Espaço destinado aos temas referentes principalmente ao Vêneto e a sua grande emigração. Iniciada no final do século XIX até a metade do século XX, este movimento durou quase cem anos e envolveu milhões de homens, mulheres e crianças que, naquele período difícil para toda a Itália, precisaram abandonar suas casas, seus familiares, seus amigos e a sua terra natal em busca de uma vida melhor em lugares desconhecidos do outro lado oceano. Contato com o autor luizcpiazzetta@gmail.com
terça-feira, 19 de setembro de 2023
Blog Emigrazione Veneta: Descubra o Fascinante Mundo da Emigração Italiana e Veneta
terça-feira, 2 de maio de 2023
A Pelagra e a Pobreza no Veneto do Século XIX: Uma Análise Histórica
A pelagra foi uma doença que atingiu em larga escala a população do Veneto, região do nordeste da Itália, na última metade do século XIX. A doença, que é causada pela deficiência de niacina (vitamina B3) e triptofano, atingia principalmente as camadas mais pobres da população, que não tinham acesso a uma alimentação adequada e sofriam com as condições insalubres em que viviam.
Os primeiros casos de pelagra foram registrados na região do Veneto em meados do século XIX, mas a doença só começou a se tornar um problema de saúde pública a partir da década de 1870, quando os casos se multiplicaram em toda a região. Os sintomas da pelagra incluem irritação na pele, diarreia, demência e, em casos mais graves, coma e morte.
A causa da pelagra só foi descoberta no início do século XX, quando o médico norte-americano Joseph Goldberger realizou uma série de estudos que demonstraram a relação entre a deficiência de niacina e triptofano e a ocorrência da doença. No entanto, na época em que a pelagra se espalhou pelo Veneto, ainda não se sabia o que causava a doença e como tratá-la.
A pelagra teve um impacto devastador na região do Veneto, que enfrentava uma série de desafios socioeconômicos na época. A região havia passado por um período de instabilidade política e econômica, com a unificação da Itália e a abolição do feudalismo, o que levou a um aumento da pobreza e da marginalização social. Além disso, a região sofria com a falta de saneamento básico e de acesso a uma alimentação adequada, o que favorecia a disseminação da doença.
Para combater a pelagra, foram desenvolvidas diversas campanhas de conscientização e de assistência médica na região do Veneto. Os médicos locais começaram a estudar a doença e a identificar as populações mais vulneráveis, como os trabalhadores rurais e os prisioneiros. Foram também criados hospitais e clínicas especializadas no tratamento da pelagra, onde os pacientes recebiam uma alimentação balanceada e suplementos vitamínicos para combater a deficiência de niacina e triptofano.
Com o tempo, as medidas de prevenção e tratamento da pelagra foram aprimoradas e a doença deixou de ser um problema de saúde pública na região do Veneto. No entanto, a história da pelagra na Itália serve como um lembrete dos desafios enfrentados pelas populações mais vulneráveis em momentos de instabilidade social e econômica, e da importância de se investir em políticas públicas de saúde e assistência social para garantir a qualidade de vida da população.
Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS
sexta-feira, 14 de maio de 2021
Criada a Itália Partem os Emigrantes
O fenômeno emigratório na Itália acorreu com um atraso de vinte anos em relação a maioria dos países europeus. O grande êxodo coincidiu com o nascimento do país chamado Itália. Com a unificação italiana desapareceram os pequenos mercados locais dando lugar ao mercado único e aberto à concorrência com outros países. A Itália, ainda muito débil, não estava preparada para esse confronto.
Na ocasião da unificação a Itália apresentava um balanço negativo da sua economia. Existia uma população, ainda em fase de crescimento, de 26 milhões de habitantes, mas, o país era totalmente desprovido de matérias primas. A industrialização tinha apenas acabado de chegar.
A agricultura ainda era muito atrasada, fazendo uso de métodos de cultivo arcaicos e já superados. O analfabetismo atingia mais de 80% da população italiana. O país sofria de antigas pragas e doenças que a atingiam desde a muito tempo, como por exemplo a malária que matava a cada ano mais de 40.000 pessoas; a pelagra que atingia 100.000 "italianos". Faltavam estradas, escolas, hospitais, moradias, ferrovias e tantas outras necessidades básicas para uma vida mais digna. O governo do novo país, para fazer frente as sempre crescentes necessidades do estado, gravava a população com impostos e taxas cada vez maiores.
Em 1866 quando o Vêneto foi unido ao reino italiano a região já se encontrava em graves dificuldades. Estava em terceiro lugar como região agrícola do país e também era a mais atrasada de todo norte da Itália. Não era uma região onde predominavam os trabalhadores rurais diaristas, pois, de uma população de 2,8 milhões de habitantes, existiam 516 mil pequenos proprietários.
Os problemas do Vêneto não se iniciaram com a a sua anexação à Itália, era um problema muito mais antigo, da época da República Sereníssima, três séculos e meio atrás, quando Veneza se viu alijada das grandes e lucrativas rotas marítimas, com a circunavegação da África e a descoberta da América.
Os nobres venezianos e os ricos burgueses para manterem as suas fortunas, tiveram que se voltar para as suas propriedades rurais do interior da região. Eles eram pessoas, que na sua maioria não amavam a terra, moravam na cidade e contratavam administradores para cuidarem das suas plantações e receber os lucros obtidos. Tinham pouco envolvimento com a vida da propriedade rural e a usavam como um local de laser, para passarem algum tempo longe do fervilhar das cidades, onde verdadeiramente residiam. Para eles o que interessava era somente a renda obtida.
Diferente da vizinha região da Lombardia onde a agricultura foi se transformando em indústrias, dando prioridade para a criação de gado, a produção de leite, de manteiga e queijos, enquanto o Vêneto ainda estava estagnado, com uma visão arcaica das potencialidades do campo. A terra produzia tão somente o necessário para matar a fome dos pobres agricultores arrendatários e contentar os patrões proprietários das terras. Prevalecia no Vêneto uma cultura rural mista, sem especializações, onde o agricultor se limitava a produzir todos os anos as mesmas culturas habituais, utilizando-se de velhas e obsoletas ferramentas de lavoura herdadas dos avós.
As causas do atraso da agricultura vêneta reside justamente aqui, e os diversos males que atingiram os trabalhadores da terra são consequências de uma sociedade sem visão, que não criava, que não arriscava, que não se renovava. Era, com raras excessões, uma sociedade atrasada e imóvel.
Algumas culturas, dependendo das estações do ano, até conseguiam dar algum alívio aos produtores, como a criação do bicho da seda, a cultura do tabaco e a fabricação caseira de tecidos, esta última se constituindo no berço de uma futura indústria têxtil regional. No Vêneto não surgiu um desenvolvimento capitalista do campo, parecido com aquele da Lombardia. Não apareceram proprietários rurais com uma visão empresarial do campo que o transformasse em uma empresa agrícola, que fosse administrada como uma fábrica.
Por sua vez, a zona montanhosa era onde se encontrava o ponto mais fraco de toda a Região, nela os males que afligiam a economia vêneta eram elevados ao extremo. Ali uma grande população vivia em uma economia de subsistência onde as safras eram quase sempre deficientes e de pouca qualidade. Os lotes cultiváveis então disponíveis eram fracionados ao máximo, cabendo à cada família de agricultores arrendatários uma pequena porção de terra insuficiente para gerar renda.
Os rios e as torrentes de montanha, até então ainda não tinham recebido as melhorias de proteção necessárias, como por exemplo a construção das suas margens para a contenção das cheias, falta essa que provocava periodicamente grandes alagamentos e desmoronamentos que devastavam as plantações e até mesmo vilas inteiras.
Foi justamente dessas montanhas do Vêneto, privadas de recursos, onde a fome já rondava muitos lares, que partiram as primeiras levas de emigrantes em direção ao Novo Mundo.
sexta-feira, 20 de abril de 2018
O Arenque Defumado Pendurado com um Barbante sobre a Mesa
Entre as recordações do Vêneto que permaneceram até hoje na memória dos descendentes de emigrantes e que ainda se conservam vivas encontramos o episódio do arenque defumado, atado em um barbante, sobre a mesa nas refeições.