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domingo, 28 de julho de 2024

A Viagem Final




A Viagem Final

Era uma noite gelada e tranquila quando o taxista recebeu uma chamada inesperada. A cidade estava envolta em um silêncio interrompido apenas pelo ruído esporádico de alguns carros. Dirigiu-se ao endereço indicado, um prédio modesto com uma única luz acesa no térreo.

Ao chegar, sua primeira intenção foi buzinar e esperar. Contudo, algo o fez parar. Quem chamaria um táxi tão tarde da noite poderia estar precisando de ajuda. Determinado, saiu do carro, foi até a porta e tocou a campainha. Ouviu um som suave, como algo se arrastando, seguido por uma voz fraca:

— Estou indo. Um momento, por favor.

A porta se abriu, revelando uma senhora idosa, pequena e delicada, vestindo um vestido estampado. Ela se apoiava em uma bengala e segurava uma pequena mala na outra mão. O taxista olhou para dentro da casa e percebeu que todos os móveis estavam cobertos com lençóis, como se o lugar estivesse desocupado há muito tempo.

— Pode me ajudar com a mala? — pediu a senhora, com uma voz trêmula, mas cortês.

O taxista prontamente pegou a mala e ajudou a idosa a entrar no carro. Ela deu o endereço e fez um pedido incomum:

— Podemos passar pelo centro da cidade?

— Mas esse caminho é mais longo — observou ele, tentando ser prático.

— Não tem importância — respondeu ela com surpreendente firmeza. — Não tenho pressa. Quero ver a cidade pela última vez. Estou indo para um asilo, pois não tenho mais família e o médico disse que meu tempo está acabando.

Comovido pela história, o taxista desligou o taxímetro discretamente. Olhou para trás e perguntou:

— Para onde a senhora gostaria de ir?

E assim começou uma jornada diferente de todas as outras. Ele a levou a um edifício no centro da cidade, onde ela trabalhou como ascensorista na juventude. Depois, foram a um bairro onde ela morou recém-casada, lembrando momentos de felicidade ao lado do marido. Mais adiante, ela apontou o clube onde dançaram tantas vezes juntos.

De vez em quando, a senhora pedia que ele diminuísse a velocidade ou parasse em frente a algum edifício. Seus olhos vagavam pela escuridão, buscando memórias antigas, e ela suspirava, perdida em pensamentos.

As horas passaram e, finalmente, ela manifestou cansaço:

— Por favor, agora estou pronta. Vamos para o asilo.

O taxista dirigiu-se a uma casa cercada de árvores. Apesar da hora avançada, foram recebidos por dois atendentes simpáticos. A senhora, agora em uma cadeira de rodas, se despediu do taxista.

— Quanto lhe devo? — perguntou ela.

— Nada — respondeu ele, com um sorriso. — É uma cortesia.

— Você tem que ganhar a vida, meu rapaz!

— Há outros passageiros — retrucou ele gentilmente.

Com os olhos marejados, ele a abraçou carinhosamente. Ela retribuiu com um beijo na bochecha e palavras de gratidão:

— Você deu a esta velhinha um grande presente. Deus o abençoe.

Naquela madrugada, o taxista decidiu não mais trabalhar. Refletiu sobre a noite que acabara de viver. E se tivesse apenas tocado a buzina e ido embora? E se tivesse recusado a corrida por causa do horário? E se tivesse encerrado o turno rapidamente para ir para casa?

Percebeu a importância de ser gentil e dedicar-se a alguém. Dois dias depois, sentindo a necessidade de saber como estava sua passageira, voltou à casa de repouso. Foi informado, com um nó na garganta, que ela havia falecido na noite anterior.

O taxista, com o coração apertado, compreendeu a profundidade do impacto que um simples gesto de bondade pode ter na vida de alguém. Naquele breve encontro, ele fez mais do que apenas transportar uma passageira; ele proporcionou um último vislumbre de felicidade a uma vida que estava se apagando.

Às vezes, pensamos que grandes momentos são feitos de grandes ações. No entanto, existem pequenas coisas que representam muito para alguém. O importante é estar atento, para não perder essas valiosas oportunidades de dar felicidade a alguém. Mesmo que seja um simples passeio pela cidade, uma ida ao cinema, uma volta pelo jardim, um bate-papo no fim da tarde, atender um telefonema na calada da noite. Pense nisso! Esteja atento para as pequenas coisas, os gestos quase insignificantes. Eles podem significar, para alguém, toda a felicidade.