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segunda-feira, 23 de setembro de 2024

A Cruz no Caminho


A Cruz no Caminho


Nas terras férteis e ainda selvagens da Colônia Dona Isabel, no coração do Rio Grande do Sul, a vida dos imigrantes italianos era marcada por um misto de esperança e sacrifício. Vindos de uma Itália assolada pela pobreza e pela falta de perspectivas, esses bravos homens e mulheres se agarravam a uma única certeza: a fé. Para muitos, era a fé que os sustentava diante das adversidades de uma terra desconhecida, repleta de desafios que testavam a força de suas convicções.
Fioravante, um homem robusto de mãos calejadas e olhar penetrante, estava de joelhos diante da pequena capela que ele mesmo ajudara a erguer. A capela, construída com madeira bruta retirada das florestas ao redor, era um refúgio sagrado para toda a comunidade. Era ali, entre as paredes simples, que as famílias se reuniam aos domingos, compartilhando não apenas suas preces, mas também suas histórias de lutas e saudades.
Ao lado de Fioravante, Maddalena, sua esposa, murmurava suas orações. Os olhos castanhos, sempre calmos, agora estavam úmidos. Maddalena trazia no peito um terço de contas de madeira, presente de sua mãe antes de deixarem a Itália. Aquela relíquia, simples em sua forma, era para ela um símbolo de proteção, algo que a conectava com a terra distante e com as tradições que tanto prezava.
O pároco local, Padre Giovanni, observava sua pequena congregação. Era um homem de estatura mediana, cabelos grisalhos e uma voz que transmitia serenidade. Havia chegado à colônia pouco tempo depois dos primeiros imigrantes, e desde então, dedicara sua vida a guiar espiritualmente aquele povo. Para ele, a fé era o alicerce da comunidade. Em suas homilias, repetia que Deus havia trazido todos para aquela terra promissora e que, apesar das dificuldades, não os abandonaria.
Os desafios, no entanto, eram muitos. O solo, ainda coberto de matas densas, exigia um esforço hercúleo para ser cultivado. As noites eram longas e frias, e a solidão se tornava palpável na vastidão daquela terra desconhecida. Muitos sentiam saudades dos parentes deixados para trás e das vilas italianas que outrora chamavam de lar. Nessas horas, a capela se tornava um lugar de encontro, onde os lamentos e as alegrias eram compartilhados como uma forma de aliviar os corações.
Um dos membros mais fervorosos da comunidade era Antonella, uma viúva que perdera o marido durante a travessia do Atlântico. Sozinha com dois filhos pequenos, Antonio de 9 anos e Fiorinda de 6, Antonella enfrentava a dureza da vida com uma coragem que poucos possuíam. Muitos se perguntavam por que ela não havia retornado à Itália após a morte do marido, mas aqueles que a conheciam sabiam que ela ficava por causa dos filhos. Era para garantir um futuro para eles que ela permanecia, resistindo às dificuldades com uma força que parecia vir de sua devoção inabalável.
Todos os dias, sem exceção, Antonella se dirigia à capela para rezar, pedindo por forças para continuar. Antonio e Fiorinda a acompanhavam, aprendendo desde cedo o valor da fé e da comunidade. Antonella era conhecida por seu espírito generoso, sempre disposta a ajudar os outros, especialmente aqueles que, como ela, lutavam para manter suas famílias unidas e seguras. Para ela, a religião não era apenas uma prática, mas uma fonte inesgotável de conforto e esperança.
Certo dia, uma forte tempestade abateu-se sobre a colônia. Os ventos uivavam e as águas corriam furiosas pelos barrancos. As pequenas casas de madeira tremiam sob a força da natureza. Nessa noite, muitos dos colonos se refugiaram na capela, implorando pela proteção divina. Fioravante e Maddalena estavam entre eles, abraçados, sentindo o calor das velas e ouvindo as palavras tranquilizadoras de Padre Giovanni.
Após a tempestade, um arco-íris apareceu no céu, como um sinal de renovação. Os colonos se entreolharam, e muitos choraram, agradecendo a Deus por terem sido poupados. A fé, mais uma vez, havia mostrado seu poder de união e fortalecimento. Naquele instante, a capela se tornou mais que um simples edifício; transformou-se no símbolo da resistência e da espiritualidade de um povo.
Mas nem todos os desafios eram tão visíveis quanto as tempestades. A comunidade também enfrentava dificuldades de adaptação às novas condições de vida, ao clima diferente e às doenças que surgiam. A malária, em especial, foi uma inimiga cruel, levando muitos ao leito de morte. A cada funeral, a capela se enchia de luto e orações. Padre Giovanni realizava os ritos com uma tristeza visível nos olhos, mas sempre lembrava que a alma dos fiéis estava em boas mãos.
Um dia, Fioravante recebeu uma carta da Itália, uma das poucas que conseguira chegar à colônia. Era de sua mãe, uma mulher já idosa, que lamentava a distância e expressava sua saudade. Fioravante, com o coração apertado, leu a carta em voz alta para Maddalena. Depois, ambos se dirigiram à capela, onde acenderam uma vela e rezaram por sua família distante. A fé, naquele momento, era o único elo tangível entre eles e sua terra natal.
O tempo passou, e as colheitas começaram a melhorar. Aos poucos, a terra respondia ao esforço incansável dos colonos. A pequena capela, agora adornada com flores e velas, tornou-se o centro de celebrações de colheita, casamentos e batismos. Cada evento era uma reafirmação da vida, uma lembrança de que, apesar das adversidades, a comunidade seguia em frente.
No entanto, uma tragédia inesperada abalou a colônia. Antonella, a viúva devota que tanto havia lutado por seus filhos, foi encontrada sem vida em sua casa. A notícia se espalhou rapidamente, e a comunidade ficou devastada. O velório, realizado na capela, foi marcado por lágrimas e orações. Padre Giovanni, ao realizar a última missa em sua memória, destacou a importância de manter a fé, mesmo diante da morte.
Antonio e Fiorinda, ainda crianças, ficaram sob os cuidados de vizinhos e amigos. A comunidade, movida pela compaixão e pela solidariedade, se uniu para garantir que eles tivessem um lar e o apoio necessário. Para Fioravante e Maddalena, a perda de Antonella foi um lembrete doloroso da fragilidade da vida. Mas também foi um momento de reflexão sobre a importância de sua própria fé e da comunhão com os outros. A partir daquele dia, eles se dedicaram ainda mais à capela e à comunidade, acreditando que a espiritualidade coletiva era a chave para superar qualquer obstáculo.
Com o tempo, a colônia cresceu e prosperou. Novas famílias chegaram, atraídas pelas notícias de terras férteis e oportunidades. A capela, no entanto, permaneceu como o centro espiritual, o lugar onde todos se reuniam para agradecer e pedir por dias melhores. Padre Giovanni, mesmo envelhecido, continuava a guiar seu rebanho com a mesma dedicação de sempre. Ele sabia que a fé daqueles imigrantes era a fundação sobre a qual se erguia toda a comunidade.
Antonio e Fiorinda cresceram sob os cuidados dos vizinhos, sempre amparados pelo carinho e pela solidariedade da colônia. Fioravante e Maddalena se tornaram como pais para eles, oferecendo não apenas abrigo, mas também amor e orientação. Naqueles anos, a capela foi palco de muitos eventos que marcavam a vida dos colonos: casamentos, batismos e até festas que celebravam as colheitas abundantes que a terra agora lhes concedia.
Mesmo diante das muitas provações, a pequena comunidade italiana floresceu na Colônia Dona Isabel. A cada nova conquista, por menor que fosse, os colonos se reuniam na capela para agradecer. Aquela cruz no caminho que os trouxe até ali, que tanto significava, agora simbolizava a vitória sobre o passado de dificuldades e a esperança em um futuro promissor.
Fioravante e Maddalena, junto com Antonio e Fiorinda, tornaram-se exemplos de fé e perseverança, sempre lembrando a todos que, embora longe de sua terra natal, estavam unidos por algo ainda mais forte: a fé em Deus e a crença na força da comunidade.
A história desses imigrantes, marcada por sacrifícios e superação, ficou para sempre gravada nas paredes daquela capela, que testemunhou a construção de uma nova vida em solo estrangeiro. E assim, a fé que os sustentou desde o primeiro dia continuou a guiá-los por muitos anos, até que novas gerações tomaram seu lugar, sempre lembrando-se das raízes plantadas com tanto amor e devoção.


