia Caxias, Colônia Dona Isabel (Bento Gonçalves) e Colônia Conde D'Eu (Garibaldi). A área compreendida por cada uma das colônias continha quatro léguas quadradas ou 174.200.000 metros, dividindo-se em lotes rústicos e lotes urbanos.

Estes lotes situavam-se dentro das denominadas Linhas ou Travessões, conhecidas como caminhos traçados no meio da mata, de seis a 13 quilômetros de extensão, que serviam como divisores dos lotes. Os travessões agrupados formavam as léguas. Contudo, nem todas as léguas possuíam o mesmo tamanho e a mesma quantidade de travessões, já que diferenciavam-se em decorrência da topografia dos terrenos.

Dentro dessas linhas e travessões, surgiam os lotes. Os denominados lotes rústicos ou rurais possuíam uma extensão, conforme a legislação, entre 22 e 25 hectares. Na prática, seu tamanho era ainda mais variado, tendo alguns lotes até 80 hectares. Mesmo assim, eram áreas pequenas se comparadas àquelas destinados aos imigrantes alemães e às extensas sesmarias do período colonial brasileiro. Valorizava-se, dessa forma, a formação da pequena propriedade rural, cuja principal força de trabalho era a familiar, destinada à produção de bens para subsistência e abastecimento do mercado interno. Os lotes eram pagos no prazo entre cinco e 15 anos.


Texto da página oficial da Prefeitura de Caxias do Sul

sábado, 30 de janeiro de 2021

A Imigração Italiana no Rio Grande do Sul



A Itália foi unificada muito tardiamente e precisou de um longo tempo para se consolidar como uma nação. Esta se iniciou em 1870, a somente cinco anos do início da grande emigração, quando o país se inseriu no projeto de industrialização, que já tinha sido implementado por muitos outros países europeus. O  país chegava com atraso a época da industrialização e os pequenos agricultores não teriam muito espaço nesse novo contexto econômico no qual a máquina, gradualmente, foi substituindo o homem. 

O sistema vigente no campo era até então o do arrendamento das terras, no qual se praticava um agricultura antiquada, ainda nos moldes do semi feudalismo, e nas comunidades rurais cada vez mais cresciam os problemas sociais e se tornavam um peso para as autoridades do país. Era uma agricultura era ainda de subsistência, onde o pequeno agricultor, que formavam a grande maioria da população italiana na época, não possuíam a propriedade das terras onde trabalhavam. Viviam em pequenas e antigas comunidades, pequenas vilas do interior e arrendavam dos grandes proprietários rurais acanhados lotes de terras já esgotadas. 




Os agricultores italianos rapidamente ficaram tomaram conhecimento que no Novo Mundo a situação era totalmente diferente. No Brasil um país imenso e essencialmente agrícola, com grandes espaços desabitados, ainda cobertos por uma densa floresta nativa, devido a abolição da escravatura e do sucesso da cultura do café, estava precisando de mão-de-obra e passara a incentivar a chegada de emigrantes europeus para trabalharem nas extensas plantações dos estados de São Paulo e Espírito Santo. 

O governo imperial brasileiro também estava necessitando de imigrantes agricultores para ocuparem as terras devolutas nos três estados do sul do país, grandes extensões de terras ainda improdutivas. Para tanto estava oferecendo gratuidade nas despesas de viagem para as famílias de imigrantes que quisessem se estabelecer. Para tanto já tinha iniciado um grande programa imigratório, com a criação de várias colônias, inicialmente no Rio Grande do Sul, depois nos outros dois estados  Paraná e Santa Catarina. 

Essas notícias se espalharam como fogo por toda a zona rural italiana e especialmente naqueles primeiros anos nas províncias do norte, especialmente, o Vêneto e a Lombardia. As notícias que o Brasil estava pagando todas as despesas de viagem até os diversos locais de trabalho, foram exaustivamente propagadas pela grande rede de agentes e sub agentes de emigração rapidamente criadas pelas companhias de navegação italianas, que não queriam perder aquela oportunidade para tirá-las da bancarrota. 

