Mostrando postagens com marcador imigrantes italianos no RS. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador imigrantes italianos no RS. Mostrar todas as postagens

sábado, 15 de janeiro de 2022

Os Imigrantes Italianos na Colônia Conde d'Eu atual Garibaldi

 

Imigrantes na Hospedaria da Ilha das Flores, no Rio de Janeiro, em finais do século XIX

Em 1870 o governo imperial criou a Colônia Conde d'Eu, atual município de Garibaldi, localizado na Serra Gaúcha e que abrigou um grande número de imigrantes italianos.

Desde o ano de 1878 a Colônia Conde d'Eu passou a contar com o auxílio da Società Italiana di Mutuo Soccorso Stella D'Italia, formada por sócios italianos, que criou um refúgio seguro, um espaço favorável para atuação dos imigrantes, congregando-os em um ambiente associativo onde podiam cultuar suas crenças e costumes.




A partir de 1880 com o incremento da imigração italiana no Rio Grande do Sul, o número de assentados foi aumentando gradativamente. Entre os anos de 1875 e 1914 o estado gaúcho recebeu um número aproximado de 80.000 imigrantes italianos, que fugindo da miséria cada vez maior na Itália, se transferiram definitivamente para o Brasil, atraídos pelas perspectivas de construir uma vida melhor. 




Além da intensa propaganda, que nem sempre primava pela honestidade, feita pelos inúmeros recrutadores a serviço das companhias contratantes de mão de obra com o governo do Império do Brasil, também tiveram um papel muito importante de atração de novos imigrantes, foram as cartas convite enviadas pelos primeiros aqui chegados para os seus amigos e parentes que tinham permanecido na Itália.    

Nessas cartas os pioneiros enalteciam o clima do Rio Grande do Sul, muito parecido com aquele do norte da Itália, a fertilidade do solo e a grande facilidade para obtenção de lotes de terra. 

Essas cartas, principalmente, enfatizavam a felicidade de terem finalmente se tornado proprietários de terras. Não precisavam mais obedecer a um patrão e, principalmente, não tinham mais que dividir as colheitas com o dono da gleba como acontecia na Itália.




O objetivo do governo imperial, e depois aquele da província do Rio Grande do Sul, de trazer imigrantes era o de suprir os grandes centros das necessidades alimentares e abastecer com produtos agrícolas mercado interno do país. 

No entanto, muitos dos imigrantes que aqui chegaram, que se denominavam agricultores, na verdade tinham pouca ou quase nenhuma experiência com as lidas do campo. Eram pequenos artesãos, comerciantes e industriais que aproveitaram aquele momento para obterem a posse da terra. 




Esse fato foi até muito favorável para o rápido desenvolvimento interno das colônias, onde, em pouco tempo, surgiram comércios e pequenas indústrias artesanais.

Do Porto do Rio de Janeiro ou de Santos, onde os imigrantes desembarcavam, aqueles imigrantes cujo destino final era o Rio Grande do Sul, eram embarcados em navios menores até a capital Porto Alegre, onde eram alojados, provisoriamente, em precários barracões de madeira, para esperar a transferencia para as colônias a que estavam destinados: Caxias, Dona Isabel ou Conde d'Eu.




Colocados em pequenas embarcações a vapor navegavam por aproximadamente sete horas, subindo as fortes correntes do rio Caí, até o ponto de desembarque, o qual ficava ainda muito distantes das colônias. Essas deviam ser  alcançadas após aproximadamente três dias de marcha a pé, no lombo de mulas ou carretas de bois, atravessando a densa mata por estreitas estradas e picadas abertas na floresta. 

Chegados no local da colônia ficavam alojados em um outro barracão provisório de madeira, que ficou conhecido por barracão dos imigrantes, até que os lotes fossem devidamente demarcados e distribuídos pelos funcionários representantes do governo.




As condições para se chegar até as colônias eram muito difíceis, os caminhos estreitos e tortuosos. Os lotes demarcados ficavam distantes e os pioneiros precisaram abrir clareiras na mata virgem, abatendo gigantescas árvores, para delimitar uma pequena área a ser cultivada e construir um abrigo bastante precário de pau-a-pique, cobertos por galhos de árvores, folhas de palmeira e grimpa de pinheiros.

Preparada a terra, após a queimada das árvores e galhos, eram plantadas as primeiras roças de milho e feijão, com as sementes recebidas do governo na ocasião da chegada na colônia, juntamente com algumas ferramentas de trabalho. 




Enquanto esperavam pela colheita da primeira safra, os imigrantes sobreviviam da caça de aves e pequenos animais, além da coleta de frutos, as vezes consumiam algum mantimento recebido do governo. Em outras ocasiões compravam algumas provisões com o dinheiro arrecadado com a venda da madeira e, mais raramente, com o soldo do trabalho assalariado permitido, por somente quinze dias ao mês, na abertura de estradas, caminhos ou outras benfeitorias que interessassem a administração.

Os bilhetes do transporte marítimo entre a Europa e o Rio Grande do Sul era financiado pelas autoridades brasileiras. Os lotes e alguns eventuais subsídios como transporte dentro do estado, as despesas com estadias, ferramentas e sementes deveriam ser pagos ao governo em um período de 5 a 10 anos, com um tempo de carência.

O título provisório da terra somente era entregue ao colono imigrante quando este já houvesse quitado pelo menos 20% da dívida e o título definitivo, quando a dívida estivesse totalmente paga. Os imigrantes levavam muito a sério essas dívidas com o governo, pois, as famílias inadimplentes podiam ser expulsas dos seus lotes perdendo todo o trabalho já realizado. Para evitar a perda da terra  toda a família se empenhava no trabalho, até as mulheres e filhos pequenos ajudavam no esforço familiar.

Com o tempo a produção agrícola das colônias aumentou bastante e surgiu um outro problema que dificultava a venda dos produtos colhidos que era a falta de estradas e de comunicação, o  que impedia que as safras fossem escoadas e vendidas devido a falta de contato com as demais regiões.




Os primeiros imigrantes italianos chegaram à Colônia Conde d'Eu em 24 de dezembro de 1875, provenientes da região do Trento, ali encontrando imigrantes prussianos, espanhóis, portugueses e suíços que haviam chegado algum tempo antes. Até o final do século XIX os imigrantes italianos já eram o maior grupo étnico entre os assentados na colônia. 

A Colônia Conde d'Eu foi fundada no ano de 1870 e recebeu este nome em homenagem ao genro do imperador D. Pedro II, casado com a Princesa Isabel. 

Com a chegada das novas levas de imigrantes a colônia experimentou um crescimento acentuado e já em 1878 possuía 3 mil habitantes na sua maioria italianos.




Em 13 de Abril de 1884 a Colônia de Conde d'Eu  foi elevada à categoria de Freguesia de São Pedro e experimentou grande progresso com a construção de estradas e crescimento da área urbana surgindo várias casas de comércio, indústrias, como ferrarias, fábrica de cerveja gasosa, gaitas, pólvora, alguns moinhos sapatarias, alfaiatarias, serrarias, fundição de sinos e o cultivo de videiras. 

Uma das principais características de uma propriedade colonial italiana é o fato que nela todos da família trabalhavam, com as tarefas sendo divididas de acordo com o gênero e idade de cada um dos seus membros. Aos homens cabia o trabalho na agricultura, criação de animais e atividades de comércio da produção. Às mulheres estava destinada as ocupações nas tarefas domésticas e em atividades mais leves na horta, na criação de animais e cuidados com os filhos.

As crianças por sua vez começavam a ajudar os pais em pequenas atividades já à partir dos 6 anos de idade até completarem 15 anos, quando então passavam a trabalhar junto com os adultos. 







terça-feira, 24 de agosto de 2021

Os Imigrantes Italianos no RS e o Padre Medicheschi

Padre Eugenio Medicheschi


O Padre Eugenio Medicheschi foi um dos primeiros missionários enviados pelo bispo de Piacenza, Don Giovanni Battista Scalabrin, para proteger e dar assistência espiritual aos milhares de emigrantes italianos que escolheram o Brasil para recomeçar uma nova vida. 

O padre Medicheschi estabeleceu a sua residência definitiva no final do ano de 1905 em Monte Vêneto, atual Cotiporã, onde viveu e exerceu seu apostolado por 16 anos. Uma das suas primeiras atividades, logo  após sua chegada, foi acelerar a construção da igreja local, que ainda se encontrava na fase de escavação das suas fundações. 

O padre Medicheschi se destacou participando  ativamente no desenvolvimento do município sendo o responsável pelo aparecimento de várias indústrias, como o grande frigorífico Sul América e a Cooperativa Trabalho e Progresso, a primeira no setor de laticínios do país.

Igreja de Cotiporã



Esses primeiros missionários, que aqui para o Brasil foram enviados, tiveram uma vida muito difícil, bem espartana, com excesso de trabalho duro para poder dar conta da assistência aos imigrantes italianos nas diversas colônias onde estavam assentados, quase sempre muito distantes umas das outras.  

Esses padres precisavam se deslocar todos os dias por um extenso território para atender as várias capelas à eles confiadas pelo bispo. Essas ficavam realmente muito distantes umas das outras e os padres, em diversas ocasiões,  precisavam de até um dia inteiro de viagem a cavalo ou, o que era mais frequente no lombo de burro para alcança-las. Atravessavam por caminhos muito estreitos, cercados  pela mata fechada que teimosamente tentava novamente engolir a  estreita passagem recém aberta. Eram estreitos e tortuosos caminhos muito perigosos

Em muitas ocasiões precisavam abrir o caminho a golpes de facão para poder passar e nos dias de chuva essas dificuldades ficavam muito maiores, o terreno se transformava em escorregadios lodaçais e as cheias dos rios dificultavam a passagem. 

Esses primeiros missionários não exerceram apenas a função de padres, mas, também de médicos, arquitetos, juízes e principalmente de homens de confiança da maioria daqueles pobres imigrantes, necessitados de tudo, colocados sozinhos no meio da grande floresta, longe de seus familiares e de suas vilas natais deixadas na Itália. 

Nas zonas coloniais italianas do Rio Grande do Sul, como uma forma de reconhecimento pelo grande trabalho desses voluntários, mesmo hoje em dia, após já terem se transcorrido quase um século e meio, os seus feitos não foram esquecidos e as suas lembranças ainda permanecem vivas na memória da população. 




Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS





domingo, 24 de janeiro de 2021

A Criação da Língua Italiana e o Surgimento do Talian

Dante Alighieri


Por ocasião da formação do Reino da Itália, o dialeto falado nas diversas partes do território que mais tarde veio se chamar Itália, era a língua usada por todos: o rei, os burgueses, os aristocráticos e principalmente pelo povo comum. No novo reino a língua que usava era somente os diversos dialetos regionais, com suas centenas de variantes. Quando foi proclamada a unidade italiana no ano de 1861, aqueles que conheciam a língua italiana, a língua usada por Dante em suas obras literárias, era a grande minoria da população do reino, aproximadamente 600.000 falantes, em um universo de 25 milhões de habitantes. Uma parte da população usava ainda o latim, os demais usavam uma língua a base do dialeto toscano, que era uma espécie de língua mercantil e de viajantes. Nos atos públicos usavam ainda o dialeto. A língua italiana era  mais usada pelos escritores e poetas. 

Após a unificação italiana também chegou a escola pública e com ela a língua italiana, a qual ainda custou muito tempo para ser usada pelo povo. Este povo a considerava uma língua estrangeira, pois, combatia os dialetos de antiga tradição, uma língua trazida e imposta a força pelos novos patrões. Esta língua usada nas academias, nos tribunais, no parlamento era incompreensível para o grande público, o que contribuiu para isolar os mais cultos do comum homem de rua. 

A Itália ainda não existia de fato, mas, já tinha uma língua oficial. Na verdade quem conseguiu unir os italianos não foram os governantes, a religião, a história ou a força e sim a literatura que já estava presente nas grandes obras de Dante, Boccacio, Machiavelli, Petrarca e mais alguns outros. 


Colônia Caxias no século XIX


Quando à partir de 1875 as primeiras levas de emigrantes italianos partiram para a América, e os Vênetos foram os primeiros a sair, a grande maioria deles compreendia o idioma italiano, mas, muito poucos foram aqueles que falavam. Os que vieram para o Rio Grande do Sul foram assentados nas colônias, localizadas no meio da mata, longe das cidades e sem estradas para  locomoção. Este longo isolamento forçado fez com que eles ficassem por muitos anos por fora do que acontecia no mundo. Sabiam muito pouco do que estava acontecendo no próprio Brasil. As únicas informações que recebiam da Itália era através das poucas cartas trazidas pelos imigrantes que ainda  vinham chegavam. 


Caxias em 1880


No Rio Grande do Sul chegaram mais de 80.000 imigrantes, sendo a maioria formada por vênetos e lombardos e o restante eram os chamados tiroleses, trentinos e friulani. Os provenientes da Emilia Romagna, Liguria, Piemonte e Toscana eram muitos poucos. A língua italiana era usada muito raramente e somente em poucas ocasiões, predominava o dialeto que cada família tinha aprendido e trazido com eles. Com os casamentos que foram acontecendo entre italianos das diversas regiões, um problema surgia para o entendimento na mesma família. Assim, com os vênetos que constituíam a grande maioria, foi surgindo uma nova linguagem dialetal misto, que tinha por base a antiga língua de Veneza, acrescida de palavras dos dialetos da outras regiões. Nascia assim uma linguagem nova que assimilava palavras de todos os grupos de emigrantes que viviam próximos, sempre com o predomínio dos dialetos vênetos falados pela maioria do imigrantes. A essa nova língua foi posteriormente dado o nome de talian, o vêneto sul rio grandense. Esta nova linguagem somente se consolidou por volta do ano de 1925, quando em um jornal da Colônia Caxias, o Stafetta Riograndense, passou a publicar semanalmente e suas páginas a história, escrita em talian, do personagem Nanetto Pipetta, nassùo in Italia e vignudo in Mèrica par catar la cucagna. A partir de então o talian se consolidou e se transformou em uma verdadeira língua, escrita e falada ainda hoje pela maior parte dos descendentes de italianos do sul do Brasil. Essa língua adquiriu status próprio e em vários municípios gaúchos, berços da imigração italiana no estado, foi declarada como a segunda língua oficial da cidade.