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sábado, 17 de agosto de 2024

Nos Silêncios da Alma: A Longa Espera de Beatrice




Em um modesto quarto ao fim de um longo corredor, suavemente banhado pela luz que se infiltrava pelas cortinas desgastadas, Dona Beatrice, uma senhora de 86 anos, passava seus dias imersa em um silêncio profundo. Seus cabelos, que um dia foram volumosos e negros, agora eram finos fios brancos que caíam em ondas suaves sobre seus ombros. Seus olhos, antes cheios de brilho e juventude, agora refletiam o peso de muitos anos e a solidão de um coração que já experimentou tanto.
Beatrice tinha cinco filhos, onze netos e dois bisnetos. Ela era mãe, avó e bisavó, mas, naquele momento, sua vida parecia confinada àquele pequeno espaço. As risadas e conversas animadas que um dia preenchiam sua casa haviam se tornado apenas memórias distantes. O tempo havia passado, levando consigo a energia e o calor da convivência familiar que um dia definiram sua existência.
Agora, ela residia em um lar de idosos, onde outras pessoas organizavam seu quarto, preparavam suas refeições e cuidavam de sua saúde. Não era mais a mulher que cozinhava pratos preferidos dos netos, nem a artesã que passava horas dedicando-se aos bordados que tanto gostava. Sua independência havia se esvaído, e em seu lugar, surgiu uma rotina que ela nunca escolheu.
Os dias passavam lentamente. De tempos em tempos, Beatrice recebia a visita de um neto, o que trazia um breve lampejo de alegria aos seus olhos cansados. No entanto, essas visitas eram raras e espaçadas. Alguns vinham a cada quinze dias, outros a cada três ou quatro meses, e havia aqueles que nunca apareciam. Era como se o tempo tivesse erguido barreiras invisíveis entre ela e a família que um dia esteve tão próxima.
Na solidão do quarto, Beatrice encontrava algum consolo nas poucas lembranças que trouxera consigo. Fotografias amareladas pelo tempo estavam espalhadas sobre uma mesinha ao lado da cama. Elas eram seu único elo com o passado, um passado onde ela era cercada por pessoas que a amavam e dependiam dela. Agora, essas mesmas pessoas seguiam com suas vidas, enquanto ela permanecia ali, quieta, à espera de algo que não conseguia definir.
Ela não sabia quanto tempo ainda lhe restava, mas compreendia que precisava aprender a lidar com a solidão. Participava das atividades do lar, ajudava outros residentes em condições mais frágeis que as dela, mas evitava criar laços muito fortes. O ciclo era doloroso: amizades que se formavam rapidamente se desfaziam, à medida que a morte levava aqueles a quem Beatrice começava a se apegar.
Olhando pela janela, Beatrice refletia sobre a longevidade da vida. A questão martelava sua mente com frequência. O que antes parecia uma bênção, agora revelava-se uma prova de resistência. Ela observava o mundo lá fora, mas ele parecia tão distante quanto uma lembrança vaga. As pessoas passavam apressadas, imersas em suas próprias vidas, enquanto ela, dentro daquele pequeno quarto, vivia um tempo diferente, um tempo de espera.
Apesar da dor da solidão, Beatrice mantinha uma esperança silenciosa. Havia uma compreensão profunda dentro dela sobre o valor da família, sobre o ciclo de cuidados que começa com os pais e que deveria ser retribuído pelos filhos. Ela acreditava que as próximas gerações entenderiam isso, que perceberiam a importância de cuidar daqueles que um dia cuidaram deles.
Em seu quarto, Beatrice rezava para que seus filhos, netos e até bisnetos aprendessem essa lição. Não buscava vingança ou ressentimento; apenas desejava que eles reconhecessem o que é verdadeiramente importante na vida – o amor e o tempo compartilhados.
E assim, os dias de Beatrice seguiam, um após o outro, numa rotina que parecia nunca mudar. Ela se tornara uma sombra do que um dia fora, mas em seu coração, ainda guardava o amor por sua família. Embora raramente fosse dito, e ainda menos visto, esse amor era a força que a mantinha firme, dia após dia.
As enfermeiras que entravam em seu quarto notavam a expressão serena de Beatrice, mas não podiam imaginar os pensamentos que passavam por sua mente. Elas desempenhavam seu trabalho com dedicação, mas para Beatrice, elas eram apenas presenças passageiras. Não eram sua família, não eram aqueles que ela criara e amara. Eram, contudo, a única companhia constante que ela tinha agora.
Beatrice sabia que o tempo era implacável. Sabia que, um dia, aquela porta se fecharia para ela pela última vez. Mas até lá, ela esperava, com a paciência que só os anos podem ensinar, que algum de seus filhos ou netos se lembrasse de quem ela era, de tudo o que fizera por eles, e viesse vê-la, nem que fosse por um breve instante.
No final, Dona Beatrice era apenas uma mulher idosa, que, em meio à solidão de um quarto de dez metros quadrados, ainda encontrava força em suas lembranças e no amor que jamais deixou de sentir. Ela não pedia muito da vida, apenas um pouco de tempo, um pouco de atenção, e, acima de tudo, um pouco de amor.


domingo, 28 de julho de 2024

A Viagem Final




A Viagem Final

Era uma noite gelada e tranquila quando o taxista recebeu uma chamada inesperada. A cidade estava envolta em um silêncio interrompido apenas pelo ruído esporádico de alguns carros. Dirigiu-se ao endereço indicado, um prédio modesto com uma única luz acesa no térreo.

Ao chegar, sua primeira intenção foi buzinar e esperar. Contudo, algo o fez parar. Quem chamaria um táxi tão tarde da noite poderia estar precisando de ajuda. Determinado, saiu do carro, foi até a porta e tocou a campainha. Ouviu um som suave, como algo se arrastando, seguido por uma voz fraca:

— Estou indo. Um momento, por favor.

A porta se abriu, revelando uma senhora idosa, pequena e delicada, vestindo um vestido estampado. Ela se apoiava em uma bengala e segurava uma pequena mala na outra mão. O taxista olhou para dentro da casa e percebeu que todos os móveis estavam cobertos com lençóis, como se o lugar estivesse desocupado há muito tempo.

— Pode me ajudar com a mala? — pediu a senhora, com uma voz trêmula, mas cortês.

O taxista prontamente pegou a mala e ajudou a idosa a entrar no carro. Ela deu o endereço e fez um pedido incomum:

— Podemos passar pelo centro da cidade?

— Mas esse caminho é mais longo — observou ele, tentando ser prático.

— Não tem importância — respondeu ela com surpreendente firmeza. — Não tenho pressa. Quero ver a cidade pela última vez. Estou indo para um asilo, pois não tenho mais família e o médico disse que meu tempo está acabando.

Comovido pela história, o taxista desligou o taxímetro discretamente. Olhou para trás e perguntou:

— Para onde a senhora gostaria de ir?

E assim começou uma jornada diferente de todas as outras. Ele a levou a um edifício no centro da cidade, onde ela trabalhou como ascensorista na juventude. Depois, foram a um bairro onde ela morou recém-casada, lembrando momentos de felicidade ao lado do marido. Mais adiante, ela apontou o clube onde dançaram tantas vezes juntos.

De vez em quando, a senhora pedia que ele diminuísse a velocidade ou parasse em frente a algum edifício. Seus olhos vagavam pela escuridão, buscando memórias antigas, e ela suspirava, perdida em pensamentos.

As horas passaram e, finalmente, ela manifestou cansaço:

— Por favor, agora estou pronta. Vamos para o asilo.

O taxista dirigiu-se a uma casa cercada de árvores. Apesar da hora avançada, foram recebidos por dois atendentes simpáticos. A senhora, agora em uma cadeira de rodas, se despediu do taxista.

— Quanto lhe devo? — perguntou ela.

— Nada — respondeu ele, com um sorriso. — É uma cortesia.

— Você tem que ganhar a vida, meu rapaz!

— Há outros passageiros — retrucou ele gentilmente.

Com os olhos marejados, ele a abraçou carinhosamente. Ela retribuiu com um beijo na bochecha e palavras de gratidão:

— Você deu a esta velhinha um grande presente. Deus o abençoe.

Naquela madrugada, o taxista decidiu não mais trabalhar. Refletiu sobre a noite que acabara de viver. E se tivesse apenas tocado a buzina e ido embora? E se tivesse recusado a corrida por causa do horário? E se tivesse encerrado o turno rapidamente para ir para casa?

Percebeu a importância de ser gentil e dedicar-se a alguém. Dois dias depois, sentindo a necessidade de saber como estava sua passageira, voltou à casa de repouso. Foi informado, com um nó na garganta, que ela havia falecido na noite anterior.

O taxista, com o coração apertado, compreendeu a profundidade do impacto que um simples gesto de bondade pode ter na vida de alguém. Naquele breve encontro, ele fez mais do que apenas transportar uma passageira; ele proporcionou um último vislumbre de felicidade a uma vida que estava se apagando.

Às vezes, pensamos que grandes momentos são feitos de grandes ações. No entanto, existem pequenas coisas que representam muito para alguém. O importante é estar atento, para não perder essas valiosas oportunidades de dar felicidade a alguém. Mesmo que seja um simples passeio pela cidade, uma ida ao cinema, uma volta pelo jardim, um bate-papo no fim da tarde, atender um telefonema na calada da noite. Pense nisso! Esteja atento para as pequenas coisas, os gestos quase insignificantes. Eles podem significar, para alguém, toda a felicidade.





domingo, 23 de junho de 2024

O Eco das Memórias




O Eco das Memórias


Isabel sentava-se junto à janela do seu pequeno quarto de 12 metros quadrados, observando o movimento silencioso do jardim do lar de idosos. As árvores balançavam suavemente ao vento, como se sussurrassem segredos antigos que só elas conheciam. As flores, cuidadas com esmero por algum jardineiro anônimo, exibiam suas cores vivas, contrastando com a monotonia cinzenta que Isabel sentia em seu coração.

Ela pensava nos filhos, quatro ao todo. Cada um seguiu seu caminho, construindo suas vidas, criando seus próprios filhos. Isabel nunca foi de reclamar, mas a saudade era uma companheira constante. Seus netos, onze pequenas extensões do seu amor, eram a razão de muitos dos seus sorrisos solitários. Os bisnetos, dois pequeninos que ela mal conhecia, eram como um sonho distante, quase irreal.

"Como chegamos a isso?", perguntava-se. Isabel lembrava-se das noites em que fazia nuggets e ovos recheados, e dos almoços de domingo com rolos de carne moída que tanto agradavam a todos. Lembrava-se das risadas ecoando pela casa, dos brinquedos espalhados, das brigas infantis e das reconciliações rápidas. Era uma casa cheia de vida.

Agora, a vida dela estava limitada a este pequeno quarto. Não havia mais a sua casa, nem as suas coisas amadas. Os móveis que escolheu com tanto carinho foram substituídos por peças impessoais. Ela tinha quem arrumasse seu quarto, quem lhe preparasse as refeições, quem lhe fizesse a cama, quem lhe controlasse a pressão e a pesasse. Mas não tinha mais a alma do lar que tanto amava.

As visitas dos filhos e netos eram raras. Alguns vinham a cada quinze dias, outros a cada três ou quatro meses. Alguns, nunca. Isabel tentava não se abater com isso, mas a ausência deles era um fardo pesado. Não fazia mais sentido preparar seus pratos favoritos ou decorar a casa para recebê-los. Sua alegria era agora contida em passatempos solitários, como o sudoku, que a entretinha por alguns momentos.

Naquele lar, Isabel conheceu outras pessoas. Muitas estavam em condições piores que a dela. Ela se apegava a algumas, ajudava no que podia, mas evitava criar laços muito fortes. "Eles desaparecem frequentemente", pensava. A vida no lar era uma constante dança com a morte. O tempo passava devagar, mas cada dia parecia trazer a notícia de uma nova partida.

Dizem que a vida é cada vez mais longa. "Por quê?", questionava Isabel em seus momentos de solidão. Quando estava sozinha, olhava para as fotos da família e para algumas memórias que trouxera de casa. Isso era tudo o que lhe restava. A decisão de ir para o lar não foi fácil. Isabel ainda se lembrava da reunião de família, quando todos se sentaram ao redor da grande mesa de jantar que agora pertencia a outra pessoa. Seus filhos tentaram convencê-la de que era o melhor para ela. “Mãe, você não pode mais viver sozinha”, disseram. “É perigoso, e no lar você terá todos os cuidados de que precisa.”

Ela sabia que estavam certos, mas doía pensar em deixar a casa onde criou sua família. A casa tinha alma, e cada canto estava impregnado de lembranças. Quando fechou a porta pela última vez, Isabel sentiu como se um pedaço de seu coração ficasse para trás.

O lar parecia mais uma instituição hospitalar do que uma casa. Os corredores eram amplos e frios, as paredes brancas e sem vida. O quarto que lhe designaram era pequeno, mas ela tentou decorá-lo com alguns objetos pessoais: fotos dos filhos e netos, um quadro que ela mesma pintara, e uma colcha de crochê feita por sua mãe. Mas nada conseguia mascarar a sensação de solidão.

Os primeiros dias foram os mais difíceis. Isabel estava acostumada à sua rotina, à liberdade de fazer o que queria quando queria. No lar, tudo era controlado. As refeições tinham hora marcada, assim como os remédios e as atividades. Era uma mudança brusca e dolorosa. Com o passar do tempo, Isabel começou a conhecer os outros moradores. Havia Dona Maria, uma senhora de 90 anos com um sorriso contagiante, mas que sofria de Alzheimer. Seu José, um ex-marinheiro com histórias fascinantes, mas com uma saúde frágil. E Dona Clara, uma mulher que, como Isabel, fora deixada pelos filhos no lar e nunca recebia visitas.

Essas novas amizades traziam algum alívio à solidão de Isabel. Ela passava horas ouvindo as histórias de Seu José e ajudando Dona Maria a lembrar dos nomes dos filhos. Mas cada nova amizade vinha com o medo da perda. As despedidas eram frequentes, e Isabel começou a se proteger, evitando se apegar demais.

A terapia ocupacional era uma das atividades que Isabel mais apreciava. Ela se sentia útil, ajudando a organizar eventos, fazendo artesanato e até ensinando as enfermeiras a fazerem os pratos que um dia preparou para sua família. Mas mesmo esses momentos de alegria eram sombreados pela tristeza da ausência daqueles que ela mais amava. Isabel passava muito tempo refletindo sobre a vida e o que ela ensinara. Lembrava-se das palavras da própria mãe: “A família se constrói para ter um amanhã”. Ela criara seus filhos com amor e dedicação, esperando que um dia eles retribuíssem com o mesmo cuidado. Mas a realidade era diferente. Eles estavam ocupados com suas próprias vidas, seus próprios filhos e problemas.

Ela não os culpava. Entendia que o mundo mudara, que as pressões do trabalho e da vida moderna afastavam as pessoas. Mas ainda assim, doía. Isabel queria que as próximas gerações entendessem a importância de cuidar daqueles que nos cuidaram. Que vissem além da correria do dia a dia e encontrassem tempo para estar com os mais velhos, para ouvir suas histórias, para retribuir o amor que receberam.

Certa noite, Isabel estava sentada à janela, observando as estrelas. Pensava na vida, na morte e no que viria depois. Sentiu uma calma profunda ao perceber que, apesar de tudo, vivera uma vida plena. Criara uma família, amara e fora amada. E mesmo que agora estivesse sozinha, tinha suas memórias e a certeza de que fizera o melhor que pôde. O tempo passou, e Isabel tornou-se uma memória no lar onde viveu seus últimos dias. Mas suas palavras e ensinamentos permaneceram. Os filhos e netos, tocados pela ausência e pelas reflexões tardias, começaram a valorizar mais o tempo com suas próprias famílias. O ciclo da vida continuava, mas com uma nova consciência sobre a importância da presença, do cuidado e do amor.

Isabel se foi, mas deixou um legado. Seu quarto de 12 metros quadrados, que um dia fora um símbolo de solidão, tornou-se um símbolo de esperança. Uma lembrança de que, no final, o que realmente importa são os laços que construímos e o amor que deixamos para trás.



quinta-feira, 11 de abril de 2024

Fuga tra le Dolomiti: L'Epica Odissea di Matteo - Capitolo 3


Fuga tra le Dolomiti: L'Epica Odissea di Matteo

La vita è una sola e dobbiamo cercare di viverla appienoe


Capitolo 3 


Di imponente statura e abituato fin dall'infanzia a sfidare i capricci del clima, il vigoroso corpo del viaggiatore, spinto da agili passi, resisteva al freddo che si insinuava. In quel momento, il gelido non trovava spazio per infiltrarsi, respinto dai contorni atletici del viaggiatore. Mentre procedeva, la sua mente, un ingranaggio prodigioso, girava velocemente, risvegliando ricordi di un'infanzia legata alle pendici di maestose montagne. La sua terra natale, un piccolo villaggio di montagna, si rivelava nei ricordi come una cartolina ingiallita, con le sue scarse abitazioni di legno e pietra che circondavano una modesta chiesa, lo scenario sacro dove i suoi genitori avevano scambiato voti più di quattro decenni prima. Lì, nelle acque battezzate dalla stessa chiesa, lui e i suoi cinque fratelli avevano ricevuto i loro nomi. Il più giovane di una numerosa prole, quattro uomini e due donne, tutti tranne lui già immersi nelle responsabilità della vita coniugale e nella creazione dei propri figli. La sua famiglia si era radicata in quelle terre, coltivando il suolo come un'eredità ancestrale. Tre dei suoi fratelli avevano costruito case nello stesso villaggio, mentre gli altri, in località limitrofe, sostenevano la tradizione agricola tramandata dagli antenati. In quel mosaico di legami familiari e tradizioni rurali, una constatazione lo colse con un pizzico di sorpresa: tra i suoi, era l'unico a spezzare le catene di quel luogo. La sua fuga dalle strettoie del villaggio era dovuta alla sua innata curiosità e all'amore appassionato per i libri, un dono raro del vecchio maestro che, di tanto in tanto, saziava la sua sete di conoscenza. Fu proprio questo maestro che, con saggezza, gli aprì la strada per entrare in una scuola di formazione religiosa, un'opportunità unica per un ragazzo di dodici anni. Così, con una valigia piena di sogni e al fianco di un giovane compaesano, si lanciarono nell'ignoto, verso un collegio in città. Ricordò l'addio, uno spettacolo di emozioni trattenute, soprattutto perché sentiva che quella partenza segnava un addio alla casa paterna. La madre, già malata in quel periodo, si congedò da lui con un sorriso malinconico che nascondeva la tristezza sottostante. Lei capiva che quel percorso era necessario per lui, l'ultima occasione di sfuggire ai limiti prestabiliti di quel villaggio apparentemente senza orizzonti. Così, le lacrime trattenute negli occhi materni echeggiavano la rassegnazione e la speranza, perché lei sapeva che quella strada era la bussola che avrebbe guidato suo figlio al di là dei confini prevedibili di quelle montagne. Con la madre che svaniva nel passato, il giovane esploratore si gettò nei corridoi dell'istruzione formale, portando con sé non solo l'eredità della famiglia, ma anche una promettente fiamma interiore, alimentata dalla conoscenza e dalla promessa di un destino unico. Le radici profonde della montagna continuavano a esercitare la loro influenza, ma, come un seme portato dal vento, lui partì, cercando nuovi orizzonti che solo i tomi rilegati e i brucianti desideri potevano offrire. In quell'addio, tra i sospiri del passato e i sussurri del futuro, divenne l'araldo di un percorso straordinario, spezzando il destino tracciato dalla sua discendenza, scrivendo le sue stesse pagine sulle ancora inesplorate foglie del suo libro di vita. Immerso nelle trame del passato, mentre attraversava la densità della foresta, si vide improvvisamente strappato dai suoi ricordi da uno spavento così repentino da proiettarlo di nuovo nella cruda realtà. L'ombra della pattuglia, che aleggiava nella sua mente come una minaccia costante, lo colse, e, in un riflesso istintivo, si gettò a terra, cercando rifugio dietro a un imponente tronco caduto. Tuttavia, la furia sonora che lo aveva strappato dalla sua introspezione non era che un capriccio della natura: rami di un albero dal tronco robusto caddero, trascinando con sé appendici di altri alberi, creando il fragore che echeggiò nella solitudine della foresta. Lo spavento, seppur effimero, servì come un vigoroso richiamo alla sua consapevolezza, risvegliandolo alla necessità di essere vigile sul suo entorno. La percezione acuta che la notte si avvicinava portò con sé l'urgenza di trovare rifugio. Il freddo, intensificato dall'impeto del vento proveniente dall'ovest, lo spinse a prendere precauzioni immediate. Negli ultimi istanti di luminosità, identificò una imponente roccia e alcuni rami sporgenti, da cui costruì una rudimentale capanna. Con maestria improvvisata, la rivestì con foglie abbondanti sul terreno. Strategicamente, costruì il rifugio sul lato opposto alla pietra, contrastando l'impeto del vento crudele. Lì, tra il riparo improvvisato e il mormorio della natura notturna, si preparò ad affrontare un'altra notte, rifugiandosi nella fugacità del rifugio che aveva scolpito con le sue stesse mani. Estenuato, si abbandonò al sonno, immergendosi in un turbine di sogni e incubi che si susseguivano incessantemente. Immagini veloci della sua fuga e della casa paterna danzavano davanti ai suoi occhi chiusi. Si svegliò più volte nella notte, e quasi all'alba, sotto le prime luci che tingevano l'orizzonte, notò che il vento aveva perso la sua furia, cedendo il posto a una nevicata implacabile, dove i fiocchi bianchi diventavano padroni del paesaggio. Accoccolato sopra lo strato generoso di foglie secche che aveva improvvisato come letto e coperta, sperimentò una sensazione di protezione, un fugace rifugio nella tempesta del suo viaggio. Conosceva intimamente quella regione montuosa, simile alle terre dove aveva vissuto fino ai dodici anni, prima di varcare le porte del seminario. Nei tempi passati, insieme al padre e ai fratelli, esplorava i sentieri tra le montagne, guidando le mucche nei pascoli nascosti tra gli alberi. Era consapevole che in quei terreni accidentati esistevano rifugi, santuari eretti per la salvezza dei montanari colti di sorpresa in mezzo a una tempesta di neve improvvisa e implacabile. Nutriva la speranza di trovare quei rifugi, fari di salvezza nella vastità imprevedibile della montagna.


Passaggio del libro 'La Fuga dei Dolomiti' di Luiz Carlos B. Piazzetta
Continua

sábado, 16 de março de 2024

O Legado de Amor e Lembranças de Raquel


Raquel era mais do que uma senhora idosa; ela era um tesouro vivo de histórias, amor e sabedoria. Seus 82 anos eram como as páginas de um livro desgastado, repletas de capítulos que narravam a trajetória de uma vida vivida com intensidade. Agora, residindo em um lar para idosos, ela encontrava-se no crepúsculo de sua jornada, cercada pelas sombras da saudade e pela luz tênue da esperança.
Ao observar seu quarto modesto, Raquel não podia evitar a sensação de perda que a envolvia. Ali não estavam os móveis antigos, os objetos de família e as fotografias que contavam a história de uma vida plena. Mas, mesmo na ausência desses pertences materiais, ela encontrava conforto nas pequenas coisas: no carinho da equipe que ali trabalhava, nas refeições preparadas com dedicação e na cama feita com zelo todas as manhãs.
Entretanto, havia uma ferida silenciosa em seu coração, uma saudade que às vezes doía mais do que podia suportar. Dos seus 5 filhos, dos 12 netos e dos 3 bisnetos, apenas alguns eram capazes de visitá-la no lar. As visitas eram como raios de sol em dias nublados, raros e fugazes, mas capazes de aquecer a alma por um breve momento.
As lembranças dos tempos passados eram como uma canção antiga que tocava em sua mente, evocando emoções profundas e sorrisos nostálgicos. Ela se via revivendo os momentos de ternura compartilhados com sua família: os abraços apertados, os jantares em família, as brigas que sempre terminavam em perdão e amor. Eram esses momentos que sustentavam seu coração cansado, lembrando-a de que, apesar da distância física, o vínculo familiar era eterno.
Mesmo privada das atividades que tanto amava, como cozinhar os pratos preferidos da família ou bordar delicados pontos cruz, Raquel encontrava consolo nos pequenos prazeres do dia a dia. O sudoku se tornou um refúgio, um desafio mental que a distraía das sombras da solidão e a conectava com uma sensação de realização.
A terapia ocupacional se revelou um bálsamo para sua alma ferida. Ali, entre risos e conversas, Raquel encontrava um propósito renovado: ajudar aqueles que compartilhavam sua jornada nos corredores silenciosos do lar. No entanto, não podia se apegar muito a eles como desejava, pois a cada dia um desaparecia e não era mais visto. Mesmo diante dessa constante despedida, ela descobriu que, mesmo no crepúsculo da vida, ainda podia oferecer algo de si mesma aos outros, seja um sorriso gentil, uma palavra de conforto ou um abraço silencioso.
Enquanto contemplava o horizonte incerto que se estendia diante dela, Raquel nutria uma esperança silenciosa de que as gerações futuras compreendessem a importância da família. Ela desejava que o amor e o cuidado que ela dedicara à sua própria família fossem perpetuados, como uma chama que nunca se apaga. Pois, no final das contas, era esse amor que dava sentido à sua vida, um tesouro que nenhum tempo poderia roubar.



quinta-feira, 19 de outubro de 2023

Ecos Solitários: O Silêncio da Alma

 

Avenida Júlio de Castilhos Caxias 1880


Ecos Solitários: O Silêncio da Alma




Nas terras longínquas, isoladas e frias, 
Imigrantes pioneiros encontram solidão. 
Almas católicas fervorosas, buscam abrigo, 
Mas, padres e igrejas, são apenas ilusão.

No vazio dos dias, o sentimento persiste, 
Assistência espiritual ausente, dor profunda. 
Nas noites silenciosas, preces se erguem, 
Mas o eco solitário é a única resposta do mundo.

Em terras gaúchas, o clamor ecoa no ar, 
A falta de consolo, uma ferida sem cura. 
Corpos cansados, almas desoladas, 
Nas colônias italianas, a fé se mistura à amargura.







segunda-feira, 28 de agosto de 2023

Solidão nas Colônias: O Chamado Desatendido


 


Solidão nas Colônias: 
O Chamado Desatendido


No silêncio das colônias distantes, 
Imigrantes sofrem, almas sedentas. 
Católicos fervorosos, anseiam por conforto, 
Mas, padres e igrejas, são miragens sombrias.

Solidão paira no ar, como névoa densa, 
Ausência de assistência, uma ferida aberta. 
Corações ansiando por guias espirituais, 
Perdidos em terras estrangeiras, sem consolo.

Nessas terras gaúchas, de fé inabalável, 
O lamento ressoa nas noites estreladas. 
O chamado desatendido, angústia persistente, 
Nas almas dos pioneiros, ecoa eternamente.


de Gigi Scarsea
erechim rs