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segunda-feira, 16 de setembro de 2024

A Jornada dos Imigrantes Italianos ao Brasil




A Jornada dos Imigrantes Italianos ao Brasil

O sol mal começava a despontar no horizonte quando Giovanni acordou sua esposa, Maria, e os dois filhos, Pietro e Antonella. O dia havia chegado. Partiriam de sua pequena aldeia no interior da Itália em direção ao Brasil. A jornada seria longa e cheia de incertezas, mas a esperança de uma vida melhor alimentava seus corações. Naquela manhã, o aroma do pão fresco misturava-se ao silêncio pesado da despedida. Os pais de Maria, já velhos e debilitados, sabiam que nunca mais veriam a filha. Os olhos marejados de Giovanni, no entanto, não podiam fraquejar.
Após dois dias de viagem a pé, de carroça e finalmente o trem, a família finalmente chegou ao porto de Gênova. O cenário era caótico. Centenas de famílias, todas com os mesmos sonhos e temores, aguardavam o momento para embarcar. Amontoados ao relento, sentados como podiam, nas ruas próximas ao cais, sobraçando sacos, malas de papelão e caixotes com seus poucos pertences. Giovanni olhou para o imenso vapor que os levaria, um monstro de ferro fumegante que parecia engolir vidas e histórias em seu porão. Maria segurou firme a mão do marido, e ele retribuiu com um sorriso tênue, embora o medo os corroesse por dentro.
O porão onde foram alocados estava abarrotado de gente. O ar era abafado, a umidade, sufocante, e o cheiro da desesperança impregnava o ambiente. Antonella, de apenas três anos, chorava sem cessar, amedrontada pelo barulho e pela escuridão. Pietro, aos oito, mostrava-se forte como o pai, mas em seus olhos Giovanni via um medo infantil que ele mesmo tentava esconder.
A primeira semana de viagem foi especialmente dura. O constante balanço do navio deixava todos mareados e a maioria dos passageiros não conseguia segurar o vomito. A comida era escassa e de má qualidade, o enorme espaço para dormir, com seus desconfortáveis catres e beliches, distribuídos em longas filas, onde a privacidade era quase inexistente. As noites eram passadas em vigília, entre cochilos inquietos, enquanto os gemidos dos doentes ecoavam pelos corredores. Surtos de piolho começaram a se espalhar e, como uma praga invisível, o sarampo logo começou a acometer as crianças. Maria temia por Antonella. A menina, tão frágil, já demonstrava sinais de febre, e Giovanni sabia que a medicina a bordo era quase nenhuma.
O vento que soprava nas noites de tormenta parecia carregar consigo o lamento dos que haviam perdido seus entes queridos. A cada manhã, novos corpos eram envolvidos em lençóis e lançados ao mar, em cerimônias rápidas e silenciosas. A visão desses sacrifícios alimentava a angústia de todos os passageiros. As orações eram constantes, como se a fé pudesse afastar o destino cruel que parecia espreitar a cada esquina do navio.
Certa noite, quando Antonella já respirava com dificuldade, Maria pegou a pequena nos braços e começou a cantar uma antiga canção que sua mãe lhe ensinara. A melodia ecoou pelo porão, tocando o coração de outros imigrantes que, um a um, começaram a entoar canções de suas aldeias. O canto trouxe uma sensação de paz temporária, um consolo nas longas noites de incerteza.
Finalmente, após quase trinta dias no mar, as colinas do Brasil surgiram no horizonte. A visão era um alívio para os que haviam sobrevivido. Antonella, ainda frágil, havia resistido à febre, mas seus olhos brilhavam ao ver as novas terras. Pietro, excitado, falava sem parar sobre o que encontrariam na “terra prometida”. Giovanni, com um misto de alívio e apreensão, segurava Maria pela cintura, sabendo que o pior havia passado, mas ciente de que novos desafios os aguardavam.
O desembarque no porto do Rio de Janeiro foi caótico. O calor tropical, a umidade e o cheiro forte das matas surpreenderam a todos. Os imigrantes, ainda atordoados pela longa travessia, foram levados para a Hospedaria dos Imigrantes. Ali, conheceriam seu destino. A ansiedade no olhar de Giovanni e Maria era palpável. Logo descobriram que seriam enviados para uma colônia italiana chamada Caxias, distante mais de 1500 quilômetros no sul do país.
Os dias seguintes foram preenchidos por uma nova viagem pelo mar, dessa vez, embarcados em outro navio menor, que só fazia viagens na costa brasileira, rumo ao Rio Grande do Sul onde ficava a grande colônia. Depois de alguns dias chegaram ao porto di Rio Grande onde ficaram hospedados em um grande alojamento coletivo, de madeira e telhas de barro, sem muita privacidade. Ali ficaram por mais de uma semana a espera dos barcos fluviais que os levariam pela grande Lagoa dos Patos até a foz do rio Jacuí em Porto Alegre, a capital do estado. Não desembarcaram e com o mesmo barco a vapor seguiram rio acima até São Sebastião do Caí, onde terminava a viagem pelo rio. Ainda faltava muito chão a ser percorrido para chegar ao destino final. Deveriam agora seguir a pé ou em enormes carroças puxadas por bois, onde acomodavam as mulheres grávidas, idosos, crianças pequenas e a bagagem de todo o grupo.
O caminho, na verdade uma mera picada, era tortuoso, passando através de florestas densas e montanhas imponentes. Dela vinham gritos de animais desconhecidos que assustavam o recém-chegados. As carroças avançavam lentamente, e a saudade da Itália crescia a cada passo. Giovanni tentava manter o ânimo da família contando histórias sobre as aventuras que viveriam em sua nova terra, mas o cansaço era implacável.
Ao chegarem à Colônia Caxias, o cenário era desolador. As terras prometidas eram vastas, mas selvagens, cobertas de mata virgem. Não havia estradas, nem vizinhos próximos. Apenas a natureza imponente e, ao longe, outras famílias de imigrantes que, como eles, começavam a desbravar aquele novo mundo. Giovanni e Maria foram apresentados ao terreno que lhes fora destinado, uma extensão de terra densa que precisaria ser desmatada antes que pudessem plantar o primeiro grão. Passaram a noite acomodados no interior do oco de uma grande árvore que lhes forneceu abrigo e calor.
O trabalho árduo começou no dia seguinte. Giovanni, com a ajuda de Pietro, derrubava as árvores, enquanto Maria cuidava de Antonella e preparava o terreno para o plantio. Mas o que mais impressionava era sua resiliência. Ao final de cada dia, apesar do cansaço físico, ela ainda encontrava forças para manter em ordem aquele amontoado de paus e folhas que chamavam de casa, cozinhar e ajudar o marido na lavoura.
Os dias transformaram-se em semanas, e as semanas, em meses. A vida na colônia era um constante desafio. O isolamento, as doenças e a falta de recursos tornavam tudo mais difícil. Mas Maria nunca reclamava. Seus olhos, embora marcados pelo cansaço, continuavam brilhando com a esperança de um futuro melhor para os filhos. Sabia que, finalmente, apesar de todo o sofrimento que passaram, estavam agora trabalhando na própria terra. Tinham agora uma enorme propriedade para plantar, repleta de grossas árvores e até de um pequeno rio, o maior sonho de muitas gerações da sua família. Trabalhavam no era deles, não precisavam mais dividir a maior parte das colheitas com o senhor dono das terras.
A primeira colheita foi modesta, mas suficiente para alimentar a família. Giovanni, com o semblante aliviado, agradeceu aos céus pelo sustento. Mas sabia que precisariam de mais para sobreviver. Enquanto ele e Pietro trabalhavam arduamente na lavoura, Maria os acompanhava em todas as atividades pesadas da roça, dividindo o peso do trabalho com o marido. Além disso, ela preparava as refeições, cuidava da casa, dos filhos e dos animais. À noite, quando todos finalmente descansavam, Maria ainda estava ocupada, remendando roupas ou confeccionando chapéus, sem nunca parar de trabalhar.
Aos poucos, as outras famílias da colônia começaram a formar uma comunidade. Aos domingos, reuniam-se para missas improvisadas e momentos de convivência. Maria era respeitada por todos, não apenas pela força com que enfrentava o trabalho diário, mas também pela generosidade com que acolhia os novos imigrantes que chegavam. Seu sorriso, ainda que tímido, trazia conforto e esperança.
Os anos passaram, e a família prosperou. Pietro tornou-se um jovem forte e decidido, enquanto Antonella, já crescida, ajudava a mãe nos afazeres da casa e na lavoura. Giovanni, agora com alguns cabelos grisalhos, olhava para suas terras com orgulho. A transformação que haviam feito era fruto de um trabalho incansável, de sacrifícios inimagináveis.
Certa tarde, enquanto observavam o pôr do sol sobre os campos que haviam cultivado, Giovanni abraçou Maria com ternura. "Conseguimos", disse ele, com os olhos cheios de lágrimas. Ela sorriu, silenciosa, sabendo que a jornada ainda não havia terminado, mas que, juntos, haviam superado os maiores desafios de suas vidas.
Naquela noite, a família reuniu-se ao redor da mesa, como tantas outras vezes, mas com um sentimento diferente. A Itália, agora uma lembrança distante, havia sido trocada por uma nova pátria, uma terra que os acolhera com desafios, mas também com promessas de um futuro melhor. A saga dos imigrantes italianos estava apenas começando, e Maria sabia que as futuras gerações colheriam os frutos do seu sacrifício.
Com o tempo, as dificuldades começaram a se dissipar à medida que a Colônia Caxias se desenvolvia. As terras antes cobertas de mato virgem foram transformadas em campos produtivos, e as pequenas casas de madeira começaram a formar um vilarejo coeso. Giovanni e Maria tornaram-se figuras centrais na comunidade, não apenas pela contribuição direta ao desenvolvimento das terras, mas também pelo espírito de solidariedade e cooperação que promoveram.
Os filhos de Giovanni e Maria cresceram e prosperaram. Pietro, agora um jovem adulto, dedicava-se com afinco aos parreirais, desenvolvendo técnicas de cultivo que ajudavam a aumentar a produção de vinho que eram enviados para todo o país. Antonella, por sua vez, casou-se com um jovem agricultor também morador no local, de família vizinha, com a mesma origem dela e construiu sua própria família, perpetuando os valores e tradições que seus pais lhe ensinaram.
Maria, apesar dos anos de trabalho extenuante, encontrava tempo para transmitir suas memórias e histórias às novas gerações. Ela falava sobre a vida na Itália, a dura travessia e os sacrifícios que a família fez para construir uma nova vida. Suas histórias eram passadas para os filhos e netos, que ouviam com reverência a jornada que havia moldado a vida da família.
A influência de Maria e Giovanni na colônia era palpável. A escola local foi batizada em homenagem aos primeiros imigrantes, e a pequena igreja, onde antes rezavam em meio à dificuldade, tornou-se um símbolo de esperança e fé para todos. A dedicação de Maria ao cuidado dos outros e a força de Giovanni no trabalho diário eram lembradas com admiração por todos que conheceram sua história.
Os eventos da comunidade, como festas de colheita e celebrações religiosas, tornaram-se momentos de reunião e alegria. A música tradicional italiana voltou a ser ouvida nos eventos sociais, unindo todos em um sentimento de identidade e pertencimento. As canções que uma vez foram entoadas no porão do navio ressoavam agora nas festas da colônia, simbolizando a jornada e a perseverança.
A prosperidade da Colônia Caxias também trouxe novos desafios. O crescimento populacional levou à necessidade de mais infraestrutura, e Giovanni e outros líderes comunitários trabalharam incansavelmente para garantir que a colônia continuasse a se expandir e a prosperar. Maria, enquanto isso, ajudava a organizar eventos comunitários e iniciativas de bem-estar, sempre com um sorriso acolhedor e um coração generoso.
À medida que envelheciam, Giovanni e Maria observaram com orgulho o legado que haviam construído. Eles se aposentaram em uma pequena casa que construíram com suas próprias mãos, cercada por um jardim exuberante que Maria cultivava com carinho. A casa, repleta de memórias e fotografias, tornou-se um lugar de encontro para a família e amigos.
Os netos de Giovanni e Maria cresceram cercados pelo amor e pelas histórias de seus avós. Eles ouviam com atenção os relatos da travessia e do estabelecimento na colônia, entendendo o valor do sacrifício e da resiliência. Esses relatos formavam a base de uma identidade familiar sólida, ancorada na história e na perseverança.
A última festa de colheita que Maria e Giovanni participaram foi um evento memorável. A colônia estava vibrante, cheia de música, risos e danças. Em um discurso emocionado, Giovanni fez um brinde à memória dos que haviam falecido e ao futuro promissor da nova geração. Maria, com lágrimas nos olhos, agradeceu a todos por manter viva a chama da esperança e da solidariedade que haviam trazido da Itália.
No fim da vida, Giovanni e Maria encontraram paz e satisfação, sabendo que haviam cumprido sua missão de transformar uma terra desconhecida em um lar vibrante e próspero. O legado deles perduraria através das gerações que continuariam a construir sobre as fundações que haviam estabelecido.
Em seus últimos dias, Maria e Giovanni sentaram-se à sombra da grande árvore que haviam plantado juntos no jardim de sua casa. Observavam os netos brincando e os filhos trabalhando, sentindo-se contentes com a vida que haviam construído. Eles sorriam, sabendo que a jornada, com todas as suas dificuldades e alegrias, havia valido a pena.
E assim, a saga dos imigrantes italianos na Colônia Caxias tornou-se uma história de triunfo e resiliência, um testemunho do poder do espírito humano e da força da esperança. A cada nova geração, a memória de Giovanni e Maria continuaria a inspirar e a lembrar a todos que, mesmo nas circunstâncias mais desafiadoras, a perseverança e a união podem transformar o impossível em realidade.


sábado, 15 de janeiro de 2022

Os Imigrantes Italianos na Colônia Conde d'Eu atual Garibaldi

 

Imigrantes na Hospedaria da Ilha das Flores, no Rio de Janeiro, em finais do século XIX

Em 1870 o governo imperial criou a Colônia Conde d'Eu, atual município de Garibaldi, localizado na Serra Gaúcha e que abrigou um grande número de imigrantes italianos.

Desde o ano de 1878 a Colônia Conde d'Eu passou a contar com o auxílio da Società Italiana di Mutuo Soccorso Stella D'Italia, formada por sócios italianos, que criou um refúgio seguro, um espaço favorável para atuação dos imigrantes, congregando-os em um ambiente associativo onde podiam cultuar suas crenças e costumes.




A partir de 1880 com o incremento da imigração italiana no Rio Grande do Sul, o número de assentados foi aumentando gradativamente. Entre os anos de 1875 e 1914 o estado gaúcho recebeu um número aproximado de 80.000 imigrantes italianos, que fugindo da miséria cada vez maior na Itália, se transferiram definitivamente para o Brasil, atraídos pelas perspectivas de construir uma vida melhor. 




Além da intensa propaganda, que nem sempre primava pela honestidade, feita pelos inúmeros recrutadores a serviço das companhias contratantes de mão de obra com o governo do Império do Brasil, também tiveram um papel muito importante de atração de novos imigrantes, foram as cartas convite enviadas pelos primeiros aqui chegados para os seus amigos e parentes que tinham permanecido na Itália.    

Nessas cartas os pioneiros enalteciam o clima do Rio Grande do Sul, muito parecido com aquele do norte da Itália, a fertilidade do solo e a grande facilidade para obtenção de lotes de terra. 

Essas cartas, principalmente, enfatizavam a felicidade de terem finalmente se tornado proprietários de terras. Não precisavam mais obedecer a um patrão e, principalmente, não tinham mais que dividir as colheitas com o dono da gleba como acontecia na Itália.




O objetivo do governo imperial, e depois aquele da província do Rio Grande do Sul, de trazer imigrantes era o de suprir os grandes centros das necessidades alimentares e abastecer com produtos agrícolas mercado interno do país. 

No entanto, muitos dos imigrantes que aqui chegaram, que se denominavam agricultores, na verdade tinham pouca ou quase nenhuma experiência com as lidas do campo. Eram pequenos artesãos, comerciantes e industriais que aproveitaram aquele momento para obterem a posse da terra. 




Esse fato foi até muito favorável para o rápido desenvolvimento interno das colônias, onde, em pouco tempo, surgiram comércios e pequenas indústrias artesanais.

Do Porto do Rio de Janeiro ou de Santos, onde os imigrantes desembarcavam, aqueles imigrantes cujo destino final era o Rio Grande do Sul, eram embarcados em navios menores até a capital Porto Alegre, onde eram alojados, provisoriamente, em precários barracões de madeira, para esperar a transferencia para as colônias a que estavam destinados: Caxias, Dona Isabel ou Conde d'Eu.




Colocados em pequenas embarcações a vapor navegavam por aproximadamente sete horas, subindo as fortes correntes do rio Caí, até o ponto de desembarque, o qual ficava ainda muito distantes das colônias. Essas deviam ser  alcançadas após aproximadamente três dias de marcha a pé, no lombo de mulas ou carretas de bois, atravessando a densa mata por estreitas estradas e picadas abertas na floresta. 

Chegados no local da colônia ficavam alojados em um outro barracão provisório de madeira, que ficou conhecido por barracão dos imigrantes, até que os lotes fossem devidamente demarcados e distribuídos pelos funcionários representantes do governo.




As condições para se chegar até as colônias eram muito difíceis, os caminhos estreitos e tortuosos. Os lotes demarcados ficavam distantes e os pioneiros precisaram abrir clareiras na mata virgem, abatendo gigantescas árvores, para delimitar uma pequena área a ser cultivada e construir um abrigo bastante precário de pau-a-pique, cobertos por galhos de árvores, folhas de palmeira e grimpa de pinheiros.

Preparada a terra, após a queimada das árvores e galhos, eram plantadas as primeiras roças de milho e feijão, com as sementes recebidas do governo na ocasião da chegada na colônia, juntamente com algumas ferramentas de trabalho. 




Enquanto esperavam pela colheita da primeira safra, os imigrantes sobreviviam da caça de aves e pequenos animais, além da coleta de frutos, as vezes consumiam algum mantimento recebido do governo. Em outras ocasiões compravam algumas provisões com o dinheiro arrecadado com a venda da madeira e, mais raramente, com o soldo do trabalho assalariado permitido, por somente quinze dias ao mês, na abertura de estradas, caminhos ou outras benfeitorias que interessassem a administração.

Os bilhetes do transporte marítimo entre a Europa e o Rio Grande do Sul era financiado pelas autoridades brasileiras. Os lotes e alguns eventuais subsídios como transporte dentro do estado, as despesas com estadias, ferramentas e sementes deveriam ser pagos ao governo em um período de 5 a 10 anos, com um tempo de carência.

O título provisório da terra somente era entregue ao colono imigrante quando este já houvesse quitado pelo menos 20% da dívida e o título definitivo, quando a dívida estivesse totalmente paga. Os imigrantes levavam muito a sério essas dívidas com o governo, pois, as famílias inadimplentes podiam ser expulsas dos seus lotes perdendo todo o trabalho já realizado. Para evitar a perda da terra  toda a família se empenhava no trabalho, até as mulheres e filhos pequenos ajudavam no esforço familiar.

Com o tempo a produção agrícola das colônias aumentou bastante e surgiu um outro problema que dificultava a venda dos produtos colhidos que era a falta de estradas e de comunicação, o  que impedia que as safras fossem escoadas e vendidas devido a falta de contato com as demais regiões.




Os primeiros imigrantes italianos chegaram à Colônia Conde d'Eu em 24 de dezembro de 1875, provenientes da região do Trento, ali encontrando imigrantes prussianos, espanhóis, portugueses e suíços que haviam chegado algum tempo antes. Até o final do século XIX os imigrantes italianos já eram o maior grupo étnico entre os assentados na colônia. 

A Colônia Conde d'Eu foi fundada no ano de 1870 e recebeu este nome em homenagem ao genro do imperador D. Pedro II, casado com a Princesa Isabel. 

Com a chegada das novas levas de imigrantes a colônia experimentou um crescimento acentuado e já em 1878 possuía 3 mil habitantes na sua maioria italianos.




Em 13 de Abril de 1884 a Colônia de Conde d'Eu  foi elevada à categoria de Freguesia de São Pedro e experimentou grande progresso com a construção de estradas e crescimento da área urbana surgindo várias casas de comércio, indústrias, como ferrarias, fábrica de cerveja gasosa, gaitas, pólvora, alguns moinhos sapatarias, alfaiatarias, serrarias, fundição de sinos e o cultivo de videiras. 

Uma das principais características de uma propriedade colonial italiana é o fato que nela todos da família trabalhavam, com as tarefas sendo divididas de acordo com o gênero e idade de cada um dos seus membros. Aos homens cabia o trabalho na agricultura, criação de animais e atividades de comércio da produção. Às mulheres estava destinada as ocupações nas tarefas domésticas e em atividades mais leves na horta, na criação de animais e cuidados com os filhos.

As crianças por sua vez começavam a ajudar os pais em pequenas atividades já à partir dos 6 anos de idade até completarem 15 anos, quando então passavam a trabalhar junto com os adultos. 







sexta-feira, 27 de agosto de 2021

Padre Bartolomeo Tiecher

Padre Bartolomeo Tiecher




O padre Bartolomeo Tiecher, nascido em Caldonazzo, hoje município da província de Trento, na Região do Trentino Alto Adige, foi o primeiro sacerdote tirolês a emigrar de onde hoje é a Itália, para o Brasil acompanhando 700 pequenos agricultores tiroleses, provenientes da Valsugana (Val Sugana) no ano de 1875. 

Chegou com as primeiras levas de imigrantes italianos no Rio Grande do Sul, acompanhado pelos pais, irmãos e conterrâneos. 

Por saber falar também a língua alemã, foi designado para assumir o posto de Capelão da Colônia Santa Maria da Soledade, no então município de São João de Montenegro, hoje São Vendelino, tomando posse em 23 de dezembro de 1875. 

No dia 21 de Março de 1876 celebrou a 1ª missa na Colônia Conde D'Eu, hoje Garibaldi, na Serra Gaúcha, em um altar improvisado com caixas e baús dos imigrantes, no meio da precária estrada ali existente. 

Como sacerdote exerceu o seu apostolado nas colônias de Conde D'Eu e Dona Isabel onde pela falta de igrejas celebrava as missas ao ar livre e em altares improvisados. Se preocupava muito com o abandono que os imigrantes se encontravam naqueles primeiros anos da chegada ao estado e também com a falta de sacerdotes para dar o atendimento religioso aos imigrantes.

Padre Bartolomeo Tiecher se destacou como naturalista estudando a flora do Rio Grande do Sul.

O sacerdote atuou nas
colônias Conde D’Eu e Dona Isabel
O sacerdote atuou nas
colônias Conde D’Eu e Dona Isabel e celebrava
missas a
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a falta de igreja
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nas colônias,
devido
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falta de sacerdotes
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com
a
situação de abandono em que os colonos italianos se encontravam durante a fase
pioneira. O Padre Tiecher também se destacou como um naturalista
,
sendo um grande estudioso
da flora rio
-
grandense.
Palavras
-
chave

: imigrantes italianos, p
mata

terça-feira, 6 de março de 2018

As Colônias Italianas no Rio Grande do Sul

Distribuição dos Lotes em Caxias do Sul



As Colônias Italianas no Rio Grande do Sul


Após a bem sucedida experiência de colonização alemã no Rio Grande do Sul, fundada em 1824, o governo imperial brasileiro iniciou um processo semelhante com imigrantes de origem italiana. Assim, em 1875, começaram a chegar, na província de São Pedro do Rio Grande do Sul, as primeiras famílias de imigrantes italianos, sendo que os vênetos constituiram-se no contingente mais numeroso, atingindo no final a percentagem de 54% do total dos italianos desembarcados no Estado.
Nessa época o Rio Grande do Sul já contava com uma população de aproximadamente 400 mil habitantes e o governo provincial aproveitando a doação de terras, de acordo com a lei imperial de 1848, iniciou uma política imigratória, sendo a primeira província a fundar colônias com fundos próprios, podendo assim administrá-los por conta própria. Em 1875 iniciou a criação de quatro novos núcleos destinados ao assentamento de colonos imigrantes italianos. Assim foram fundadas as Colônias de Dona Isabel e Conde D' Eu (logo mais conhecidas como Bento Gonçalves e Garibaldi respectivamente), a Colônia Fundos de Nova Palmira (depois rebatizada de Colônia Caxias) e a Colônia Silveira Martins, também conhecida como Quarta Colônia, por ter sido o quarto núcleo de colonização italiana a ser criado no RS naquele período. Breve estas quatro colônias pioneiras deram lugar a dezenas de municípios gaúchos. Temos então:

1- Colônia Caxias deu origem a Caxias do Sul, Flôres da Cunha, Farroupilha e São Marcos

2- Colônia Dona Isabel formou Bento Gonçalves


   3- Colônia Conde D' Eu originou Garibaldi e Carlos Barbosa

  4- Colônia Silveira Martins deu origem as cidades de Silveira Martins, Vale Vêneto, Ivorá, Nova Palma, Faxinal do Soturno, São João do Polesine e Santa Maria



À partir de 1884, uma vez totalmente ocupadas esses quatro núcleos pioneiros, foram sendo criadas outras colônias do outro lado do Rio das Antas e assim surgiram:

1.        Colônia Antonio Prado, deu origem ao atual município de mesmo nome

2. Colônia Alfredo Chaves, deu origem a Veranópolis, Nova Prata, Nova Bassano e Cotiporã

3. Colônia Guaporé, origem dos municípios de Guaporé, Encantado, Muçum, Serafina Correa e Casca

4. Colônia Encantado, originou os municípios de Encantado e Nova Brescia.

Aos poucos, essas colônias foram se expandindo cada vez mais, sempre em direção do Rio Uruguai, divisa com Santa Catarina. Foram surgindo novas colonias nas atuais cidades de: Tapejara, Getúlio Vargas, Erechim, Severiano de Almeida, Sananduva, Paraí, Nova Araçá, Ciríaco, Davi Canabarro, Marau, Anta Gorda, Ilópolis, Putinga, Arvorezinha, Ipê.


Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta

Erechim RS