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quarta-feira, 29 de junho de 2022

Os Imigrantes Italianos nos Campos de Cima da Serra do RS

 

Colônia Caxias no ano de 1884



A expansão do capitalismo, no final do século XIX, foi o contexto sobre o qual desenrolou-se a história da imigração europeia para o Brasil e, mais especificamente, para o Rio Grande do Sul. Em território brasileiro, especialmente nas lavouras cafeeiras, os imigrantes europeus gradativamente substituíram a mão de obra escrava, que vinha tornando-se escassa e cara desde a abolição do tráfico com a África em 1850.

Em solo gaúcho, a política imigratória justificava-se pela necessidade de colonização e povoamento. A experiência positiva com a imigração alemã possibilitou o surgimento de novos núcleos coloniais que seriam ocupados por imigrantes italianos. Esses núcleos foram organizados na Encosta Superior do Nordeste, região formada por terras devolutas, delimitadas pelos Campos de Cima da Serra e pela região dos vales, de colonização alemã. A opção por esta área coube ao governo da província que, em 1869, decidiu pela ocupação do território mais tarde denominado Região Colonial Italiana.

A organização dos trabalhos coube a órgãos governamentais responsáveis pela identificação e exploração das terras, medição, demarcação e recepção dos imigrantes nas colônias. Nas sedes das colônias, a responsabilidade pelos trabalhos ficava a cargo da Diretoria da Colônia, subordinada à Inspetoria Especial de Terras e Colonização e, no caso do Rio Grande do Sul, sediada em Porto Alegre e esta, por sua vez, subordinada à Inspetoria Geral de Terras e Colonização do Rio de Janeiro.

A estrutura administrativa, prevista pela Lei de Terras de 1850 e legislação posterior, era mantida pelo trabalho de engenheiros, agrimensores, desenhistas, topógrafos, tradutores e escriturários e sustentou a criação na região da Serra Gaúcha, entre 1872 e 1875, de três colônias: Colônia Caxias, Colônia Dona Isabel (Bento Gonçalves) e Colônia Conde D'Eu (Garibaldi). A área compreendida por cada uma das colônias continha quatro léguas quadradas ou 174.200.000 metros, dividindo-se em lotes rústicos e lotes urbanos.

Estes lotes situavam-se dentro das denominadas Linhas ou Travessões, conhecidas como caminhos traçados no meio da mata, de seis a 13 quilômetros de extensão, que serviam como divisores dos lotes. Os travessões agrupados formavam as léguas. Contudo, nem todas as léguas possuíam o mesmo tamanho e a mesma quantidade de travessões, já que diferenciavam-se em decorrência da topografia dos terrenos.

Dentro dessas linhas e travessões, surgiam os lotes. Os denominados lotes rústicos ou rurais possuíam uma extensão, conforme a legislação, entre 22 e 25 hectares. Na prática, seu tamanho era ainda mais variado, tendo alguns lotes até 80 hectares. Mesmo assim, eram áreas pequenas se comparadas àquelas destinados aos imigrantes alemães e às extensas sesmarias do período colonial brasileiro. Valorizava-se, dessa forma, a formação da pequena propriedade rural, cuja principal força de trabalho era a familiar, destinada à produção de bens para subsistência e abastecimento do mercado interno. Os lotes eram pagos no prazo entre cinco e 15 anos.


Texto da página oficial da Prefeitura de Caxias do Sul

sábado, 30 de janeiro de 2021

A Imigração Italiana no Rio Grande do Sul



A Itália foi unificada muito tardiamente e precisou de um longo tempo para se consolidar como uma nação. Esta se iniciou em 1870, a somente cinco anos do início da grande emigração, quando o país se inseriu no projeto de industrialização, que já tinha sido implementado por muitos outros países europeus. O  país chegava com atraso a época da industrialização e os pequenos agricultores não teriam muito espaço nesse novo contexto econômico no qual a máquina, gradualmente, foi substituindo o homem. 

O sistema vigente no campo era até então o do arrendamento das terras, no qual se praticava um agricultura antiquada, ainda nos moldes do semi feudalismo, e nas comunidades rurais cada vez mais cresciam os problemas sociais e se tornavam um peso para as autoridades do país. Era uma agricultura era ainda de subsistência, onde o pequeno agricultor, que formavam a grande maioria da população italiana na época, não possuíam a propriedade das terras onde trabalhavam. Viviam em pequenas e antigas comunidades, pequenas vilas do interior e arrendavam dos grandes proprietários rurais acanhados lotes de terras já esgotadas. 




Os agricultores italianos rapidamente ficaram tomaram conhecimento que no Novo Mundo a situação era totalmente diferente. No Brasil um país imenso e essencialmente agrícola, com grandes espaços desabitados, ainda cobertos por uma densa floresta nativa, devido a abolição da escravatura e do sucesso da cultura do café, estava precisando de mão-de-obra e passara a incentivar a chegada de emigrantes europeus para trabalharem nas extensas plantações dos estados de São Paulo e Espírito Santo. 

O governo imperial brasileiro também estava necessitando de imigrantes agricultores para ocuparem as terras devolutas nos três estados do sul do país, grandes extensões de terras ainda improdutivas. Para tanto estava oferecendo gratuidade nas despesas de viagem para as famílias de imigrantes que quisessem se estabelecer. Para tanto já tinha iniciado um grande programa imigratório, com a criação de várias colônias, inicialmente no Rio Grande do Sul, depois nos outros dois estados  Paraná e Santa Catarina. 

Essas notícias se espalharam como fogo por toda a zona rural italiana e especialmente naqueles primeiros anos nas províncias do norte, especialmente, o Vêneto e a Lombardia. As notícias que o Brasil estava pagando todas as despesas de viagem até os diversos locais de trabalho, foram exaustivamente propagadas pela grande rede de agentes e sub agentes de emigração rapidamente criadas pelas companhias de navegação italianas, que não queriam perder aquela oportunidade para tirá-las da bancarrota. 

Em um primeiro momento as lavouras de café absorveram a maior parte da grande leva de emigrantes italianos com destino ao Brasil. Nessas plantações eles eram assalariados ou contratados com direito a uma pequena porcentagem da colheita, mas não podiam comprar terras. Tinham uma rústica casa na grande propriedade e podiam plantar, entre as fileiras de pés de café, algumas culturas para a sua própria subsistência. Logo os imigrantes se deram conta que tinham saído de um sistema de quase escravidão na Itália, para cairem no Brasil a servir um grande proprietário sem a esperança de um dia chegarem a ser proprietários de um pedal de terra. Para os que que queriam abandonar a fazenda, eram proibidos de fazê-lo até o fim do contrato e do respectivo pagamento de todas as dívidas que haviam contraído com o patrão: alimentos, médico, remédios e outras despesas feitas pelo patrão até chegarem no Brasil. 

Por outro lado, um número cada vez maior de imigrantes preferiu se transferir e se fixar nas colônias italianas do sul do Brasil, onde poderiam, desde a chegada aos seus lotes,  serem os proprietários das suas terras. O acalentado sonho da propriedade e o enriquecimento rápido foram os principais atrativos para se dirigirem para os estados do sul. 

No Rio Grande do Sul o governo imperial, e logo depois aquele da república brasileira e de cada província, criaram colônias nas regiões montanhosas do estado, pois, os campos já estavam ocupados com a criação intensiva de gado. O projeto imigratório foi iniciado com a criação de três núcleos colonizadores: Conde d'Eu (atual município de Garibaldi) Dona Isabel (futura cidade de Bento Gonçalves) e Caxias (atual Caxias do Sul). Logo em seguida foi criada a Colônia de Silveira Martins, conhecida como a quarta colônia italiana no Rio Grande do Sul. Com a chegada cada vez maior de imigrantes italianos o governo da província se viu obrigado de criar novas colônias, que rapidamente também ficaram lotadas: Antônio Prado, Alfredo Chaves (atual cidade de Veranópolis) e Guaporé.
Após aguardarem o período da quarentena na Ilha das Flores, no Porto do Rio de Janeiro, os colonos imigrantes eram colocados em outros navios menores, em direção a cidade de Porto Alegre onde ficavam temporariamente abrigados em grandes barracões ainda no porto de Rio Grande e Pelotas e, quando liberados para prosseguirem a viagem, seguiam a bordo de pequenos barcos a vapor navegavam pelo rio Guaíba, na Lagoa dos Patos, e depois continuavam subindo pelos rios Caí e Jacuí para desembarcarem em pequenos portos fluviais, mas, ainda muito longe dos locais onde seriam definitivamente assentados. Ainda precisavam muitos dias de difícil caminhada, subindo a serra, a pé e em carroções puxados por juntas de bois, acompanhados por agentes do governo abrindo as picadas com facões. Estavam destinados a colonizarem a região mais alta do estado e a produzirem gêneros de primeira necessidade para abastecer a crescente população da capital da província.

Na fase inicial da imigração, entre 1875 até o começo da I grande guerra mundial em 1914, foram introduzidos aproximadamente 100 mil imigrantes italianos no Rio Grande do Sul. 

No Paraná inicialmente foram criadas duas colônias italianas na cidade litorânea de Morretes, cidade vizinha ao Porto de Paranaguá por onde chegavam os imigrantes provenientes da Itália. Essas colônias duraram pouco tempo devido aos problemas de administrativos, a falta de um grande centro consumidor para absorver os produtos colhidos, e também, pelo clima quente e úmido do litoral que não foi de agrado dos recém chegados. Em dois anos após a chegada os imigrantes conseguiram se transferir para novas colônias nos arredores da capital paranaense, onde o clima era excelente e as terras muito férteis. Muitas outras colônias de imigrantes italianos ou mistas, foram criadas no Paraná, e todas elas floresceram e de deram o nascimento de grandes cidades, com excessão da Colônia Cecília, na cidade de Palmeira, onde se assistiu uma tentativa falida de colonização anarquista. Em Santa Catarina também foram criadas inúmeras colônias, algumas somente de imigrantes italianos e outras mistas. A imigração de tiroleses e trentinos, predominaram nesse estado. 

Pela Lei de Terras, promulgada em 1850 pelo então governo imperial brasileiro, as glebas devolutas que pertenciam ao governo, poderiam ser comercializadas. Nesse sentido que as colônias de imigração foram demarcadas em lotes de 250 metros de frente e 1000 ou 1200 metros de fundo, um verdadeiro latifúndio para aqueles pequenos agricultores acostumados, na Itália, a trabalharem em pequenos lotes de terra. Essas propriedades o imigrante podia adquirir mediante financiamento do governo, estendido em prazos de até cinco anos para o pagamento. Para se tornar proprietário a única exigência era a ocupação imediata e o consequente início da produção, gerando para eles os dividendos que seriam usados para a quitação da dívida com o governo. As densas matas foram aos poucos sendo derrubadas dando lugar à plantações de culturas variadas, onde a mão-de-obra familiar era empregada em todo o processo da produção. Enquanto que na Itália onde viviam, devido a total falta de recursos, os pequenos agricultores não tinham condições de ser os donos da terra, no Rio Grande do Sul, os imigrantes foram favorecidos pelos financiamentos a longo prazo do governo em prestações compatíveis e tornaram-se proprietários da tão sonhada terra, e isso com relativa facilidade. Para os imigrantes o descaso do governo italiano para com os pequenos produtores rurais, contrastava com o empenho das autoridades do governo federal brasileiro e das províncias do Rio Grande do Sul e Paraná para criarem toda a infraestrutura necessária para o projeto de imigração.




Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS






terça-feira, 29 de setembro de 2020

Alguns Aspectos da Imigração Italiana no Rio Grande do Sul


A maior parte dos imigrantes italianos que chegaram ao Rio Grande do Sul eram procedentes do norte da Itália, onde trabalhavam como agricultores meeiros, em terras arrendadas de grandes proprietários rurais. Muitos deles também eram artesãos e quase nenhum donos de suas terras. Ao chegarem ao seu destino,  depois de muitos dias de extenuante caminhada, por estradas que não passavam de estreitas trilhas abertas no meio do mato, passando por regiões acidentadas, sozinhos e desamparados, isolados no meio do nada, rodeados de animais e florestas de árvores gigantes que jamais tinham visto, constataram, com incredulidade, uma situação muito diferente daquela que tinham prometido, lá na Itália, pelos recrutadores da companhia de emigração, contratada pelo governo imperial brasileiro. 

Aqui na Província do Rio Grande do Sul, literalmente, tudo estava por ser feito, desde a casa para abrigar a família até as primeiras roças, passando antes de tudo pelo árduo trabalho de abater a grande quantidade de  árvores da nova propriedade para preparar as primeiras roças. A prometida ajuda oficial do governo não foi tão consistente como desejavam e nos primeiros anos na colônia as famílias para sobreviverem  tiveram de trabalhar exaustivamente de sol a sol. 

Apesar de todo sofrimento que passaram e das dificuldades que tinham encontrado na nova pátria,  ainda assim estavam contentes, a terra era muito fértil, o clima ameno, tinham bastante água e acima de tudo estavam trabalhando na sua própria terra. O sonho da propriedade estava sendo realizado e o fantasma da fome tinha sido deixado para trás. 

As primeiras colheitas se mostraram muito boas e o excedente de produção comercializado até em cidades distantes, gerando uma renda para as famílias. 



Construíram inicialmente um rústico abrigo provisório para se repararem da chuva e do frio, usando pedaços de pau e pedras, cobertos por sapé e outras folhas de árvores encontradas na região. Passados mais alguns anos começaram a construir a suas casa usando tábuas de madeira usadas na parte superior e grandes pedras para o tradicional porão. 
A casa rústica era quase sempre dividida em uma cozinha grande, uma sala, um ou dois quartos no andar superior e um sótão usado como depósito. No porão ficava a cantina doméstica que também era usado como depósito de ferramentas. Ao lado da casa ficava uma pequena horta, um pequeno paiol, o chiqueiro e um galinheiro. Devido ao perigo de incêndio que a cozinha representava, pois o fogo ficava sempre aceso, ela costumava ficar em um espaço separado da casa, como um apêndice separado. Com a melhoria das condições financeiras das famílias, as casas eram ampliadas ou reconstruídas, os cômodos pequenos e rústico do início, davam lugar a instalações maiores, muitas vezes com ornamentos externos e internos. Os imigrantes italianos permaneciam nessas casas por diversas gerações, sendo comum os filhos casados ficarem morando com os pais. Muitas vezes isso se devia pela falta de lotes nas colônias, as quais cresciam rapidamente com a constante chegada de novos imigrantes. Os filhos casados agora tinham que adquirir lotes de terra em outras colônias, bem mais distantes das famílias, seguindo em direção ao norte do estado. Com isso a expansão das colônias era uma realidade e novos núcleos de imigrantes iam surgindo, os quais deram origem a maioria dos município gaúchos. 

Oriundos de regiões italianas diferentes, muitos grupos mal chegavam a se compreender mutuamente, e os conflitos políticos e ideológicos que haviam trazido da Europa, especialmente aqueles liberais, republicanos e maçons contra os católicos, monarquistas e tradicionalistas, continuaram exercendo influência no Brasil, com o resultado de se verificarem ondas de protestos e conflitos violentos em várias comunidades. Contudo, a grande maioria professava uma fé católica vigorosa, que em alguns locais, contribuiu para acirrar conflitos com as autoridades laicas, geralmente ligadas à maçonaria e ao Partido Republicano Rio-Grandense, por outro lado serviu como um poderoso elo unificador entre os grupos divergentes, que se caracterizaram por uma forte tendência ao associativismo. 
Na vida rural, em particular, a religião exercia uma influência central nos costumes e mesmo na organização do cotidiano, e uma das principais queixas nos primeiros tempos foi a escassez de padres, obrigando a muitos leigos assumirem funções pastorais e até litúrgicas. Em todos os travessões (divisões nas colônias) foram erguidas capelas, que além de suas atribuições sagradas também funcionavam como pontos de referência geográfica e centros de convívio e assembleia comunitária. As festas do santo padroeiro da capela, do Natal e do Ano Novo, da Páscoa e outros dias santos, costumavam reunir toda a comunidade do travessão. As capelas em muitos casos suscitaram a formação de novos centros de urbanização em seu redor, surgindo uma profusão de pequenas vilas e aglomerados edificados entre as colônias. Geralmente ligados à administração das capelas e apoiados pelo poder público, emergiam os primeiros líderes comunitários, encarregados de resolver conflitos, organizar ações coletivas, encaminhar as queixas às autoridades e assessorar os padres quando em visita, já que as capelas não possuíam sacerdote residente. Foi também a religião que ensejou as primeiras expressões artísticas, cultivando canções e hinos sacros e favorecendo a produção de estatuária de culto, pinturas e marcenaria de estilo para adorno dos templos. Seus mais antigos exemplos são naturalmente bastante rústicos, devido à precariedade do meio. As festas profanas eram os filós, reuniões onde as famílias se encontravam em uma das casas ou em um salão comunitário para cantar, comer e trocar experiências e memórias, além de envolverem atividades lúdicas e competições esportivas.
No início do século XX a zona colonial havia estabelecido uma próspera atividade econômica, tornando-se um dos principais centros produtores do estado. Embora muito diversificada, a produção era liderada pelas vinícolas, que a esta altura eram em conjunto o maior produtor de vinho do Brasil, tendo ganhado muitos prêmios nacionais e internacionais. Mas o setor do vinho vivia numa crise crônica e os lucros eram oscilantes. Nesta época foi feita uma experiência de cooperativismo em larga escala sob a égide do técnico italiano Giuseppe Paternó, convidado pelo governo estadual, a fim de melhorar a qualidade do produto e torná-lo mais competitivo, combater as falsificações e os intermediários, diversificar a produção com castas finas e intensificar a troca de experiências entre os produtores, mas ela acabou fracassando.
Apesar do expressivo sucesso da produção rural, com o passar dos anos outros problemas começaram a avultar. Os italianos geralmente transferiam toda a terra para um dos filhos, geralmente o mais novo, que iria cuidar dos pais na velhice. Às vezes os lotes eram divididos entre os irmãos, mas seu tamanho pequeno logo colocou um impedimento para divisões sucessivas. Os deserdados precisavam partir em busca de outras colocações, iniciando um grande êxodo populacional para novas colônias que iam surgindo ou para outros estados. A desestabilização do modo de vida rural se acentuou no entre-guerras, quando a cultura italiana foi reprimida pelo programa nacionalista de Getúlio Vargas e o sistema de produção regional passou a se concentrar na indústria e no comércio. Os investimentos escoavam principalmente para as cidades, já em rápido crescimento, aumentando os problemas no campo, cujos artigos — incluindo os artesanatos — sofriam crescente concorrência de importados e industrializados e passavam a ficar dependentes de intermediários para seu escoamento. Boa parte daqueles filhos sem terra e sem futuro definido acabou se refugiando nas cidades e se tornando parte do proletariado operário e comerciário. 


Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta 
Erechim RS










terça-feira, 21 de agosto de 2018

O início da 4ª Colônia Italiana no Rio Grande do Sul



O início da 4ª Colônia Italiana no Rio Grande do Sul

Após o êxito alcançado com as três primeiras colônias italianas no RS: Conde D´Eu, Dona Isabel e Caxias, o governo provincial da Província de São Pedro do Rio Grande do Sul passou a criação da Colônia de Silveira Martins, vizinha a cidade de Santa Maria, depois conhecida como 4º Colônia. 
A primeira leva de imigrantes italianos, composta poraproximadamente 100 famílias, chegou a esta colônia por volta da primavera de 1877, ficando hospedados no Barracão de Val de Buia. 
A chegada dessa primeira leva coincidiu com a saída as pressas dos imigrantes eslavos – russos e poloneses – que abandonavam o local para se dirigirem a Porto Alegre com destino ao Paraná. Esses emigrantes não resistiram às precárias condições do barracão e tendo ceifadas muitas vidas, devido várias epidemias, decidiram abandonar definitivamente as instalações. 
Logo vieram as demais levas de italianos e vênetos provenientes de Porto Alegre, os quais subindo o rio Jacuí desembarcavam em Rio Pardo e, depois de um sem número de sofrimentos, a pé e em carroças de bois, alcançaram o local onde se encontrava o barracão que os devia hospedar temporariamente em Val de Buia, até a demarcação final dos lotes pela Comissão do Governo Imperial. 


Região da Quarta Colônia Italiana no Rio Grande do Sul

Devido o moroso trabalho dessa comissão de demarcação e a sempre contínua chegada de novos imigrantes, que compunham as demais levas, o número daquela população rapidamente atingiu a cifra de aproximadamente 1000 pessoas, que era a soma das quatro levas que esperavam a sua colocação nos lotes a eles destinados. 
O chamado barracão, que devia hospedar os recém-chegados, nada mais era que um pavilhão de grandes proporções, sem divisórias internas, sem privacidade, construído em madeira bruta lascada, coberto por folhas de palmeira, com muitas frestas nas paredes e chão de terra batida. A promiscuidade, a falta de higiene e a péssima alimentação disponível serviram de combustível que fez eclodir no local uma violenta, rápida e letal epidemia de doença infectocontagiosa, aproximadamente entre Maio e Julho de 1878. Em pouco tempo as mortes já se sucediam num ritmo tão rápido que já não dava mais tempo para a confecção de caixões que proporcionasse um enterro digno. Muitas foram as famílias vênetas atingidas, algumas chegando a perder quase todos os seus membros. Acredita-se, de acordo com historiadores, que tenham morrido no local, em poucas semanas, mais de 300 imigrantes.

Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS