A Vida do Dr. Martino: Um Médico Italiano no Brasil - Capítolo 3
O cônsul Giuseppe Caprio desembarcara no Brasil havia quase dois anos, transferido do consulado de Barcelona para assumir o de Porto Alegre. Fora naquela vibrante cidade espanhola que Leonora se especializara em música e piano, lapidando-se como uma pianista de notável virtuosidade. Martino, desde o instante em que a conhecera, fora enfeitiçado pelo magnetismo de Leonora — não apenas por sua beleza clássica, mas pelo talento que emanava de suas mãos ao piano. Atraído por ela como a mariposa pela chama, adiava repetidamente sua partida para o interior.
Com a anuência dos pais de Leonora — encantados com o prestígio do jovem médico, herdeiro do respeitável Comendador Coppola — Martino tornara-se um visitante constante na casa consular. Para eles, naquele recanto remoto e distante da Itália, era raro surgir um pretendente tão promissor para sua filha. Os dias transformaram-se em semanas, e o inevitável aconteceu: um pedido de noivado selou o destino de ambos. Para os Caprio, aquilo era mais que um compromisso; era um renascimento de esperanças.
O casamento foi marcado para o final do ano, uma data especial: o aniversário de 26 anos de Leonora. A cerimônia seria realizada na imponente catedral de Porto Alegre, um evento que prometia ser tão grandioso quanto o amor que os unia.
Enquanto Leonora imergia nos preparativos, Martino finalmente decidiu aventurar-se ao interior do estado. Lá, adquiriu uma propriedade imponente: uma ampla casa de dois andares, situada em um vasto terreno em uma das principais ruas da cidade. O imóvel, que antes pertencera a um rico comerciante cuja trágica morte ainda era comentada pelos habitantes locais, parecia aguardá-lo. Anos mais tarde, essa casa seria transformada em um grande hospital-maternidade, mas, naquela época, era o marco inicial da visão de Martino.
Martino planejava abrir sua clínica na nova residência, mas não queria perder contato com o ambiente médico de Porto Alegre. Assim, passou a dividir seu tempo entre a capital e o interior, numa estratégia que demonstrava tanto ambição quanto um desejo de estar próximo de Leonora.
O casamento, como previsto, foi um acontecimento memorável. Noticiado pelos principais jornais e comentado entre as elites da cidade, a união do jovem médico e da talentosa pianista atraiu até mesmo os pais de Martino, que viajaram da Itália para prestigiar a cerimônia e conhecer a nora tão celebrada.
Após a boda, o casal se estabeleceu no interior, carregando consigo o piano de Leonora — uma peça indispensável, tanto para a decoração da casa quanto para sua alma artística. Com ele, Leonora preenchia os serões com recitais que atraíam a elite local, transformando a residência em um ponto de encontro cultural.
Nos anos que se seguiram, Martino e Leonora formaram um casal inseparável. Quando Martino precisava atender pacientes em cidades vizinhas — algo frequente —, alugavam acomodações em pequenos hotéis, garantindo que nunca se distanciassem um do outro. Esse equilíbrio entre vida pessoal e profissional tornou-se uma marca de sua união.
A clínica de Martino prosperou rapidamente, impulsionada por equipamentos modernos trazidos da Itália e pelo talento do médico em realizar complexas cirurgias. Logo, sua reputação ultrapassou as fronteiras do município, atraindo pacientes de toda a região. Na capital, ele abriu um consultório e firmou-se como cirurgião em um dos maiores hospitais de Porto Alegre. Seu nome, agora sinônimo de excelência, perpetuou-se nos anais da medicina gaúcha.
Apesar do sucesso e da harmonia conjugal, uma tristeza persistia: o casal não teve filhos. Embora o amor entre eles permanecesse inabalável, a ausência de crianças era uma sombra que, de tempos em tempos, pairava sobre sua felicidade.
Nota do Autor
"A Vida do Dr. Martino: Um Médico Italiano no Brasil" é um romance fictício inspirado no rico contexto histórico da imigração italiana para o Brasil no final do século XIX. Apesar de os cenários, eventos históricos e circunstâncias socioeconômicas descritos serem baseados em fatos reais, os personagens e suas histórias são inteiramente fruto da imaginação do autor.
Este livro busca explorar a força humana em meio a adversidades e a resiliência de indivíduos que deixaram suas terras natais em busca de um futuro melhor. O protagonista, Dr. Martino, é uma figura fictícia, mas sua jornada representa os desafios enfrentados por muitos que embarcaram nessa travessia para terras desconhecidas, carregando consigo sonhos, esperanças e o desejo de reconstruir suas vidas.
Ao dar vida a esta narrativa, espero que o leitor seja transportado para uma época de transformações, desafios e conquistas. Que possam sentir o peso das decisões que moldaram gerações, a saudade que permeava os corações e a determinação que levava homens e mulheres a desafiar o desconhecido.
Este é, acima de tudo, um tributo à coragem, à humanidade e ao espírito de aventura que definiram um capítulo tão significativo na história de dois países, Itália e Brasil, cujos destinos se entrelaçaram para sempre através da imigração.
Com gratidão por embarcar nesta jornada,
Dr. Piazzetta