segunda-feira, 9 de setembro de 2024

A Luz da Fé: Sob o Céu do Novo Mundo



A Luz da Fé: Sob o Céu do Novo Mundo


Em 1876, na recém-criada Colônia Caxias, no Rio Grande do Sul, as primeiras famílias italianas chegavam em grandes grupos após uma longa e árdua travessia do oceano. Vindos do norte da Itália, predominantemente das regiões do Vêneto e Lombardia, esses imigrantes chegaram em busca de um futuro melhor. No entanto, logo perceberam que a nova terra, embora cheia de promessas, apresentava desafios imensos, muito maiores do que haviam imaginado. Entre esses desafios, a saudade dos entes queridos, da pátria e a ausência de estruturas essenciais, como o conforto da presença de um sacerdote, tornavam-se questões centrais para aqueles católicos devotos.
Giuseppe, um homem de meia-idade, casado, pai de uma família de quatro filhos, oriundo do Vêneto, destacava-se entre os colonos. Com o rosto marcado pelo tempo e as mãos calejadas pelo trabalho, ele carregava consigo mais do que as poucas posses que restaram após a travessia. Giuseppe trazia a memória das tradições e a fé inabalável que aprendera com seus antepassados.
Logo nos primeiros dias, a comunidade começou a sentir a ausência de um sacerdote, do conforto espiritual que a religião lhes proporcionava, algo inédito para aqueles que sempre encontraram refúgio e esperança na fé. Esta que sempre fora o alicerce de suas vidas, parecia ameaçada pela distância e pela ausência de um líder espiritual. Em uma reunião do pequeno grupo, Giuseppe foi procurado pelos outros imigrantes para assumir essa liderança espiritual.
Numa manhã de domingo, em uma clareira aberta na mata densa, as famílias se reuniram para o primeiro grupo de oração conduzido por Giuseppe. Homens, mulheres e crianças se agruparam em silêncio, com os olhos voltados para aquele homem simples que, com um livro de orações numa mão e um terço na outra, tomou a frente e começou a cerimônia. A ausência de um altar foi sentida, mas a simplicidade do local não diminuiu a devoção. Giuseppe foi uma criança frágil, magro e frequentemente acometido por ataques de bronquite. Seu pai, percebendo sua condição debilitada, dispensou-o dos trabalhos pesados na roça e traçou um plano diferente para seu futuro: mais tarde enviá-lo para um seminário. Assim, devido ao seu estado de saúde, Giuseppe pôde frequentar os quatro anos do ensino primário, onde aprendeu a ler e escrever. Desde cedo, dedicou-se a ajudar o pároco de sua pequena cidade natal, participando ativamente das missas, celebrações e diversas outras atividades religiosas, demonstrando uma profunda devoção e interesse pelas práticas da fé. Agora, trazendo consigo essas memórias e conhecimentos, ele conduzia as orações na colônia, com uma voz serena que, embora não fosse imponente, carregava a profundidade de sua devoção e a força de um coração repleto de fé.
Com o passar dos meses, Giuseppe continuou a liderar as práticas religiosas. Os grupos de oração ao ar livre tornaram-se um ritual sagrado, uma reafirmação da fé que os mantinha unidos. As reuniões eram mais do que momentos de oração; eram o alicerce da vida comunitária, onde se discutiam problemas do dia a dia, compartilhavam-se alegrias e tristezas, e se criava um senso de comunidade em meio ao isolamento.
A fé, em sua ausência física de um sacerdote, tornou-se ainda mais essencial. Ela era a chama que iluminava o caminho daqueles que estavam longe de casa, mas nunca longe de Deus. Um dia, a morte visitou a Colônia Caxias. Uma das crianças, acometida por uma doença súbita, não resistiu. A tragédia abalou profundamente a comunidade. Mais uma vez, Giuseppe assumiu a liderança, preparando a cerimônia fúnebre e oficiando as rezas como o pároco fazia na Itália, mas agora em terras estrangeiras.
No pequeno cemitério improvisado, as famílias se reuniram em volta da sepultura. Giuseppe, com lágrimas nos olhos, proferiu palavras de consolo e esperança, recordando a todos que, apesar da dor, a fé era a única coisa que nunca deveriam perder. A fé era o elo que os mantinha conectados, não apenas uns aos outros, mas também à terra que deixaram para trás e ao Deus que nunca os abandonaria.
Com o tempo, a comunidade se fortaleceu. As primeiras colheitas trouxeram um alívio modesto, mas significativo, para as necessidades diárias. A cada domingo, o grupo de oração conduzido por Giuseppe era uma reafirmação da vida que todos estavam construindo juntos, com suor, lágrimas e fé. Quando finalmente um sacerdote chegou à colônia, a importância de Giuseppe na vida espiritual da comunidade não diminuiu. Ele continuou a ser a alma daquela gente, o homem que, com fé e coragem, manteve a chama viva quando tudo parecia sombrio.
A história de Giuseppe e da Colônia Caxias é um exemplo da força indomável da fé. É a história de um povo que, mesmo diante das adversidades, encontrou na religiosidade um porto seguro, um refúgio onde podiam renovar suas forças para enfrentar os desafios do novo mundo. Sob o céu do Rio Grande do Sul, a fé continuou a iluminar o caminho daqueles que, como Giuseppe, jamais perderam a esperança.