Em um primeiro momento as lavouras de café absorveram a maior parte da grande leva de emigrantes italianos com destino ao Brasil. Nessas plantações eles eram assalariados ou contratados com direito a uma pequena porcentagem da colheita, mas não podiam comprar terras. Tinham uma rústica casa na grande propriedade e podiam plantar, entre as fileiras de pés de café, algumas culturas para a sua própria subsistência. Logo os imigrantes se deram conta que tinham saído de um sistema de quase escravidão na Itália, para cairem no Brasil a servir um grande proprietário sem a esperança de um dia chegarem a ser proprietários de um pedal de terra. Para os que que queriam abandonar a fazenda, eram proibidos de fazê-lo até o fim do contrato e do respectivo pagamento de todas as dívidas que haviam contraído com o patrão: alimentos, médico, remédios e outras despesas feitas pelo patrão até chegarem no Brasil. 

Por outro lado, um número cada vez maior de imigrantes preferiu se transferir e se fixar nas colônias italianas do sul do Brasil, onde poderiam, desde a chegada aos seus lotes,  serem os proprietários das suas terras. O acalentado sonho da propriedade e o enriquecimento rápido foram os principais atrativos para se dirigirem para os estados do sul. 

No Rio Grande do Sul o governo imperial, e logo depois aquele da república brasileira e de cada província, criaram colônias nas regiões montanhosas do estado, pois, os campos já estavam ocupados com a criação intensiva de gado. O projeto imigratório foi iniciado com a criação de três núcleos colonizadores: Conde d'Eu (atual município de Garibaldi) Dona Isabel (futura cidade de Bento Gonçalves) e Caxias (atual Caxias do Sul). Logo em seguida foi criada a Colônia de Silveira Martins, conhecida como a quarta colônia italiana no Rio Grande do Sul. Com a chegada cada vez maior de imigrantes italianos o governo da província se viu obrigado de criar novas colônias, que rapidamente também ficaram lotadas: Antônio Prado, Alfredo Chaves (atual cidade de Veranópolis) e Guaporé.
Após aguardarem o período da quarentena na Ilha das Flores, no Porto do Rio de Janeiro, os colonos imigrantes eram colocados em outros navios menores, em direção a cidade de Porto Alegre onde ficavam temporariamente abrigados em grandes barracões ainda no porto de Rio Grande e Pelotas e, quando liberados para prosseguirem a viagem, seguiam a bordo de pequenos barcos a vapor navegavam pelo rio Guaíba, na Lagoa dos Patos, e depois continuavam subindo pelos rios Caí e Jacuí para desembarcarem em pequenos portos fluviais, mas, ainda muito longe dos locais onde seriam definitivamente assentados. Ainda precisavam muitos dias de difícil caminhada, subindo a serra, a pé e em carroções puxados por juntas de bois, acompanhados por agentes do governo abrindo as picadas com facões. Estavam destinados a colonizarem a região mais alta do estado e a produzirem gêneros de primeira necessidade para abastecer a crescente população da capital da província.

Na fase inicial da imigração, entre 1875 até o começo da I grande guerra mundial em 1914, foram introduzidos aproximadamente 100 mil imigrantes italianos no Rio Grande do Sul. 

No Paraná inicialmente foram criadas duas colônias italianas na cidade litorânea de Morretes, cidade vizinha ao Porto de Paranaguá por onde chegavam os imigrantes provenientes da Itália. Essas colônias duraram pouco tempo devido aos problemas de administrativos, a falta de um grande centro consumidor para absorver os produtos colhidos, e também, pelo clima quente e úmido do litoral que não foi de agrado dos recém chegados. Em dois anos após a chegada os imigrantes conseguiram se transferir para novas colônias nos arredores da capital paranaense, onde o clima era excelente e as terras muito férteis. Muitas outras colônias de imigrantes italianos ou mistas, foram criadas no Paraná, e todas elas floresceram e de deram o nascimento de grandes cidades, com excessão da Colônia Cecília, na cidade de Palmeira, onde se assistiu uma tentativa falida de colonização anarquista. Em Santa Catarina também foram criadas inúmeras colônias, algumas somente de imigrantes italianos e outras mistas. A imigração de tiroleses e trentinos, predominaram nesse estado. 

Pela Lei de Terras, promulgada em 1850 pelo então governo imperial brasileiro, as glebas devolutas que pertenciam ao governo, poderiam ser comercializadas. Nesse sentido que as colônias de imigração foram demarcadas em lotes de 250 metros de frente e 1000 ou 1200 metros de fundo, um verdadeiro latifúndio para aqueles pequenos agricultores acostumados, na Itália, a trabalharem em pequenos lotes de terra. Essas propriedades o imigrante podia adquirir mediante financiamento do governo, estendido em prazos de até cinco anos para o pagamento. Para se tornar proprietário a única exigência era a ocupação imediata e o consequente início da produção, gerando para eles os dividendos que seriam usados para a quitação da dívida com o governo. As densas matas foram aos poucos sendo derrubadas dando lugar à plantações de culturas variadas, onde a mão-de-obra familiar era empregada em todo o processo da produção. Enquanto que na Itália onde viviam, devido a total falta de recursos, os pequenos agricultores não tinham condições de ser os donos da terra, no Rio Grande do Sul, os imigrantes foram favorecidos pelos financiamentos a longo prazo do governo em prestações compatíveis e tornaram-se proprietários da tão sonhada terra, e isso com relativa facilidade. Para os imigrantes o descaso do governo italiano para com os pequenos produtores rurais, contrastava com o empenho das autoridades do governo federal brasileiro e das províncias do Rio Grande do Sul e Paraná para criarem toda a infraestrutura necessária para o projeto de imigração.




Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS






terça-feira, 21 de agosto de 2018

O início da 4ª Colônia Italiana no Rio Grande do Sul



O início da 4ª Colônia Italiana no Rio Grande do Sul

Após o êxito alcançado com as três primeiras colônias italianas no RS: Conde D´Eu, Dona Isabel e Caxias, o governo provincial da Província de São Pedro do Rio Grande do Sul passou a criação da Colônia de Silveira Martins, vizinha a cidade de Santa Maria, depois conhecida como 4º Colônia. 
A primeira leva de imigrantes italianos, composta poraproximadamente 100 famílias, chegou a esta colônia por volta da primavera de 1877, ficando hospedados no Barracão de Val de Buia. 
A chegada dessa primeira leva coincidiu com a saída as pressas dos imigrantes eslavos – russos e poloneses – que abandonavam o local para se dirigirem a Porto Alegre com destino ao Paraná. Esses emigrantes não resistiram às precárias condições do barracão e tendo ceifadas muitas vidas, devido várias epidemias, decidiram abandonar definitivamente as instalações. 
Logo vieram as demais levas de italianos e vênetos provenientes de Porto Alegre, os quais subindo o rio Jacuí desembarcavam em Rio Pardo e, depois de um sem número de sofrimentos, a pé e em carroças de bois, alcançaram o local onde se encontrava o barracão que os devia hospedar temporariamente em Val de Buia, até a demarcação final dos lotes pela Comissão do Governo Imperial. 


Região da Quarta Colônia Italiana no Rio Grande do Sul

Devido o moroso trabalho dessa comissão de demarcação e a sempre contínua chegada de novos imigrantes, que compunham as demais levas, o número daquela população rapidamente atingiu a cifra de aproximadamente 1000 pessoas, que era a soma das quatro levas que esperavam a sua colocação nos lotes a eles destinados. 
O chamado barracão, que devia hospedar os recém-chegados, nada mais era que um pavilhão de grandes proporções, sem divisórias internas, sem privacidade, construído em madeira bruta lascada, coberto por folhas de palmeira, com muitas frestas nas paredes e chão de terra batida. A promiscuidade, a falta de higiene e a péssima alimentação disponível serviram de combustível que fez eclodir no local uma violenta, rápida e letal epidemia de doença infectocontagiosa, aproximadamente entre Maio e Julho de 1878. Em pouco tempo as mortes já se sucediam num ritmo tão rápido que já não dava mais tempo para a confecção de caixões que proporcionasse um enterro digno. Muitas foram as famílias vênetas atingidas, algumas chegando a perder quase todos os seus membros. Acredita-se, de acordo com historiadores, que tenham morrido no local, em poucas semanas, mais de 300 imigrantes.

Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS