sexta-feira, 26 de dezembro de 2025

Capitéis no Sul do Brasil: Herança de Fé e Memória dos Imigrantes Italianos


 

Capitéis no Sul do Brasil: Herança de Fé e Memória dos Imigrantes Italianos


Ao percorrer as antigas comunidades formadas pelos imigrantes vênetos no Rio Grande do Sul, ainda é possível encontrar pequenas estruturas que carregam silenciosamente séculos de devoção: os capitéis. Esses oratórios simples, hoje vistos como relíquias culturais, surgiram como resposta imediata a uma necessidade espiritual urgente dos primeiros colonos que aqui chegaram no final do século XIX.

Sem condições materiais para levantar capelas ou igrejas, os recém-chegados improvisaram espaços de oração nas beiras das estradas — principalmente uma prática trazida diretamente das zonas rurais do Vêneto. No começo, eram feitos de madeira bruta, levantados com o esforço das famílias que buscavam agradecer bênçãos, pedir proteção ou simplesmente manter viva a fé que lhes dava força para enfrentar a nova realidade. Com o tempo, alguns ganharam forma em alvenaria, tornando-se marcos permanentes na paisagem colonial.

Nesses oratórios, rezava-se o terço, organizavam-se novenas, celebravam-se tríduos e até pequenas festas dedicadas aos santos padroeiros. Para muitas famílias, o capitèl era o único ponto de encontro religioso num território que ainda engatinhava em estrutura e organização comunitária.

Algumas dessas pequenas construções evoluíram para capelas, que até hoje permanecem como sinais da persistência cultural dos imigrantes. Outras, embora já não cumpram o mesmo papel espiritual de antigamente, continuam preservadas ao lado de caminhos rurais, lembrando discretamente a trajetória dos colonos que moldaram a identidade das regiões de colonização vêneta no Rio Grande do Sul.

Nota do Autor

A história dos capitéis é, antes de tudo, a história de pessoas que atravessaram o oceano levando somente a coragem e a fé como bagagem. Esses pequenos oratórios, erguidos com as próprias mãos pelos colonos vênetos e italianos, não foram apenas símbolos religiosos — tornaram-se pontos de união, refúgio emocional e testemunhos silenciosos da esperança que nutria cada família em meio às incertezas da imigração.

Ao preservá-los, não guardamos apenas tijolos e madeira antiga; guardamos a memória de quem acreditou que, mesmo longe da terra natal, era possível reconstruir um lar. Os capitéis seguem ali, firmes, como sentinelas do passado, lembrando-nos de que a fé, a persistência e a comunidade foram pilares essenciais para a formação das colônias italianas no sul do Brasil.

Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta


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