quinta-feira, 29 de agosto de 2024

Raízes de Esperança



O ano era 1875, e a Itália, bela em suas paisagens, estava ferida por crises econômicas e sociais. A pequena vila de Montebello, na região de Vêneto, sentia os efeitos dessa realidade. Era uma terra de vinhedos antigos, mas a promessa de prosperidade já não mais sustentava suas gentes.
Giuseppe, um homem de trinta e cinco anos, de olhar firme e mãos calejadas pelo trabalho na terra, decidiu que era hora de partir. Ao lado de sua esposa, Maria, e seus dois filhos, Enzo, de oito anos, e Sofia, de cinco, Giuseppe tomou a difícil decisão de deixar sua terra natal. Seus pais o aconselharam a ser corajoso, a confiar no futuro, mas as palavras pesavam como chumbo em seu coração.
A travessia do Atlântico foi longa e dolorosa. A bordo de um navio abarrotado de sonhos e incertezas, a família enfrentou tempestades e o medo do desconhecido. Giuseppe passava as noites acordado, segurando a mão de Maria, enquanto ela consolava as crianças, que choravam de saudade e fome. O futuro parecia uma promessa distante, mas a fé os mantinha de pé.
Quando finalmente avistaram terra, após meses de viagem, a família estava exausta. O Brasil os recebeu com um calor que contrastava com o frio que sentiam em suas almas. Chegaram, depois de mais algumas semanas de viagem, à Colônia Conde d’Eu, um pequeno aglomerado de barracos de madeira e terra batida, cercado por uma densa mata virgem. Giuseppe olhou para aquele cenário com uma mistura de alívio e desespero. Era terra nova, mas o trabalho seria árduo.
Giuseppe logo se pôs a trabalhar. Ele e os outros colonos desbravavam a mata, abrindo caminho para as futuras plantações de parreiras cujas mudas haviam trazido da cidade natal. A terra era fértil, mas o isolamento era cruel. As distâncias entre as casas eram enormes, e o silêncio da mata parecia engolir os sons da vida. A saudade da Itália, dos pais, dos amigos, era uma dor constante no peito de Giuseppe e Maria.
As noites eram frias, e o vento assobiava nas frestas das casas mal construídas. Os filhos sentiam falta das brincadeiras no pátio da velha casa em Montebello, agora substituído por um mundo de incertezas. Mas Giuseppe e Maria continuavam a lutar, dia após dia, acreditando que estavam construindo um futuro melhor para seus filhos.
Depois de anos de trabalho duro, finalmente chegou o momento da primeira colheita. Giuseppe sentiu um orgulho imenso ao olhar para as vinhas carregadas de uvas maduras. Ele sabia que aquele era o começo de uma nova vida para sua família. Com a ajuda de outros colonos, começaram a produzir o vinho, seguindo as técnicas que haviam aprendido na Itália.
O primeiro vinho produzido na colônia foi um marco. Era um vinho simples, mas carregado de significados. Para Giuseppe, cada gota daquele líquido representava o suor de seu trabalho, as lágrimas de sua esposa, e a esperança de seus filhos. Quando o vinho ficou pronto, os colonos se reuniram para celebrar. Era uma noite estrelada, e as risadas ecoaram pela colônia, afastando a solidão e a tristeza que tantas vezes os haviam visitado.
Naquela noite, Giuseppe brindou com os outros colonos, olhando para Maria e os filhos. Ele sabia que ainda havia muito a fazer, mas pela primeira vez desde que chegara ao Brasil, sentiu que haviam encontrado seu lugar no mundo.
Os anos passaram, e a colônia começou a crescer. Novos imigrantes chegaram, trazendo consigo novas esperanças e desafios. As casas de madeira foram substituídas por construções mais sólidas, e as plantações se expandiram. Mas com o progresso, vieram também os desafios.
As doenças eram uma ameaça constante. A febre e a malária ceifaram vidas, e os médicos eram raros na região. Maria se dedicou a cuidar dos doentes, usando os conhecimentos de ervas que havia aprendido com sua avó na Itália. Ela se tornou uma referência na comunidade, uma mulher de força e compaixão que todos respeitavam.
Sofia, agora uma jovem mulher, ajudava a mãe no cuidado dos doentes, enquanto Enzo seguia os passos do pai na vinícola. O vinho produzido por Giuseppe começou a ganhar fama na região, e ele sonhava em um dia ver seu nome associado aos melhores vinhos do Brasil.
Mas os tempos de dificuldade não haviam terminado. Uma praga devastadora atingiu as vinhas, ameaçando destruir tudo o que haviam construído. Giuseppe lutou com todas as suas forças para salvar as plantações, mas o futuro parecia incerto. A família se uniu ainda mais, enfrentando as adversidades com coragem e determinação.
Após anos de luta, o progresso finalmente chegou à colônia Conde d’Eu. As estradas foram abertas, facilitando o transporte dos vinhos para outras regiões do Brasil. Giuseppe, com sua visão e determinação, decidiu investir na produção de espumantes, uma bebida que começava a ganhar popularidade no país.
A primeira produção de espumante foi um sucesso. O espumante de Giuseppe se tornou conhecido em todo o Brasil, e a colônia começou a prosperar. A família se tornou uma referência na produção de vinhos e espumantes, e Giuseppe viu seu sonho se realizar.
Enzo, agora um homem feito, assumiu a responsabilidade pela vinícola, trazendo novas ideias e técnicas que aprendeu em suas viagens pela Itália. Sofia se casou com um imigrante italiano, também envolvido na produção de vinhos, e juntos começaram uma nova família.
Maria, sempre ao lado de Giuseppe, viu seus filhos crescerem e prosperarem, e sentiu que todos os sacrifícios haviam valido a pena. Ela e Giuseppe envelheceram juntos, olhando para as colinas cobertas de vinhedos, sabendo que haviam construído algo duradouro, algo que passaria para as próximas gerações.
O ano era 1900, e a colônia Conde d’Eu, agora conhecida como Garibaldi, havia se transformado em um próspero município. As ruas eram repletas de vida, e as cantinas de vinho eram famosas em todo o Brasil. O espumante produzido pela família de Giuseppe era apreciado em festas e celebrações, um símbolo do sucesso dos imigrantes italianos que haviam desbravado aquela terra desconhecida.
Giuseppe, agora com sessenta anos, olhava para tudo o que haviam conquistado com um misto de orgulho e nostalgia. Ele sabia que, sem a coragem de partir, sem a força de sua esposa, sem a determinação de seus filhos, nada daquilo teria sido possível. O nome de sua família estava gravado na história de Garibaldi, e ele sabia que seu legado perduraria.
Em uma noite estrelada, muito parecida com aquela primeira colheita, Giuseppe reuniu sua família e os amigos mais próximos para um brinde. Eles ergueram suas taças, cheias do espumante que havia se tornado o orgulho de Garibaldi, e brindaram ao futuro. Um futuro que, apesar das dificuldades, prometia ser brilhante, como as estrelas que iluminavam o céu acima da colônia.
Garibaldi, a capital brasileira do espumante, é hoje um símbolo de perseverança e sucesso. Os descendentes dos imigrantes italianos continuam a produzir vinhos e espumantes de renome, mantendo viva a tradição que Giuseppe e sua família começaram há mais de um século.
As vinícolas de Garibaldi são um legado da coragem daqueles que, em 1875, decidiram deixar tudo para trás em busca de uma nova vida. E em cada garrafa de espumante, em cada taça erguida, vive a história de uma família que construiu, com amor e suor, um novo lar no sul do Brasil.



quinta-feira, 11 de abril de 2024

Fuga tra le Dolomiti: L'Epica Odissea di Matteo - Capitolo 3


Fuga tra le Dolomiti: L'Epica Odissea di Matteo

La vita è una sola e dobbiamo cercare di viverla appienoe


Capitolo 3 


Di imponente statura e abituato fin dall'infanzia a sfidare i capricci del clima, il vigoroso corpo del viaggiatore, spinto da agili passi, resisteva al freddo che si insinuava. In quel momento, il gelido non trovava spazio per infiltrarsi, respinto dai contorni atletici del viaggiatore. Mentre procedeva, la sua mente, un ingranaggio prodigioso, girava velocemente, risvegliando ricordi di un'infanzia legata alle pendici di maestose montagne. La sua terra natale, un piccolo villaggio di montagna, si rivelava nei ricordi come una cartolina ingiallita, con le sue scarse abitazioni di legno e pietra che circondavano una modesta chiesa, lo scenario sacro dove i suoi genitori avevano scambiato voti più di quattro decenni prima. Lì, nelle acque battezzate dalla stessa chiesa, lui e i suoi cinque fratelli avevano ricevuto i loro nomi. Il più giovane di una numerosa prole, quattro uomini e due donne, tutti tranne lui già immersi nelle responsabilità della vita coniugale e nella creazione dei propri figli. La sua famiglia si era radicata in quelle terre, coltivando il suolo come un'eredità ancestrale. Tre dei suoi fratelli avevano costruito case nello stesso villaggio, mentre gli altri, in località limitrofe, sostenevano la tradizione agricola tramandata dagli antenati. In quel mosaico di legami familiari e tradizioni rurali, una constatazione lo colse con un pizzico di sorpresa: tra i suoi, era l'unico a spezzare le catene di quel luogo. La sua fuga dalle strettoie del villaggio era dovuta alla sua innata curiosità e all'amore appassionato per i libri, un dono raro del vecchio maestro che, di tanto in tanto, saziava la sua sete di conoscenza. Fu proprio questo maestro che, con saggezza, gli aprì la strada per entrare in una scuola di formazione religiosa, un'opportunità unica per un ragazzo di dodici anni. Così, con una valigia piena di sogni e al fianco di un giovane compaesano, si lanciarono nell'ignoto, verso un collegio in città. Ricordò l'addio, uno spettacolo di emozioni trattenute, soprattutto perché sentiva che quella partenza segnava un addio alla casa paterna. La madre, già malata in quel periodo, si congedò da lui con un sorriso malinconico che nascondeva la tristezza sottostante. Lei capiva che quel percorso era necessario per lui, l'ultima occasione di sfuggire ai limiti prestabiliti di quel villaggio apparentemente senza orizzonti. Così, le lacrime trattenute negli occhi materni echeggiavano la rassegnazione e la speranza, perché lei sapeva che quella strada era la bussola che avrebbe guidato suo figlio al di là dei confini prevedibili di quelle montagne. Con la madre che svaniva nel passato, il giovane esploratore si gettò nei corridoi dell'istruzione formale, portando con sé non solo l'eredità della famiglia, ma anche una promettente fiamma interiore, alimentata dalla conoscenza e dalla promessa di un destino unico. Le radici profonde della montagna continuavano a esercitare la loro influenza, ma, come un seme portato dal vento, lui partì, cercando nuovi orizzonti che solo i tomi rilegati e i brucianti desideri potevano offrire. In quell'addio, tra i sospiri del passato e i sussurri del futuro, divenne l'araldo di un percorso straordinario, spezzando il destino tracciato dalla sua discendenza, scrivendo le sue stesse pagine sulle ancora inesplorate foglie del suo libro di vita. Immerso nelle trame del passato, mentre attraversava la densità della foresta, si vide improvvisamente strappato dai suoi ricordi da uno spavento così repentino da proiettarlo di nuovo nella cruda realtà. L'ombra della pattuglia, che aleggiava nella sua mente come una minaccia costante, lo colse, e, in un riflesso istintivo, si gettò a terra, cercando rifugio dietro a un imponente tronco caduto. Tuttavia, la furia sonora che lo aveva strappato dalla sua introspezione non era che un capriccio della natura: rami di un albero dal tronco robusto caddero, trascinando con sé appendici di altri alberi, creando il fragore che echeggiò nella solitudine della foresta. Lo spavento, seppur effimero, servì come un vigoroso richiamo alla sua consapevolezza, risvegliandolo alla necessità di essere vigile sul suo entorno. La percezione acuta che la notte si avvicinava portò con sé l'urgenza di trovare rifugio. Il freddo, intensificato dall'impeto del vento proveniente dall'ovest, lo spinse a prendere precauzioni immediate. Negli ultimi istanti di luminosità, identificò una imponente roccia e alcuni rami sporgenti, da cui costruì una rudimentale capanna. Con maestria improvvisata, la rivestì con foglie abbondanti sul terreno. Strategicamente, costruì il rifugio sul lato opposto alla pietra, contrastando l'impeto del vento crudele. Lì, tra il riparo improvvisato e il mormorio della natura notturna, si preparò ad affrontare un'altra notte, rifugiandosi nella fugacità del rifugio che aveva scolpito con le sue stesse mani. Estenuato, si abbandonò al sonno, immergendosi in un turbine di sogni e incubi che si susseguivano incessantemente. Immagini veloci della sua fuga e della casa paterna danzavano davanti ai suoi occhi chiusi. Si svegliò più volte nella notte, e quasi all'alba, sotto le prime luci che tingevano l'orizzonte, notò che il vento aveva perso la sua furia, cedendo il posto a una nevicata implacabile, dove i fiocchi bianchi diventavano padroni del paesaggio. Accoccolato sopra lo strato generoso di foglie secche che aveva improvvisato come letto e coperta, sperimentò una sensazione di protezione, un fugace rifugio nella tempesta del suo viaggio. Conosceva intimamente quella regione montuosa, simile alle terre dove aveva vissuto fino ai dodici anni, prima di varcare le porte del seminario. Nei tempi passati, insieme al padre e ai fratelli, esplorava i sentieri tra le montagne, guidando le mucche nei pascoli nascosti tra gli alberi. Era consapevole che in quei terreni accidentati esistevano rifugi, santuari eretti per la salvezza dei montanari colti di sorpresa in mezzo a una tempesta di neve improvvisa e implacabile. Nutriva la speranza di trovare quei rifugi, fari di salvezza nella vastità imprevedibile della montagna.


Passaggio del libro 'La Fuga dei Dolomiti' di Luiz Carlos B. Piazzetta
Continua

quarta-feira, 20 de março de 2024

Família de Francesco Piazzetta: Uma História de Superação e Perseverança

Igreja Sagrado Coração de Jesus (Água Verde) em 1910


Francesco Piazzetta, nascido em Pederobba, filho de Giuseppe Piazzetta e Caterina Franco, viúvo há três anos de Maria Augusta Verri, natural da cidade vizinha de Segusino, com a ajuda de seus cinco filhos, se preparou durante meses para a grande mudança que os levaria ao Novo Mundo. Vendeu a antiga casa de dois andares na "contrada Ghetto" em Pederobba, onde a família vivia, e todos os seus poucos bens, conseguindo juntar uma pequena economia que seria usada para iniciar a vida na nova pátria. Foi à prefeitura e obteve os passaportes para todos poderem deixar o país. Comprou passagens para o navio Adria, que partiria de Gênova no mês de dezembro, e se despediu dos amigos e da família que ficaram para trás. No último mês de 1890, Francesco Piazzetta, aos 51 anos de idade, nascido em 1839 em Fener, no município vizinho de Alano di Piave, província de Belluno, finalmente deixou a Itália e emigrou para o Brasil com seus quatro filhos - Giovanni Battista, Noè, Colomba e Augusta. A filha mais velha, Giovanna Antonia (Piazzetta) Viviani, ficaria para trás, pois já era casada e tinha sua própria família. No entanto, eles não sabiam que nunca mais veriam a querida Giovanella, como era chamada na família. Ela, junto com sua família, alguns anos depois também teve que partir em emigração e escolheu a França como destino. A jornada de Francesco Piazzetta, aos 51 anos de idade, e de seus quatro filhos menores, todos nascidos em Pederobba, Giovanni Battista, Noè, Colomba e Augusta, para o Brasil, começou na estação ferroviária de Cornuda, uma pequena cidade situada na região do Veneto, na Itália, a cerca de 8 km de Pederobba e ainda percorrida pela ferrovia que leva trens de Belluno. Eles partiram com antecedência e a pé, em uma tarde úmida e fria do início de dezembro, cada um levando consigo uma mala com roupas e alguns pequenos sacos de mantimentos preparados em casa para enfrentar a longa viagem de trem. Francesco e seus filhos chegaram à estação ferroviária em silêncio durante todo o percurso, muito preocupados e nervosos, mas cheios de expectativas, ansiosos para embarcar em sua jornada para o porto de Gênova. Apesar da preocupação com o desconhecido, Francesco estava entusiasmado com a ideia de deixar a Itália e começar uma nova vida em um país estrangeiro, mas ao mesmo tempo todos estavam muito tristes por deixar sua terra natal e as pessoas que amavam. A estação ferroviária de Cornuda era muito pequena, assim como a cidade em si, pouco movimentada naquela hora do dia, com uma ampla plataforma bem construída de onde os passageiros embarcavam nos trens. Francesco e seus filhos se sentaram em um banco de madeira na sala de espera espartana, esperando a chegada do trem que os levaria a Gênova e observando as poucas pessoas ao seu redor, muitas das quais conhecidas, emigrantes como eles. Alguns pareciam nervosos com a viagem e a separação, enquanto outros pareciam calmos e pensativos, aguardando sua vez. Finalmente, pouco depois das oito horas da noite, o trem chegou pontualmente e eles puderam embarcar no vagão que os levaria a Gênova. Encontraram seus lugares e se acomodaram, observando pelas janelas as paisagens que passavam. O trem passou por Ferrara, Bolonha, onde fez uma parada mais longa, seguindo então para Modena e Parma. Durante o trajeto, conseguiram ver apenas brevemente os vilarejos, as cidades e os campos verdes, com poucas folhas amarelas restantes devido à chegada do inverno. Esta era a primeira viagem deles de trem e nunca tinham estado tão longe de casa. Durante a viagem, conversaram um pouco, com o pai explicando aos filhos suas expectativas para a nova vida no Brasil e compartilharam suas preocupações e medos. Francesco explicou aos seus filhos que a viagem seria difícil, especialmente a de navio, através da imensidão do oceano, que nenhum deles conhecia, mas que eles deveriam ser fortes e corajosos. Ele também disse que a vida no Brasil seria muito diferente da vida na Itália, mas que eles se adaptariam em breve e teriam sucesso. Dormiram pouco, mal acomodados em assentos desconfortáveis da classe econômica. Após treze horas de viagem, o trem finalmente chegou à estação ferroviária de Gênova, fazendo muito barulho enquanto parava para permitir que mais passageiros embarcassem, quase sempre famílias de emigrantes como eles, que estavam deixando a Itália. Pensaram que talvez alguns deles tivessem o mesmo destino e viajariam no mesmo navio. Francesco e seus filhos desceram do trem entre o barulho e a agitação da cidade portuária naquela manhã cedo. O porto era enorme, com barcos e grandes navios ancorados em todas as direções. Eles procuraram e avistaram imediatamente o navio Adria, que não era um dos maiores, que os levaria ao Brasil, e sentiram imediatamente uma mistura de emoções. Curiosamente, caminharam pelo porto, observando dezenas de estivadores com seus carrinhos se movendo rapidamente, transportando grandes caixas de mercadorias. O Adria já estava atracado no cais e ouviram os gritos dos marinheiros que se preparavam para a viagem. Quando chegou a hora da partida no final da tarde, eles finalmente se dirigiram ao portão de embarque do navio que os levaria ao Novo Mundo e, com determinação, depois de entregar suas bagagens, passagens e passaportes, verificados tanto pelos funcionários do porto quanto pelos da companhia de navegação, subiram pela longa escada inclinada, sustentada por cordas grossas, ao lado do navio, e embarcaram sem muitos problemas. Os alojamentos eram bastante pequenos, com corredores estreitos, e eles teriam que compartilhar a cabine com outros passageiros, sem muita privacidade, mas ainda assim estavam felizes por estarem a bordo, ansiosos para começar a grande aventura. A viagem pelo mar seria longa e desafiadora, mas estavam determinados a alcançar o tão sonhado destino, o Brasil. Com um longo e grave apito, o Adria começou a se afastar lentamente do cais e gradualmente viram a costa italiana desaparecer no horizonte, provocando um frio na barriga. A cada dia, eles se aproximavam mais do Novo Mundo e das oportunidades que ele oferecia. Finalmente, após algumas semanas no mar, sem incidentes, eles chegaram ao porto do Rio de Janeiro, no Brasil. Desembarcaram e foram recebidos pelos funcionários do porto e levados ao Albergue dos Imigrantes, onde, após exame médico de rotina, foram acomodados aguardando o próximo pequeno barco que os levaria ao destino escolhido, o porto de Paranaguá no estado do Paraná. Depois de alguns dias de espera, finalmente receberam o aviso de embarque, desta vez em um pequeno barco chamado Rio Negro, que os levaria, junto com centenas de outros imigrantes italianos, de Rio de Janeiro a Paranaguá, mas o barco continuaria a viagem até Rio Grande do Sul. Eles haviam deixado a Itália, um país com sérios problemas econômicos, em busca de uma vida melhor no Brasil, e esperavam que essa nova terra lhes oferecesse novas oportunidades. De Paranaguá, seguiram para Curitiba, percorrendo a subida da Serra do Mar até Curitiba, ao longo do espetacular percurso ferroviário inaugurado apenas cinco anos antes. Foi uma viagem de algumas horas, com duas ou três paradas, cheia de paisagens deslumbrantes de uma floresta tropical intocada, com várias pontes de ferro e abismos profundos, já que Curitiba está a quase 1000 metros acima do nível do mar. Na capital do Paraná, com as economias trazidas da Itália, arrecadadas com a venda da casa e de alguns outros bens, Francesco comprou um terreno com uma pequena casa de madeira, na ainda nova colônia Dantas, onde já moravam desde o seu estabelecimento, apenas dois anos antes, várias outras famílias de imigrantes provenientes da região do Veneto como eles, algumas até conhecidas e parentes. Ele esperava que seus filhos pudessem ter acesso à educação e que ele pudesse encontrar trabalho como carpinteiro, o que garantiria uma vida mais confortável. Francesco estava determinado a construir uma nova vida na cidade e quando chegaram à Colônia Dantas, ficaram surpresos com o clima fantástico e com o progresso da capital paranaense. Era realmente um Novo Mundo, o que Francesco sempre sonhara. A cidade era rica e organizada, bem desenvolvida para a época, com muitos recursos e oportunidades de trabalho. Com o tempo, Francesco e seus filhos se adaptaram à vida na Colônia Dantas, que progredia rapidamente e, devido à proximidade com a capital, estava se tornando cada vez mais um bairro populoso, como de fato aconteceu alguns anos depois, quando foi chamada de Água Verde. Rapidamente fizeram amizade com outras famílias italianas residentes na área e se estabeleceram definitivamente na comunidade, participando ativamente de eventos sociais e atividades comunitárias locais, como a construção da nova igreja. Francesco, habilidoso carpinteiro e entalhador, logo encontrou trabalho, abrindo uma pequena oficina com o filho mais velho, enquanto os mais jovens começavam a frequentar a escola. Embora a vida ainda reservasse grandes desafios, Francesco e seus filhos estavam felizes por terem tomado a decisão de emigrar para o Brasil. Sentiam que lá tinham muitas mais oportunidades, que estavam no caminho certo para uma vida melhor neste grande país. Francesco Piazzetta faleceu em 30 de novembro de 1922, em Curitiba, aos 83 anos de idade, deixando os quatro filhos, todos já casados, e também vários netos. 

domingo, 30 de julho de 2023

Da Itália ao Brasil: A História de Francesco e Maria - Uma Jornada de Esperança e Superação


 


Da Itália ao Brasil: A História de Francesco e Maria - Uma Jornada de Esperança e Superação


Era o final do século XIX, uma época de grandes transformações e esperanças para muitas pessoas ao redor do mundo. Em uma pequena aldeia no norte da Itália, vivia um casal de jovens apaixonados, Francesco e Maria, que sonhavam com uma vida melhor do outro lado do oceano. A pobreza e as dificuldades da vida no campo os impulsionavam a buscar novas oportunidades em terras distantes. Com coragem e determinação, Francesco e Maria decidiram embarcar em uma longa travessia pelo Atlântico rumo ao Brasil. A viagem foi árdua e desafiadora, com dias intermináveis de mar revolto e incertezas sobre o futuro. No entanto, a esperança de uma vida melhor os mantinha firmes em seu propósito.
Após semanas de viagem, finalmente avistaram a terra à distância. Era o Brasil, o país que lhes prometia uma nova chance. Desembarcaram em Porto Alegre e, com poucas posses e muitos sonhos, partiram em direção à Colônia Dona Isabel, no Rio Grande do Sul. A chegada à colônia foi um misto de deslumbramento e desafios. A paisagem verdejante e as vastas terras férteis pareciam prometer um futuro próspero. No entanto, a adaptação à nova cultura e a língua desconhecida se mostraram grandes obstáculos. Francesco e Maria encontraram abrigo em uma pequena choupana de madeira e começaram a trabalhar na plantação de trigo de um colonizador local. Os dias eram longos e árduos, com o sol escaldante castigando suas costas e a terra seca exigindo esforço redobrado. Mas eles não desistiram. A cada novo amanhecer, renovavam sua determinação em construir uma vida melhor para si e para as gerações futuras.
Com o passar dos anos, Francesco e Maria prosperaram. Suas lavouras se expandiram, eles construíram uma casa de alvenaria e tiveram filhos. A colônia Dona Isabel se transformou em um pequeno vilarejo, com uma comunidade italiana unida pelo trabalho árduo e pela solidariedade. As tradições italianas foram preservadas, com festas e celebrações que remetiam à terra natal. A comida típica, como a polenta e o vinho, eram apreciados por todos. A língua italiana era falada com orgulho e os costumes transmitidos de geração em geração. Francesco e Maria, orgulhosos de suas raízes e da vida que construíram, viram seus filhos crescerem e se tornarem parte ativa da comunidade. O legado de coragem e perseverança deixado por eles influenciou não apenas seus descendentes, mas também todos aqueles que os cercavam. 
No final do século XIX, a longa travessia do oceano e os primeiros anos na Colônia Dona Isabel no Rio Grande do Sul foram marcados por desafios, mas também por esperança e superação. Francesco e Maria, assim como tantos outros imigrantes italianos, deixaram um legado de trabalho árduo, fé e amor pela terra que escolheram chamar de lar. Sua história é um testemunho da força e da resiliência daqueles que buscam uma vida melhor para si e para seus descendentes.



de Gigi Scarsela
erechim rs




domingo, 2 de julho de 2023

A Emocionante Jornada da Família de Francesco Piazzetta: Uma História de Superação e Perseverança

Igreja Sagrado Coração de Jesus (Água Verde) em 1910


Francesco Piazzetta, já viúvo a três anos de Maria Augusta Verri, natural da vizinha cidade de Segusino, com a ajuda dos cinco filhos, se prepararam durante meses para a grande mudança que os levaria para o Novo Mundo. Vendeu a antiga casa de dois pisos na  "contrada Ghetto" em Pederobba, onde a família morava e todos os seus poucos bens, conseguindo juntar uma pequena economia que seria usada para iniciar a vida na nova pátria. Foi até a prefeitura e providenciou os passaportes para todos poderem deixar o país. Comprou as passagens para o navio Adria que partiria de Gênova no mês de dezembro e se despediram dos amigos e familiares que ficaram para trás. 
No último mês de 1890, Francesco Piazzetta, com 51 anos, nascido no ano de 1839 na localidade Fener, no vizinho município de Alano di Piave, província de Belluno, finalmente deixou a Itália e emigrou para o Brasil com seus quatro filhos - Giovanni Battista, Noè, Colomba e Augusta. A filha primogênita, Giovanna Antonia (Piazzetta)  Viviani, ficaria para trás, pois já estava casada e tinha sua própria família. Não sabiam, porém, que nunca mais veriam a querida Giovanella, apelido como era chamada em família. Ela junto com a sua família alguns anos mais tarde também precisou partir em emigração e o país escolhido foi a França.
A viagem de Francesco Piazzetta, que então estava com a idade de 51 anos e seus quatro filhos menores, todos nascidos em Pederobba, Giovanni Battista, Noè, Colomba e Augusta, para o Brasil começou na estação ferroviária de Cornuda, uma pequena cidadezinha localizada na região de Veneto, na Itália, a cerca de 8 km de Pederobba e por onde passa até hoje a linha férrea com os trens que vem de Belluno. 
Partiram com bastante antecedência e a pé, em uma tarde úmida e fria do início de dezembro, cada um carregando uma mala com roupas e alguns pequenos sacos com mantimentos preparados em casa para enfrentar a longa viagem de trem.
Francesco e seus filhos chegaram à estação de trem calados durante todo o trajeto, muito preocupados e nervosos, mas, cheios de expectativa, ansiosos para embarcar em sua jornada rumo ao porto de Gênova. Apesar da preocupação com o desconhecido Francesco estava animado com a ideia de deixar a Itália e começar uma nova vida em um país estrangeiro, mas, por outro lado, todos também estavam muito tristes em deixarem sua terra natal e as pessoas que amavam.
A estação ferroviária de Cornuda era bem pequena, tal como a própria cidade, pouco movimentada aquela hora do dia, com uma ampla plataforma bem construída por onde os passageiros embarcavam nos trens. Francesco e os filhos se sentaram em um banco de madeira, na espartana sala de espera, aguardando a chegada do trem que os levaria até o porto de Gênova e observaram as poucas pessoas ao seu redor, muitos deles conhecidos, emigrantes como eles. Alguns demonstravam o nervosismo com a viagem e a separação, enquanto outros aparentavam estar calmos e pensativos, aguardando a sua vez.
Finalmente, pouco depois das vinte horas, o trem chegou com pontualidade e assim puderam embarcar no vagão que os levaria até Gênova. Eles encontraram seus assentos e se acomodaram, observando pela janela as paisagens que passavam. O trem passou por Ferrara, Bologna onde nesta cidade fez uma parada mais longa seguindo para Modena e Parma. No trajeto pouco puderam ver dos vilarejos, cidades e campos verdes, com as poucas folhas amareladas que sobraram pela chegada do inverno. Esta era a primeira viagem de trem que faziam e jamais tinham estado assim tão longe de casa.
Durante a viagem, eles conversaram um pouco, com o pai explicando aos filhos sobre suas expectativas para a nova vida no Brasil e compartilharam suas preocupações e medos. Francesco explicou aos seus filhos que a viagem seria difícil, principalmente aquela de navio, através do grande oceano, que nenhum deles conhecia, mas que eles deveriam ser fortes e corajosos. Ele também lhes disse que a vida no Brasil seria bastante diferente da vida na Itália, mas, que eles logo se adaptariam e seriam bem-sucedidos. Pouco dormiram, mal acomodados que estavam nos desconfortáveis bancos da classe econômica.
Após treze horas de viagem, o trem finalmente chegou à estação ferroviária de Gênova, passando por dezenas de estações onde, fazendo grande rumor, parava para receber mais passageiros, quase sempre famílias de emigrantes como eles, que também estavam deixando a Itália. Pensaram consigo mesmo que talvez alguns tivessem o idêntico destino deles e viajassem no mesmo navio.
Francesco e seus filhos desembarcaram do trem sendo recebidos pelo barulho e agitação da cidade portuária naquele começo de manhã. O porto era enorme, com barcos e grandes navios ancorados em todas as direções. Procuraram e logo avistaram ao longe o navio Adria, que não era dos maiores, o qual os levaria ao Brasil e sentiram imediatamente uma mistura de emoções.
Com curiosidade caminharam pelo porto, observando as dezenas de carregadores com seus carrinhos de mão, se deslocando apressados, levando grandes caixotes de mercadorias. O Adria já estava ancorado no cais e dele ouviam ordens sendo repassadas aos gritos, desde o seu tombadilho e também viram o corre-corre agitado dos marinheiros preparando o navio para a viagem. Quando no final da tarde a hora da partida chegou eles finalmente se dirigiram para o portão de embarque do navio que os levaria para o Novo Mundo e, resolutamente, após entregarem suas bagagens, os bilhetes e seus passaportes, conferidos tanto por parte dos funcionários do porto como aqueles da companhia de navegação, subiram pela longa escada inclinada, sustentada por grossas cordas, ao lado do navio, e embarcaram sem maiores problemas. Os alojamentos eram bem pequenos, corredores apertados e deviam dividir o aposento com outros passageiros, sem muita privacidade, mas, apesar de tudo eles estavam felizes por estarem a bordo, ansiosos pelo início da grande aventura.
A viagem pelo mar seria longa e desafiadora, mas eles estavam determinados a chegar ao tão sonhado destino, o Brasil. Com um longo e grave apito o Adria começou a se afastar lentamente do cais e gradualmente observaram a costa italiana desaparecer no horizonte provocando um frio nas suas barrigas. A cada dia, eles se aproximavam mais do novo mundo e das oportunidades que ele oferecia.
Finalmente, depois de algumas semanas no mar, sem quaisquer incidentes, eles finalmente chegaram ao porto do Rio de Janeiro, no Brasil. Desembarcaram sendo recebidos por funcionários portuários e encaminhados para a Hospedaria dos Imigrantes onde, após o exame médico rotineiro, foram abrigados para esperar pelo outro navio menor que os levaria para o destino escolhido, o porto de Paranaguá no estado do Paraná. Depois de uns dias de espera finalmente chegou o aviso para embarcarem novamente, desta vez em um navio menor chamado Rio Negro que os levaria, com centenas de outros imigrantes italianos, do Rio de Janeiro para a cidade de Paranaguá, no Paraná, mas o navio continuaria viagem para o Rio Grande do Sul.
Eles haviam deixado a Itália, um país atrasado e com graves problemas econômicos, em busca de uma vida melhor no Brasil e esperavam que essa nova terra lhes oferecesse novas oportunidades.
De Paranaguá seguiram para Curitiba, fazendo o trajeto de subida da Serra do Mar até Curitiba, pela espetacular estrada de ferro inaugurada apenas cinco anos antes. Foi uma viagem de poucas horas, com duas ou três paradas, repleta de paisagens deslumbrantes de uma floresta tropical intacta, com diversas pontes de ferro e profundos precipícios, pois, Curitiba está a quase 1000 metros acima do mar. 
Na capital paranaense, com as economias trazidas da Itália, arrecadadas com a venda da casa e de alguns outros pertences, Francesco comprou um lote de terra com uma pequena casa de madeira, na ainda nova colônia Dantas, onde já moravam desde a sua inauguração, a apenas dois anos, várias outras famílias de imigrantes provenientes da região do Vêneto como eles, alguns até conhecidos e meio aparentados. Ele esperava que seus filhos tivessem acesso à educação e que ele pudesse encontrar trabalho como marceneiro, que lhes proporcionasse uma vida mais confortável. Francesco estava determinado a fazer uma nova vida na cidade e quando chegaram à Colônia Dantas, ficaram surpresos com o ótimo clima e progresso da capital paranaense. Era realmente um novo mundo, aquilo que Francesco sempre sonhara. A cidade era rica e organizada, bem desenvolvida para a época, com muitos recursos e disponibilidade de trabalhos. 
Com o tempo, Francesco e seus filhos se adaptaram à vida na Colônia Dantas, a qual progredia rapidamente e pela contiguidade com a capital estava se tornando a cada dia com aspecto de um populoso bairro, o que de fato veio acontecer alguns anos depois, quando passou a ser chamada de Água Verde. Eles logo fizeram amizade com outras famílias italianas moradoras no local e se estabeleceram definitivamente na comunidade se envolvendo e participando ativamente de eventos sociais e atividades comunitárias do local, como a construção da nova igreja. Francesco, bom carpinteiro e entalhador, logo encontrou trabalho, montando uma pequena oficina com o filho mais velho e os menores começaram a frequentar a escola. Embora a vida ainda reservasse grandes desafios, Francesco e os filhos estavam felizes por tomarem a decisão de emigrar para o Brasil. Sentiam terem ali muito mais oportunidades, que estavam no caminho certo para uma vida melhor neste grande país. Francesco Piazzetta faleceu em 30 de novembro de 1922, em Curitiba, com a idade de oitenta e três anos, deixando os quatro filhos, todos já casados, e também vários netos.


Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS










terça-feira, 13 de junho de 2023

A Saga de uma Família de Imigrantes Italianos em Busca de uma Nova Vida




Antonio era um homem de aparência forte, olhar determinado, de um azul-claro e penetrante. Ele havia perdido a esposa há três anos na Itália, devido a uma grave doença e, como não conseguia mais sustentar sua família, decidiu emigrar para o Brasil em busca de uma vida melhor. Com 57 anos, com seus quatro filhos, ele deixou a pequena vila onde moravam, no interior de Treviso, e embarcou em um navio rumo ao Brasil. A viagem no Adria foi longa e cansativa. Eles enfrentaram mau tempo, doenças e a falta de privacidade a bordo. No entanto, Antonio nunca perdeu a esperança de encontrar um lugar onde pudesse dar um futuro melhor aos seus filhos. Depois de 22 dias de viagem, eles finalmente chegaram ao Porto do Rio de Janeiro, onde foram direcionados para a hospedaria da ilha das Flores. A hospedaria era um lugar grande e assustador para as crianças. Elas nunca tinham visto tantas pessoas juntas em um só lugar, todas falando línguas diferentes e com hábitos estranhos. O primeiro contato com as comidas servidas no Brasil não foram muito agradáveis para eles. Ao verem farinha de mandioca servida à mesa da hospedaria, ficaram contentes pensando ser queijo ralado, que não comiam há bastante tempo. Quando provaram aquelas insípidas raspas tiveram a primeira desilusão culinária no país. Mas, o fato que mais chamou a atenção de todos eles, além das belezas naturais e a  exuberância vegetal da ilha, foi a quantidade de pessoas de pele escura que encontravam no porto, fato nunca visto por eles. Antonio se manteve firme e não deixou que o medo tomasse conta de sua família. Ele sabia que ainda teriam que enfrentar muitos desafios, mas não desistiria de seus sonhos. Depois de alguns dias, eles foram liberados da hospedaria e seguiram em outro navio em direção ao porto de Paranaguá e deste, de trem, até a cidade de Curitiba, onde chegaram a meados de janeiro de 1891. A cidade era bem diferente daquilo que haviam imaginado. Como a capital do estado do Paraná, era grande, movimentada e muito barulhenta para eles. Antonio sabia que teriam que se adaptar e fazer o melhor que pudessem. Com as economias que haviam trazido da Itália, obtida com a venda da casa em que moravam e de outros bens, Antonio adquiriu um terreno grande, com uma antiga moradia, na periferia da cidade, em uma colônia onde já estavam morando muitas dezenas de outros imigrantes italianos e gradualmente foram aumentando e melhorando a residência. Antonio era um ótimo carpinteiro e sempre conseguia bons trabalhos nas casas das famílias mais ricas da cidade. Essa profissão ele tinha herdado dos seus antepassados os quais, por diversas gerações, a exerceram trabalhando para as famílias nobres das províncias de Belluno e Treviso. Era um trabalho duro e cansativo, principalmente naquela época onde tudo era feito manualmente, sem auxílio de máquinas, mas ele não reclamava. Em pouco tempo seu trabalho já estava sendo reconhecido e muito procurado na cidade. Fazia tudo com amor e dedicação, sempre pensando no futuro de seus filhos. Os anos passaram e os filhos foram crescendo. Francesco, o filho mais velho, começou a ajudar o pai na carpintaria e logo também se tornou um exímio carpinteiro, fazendo jus a tradição da família. Juntos abriram a própria fábrica de móveis, portas e janelas, durante muitos anos com ótima clientela. Se casou com uma bela moça, também ela italiana de nascimento e tiveram 8 filhos. Giovanni, o segundo filho de Antonio, abriu um pequeno armazém que vendia secos e molhados, atendendo a freguesia com uma pequena carroça de um cavalo. Ele também se casou com uma moça de uma família italiana que chegou com a família dez anos antes dele e do casamento vieram cinco filhos. As duas filhas de Antonio, Rosa e Chiara, muito prendadas, desde a chegada no Brasil, sempre se dedicaram ao pai e irmãos, cuidando dos serviços da casa e da pequena plantação da qual tiravam grande parte do sustento da família e o que sobrava vendiam pela vizinhança. Quando atingiram a maioridade, logo se casaram com rapazes filhos de famílias de imigrantes italianos como eles e se mudaram para outros bairros da cidade, onde também constituíram duas numerosas famílias. Em 1935 Giovanni faleceu tragicamente devido um acidente de trabalho e Francesco ficou com a carpintaria, a transferindo para outro bairro da cidade. A pequena casa de madeira foi demolida, por volta da década de 1940, quando um dos filhos do Giovanni, o mais novo deles ainda solteiro, que havia estudado contabilidade e já trabalhava em uma importante casa bancária, decidiu construir uma casa de alvenaria para viver com sua mãe viúva. Foi um esforço financeiro de alguns anos, mas a nova casa ficou bem bonita e ao gosto da sua mãe. Antonio faleceu de morte natural em 1925, com a idade de 92 anos, deixando uma numerosa descendência. Ele foi um homem forte, corajoso e determinado, que nunca desistiu de seus sonhos. Sua história é um exemplo de amor e perseverança, que inspira as gerações que vieram depois dele.


Conto de
Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS