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sexta-feira, 21 de junho de 2024

Jornada Perigosa: O Drama da Imigração Italiana nas Américas no Século XIX

 


No final do século XIX, a imigração em massa italiana para as Américas tornou-se uma séria preocupação devido às condições desumanas nos navios. Superlotação, más condições de higiene e surtos de doenças infecciosas, como cólera, tifo e sarampo, eram enfrentados pelos imigrantes. As autoridades sul-americanas, preocupadas com riscos sanitários, recusavam a entrada de navios europeus, resultando em incidentes dramáticos. A história do navio Matteo Bruzzo, rejeitado a tiros em Montevideo em 1884 após casos de cólera, ilustra a negligência das companhias de navegação. Viagens como a do navio Remo, em 1893, revelam condições desumanas, com alimentos escassos e epidemias, enquanto a falta de regulamentações eficazes contribuiu para incidentes de envenenamento. A saúde precária, superlotação e falta de cuidados médicos adequados tornaram as viagens transatlânticas uma jornada perigosa e angustiante para os imigrantes italianos do século XIX. Além dos perigos óbvios, como cólera e febre amarela, as condições de vida nos navios eram desoladoras. A superlotação nas áreas de terceira classe, destinada aos passageiros com preços mais acessíveis, era extrema. Incidentes como o do navio Carlo Raggio em 1888, com 18 mortes por fome, e do Piroscafo Pará em 1889, com uma epidemia de sarampo que matou 34 pessoas, destacam a extrema vulnerabilidade dos passageiros. As empresas de navegação, mesmo cientes das condições adversas, continuaram a lotar os navios, ignorando os alertas e experiências passadas dos próprios imigrantes. Mesmo com a conscientização na Itália, expressa através de cartas e relatos, as companhias buscavam maximizar os lucros, preenchendo os navios em cada viagem transatlântica. A higiene precária e a falta de cuidados médicos adequados levaram a surtos de difteria, tuberculose e outros males. A história do Piroscafo Remo, em 1893, ilustra a prontidão em descartar doentes para evitar a propagação de epidemias, mesmo quando isso resultou em mortes evitáveis. O retorno dos navios também apresentava desafios, incluindo incidentes de envenenamento devido a más condições de armazenamento de alimentos. Regulamentações de higiene alimentar foram introduzidas em 1890, mas sua eficácia era limitada. A preocupação com epidemias, a superlotação, a má nutrição e a falta de assistência médica eram uma constante para os imigrantes italianos. A despeito dessas dificuldades, alimentados pela esperança de uma vida melhor, eles continuaram a embarcar em navios em direção às Américas, enfrentando incertezas e perigos para tentar construir um futuro mais promissor no Novo Mundo. A experiência dos imigrantes italianos no século XIX, apesar dos desafios e perigos enfrentados nas travessias transatlânticas, era impulsionada por uma mistura de desespero e esperança. Muitos venderam tudo o que tinham para financiar a viagem, enquanto outros partiram na tentativa de se reunir com familiares no Brasil e em outros países das Américas. A notícia devastadora de que, após uma longa jornada em condições desesperadoras, 1.500 pessoas não seriam permitidas no Brasil gerou desânimo e desespero entre os passageiros do Piroscafo Remo. O retorno desses navios após as dificuldades encontradas também foi uma prova da resiliência e força dos imigrantes. Após 70 dias de viagem, incluindo uma parada forçada na ilha de Asinara, na Sardenha, para quarentena, o Piroscafo Remo chegou de volta a Gênova, tendo perdido 96 vidas no percurso. A falta de cuidados médicos adequados e as condições precárias persistiam nas viagens, e as companhias de navegação hesitavam em assumir os custos para melhorar a qualidade dos serviços a bordo. A luta contra epidemias, envenenamentos alimentares e outros males continuava a assombrar os imigrantes que buscavam uma vida melhor do outro lado do oceano. Essa época deixou um legado de coragem e resiliência, pois os imigrantes italianos enfrentaram adversidades inimagináveis em sua busca por oportunidades nas Américas. O preço humano pago durante essas jornadas é uma parte significativa e muitas vezes esquecida da história das migrações. Em uma canção dos imigrantes italianos, reflete a mentalidade daqueles que, apesar das incertezas e perigos, escolheram enfrentar os desafios da travessia oceânica em busca de uma vida melhor. A frase "Tentiamo la sorte" ("Vamos tentar a sorte") encapsula a atitude corajosa e otimista que impulsionou esses indivíduos a embarcar em uma jornada incerta. A história dessas migrações é um testemunho da tenacidade humana diante das adversidades. Mesmo diante de condições desumanas, doenças e incertezas, os imigrantes italianos perseveraram, motivados pela esperança de um futuro mais promissor e pelas oportunidades que a América poderia oferecer. Esses relatos históricos também ressaltam as deficiências nos sistemas de saúde e regulamentações de segurança da época, evidenciando a necessidade de melhorias significativas nas condições de viagem e nas práticas das companhias de navegação. O legado dessas experiências contribui para a compreensão da complexidade e das dificuldades enfrentadas pelos imigrantes italianos durante o século XIX. Hoje, essas histórias servem como um lembrete poderoso do sacrifício, da resiliência e da determinação que moldaram as trajetórias de muitos que buscavam uma vida melhor além das fronteiras de sua terra natal. A imigração italiana para as Américas é uma parte fundamental da narrativa global de migrações, deixando um impacto duradouro na história e na cultura desses países. A coragem demonstrada pelos imigrantes italianos ao enfrentar adversidades inimagináveis durante suas travessias transatlânticas é um testemunho da força do espírito humano diante das circunstâncias mais difíceis. Ao escolherem "Tentiamo la sorte" ("Vamos tentar a sorte"), esses indivíduos não apenas buscaram uma vida melhor para si mesmos, mas também contribuíram para a construção de uma nova narrativa nas Américas. A frase encapsula a resiliência, a coragem e a esperança que guiaram esses pioneiros italianos através de uma jornada incerta em direção a um futuro desconhecido. A história das migrações italianas é marcada por sacrifícios, perdas e triunfos, mas, acima de tudo, é um testemunho da busca incessante por oportunidades e de um desejo inabalável de construir um futuro melhor para as gerações vindouras. Essa herança, embora muitas vezes esquecida, é uma parte vital da história das Américas, enriquecendo a tapeçaria cultural dessas nações e destacando a extraordinária resiliência daqueles que ousaram tentar a sorte em terras distantes.



domingo, 31 de março de 2024

A Viagem Desafiadora de Edmundo: Vida a Bordo durante a Emigração Italiana no Século XIX

Emigrantes italianos a bordo



O escritor e militar italiano nascido em Oneglia, no reino da Sardenha, Edmondo De Amicis, em viagem para a América, a bordo do navio a vapor Galileo, descreve com estas palavras o que viu na área dos convés ocupada pelos emigrantes: 

"Um amplo espaço lotado de passageiros, que ao longo dos dois lados tem estábulos para bois e cavalos, gaiolas para pombos e galinhas, compartimentos para carneiros e coelhos, ao fundo a lavanderia a vapor e o matadouro, de um lado os tanques de água doce e os reservatórios marinhos, no meio a casinha da taverna e a entrada para os dormitórios femininos, fechada por uma estranha sobreposição de tetos de vidro, que servem como assentos para as mulheres". A narrativa do escritor pode parecer exagerada, aos olhos dos observadores de hoje; no entanto, é confirmada por artigos e ensaios da época, que foram analisados em um estudo histórico pela escritora italiana Augusta Molinari, no seu livro "Le navi di Lazzaro", onde relata sobre os aspectos sanitários da viagem marítima, de onde extraímos as observações que se seguem: 

"Até a aprovação da lei de emigração de 1901, não existia uma regulamentação dos aspectos sanitários da emigração e, ainda em 1900, a situação do transporte marítimo de emigrantes era resumida por um médico da seguinte forma:

 "A higiene e a limpeza estão constantemente em conflito com a especulação. Faltam espaço, falta ar." As camas dos emigrantes eram dispostas em dois ou três corredores e recebiam ar principalmente através das escotilhas. A altura mínima dos corredores ia de um metro e sessenta centímetros para o primeiro, começando de cima, a um metro e noventa para o segundo. Nos dormitórios assim organizados, era comum o surgimento de doenças, especialmente do sistema respiratório. Para destacar a falta das mais básicas normas de higiene, pode-se fazer referência ao problema da conservação e distribuição da água potável, que era armazenada em caixas de ferro revestidas de cimento. Devido ao balanço do navio, o cimento tendia a desintegrar-se, turvando a água, que, ao entrar em contato com o ferro oxidado, adquiria uma cor vermelha e era consumida assim pelos emigrantes, já que não havia destiladores a bordo. Quanto à comida, independentemente da impossibilidade para os emigrantes, analfabetos ou de qualquer forma incapazes de ter um conhecimento completo das regulamentações alimentares, ela era preparada seguindo uma série de alternâncias constantes entre dias "ricos" e "magros", dias de "café" e dias de "arroz". Do ponto de vista dietético, a ração diária de alimentos era suficientemente rica em elementos proteicos e, de qualquer forma, superior em quantidade e qualidade ao tipo de alimentação habitual do emigrante. Eram mais as críticas voltadas para as modalidades de distribuição: as refeições para cinco ou seis pessoas eram confiadas aos líderes de grupo e poderiam facilmente se tornar motivo de discriminação no momento da divisão. Além disso, a comida era consumida nas camas ou no convés, pois não havia refeitórios previstos.




terça-feira, 26 de março de 2024

Jornada de uma Família de Imigrantes da Lombardia aos Cafezais de São Paulo

 


Girolamo Bianchetto e Maddalena Bresciano, ambos nascidos em pequenas cidades do norte da Itália, uniram-se em matrimônio com a promessa de enfrentar juntos os desafios da vida. Girolamo, nasceu em 1829 em Mozzanica, província de Bergamo, vinha de uma família de agricultores meeiros, enquanto Maddalena, nascida em 1834 em Castiglione degli Stiviere, província de Mantova, cresceu também em um ambiente rural, onde seu pai trabalhava em uma pequena propriedade da família, aprendendo desde cedo o valor do trabalho árduo e da união familiar. 
Juntos, eles deram vida a uma prole numerosa: Giacomo, Juditha, Isabella, Gioachino, Bartolomeo e Pietro. Apesar das dificuldades financeiras, a família Bianchetto era unida e cheia de esperança. Porém, as precárias condições de vida na Itália, unificada apenas dez anos antes, o sonho por uma vida melhor para os filhos os levou a tomar uma decisão ousada: emigrar para o Brasil. A emigração italiana transoceanica estava ainda dando os primeiros passos mais consistentes, para se transformar, já nas décadas seguintes, em um verdadeiro êxodo, quando milhões de italianos do norte ao sul da península abandonaram o país.
No ano de 1877, Girolamo Bianchetto e Maddalena Bresciano, juntamente com seus seis filhos e os avós paternos, Giacomo Bianchetto e Amabile Ceratto, nascida em Monzambano, embarcaram em Genova no vapor Sud America em direção ao Rio de Janeiro, deixando para trás sua terra natal, seus amigos e parentes, em busca de oportunidades além-mar.
A jornada foi árdua, com dias de travessia tumultuada pelo oceano revolto por fortes ventos, enfrentando doenças e desconfortos a bordo. No entanto, a esperança de uma vida melhor os impulsionava adiante. Após desembarcarem no Brasil, seguiram para a Hospedaria dos Imigrantes no Rio de Janeiro, onde foram acolhidos e aguardaram por alguns dias antes de continuar mais uma viagem de navio até Santos, no estado de São Paulo.
Do Porto de Santos, os imigrantes foram recebidos e encaminhados por um representante da Fazenda Santa Marta até o Vale do Paraíba. Eles e outras famílias que viajaram juntas, tinham sido contratados ainda na Itália com a promessa de viagem gratuita e emprego nas vastas plantações de café da região. A vida na fazenda era dura, mais difícil até do que aquela na Itália, com longas jornadas de trabalho ao sol escaldante e condições precárias de moradia. Foram abrigados em antigos alojamentos usados pelos escravos até alguns anos antes, uns casebres de madeira sem pintura, tendo algumas paredes internas de barro e como piso somente terra batida. Alguns poucos e tocos móveis completavam a mobília do pobre casebre. Infelizmente, dois anos após a chegada, o patriarca nono Giacomo veio a falecer consequência dos ferimentos sofridos em um trágico acidente de trabalho, deixando a família devastada.
Após dez anos de incansável batalha e resiliência, a família finalmente conquistou economias suficientes para adquirir um modesto lote de terra na periferia da pequena cidade de São José dos Campos, a mais próxima da fazenda. Renovados em sua determinação, após quitarem todas as dividas com o patrão, deixaram para trás os campos da fazenda e deram início à construção de uma nova vida em seu próprio pedaço de terra. Girolamo encontrou emprego em uma olaria local, um trabalho que ele já conhecia da Itália, enquanto Maddalena assumia os afazeres domésticos, cuidando dos filhos e cultivando uma pequena horta, contando com a ajuda da nona Amabile. Os filhos mais velhos, Giacomo, Juditha e Isabella, prontamente se inseriram nos empregos oferecidos pelas fábricas e comércio locais, ao passo que os mais jovens ainda continuavam dedicados aos estudos, nutrindo os sonhos de um porvir mais auspicioso. Apesar dos inúmeros obstáculos, a família Bianchetto permaneceu coesa, encarando em conjunto cada desafio que a vida lhes impunha.

Obs. Os nomes dos personagens desse conto são fictícios




quarta-feira, 24 de janeiro de 2024

Imigrantes Italianos nos EUA: Contribuições Notáveis e Legado

 




De meados do século XIX até 1914, uma onda de italianos decidiu explorar horizontes além-mar, direcionando-se aos Estados Unidos, América do Sul e até mesmo à distante Austrália. A emblemática chegada em Nova York envolvia desembarques em Ellis Island, onde, além das típicas esperas ansiosas, enfrentavam exames médicos exaustivos.
No panorama de Manhattan, enquanto os imponentes arranha-céus e pontes ganhavam forma, a habilidade de operários era notável, sendo muitos deles de ascendência italiana. Em um episódio pouco conhecido, durante o terremoto devastador de 1906 em San Francisco, a comunidade italiana enfrentou perdas significativas, marcando um ponto doloroso na diáspora.
Contudo, em meio às adversidades, destaca-se o protagonismo de Amedeo Giannini. Este visionário italiano não apenas se estabeleceu nos Estados Unidos, mas fundou a Bank of America, uma instituição que transcendeu fronteiras e se tornou um pilar global no sistema financeiro. Antonio Meucci, inventor italiano que contribuiu para o desenvolvimento do telefone, embora o crédito muitas vezes tenha sido atribuído a outros. Frank Capra um imigrante italiano que se tornou um dos cineastas mais célebres de Hollywood, vencendo três Oscars e dirigindo clássicos como "It Happened One Night" e "It's a Wonderful Life". Fiorello La Guardia, um político ítalo-americano que se tornou prefeito de Nova York, deixando um legado de reformas significativas e liderança resiliente. Além de Amedeo Giannini, seu irmão Amadeo Pietro foi um influente banqueiro que co-fundou a Bank of Italy, que mais tarde se tornou o Bank of America. Antonio Meucci, inventor italiano que contribuiu para o desenvolvimento do telefone, embora o crédito muitas vezes tenha sido atribuído a outros.
Esses imigrantes italianos não apenas enfrentaram os desafios da adaptação a um novo país, mas também enriqueceram os Estados Unidos com suas realizações notáveis em campos diversos. Suas histórias exemplificam a resiliência e a contribuição significativa da comunidade italiana para a sociedade americana.
Além dos fatos históricos registrados, há narrativas envolventes de sonhos realizados, encontros improváveis e contribuições culturais que se entrelaçam com o tecido da sociedade americana. A trajetória desses italianos em terras estrangeiras é uma tapeçaria rica em nuances e histórias inspiradoras que vão além dos registros tradicionais.




sábado, 9 de dezembro de 2023

Imigrantes Italianos no Brasil: Uma Jornada Épica de Desafios e Resiliência dos Pioneiros




Antes de embarcarem, a maioria dos imigrantes italianos precisava enfrentar extensas jornadas que duravam muitas horas, por terras do país, até atingirem os portos de Gênova ou Nápoles, os principais pontos de partida para o Brasil. Abandonavam suas vilas e cidades natais para se lançarem nos trens, um meio de transporte ainda pouco utilizado pela maioria. Os que se aventuravam nessa jornada partiam sem garantias, movidos apenas pela necessidade de buscar uma nova existência. A maioria desses emigrantes, ao deixar a Itália, desconhecia totalmente o destino que os aguardava no Brasil, descobrindo o caminho apenas ao alcançarem os portos de Santos ou do Rio de Janeiro.
Nos primeiros anos da emigração, durante o período em que durou o agressivo recrutamento de mão de obra, as passagens fornecidas pelo governo brasileiro às famílias de imigrantes italianos restringiam-se à terceira classe e, geralmente, eram destinadas aos porões dos navios. Esses compartimentos, caracterizados por escassa ventilação, má iluminação e umidade, frequentemente estavam superlotados, pois as companhias de navegação, no afã de conseguirem mais lucros, burlavam as leis, transportando um número de passageiros acima do recomendado. Apenas passados alguns dias de viagem, o cheiro proveniente dos porões era insuportável; uma mistura do odor de corpos mal lavados e de excrementos humanos tornava o ar irrespirável. Esse fato foi comentado diversas vezes por comandantes e médicos de bordo em seus relatos oficiais. A higiene a bordo deixava a desejar, e frequentemente a água potável era distribuída com restrições. A escassez de instalações sanitárias adequadas nos navios, diante do grande número de passageiros, forçava a tripulação a posicionar grandes baldes de madeira, devidamente tampados, no final das filas de beliches, funcionando como improvisadas latrinas para os desafortunados imigrantes. A privacidade deles era completamente comprometida.
Nas primeiras décadas da emigração, antes da imensa onda de deslocamento em massa, a travessia era feita em antiquados navios à vela, demandando cerca de 60 dias até o Brasil. Com a subsequente introdução dos navios movidos a vapor, mais velozes e independentes dos ventos, o percurso foi reduzido para um intervalo de 20 a 30 dias.
Em vista do grande número de passageiros confinados, as condições sanitárias nesses navios eram deploráveis, propiciando o aparecimento de surtos de doenças infectocontagiosas como piolhos, tracoma, cólera, tuberculose e sarampo. A ausência de meios para tratar os enfermos resultava em muitas vidas perdidas antes de atingirem o destino final.
Dada a grande lotação dos porões, que se tornavam verdadeiros microcosmos de sobrevivência, e na persistente tentativa de conter a propagação de doenças, a prática de reter os corpos dos falecidos até o desembarque no Brasil para um velório adequado era inviável. Mesmo porque, naquela época, ainda não existiam câmaras frigoríficas a bordo. Em substituição a esse ritual póstumo, uma breve, porém tocante, cerimônia religiosa antecedia o delicado procedimento de envolvimento dos corpos em sacos de pano habilmente confeccionados a partir de roupas de cama, amarrados com cordas e uma grande pedra atada nos pés do cadáver. Este último gesto, por sua vez, representava não apenas um adeus apressado, mas também uma dura realidade imposta pelas condições adversas da jornada, culminando no solene lançamento ao mar, assistido pelos familiares e amigos. Essa prática, mais do que um ato fúnebre, tornava-se uma dolorosa metáfora das dificuldades e sacrifícios enfrentados pelos imigrantes italianos durante sua travessia rumo ao desconhecido.
Os imigrantes italianos enfrentavam dias de sofrimento devido às doenças, à perda de entes queridos e à saudade de tudo e todos deixados para trás. Para mitigar a dor e passar o tempo, era comum entoarem cantos de músicas tradicionais italianas. A chegada ao Brasil, para aqueles que conseguiram superar tantas adversidades e condições precárias, representava um alívio. A beleza da exuberante natureza tropical ainda preservada na época encantava os imigrantes, embora os intrigasse a presença de homens e mulheres de pele escura, geralmente funcionários do porto, uma raridade na Europa daquele período.
Após a extenuante viagem marítima entre a Itália e o Brasil, ao desembarcarem em Santos ou no Rio, os imigrantes italianos eram encaminhados para uma Hospedaria dos Imigrantes para aguardarem o seguimento das suas viagens até os locais de trabalho. Depois de alguns dias, eram designados para as fazendas que os tinham contratado, mas frequentemente muitos embarcavam em outros navios costeiros para trajetos ainda mais longos até o seu destino. Alguns imigrantes seguiam para os portos de Paranaguá, no Paraná, enquanto outros rumavam para Desterro, em Santa Catarina. Os que tinham por destino as fazendas de café do Espírito Santo ou Minas Gerais seguiam viagem até o porto de Vitória e dali de trem até os destinos. Entretanto, em determinados períodos, a maioria dos imigrantes optava por direcionar-se ao movimentado porto de Rio Grande, localizado no estado do Rio Grande do Sul. Ao alcançarem esse destino, eram acomodados em modestos barracões coletivos, algumas vezes por períodos superiores a um mês, aguardando ansiosamente a chegada das lanchas fluviais que os conduziriam pelos intricados cursos dos rios Caí e Jacuí. O destino final era próximo às prósperas colônias Caxias, Dona Isabel e Conde D'Eu, através do primeiro rio, e à remota colônia Silveira Martins, situada no coração do estado, pelo segundo. Dos portos fluviais onde desembarcavam, a jornada ainda não atingia seu desfecho.
Ao deixarem esses pontos de chegada, os imigrantes eram confrontados com a necessidade de percorrer extensas distâncias a pé ou em carroças, desbravando picadas que cortavam a densa floresta, ainda intocada. Nesse ambiente, a sinfonia dos cantos de milhares de pássaros se entrelaçava com os sons imponentes e, por vezes, amedrontadores dos bandos de macacos bugios, cujo alvoroço era desencadeado pelo movimento constante da caravana.
Após horas, e por vezes dias, de trilhas sinuosas, os viajantes finalmente superavam as longas subidas, alcançando a sede das colônias. Ali, aguardavam em barracões temporários, ansiosos pela designação de seus respectivos lotes de terra, encerrando assim mais uma etapa dessa árdua jornada rumo à construção de uma nova vida.
Essa fase adicional da jornada não apenas testava, mas aprofundava ainda mais a resiliência desses destemidos imigrantes, desafiando-os tanto na perigosa travessia fluvial quanto na árdua adaptação a uma vida totalmente nova em território estrangeiro.

Texto 
Dr. Luiz Carlos Piazzetta
Erechim RS


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Prima di imbarcarsi, la maggior parte degli immigrati italiani doveva affrontare estese giornate che duravano molte ore, attraversando le terre del paese fino a raggiungere i porti di Genova o Napoli, i principali punti di partenza per il Brasile. Abbandonavano i loro villaggi e città natali per imbarcarsi sui treni, un mezzo di trasporto ancora poco utilizzato dalla maggior parte. Coloro che si avventuravano in questo viaggio partivano senza garanzie, spinti solo dalla necessità di cercare una nuova esistenza. La maggior parte di questi emigranti, lasciando l'Italia, era totalmente all'oscuro del destino che li attendeva in Brasile, scoprendo la strada solo quando raggiungevano i porti di Santos o Rio de Janeiro.

Nei primi anni dell'emigrazione, durante il periodo di aggressiva reclutamento di manodopera, i biglietti forniti dal governo brasiliano alle famiglie degli immigrati italiani erano limitati alla terza classe e, di solito, erano destinati alle stive delle navi. Questi spazi, caratterizzati da scarsa ventilazione, scarsa illuminazione e umidità, spesso erano sovraffollati, poiché le compagnie di navigazione, desiderose di ottenere maggiori profitti, eludevano le leggi trasportando un numero di passeggeri oltre il consentito. Solo dopo alcuni giorni di viaggio, l'odore proveniente dalle stive diventava insopportabile; una miscela di odori di corpi poco lavati e di escrementi umani rendeva l'aria irrespirabile. Questo fatto fu commentato più volte da comandanti e medici di bordo nei loro resoconti ufficiali. L'igiene a bordo lasciava a desiderare e spesso l'acqua potabile veniva distribuita con restrizioni. La carenza di strutture igieniche adeguate sulle navi, data l'elevato numero di passeggeri, costringeva l'equipaggio a posizionare grandi secchi di legno, opportunamente chiusi, alla fine delle file di letti, funzionando come improvvisati cessi per gli sfortunati immigrati. La loro privacy era completamente compromessa.

Nelle prime decadi dell'emigrazione, prima dell'immensa ondata di spostamenti di massa, la traversata avveniva su antichi velieri, richiedendo circa 60 giorni per raggiungere il Brasile. Con l'introduzione successiva delle navi a vapore, più veloci e indipendenti dai venti, il percorso fu ridotto a un intervallo di 20-30 giorni.

Dato il grande numero di passeggeri confinati, le condizioni igieniche su queste navi erano deplorevoli, favorendo la comparsa di epidemie di malattie infettive come pidocchi, tracoma, colera, tubercolosi e morbillo. L'assenza di mezzi per curare i malati comportava la perdita di molte vite prima di raggiungere la destinazione finale.

Dato l'affollamento delle stive, diventate veri e propri microcosmi di sopravvivenza, e nel persistente tentativo di contenere la diffusione di malattie, la pratica di trattenere i corpi dei defunti fino all'approdo in Brasile per un adeguato funerale era impraticabile. Anche perché, in quel periodo, non esistevano ancora camere frigorifere a bordo. In sostituzione di questo rituale postumo, una breve, ma toccante, cerimonia religiosa precedeva la delicata procedura di avvolgere i corpi in sacchi di stoffa abilmente confezionati con lenzuola, legati con corde e una grande pietra legata ai piedi del cadavere. Questo gesto, a sua volta, rappresentava non solo un addio frettoloso, ma anche una dura realtà imposta dalle avverse condizioni del viaggio, culminando nel solenne lancio in mare, assistito da familiari e amici. Questa pratica, più di un atto funebre, diventava una dolorosa metafora delle difficoltà e dei sacrifici affrontati dagli immigrati italiani durante la loro traversata verso l'ignoto.

Gli immigrati italiani affrontavano giorni di sofferenza a causa di malattie, della perdita di cari e della nostalgia di tutto e tutti lasciati alle spalle. Per mitigare il dolore e passare il tempo, era comune intonare canti di tradizionali canzoni italiane. L'arrivo in Brasile, per coloro che erano riusciti a superare tante avversità e condizioni precarie, rappresentava un sollievo. La bellezza della lussureggiante natura tropicale ancora preservata in quel periodo affascinava gli immigrati, anche se li intrigava la presenza di uomini e donne dalla pelle scura, generalmente impiegati nel porto, una rarità nell'Europa di quel periodo.

Dopo l'estenuante viaggio marittimo tra l'Italia e il Brasile, sbarcati a Santos o a Rio, gli immigrati italiani venivano indirizzati verso una Casa degli Immigranti per attendere il proseguimento dei loro viaggi verso i luoghi di lavoro. Dopo alcuni giorni, venivano assegnati alle fattorie che li avevano assunti, ma spesso molti imbarcavano su altre navi costiere per percorsi ancora più lunghi verso la destinazione. Alcuni immigrati si dirigevano verso i porti di Paranaguá, nel Paraná, mentre altri si dirigevano verso Desterro, a Santa Catarina. Quelli che avevano come destinazione le piantagioni di caffè dell'Espírito Santo o di Minas Gerais viaggiavano fino al porto di Vitória e poi in treno verso le destinazioni. Tuttavia, in certi periodi, la maggior parte degli immigrati optava per dirigere verso il trafficato porto di Rio Grande, situato nello stato del Rio Grande do Sul. Arrivati a questa destinazione, venivano sistemati in modesti baraccamenti collettivi, talvolta per periodi superiori a un mese, aspettando con ansia l'arrivo dei motoscafi fluviali che li avrebbero condotti attraverso gli intricati corsi


dei fiumi Caí e Jacuí. Il destino finale si trovava vicino alle prosperose colonie Caxias, Dona Isabel e Conde D'Eu, attraverso il primo fiume, e alla remota colonia Silveira Martins, situata nel cuore dello stato, attraverso il secondo. Dai porti fluviali dove sbarcavano, il viaggio non aveva ancora raggiunto la sua conclusione.

Lasciati questi punti di arrivo, gli immigrati si trovavano di fronte alla necessità di percorrere lunghe distanze a piedi o in carri, aprendosi un passo attraverso la densa foresta, ancora intatta. In questo ambiente, la sinfonia dei canti di migliaia di uccelli si mescolava con i suoni imponenti e talvolta spaventosi dei branci di scimmie urlatrici, il cui trambusto era scatenato dal costante movimento della carovana.

Dopo ore, e talvolta giorni, di tortuose piste, i viaggiatori superavano finalmente le lunghe salite, raggiungendo la sede delle colonie. Lì, aspettavano in baracche temporanee, ansiosi per l'assegnazione dei loro rispettivi lotti di terra, chiudendo così un'altra fase di questa ardua giornata verso la costruzione di una nuova vita.

Questa fase aggiuntiva del viaggio non solo metteva alla prova, ma approfondiva ulteriormente la resilienza di questi coraggiosi immigrati, sfidandoli sia nella pericolosa traversata fluviale che nell'ardua adattamento a una vita completamente nuova in un territorio straniero.

Testo: Dr. Luiz Carlos Piazzetta Erechim RS








sábado, 18 de novembro de 2023

Italianos Emigrados no Brasil: Uma Epopeia de Desafios e Resiliência dos Pioneiros


 


Antes de embarcar, a maioria dos imigrantes italianos enfrentava extensos dias que duravam muitas horas, cruzando as terras do país até alcançar os portos de Gênova ou Nápoles, principais pontos de partida para o Brasil. Deixavam suas aldeias e cidades natais para embarcar em trens, um meio de transporte ainda pouco utilizado pela maioria. Aqueles que se aventuravam nessa jornada partiam sem garantias, impulsionados apenas pela necessidade de buscar uma nova existência. Ao deixarem a Itália, a maioria desses emigrantes estava totalmente alheia ao destino que os aguardava no Brasil, descobrindo o caminho apenas ao chegar aos portos de Santos ou Rio de Janeiro.
Nos primeiros anos da emigração, durante o período de recrutamento agressivo de mão de obra, os bilhetes fornecidos pelo governo brasileiro às famílias dos imigrantes italianos eram limitados à terceira classe e, geralmente, destinados aos porões dos navios. Esses espaços, caracterizados por pouca ventilação, iluminação precária e umidade, frequentemente estavam superlotados, pois as companhias de navegação, ávidas por obter maiores lucros, burlavam as leis transportando um número de passageiros além do permitido. Após alguns dias de viagem, o odor proveniente dos porões tornava-se insuportável; uma mistura de odores de corpos pouco lavados e excrementos humanos tornava o ar irrespirável.
Nas primeiras décadas da emigração, antes da imensa onda de deslocamentos em massa, a travessia ocorria em velhos veleiros, levando cerca de 60 dias para chegar ao Brasil. Com a introdução posterior dos navios a vapor, mais rápidos e independentes dos ventos, o percurso foi reduzido para um intervalo de 20 a 30 dias.
Devido ao grande número de passageiros confinados, as condições higiênicas nesses navios eram deprimentes, favorecendo o surgimento de epidemias de doenças infecciosas como piolhos, tracoma, cólera, tuberculose e sarampo. A falta de meios para tratar os doentes resultava na perda de muitas vidas antes de chegarem ao destino final.
Dadas as condições lotadas nos porões, que se tornavam verdadeiros microcosmos de sobrevivência, e na persistente tentativa de conter a propagação de doenças, a prática de reter os corpos dos falecidos até a chegada ao Brasil para um funeral adequado era impraticável. Além disso, naquela época, ainda não havia câmaras frigoríficas a bordo. Em substituição a esse ritual póstumo, uma breve, mas comovente, cerimônia religiosa precedia a delicada procedimento de envolver os corpos em sacos de pano habilmente confeccionados com lençóis, amarrados com cordas e uma grande pedra atada aos pés do falecido. Esse gesto, por sua vez, representava não apenas uma despedida apressada, mas também uma dura realidade imposta pelas adversas condições da viagem, culminando no solene lançamento ao mar, assistido por familiares e amigos. Essa prática, mais do que um ato fúnebre, tornava-se uma dolorosa metáfora das dificuldades e dos sacrifícios enfrentados pelos imigrantes italianos durante sua travessia para o desconhecido.
Os imigrantes italianos enfrentavam dias de sofrimento devido a doenças, à perda de entes queridos e à saudade de tudo e todos deixados para trás. Para amenizar a dor e passar o tempo, era comum entoar canções tradicionais italianas. A chegada ao Brasil, para aqueles que conseguiram superar tantas adversidades e condições precárias, representava um alívio. A beleza da exuberante natureza tropical ainda preservada naquele período encantava os imigrantes, mesmo que intrigados pela presença de homens e mulheres de pele escura, geralmente empregados no porto, uma raridade na Europa daquela época. Após a extenuante viagem marítima entre a Itália e o Brasil, ao desembarcarem em Santos ou no Rio, os imigrantes italianos eram encaminhados para uma Casa do Imigrante para aguardar o prosseguimento de suas viagens para os locais de trabalho. Após alguns dias, eram designados para as fazendas que os haviam contratado, mas muitas vezes embarcavam em outros navios costeiros para trajetos ainda mais longos em direção ao destino. Alguns imigrantes seguiam para os portos de Paranaguá, no Paraná, enquanto outros se dirigiam a Desterro, em Santa Catarina. Aqueles com destino às plantações de café do Espírito Santo ou de Minas Gerais viajavam até o porto de Vitória e depois de trem para os destinos. No entanto, em determinados períodos, a maioria dos imigrantes optava por se dirigir ao movimentado porto de Rio Grande, localizado no estado do Rio Grande do Sul. Ao chegarem a esse destino, eram acomodados em modestos barracões coletivos, às vezes por períodos superiores a um mês, aguardando ansiosamente a chegada das lanchas fluviais que os levariam pelos intrincados cursos dos rios Caí e Jacuí. O destino final estava próximo das prósperas colônias Caxias, Dona Isabel e Conde D’Eu, através do primeiro rio, e da remota colônia Silveira Martins, situada no coração do estado, através do segundo. Dos portos fluviais onde desembarcavam, a jornada ainda não havia alcançado sua conclusão.
Deixando esses pontos de chegada, os imigrantes enfrentavam a necessidade de percorrer longas distâncias a pé ou em carroças, abrindo caminho através da densa floresta, ainda intocada. Nesse ambiente, a sinfonia dos cantos de milhares de pássaros se misturava aos sons imponentes e por vezes assustadores das tropas de bugios, cujo alvoroço era desencadeado pelo constante movimento da caravana.
Após horas, e às vezes dias, de trilhas sinuosas, os viajantes finalmente superavam as longas elevações, alcançando a sede das colônias. Lá, esperavam em barracões temporários, ansiosos pela atribuição de suas respectivas parcelas de terra, encerrando assim mais uma fase dessa árdua jornada rumo à construção de uma nova vida.
Essa fase adicional da viagem não apenas testava, mas aprofundava ainda mais a resiliência desses corajosos imigrantes, desafiando-os tanto na perigosa travessia fluvial quanto na difícil adaptação a uma vida completamente nova em um território estrangeiro.


Texto: Dr. Luiz Carlos Piazzetta 
Erechim RS



quarta-feira, 8 de novembro de 2023

Mar Tempestuoso, Terra Prometida: A Épica Jornada dos Imigrantes Italianos ao Brasil





Era o final do século XIX, em 1878, quando os Caprari, uma família natural da Sicília, imigrantes italianos como milhões de outros de todas as partes do país, decidiu deixar sua pequena vila no sul da Itália e partir em busca de uma nova vida no Brasil. Eram camponeses e a situação econômica no campo estava cada vez pior com grande desemprego e a fome já rondando os lares. Eles estavam ansiosos para recomeçar a vida em uma nova terra, onde acreditavam que poderiam ter melhor sorte, uma vida digna e oportunidades para seus filhos. Iam em busca daquelas mesmas oportunidades que, por diversas razões, a Itália de então, não podia lhes oferecer: um trabalho digno do qual pudessem conseguir o pão de cada dia, uma vida melhor para eles e um futuro promissor para os filhos.
A viagem começou com um sentimento misto de empolgação misturado com tristeza pela despedida dos amigos e parentes. A família não tinha comprado as passagens de navio, pois não tinham condições financeiras, aproveitaram a oferta do governo brasileiro de viagem grátis até as terras onde começaria a nova vida. 
O navio partiria do porto de Nápoles em direção ao Rio de Janeiro e de lá com com outro navio menor até o porto de Santos. O navio era grande e parecia imponente, dando a impressão de que eles estavam embarcando em uma grande aventura.
A bordo, a família se acomodou como pôde em suas precárias camas beliche de três andares, dispostas em várias filas nos dois grandes salões no porão do navio. Com muita preocupação a família teve que se separar: homens e meninos maiores de oito anos em um dos salões e mulheres e meninas em outro. Em ambos alojamentos comunitários não havia banheiros suficientes para todos os passageiros e nos grandes salões, nas filas de beliches, sem qualquer privacidade, estavam colocados baldes de madeira com tampas para servirem de latrina. O ar ali dentro desses enormes alojamentos era quente, úmido e fétido devido a falta de ventilação adequada. 
Assim que puderam eles começaram a explorar o navio e se familiarizar com o que seria sua casa pelas próximas semanas.
A viagem seguia tranquila até que, aproximadamente o meio do trajeto, logo após ultrapassarem a linha imaginária do Equador, uma grande tempestade começou a se formar no horizonte. O vento aumentou, e as ondas ficaram cada vez mais altas e violentas. A tripulação começou a correr de um lado para o outro e a se preocupar, e os passageiros foram instruídos a se manterem nos alojamentos.
A família Caprari se apavorou, e o medo tomou conta de todos. Eles seguravam-se firmemente aos móveis e objetos, que estavam fixados no assoalho, para não serem jogados de um lado para o outro pela agitação do mar. O vento uivava e o navio balançava e sacudia, e o som das ondas batendo no casco era ensurdecedor.
A tempestade durou algumas horas, e a ninguém a bordo conseguia comer ou dormir devido o enjôo que o balanço tinha provocado. Eles ficavam juntos em seus alojamentos, rezando para que o navio não afundasse. Em momentos de calmaria, saíam rapidamente para tomar ar fresco no convés, mas logo eram obrigados a voltar para dentro com o vento e as ondas que se intensificavam novamente.
Finalmente, a tempestade passou, e o sol brilhou novamente. A tripulação informou que o navio havia sofrido alguns danos, mas nada que impedisse a continuação da viagem. A família Caprari se sentiu aliviada, mas também exausta e traumatizada com a experiência.
O restante da viagem transcorreu sem incidentes, mas eles nunca esqueceram os momentos de angústia vividos durante aquela tempestade. 
Ao chegar ao porto do Rio de Janeiro, foram recebidos por funcionários do porto e encaminhados para a o setor de imigração que os ajudou com os trâmites alfandegários e os encaminhou para um alojamento provisório na hospedaria. Lá, eles tiveram que dividir um grande quarto com outras famílias de imigrantes, mas estavam felizes por finalmente terem chegado ao seu destino. 
Chegando ao Rio de Janeiro, tiveram que se adaptar a um novo país, uma nova língua e uma nova cultura, mas sabiam que estavam prontos para enfrentar qualquer adversidade, já que haviam enfrentado a fúria do mar e sobrevivido.
Para eles tudo era muito diferente daquela pequena vila perdida no interior da Sicilia. Ficaram impressionados com as pessoas de cor escura, pois ainda não conheciam pessoas negras, que eram comuns na ilha onde desembarcaram.
Depois de 3 dias na Hospedaria de Imigrantes, chegou a hora de embarcarem novamente para a cidade de Santos onde seriam recebidos pelos funcionários da fazenda de café que os tinha contratado.
Todos eles tinham sido contratados para trabalhar no cultivo de café de uma grande fazenda do interior de São Paulo. O trabalho era pesado, mas eles estavam dispostos a dar o seu melhor para ganhar a vida. Com o tempo, até conseguiram economizar algum dinheiro e comprar um pequeno lote de terra, na periferia de uma pequena cidade vizinha da fazenda que tinham vivido nos últimos cinco anos e passaram a trabalhar em pequenas fábricas da região.
Passados mais alguns anos, com os filhos agora crescidos, os Caprari se estabeleceram na cidade, abrindo um pequeno negócio próprio junto com o filho mais velho. 
Eles nunca esqueceram da tempestade que enfrentaram durante a viagem ao Brasil, mas agradeciam por terem sobrevivido e por terem construído uma nova vida em um país que lhes deu tantas oportunidades.
A experiência de imigração da família Caprari foi compartilhada por muitas outras famílias que deixaram a Europa em busca de uma vida melhor nas Américas. A tempestade que enfrentaram em alto-mar é um exemplo das dificuldades e dos desafios que tiveram que superar para se estabelecer em uma nova terra.
Mas, como eles, muitos outros pobres imigrantes conseguiram construir uma nova vida e deixar um legado que é valorizado até hoje. 


Texto


Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS




sábado, 21 de outubro de 2023

Raízes Italianas: A Jornada e o Legado dos Imigrantes

Little Italy em New York


O período que abrange os séculos XIX e início do XX se caracterizou por um extraordinário movimento emigratório na Europa. Entre 1800 e 1930, cerca de 40 milhões de europeus tiveram que deixar suas terras natais em busca de uma qualidade de vida melhor, especialmente nas Américas. Essa melhoria de vida, muitas vezes referida como "em busca da cucagna", nada mais era do que um trabalho digno com o qual pudessem sustentar suas famílias.
Até meados do século XIX, a Península Itálica estava fragmentada em diversos reinos, cada um com seus próprios dialetos e traços culturais distintos. A busca por uma unidade nacional italiana, conhecida como o Risorgimento, teve início em 1848 e só foi concretizada em 1871. Nesse ínterim, a Itália era uma nação dividida por profundas disparidades sociais, concentração de renda em algumas poucas regiões, principalmente do norte, onde iniciava um incipiente processo de industrialização, porém o resto do país era totalmente dependente de uma agricultura atrasada, praticada nos mesmos moldes do século anterior e usando os mesmos implementos agrícolas usados pelos seus avós. Essa agricultura não podia competir com os grãos importados de outros países da Europa, e também dos Estados Unidos, que chegavam com preços abaixo dos produzidos no reino. Também uma série de calamidades naturais nos últimos anos, como longas estiagens e enchentes catastróficas, contribuíram para grandes quebras de safras, empobrecendo o homem do campo que se via obrigado a migrar para cidades.
Antes mesmo da unificação italiana, já havia uma emigração modesta de pessoas da região que hoje conhecemos como Itália. Inicialmente, esse movimento era relativamente pequeno e não permanente. Partindo do norte da Itália, um número considerável de italianos iam em busca de melhores condições de trabalho em outros países europeus, nomeadamente a França, Suíça e Alemanha. Eram em sua maioria pessoas do sexo masculino que partiam por conta própria e, após trabalharem por alguns anos nesses países, retornavam para a Itália. Em certas províncias do norte também as mulheres tiveram que buscar um complemento financeiro nos países vizinhos, como é o caso das amas de leite, conhecidas como "balias", as vendedoras ambulantes que levavam suas mercadorias em caixas nas cestos nas costas, percorrendo a pé cada pequena vila, para vender os seus produtos. Eram as chamadas "kromer" nas zonas alpinas de Belluno e na Áustria.
Com a unificação italiana em 1871, a emigração tornou-se um fenômeno social na Itália. Entre 1871 e 1875, aproximadamente 130.000 italianos emigraram. No início da década de 1880, a saída de italianos já alcançava cifras notáveis, configurando um verdadeiro êxodo. Os fatores dessa saída eram vários, sendo principalmente por motivos socioeconômicos, seguido de razões políticas e pessoais. O sonho da propriedade também foi o que impulsionou muitos deles a empreenderem a difícil jornada. Nos primeiros anos, 80% dos emigrantes partiam do norte da Itália. O fenômeno emigratório só chegou ao Sul da Itália no início do século XX, e esse passou a dominar a fonte de saídas.
Nesse ponto, a emigração transoceânica passou a predominar, com os italianos escolhendo três destinos principais: os Estados Unidos, a Argentina e o Brasil. Inicialmente, o Brasil absorveu a maior parte dos imigrantes italianos nos primeiros anos, sendo superado pela Argentina nos últimos anos do século XIX, enquanto os Estados Unidos se tornaram o maior receptor de italianos no início do século XX.
O governo italiano nada fazia pelos emigrantes, que partiam à própria sorte e muitas vezes caíam em propagandas enganosas de emprego fácil para onde emigravam. A emigração só foi regulamentada em 1888, quando o governo passou a dar apoio àqueles que quisessem emigrar, porém, não lhes prestava nenhuma assistência se algo desse errado. O governo percebeu que a emigração era algo lucrativo, não só para alimentar a criação de companhias de navegação italianas: os emigrantes vendiam tudo o que tinham na Itália antes de partirem e quando já inseridos em outros países, mandavam regularmente dinheiro para os parentes que ficaram. Além disso, o governo estava se livrando de uma grande massa de camponeses e desempregados indesejáveis. A emigração foi uma espécie de válvula de escape que impediu uma grande conflagração social.
A maciça emigração italiana ocorreu até 1914. Com a eclosão da Primeira Guerra Mundial, o número de emigrantes italianos sofreu um processo de baixa, até a eclosão da Segunda Guerra Mundial. Após as duas guerras, a Itália estava destruída e precisava de braços para reerguer o país, fazendo com que a emigração se tornasse pouco expressiva.
Nos Estados Unidos, os italianos começaram a desembarcar em maior número por volta de 1876, atingindo seu auge entre 1910 e 1920. A maioria desses imigrantes era composta por homens originários das zonas rurais da Sicília, que prontamente se adaptaram a novos papéis como trabalhadores urbanos no nordeste dos Estados Unidos, especialmente na região de Nova Iorque. Enfrentando preconceito devido à sua fé católica, sua coloração mais escura, a sua extrema pobreza, os italianos frequentemente se aglomeravam em bairros carentes nas periferias das cidades, onde ocupavam empregos pouco gratificantes. A dificuldade em encontrar trabalho bem remunerado levou muitos a considerar o retorno à Itália. No entanto, mantendo suas raízes culturais, os italianos formaram comunidades vibrantes, estabelecendo bairros inteiros compostos por seus compatriotas, como o icônico Little Italy. A crescente indústria norte-americana demandava mão de obra, e em pouco tempo, a comunidade italiana se tornou uma das mais bem-sucedidas e influentes dos Estados Unidos.
Atraídos pela promessa de terras férteis e oportunidades de emprego, os emigrantes italianos desempenharam um papel crucial na formação da diáspora na Argentina, superando até mesmo os números de imigrantes espanhóis. A maioria desses italianos provinha do sul da Itália, especificamente da Sicília, Campania e Calábria. Eles se estabeleceram principalmente na região urbana de Buenos Aires, enquanto outros escolheram seguiram para colônias agrícolas nas províncias de Santa Fé, Rosário,  Córdoba entre outras. Essa onda de imigração italiana desempenhou um papel vital no desenvolvimento econômico da Argentina, contribuindo para sua diversidade cultural e crescimento.
Um considerável contingente de italianos emigrou em massa para o Brasil no final do século XIX e início do século XX, deixando uma marca duradoura na história do país. Eram, em grande parte, famílias inteiras de camponeses do norte da Itália que foram incentivadas pelo governo brasileiro a se estabelecerem como agricultores no sul do país em grandes colônias agrícolas, primeiramente no Rio Grande do Sul   e depois Paraná e Santa Catarina. Muitos deles migraram para os estados de São Paulo, Espírito Santo e Minas Gerais, contratados pelos grandes fazendeiros, onde desempenharam um papel crucial na indústria cafeeira substituindo a mão de obra escrava.
No Brasil, a emigração italiana se destacou por sua amplitude e impacto duradouro. Famílias inteiras, principalmente do norte da Itália, embarcaram em uma jornada rumo ao Brasil, incentivadas pela promessa de terras férteis e oportunidades no Sul do país. A maior parte desses imigrantes, provenientes de regiões como Vêneto, Lombardia e Trentino, e também do sul, como Sicília, Puglia, Campania, desembarcou no Porto do Rio de Janeiro e no Porto de Santos, buscando uma nova vida nas vastas plantações de café de São Paulo, Espírito Santo, Minas Gerais e nas colônias recém-criadas no Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina.
Esses italianos, muitos dos quais eram camponeses experientes em suas terras natais, desempenharam um papel vital no crescimento da indústria cafeeira brasileira. Com seu trabalho árduo e dedicação, contribuíram para o desenvolvimento econômico do Brasil, transformando o país em um dos maiores produtores de café do mundo. A migração italiana também deixou uma influência cultural duradoura, como se pode observar na culinária, na arquitetura e em tradições que perduram até os dias de hoje.
Esses imigrantes enfrentaram desafios e dificuldades ao longo de sua jornada, incluindo a adaptação a um novo país, a superação de barreiras linguísticas e o confronto com condições de trabalho muitas vezes desafiadoras. No entanto, sua determinação e resiliência os ajudaram a prosperar e a contribuir significativamente para o Brasil.
A imigração italiana para o Brasil, que alcançou seu auge no início do século XX, deixou um legado profundo no país, enriquecendo sua diversidade étnica e cultural. A influência italiana pode ser vista em diversos aspectos da sociedade brasileira, desde a produção de alimentos até a preservação de tradições e celebrações festivas. A história desses imigrantes italianos é um testemunho da coragem e da determinação daqueles que deixaram sua terra natal em busca de uma vida melhor, e é um tributo à sua contribuição duradoura para a identidade multicultural do Brasil.



segunda-feira, 9 de outubro de 2023

A Lista de Emigrantes do Comune di Fornace e a Imigração Italiana para o Brasil no Século XIX

 

Navio Espagne



Lista de Pessoas Emigradas para o Brasil 

Após 1875 


Cartório de Fornace


 
TOMELIN MARIANNA nata Pisetta di Albiano il 27.01.1814 - ved. di Tomelin Antonio
ANTONIO Nicola 14.01.1843 ( mat. di Pisetta Anna)
ALFONSO 15.12.1847 a Fornace FIGLI
CELESTINA 14.07.1846
EUSEBIO 16.12.1853 ( Vilot)
MADDALENA 1859


PISETTA MARIANNA GILLI di Albiano ved. Fu Domenico ( Tomedi)
PLACIDO ( nt. 22.01.1846)
PACIFICA ( nt. 18.07.1847)
REGINA (nt. 1851) figli
COLOMBA Anna (nt. 11.11.1854)
ERNESTO (nt..04.10.1862)


GIRARDI GIACOMO ENRICO (nt. 07.07.1838 a FORNACE)
fu Domenico detto Lampo mat. Fedrizzi Marianna cgt. a Fornace il 27.02.1865)
VALENTINI MARIA moglie (nt. 1845 a Lases)
GIRARDI DOMENICO (nt. 28.08.1867)
GIRARDI ENRICO ( nt. 04.01.1870) figli
GIRARDI GIUDITA ( nt. 01.03.1871)
GIRARDI ROMANA ( nt. 01.08.1874)


GIRARDI CLEMENTE . nt. 03.09.1842 cgt. 01.05.1875 a Fornace dec. 27.07.1927 a Rodeio fu Giovanni e Caresia Maria


LORENZI MONICA di Lorenzi Antonio ( moglie) nt. 1849 a Fornace


LORENZI GIACOMO Evo fu Giacomo nt. 1821
moglie GIULIA nt. 1827
LORENZI DOMENICA nt. 11.01.1857 figli
LORENZI ROSA nt. 25.12.1858
LORENZI GIACOMO nt. 19.12.1860


CRISTOFOLINI MARIANNA nata Cristofolini ved. fu Agostini Giovanni Battista nt. 1832
AGOSTINI ANTONIO nt. 30.10.1854
AGOSTINI EMMANUELLE nt. 09.12.1859
AGOSTINI ROSA nt. 14.10.1867 figli
AGOSTINI PAOLO nt. 28.01.1873


GIRARDI BORTOLO detto Vecet dei Lampi fu Giacomo nt. 30.03.1831 vedovo Stenech Domenica fu Bortolo (Saro)
GIRARDI ROSA nt. 13.03.1857
GIRARDI GIACOMO Bortolo nt. 10.02.1859
GIRARDI MARIA nt. 01.01.1861
GIRARDI BORTOLO nt. 27.04.1863
GIRARDI LUIGIA (LUCIA?) nt. 07.01.1871



STOLF ANTONIO fu Lorenzo nt. 1821
moglie MADDALENASTOLF nt. 1827
STOLF ANTONIO nt. 08.01.1854
STOLF MADDALENA nt. 1857 figli
STOLF BENEDETTO nt. 1862
STOLF GIUSEPPE nt. 22.09.1865
STOLF FORTUNATA nt. 1868
STOLF FORTUNATO nt. 1872
nota: I figli Pietro nt. il 13.1.1848 e Lorenzo sono rimasti a Fornace


VALLER VIRGILIO fu Pietro nt. 1833
moglie TERESA nt. 1836
VALLER MARIA nt. 1856
VALLER COSTANTE nt. 1862 figli
VALLER BENIAMINO nt. 1865
VALLER ANGELA nt. 1865
VALLER LORENZO nt. 1868



CRISTOFOLINI MANSUETO nt. 04.02.1836 cgt. 17.08.1859 a Fornace figlio di Domenico e Scarpa Domenica
ROCCABRUNA TERESA nt. 1835
CRISTOFOLINI GERARDO DOMENICO nt.29.05.1862 a Fornace
CRISTOFOLINI VIGILIO nt. 14.12.1863 a Fornace
CRISTOFOLINI TERESA nt. 1865
CRISTOFOLINI GIOVANNI nt. 1872
CRISTOFOLINI CELESTE nt. 1874



PISETTA COSTANTE fu Antonio nt. 1829 (Tomedo)
Moglie TERESA SCARPA nt. 1833 (Bisna) *
PISETTA GIOVANNI ANTONIO nt. 11.03.1854 o 7.3.1854
PISETTA G. BATTA nt. 1855
PISETTA LEOPOLDA nt. 1858
PISETTA LORENZO nt. 1866
PISETTA TERESA nt. 1868
* sorella di Scarpa Ignazio bisnonno di Scarpa Franca Maria



GIRARDI DOMENICO nt. 1826
AGATA VIA fu Vitale Pasquali nt. 1841
GIRARDI VIRGINIA nt. 1867
GIRARDI ANTONIO nt. 1874
CRISTOFOLINI CELESTE nt. 1859 (fratelli)
CRISTOFOLINI LUIGIA nt. 1857


STENECH GIOBATTA  di Domenico nato nel 1857 di costì è emigrato in America con il proprio padre nel 1875


GIRARDI AMBROGIO fu Giorgio nt. a Fornace il 23.05.1839
CRISTOFOLINI DOROTEA di Giacomo nt. a Fornace il 06.02.1846 (moglie)
GIRARDI TERESA di Ambrogio nt. a Fornace il 27.08.1866 (figlia)
GIRARDI LUIGIA di Ambrogio nt. a Fornace il 27.04.1868 (figlia)
GIRARDI LAURINA di Ambrogio nt. a Fornace il 10.01.1870 (figlia)
GIRARDI ANGELA di Ambrogio nt. a Fornace il 01.01.1875 (figlia)


NARDIN ANTONIO ( vedasi verbale 18.4.1876)
MARIANNA ved. PASQUALI e figlio
STOLF FRANCESCO ( vedasi verbale 18.4.1876)
Con moglie e figli maschi
GIRARDI BASIGLIO fu Giovanni ( vedasi verbale 18.4.1876)
GIO GIRARDI " ZIBAGO"
CARESIA FRANCESCO ( vedasi verbale 18.4.1876)
VALLER GIOVANNI fu Pietro ( vedasi verbale 18.4.1876)
VALLER ALESSIO ( vedasi verbale 18.4.1876)
LORENZI DOMENICO "mosca"
SCARPA DOMENICO e ANTONIO "Ruggen" ( vedasi verbale 18.4.1876)


NARDIN ANTONIO fu Antonio
STENECH SUSANNA di Lodovico ( moglie) e di Teresa*
NARDIN LODOVICO nato nel 1860
NARDIN ANTONIO nato nel 1865
NARDIN TERESA nata nel 1867
NARDIN ROSA nata nel 1869
NARDIN EUGENIO ANTONIO nato nel 1871
NARDIN MADDALENA nata nel 1873
NARDIN ANNA nata nel 1875
* Sara - parente Stenico Marco


STOLF FRANCESCO di Antonio nato nel 1825
GIRARDI MARIANNA fu Giorgio nata nel 1827 (moglie)
STOLF MARCELLINO di Francesco nato nel 1852
SCARPA TERESA di Domenico nata nel 1857
STOLF DOMENICA di Francesco nata nel 1849
STOLF BARBARA di Francesco nata nel 1854
STOLF TERESA di Francesco nata nel 1855
STOLF ANGELA di Francesco nata nel 1957
STOLF FABIANO di Francesco nato nel 1860
STOLF GIULIO di Francesco nato nel 1862
STOLF MARIA di Francesco nata nel 1866


SCARPA DOMENICO fu Pietro detto Ruzen nato nel 1818
VALLER LUCIA fu Giuseppe ( moglie) nata nel 1833 (al Maso Bianco)
SCARPA DOMENICA di Domenico nata nel 1849
SCARPA GIUDITTA di Domenico nata nel 1861
SCARPA GIOACHINO di Domenico nato nel 1866
SCARPA ANNA MARIA di Domenico nata nel 1870
SCARPA ALBINO di Domenico nato nel 1872
SCARPA ANTONIO fu Pietro nato nel 1813 (fratello)
* Wilson


VALLER GIOVANNI fu Pietro detto Chiarino nato nel 1822
LORENZI DOMENICA fu Domenico nata nel 1828
VALLER PIETRO di Giovanni nato nel 1853
VALLER ANNA MARIA di Giovanni nata nel 1860
LORENZI DOMENICO fu Domenico detto Mosco nt. nel 1824 (cognato)
LORENZI MADDALENA nata nel 1826 (cognata)


VALLER ALESSIO fu Pietro detto chiarino nato nel 1835
GASPERI ANGELA nata nel 1848
VALLER AGNESE nata nel 1873


CARESIA FRANCESCO fu Bortolo detto gneso nato nel 1817
VALLER MARIANNA nata nel 1829
CARESIA ROSA nata il 05.11.1858
CARESIA GIUSEPPE nato il 28.02.1864
CARESIA GIOVANNI CELESTINO nato il 12.11.1866
CARESIA FRANCESCO nato il 04.05.1879
CARESIA MARIA LUCIA nata il 08.12.1872



GIRARDI BASIGLIO fu Giovanni detto Ortolan
TONIOLLI MARGHERITA
GIRARDI GIOVANNI nato nel 1850
GIRARDI GIUSEPPE nato nel 1850
GIRARDI GEDEONE nato nel 1852
GIRARDI PAOLO nato nel 1854
GIRARDI GREGORIO LORENZO nato nel 03.06.1863


STOLF ADEODATO (vedi verbale 13.3.77)
CARESIA DOMENICO detto Pianella (vedi verbale 13.3.77)
VALLER ANTONIO fu Giuseppe frata (vedi verbale 13.3.77)
GIRARDI DOMENICO - GIOVANNI Giovanen
PASQUALI ANDREA fu Martino (vedi verbale 13.3.77)
PASQUALI PIETRO fu Nicolò (vedi verbale 13.3.77)


1. VALLER GIUSEPPE fu Antonio nt. a Fornace il 28.08.1835 
2) OLIVA (moglie) nt. a Fornace il 10.07.1838 
3) VALLER ROSA di Giuseppe nt. a Fornace il 01.07.1870 
4) VALLER GIUSEPPE BENEDETTO nt. a Fornace il 01.02.1876

1) PASQUALI ANTONIO fu Nicolò nt. a Fornace il 26.02.1846 
2) ANESI LUCIA (moglie) nt. il 20.07.1857 


1) PASQUALI PIETRO fu Nicolò nt. a Fornace il 26.02.1835 
2) STOLF MARIANNA di Antonio nt. a Fornace il 28.07.1835

1) PASQUALI ANDREA fu Martino nt. a Fornace il 17.08.1855 
2) MARIANNA (madre) il 08.09.

1) VALLER ANTONIO fu Giuseppe nt. a Fornace il 14.07.1841 
2) CARESIA MARIA (moglie) nt. a Fornace il 30.09.1847 
3) VALLER LUIGIA MARIA di Antonio nt. a Fornace il 14.01.1870 
4) VALLER PIA TERESA di Antonio nt. a Fornace il 02.09.1871 
5) VALLER FORTUNATA di Antonio nt. a Fornace il 05.06.1876

1) CARESIA DOMENICO fu Giovanni nt. a Fornace il 14.05.1832 
2) GIUDITA nt. a Fornace il 10.07.1834 
3) CARESIA DOMENICA di Domenico nt: a Fornace il 20.10.1855 
4) CARESIA VIOLANTE di Domenico nt. a Fornace il 20.12.1858 
5) CARESIA DOMENICO di Domenico nt. a Fornace il 05.09.1861 
6) CARESIA EMILIA di Domenico nt. a Fornace il 25.07.1868 
7) CARESIA BENIAMINO di Domenico nt. a Fornace il 05.01.1871 
8) CARESIA ANTONIO di Domenico nt. a Fornace il 18.05.1874 
9) CARESIA ROSA di Domenico nt. a Fornace il 11.10.1876


1) STOLF DEODATO fu Pietro nt. a Fornace il 12.05.1839 
2) PALAORO ROSA (moglie) nt. il 1841 
3) STOLF PIETRO di Deodato nt. a Fornace il 12.06.1869 
4) STOLF LUIGIA di Deodato nt. a Fornace il 24.10.1871 
5) STOLF AGOSTINO di Deodato nt. a Fornace il 18.02.1874 
6) STOLF ROSA di Deodato nt. a Fornace il 04.04.1876

1) STOLF FEDELE fu Francesco nt. a Fornace il 16.04.1842 
2) PRADA LUIGIA moglie nt. il 19.09.1849 
3) STOLF FRANCESCO FEDELE di Fedele nt. a Fornace il 15.10.1870 
4) STOLF GIUSEPPE ORESTE di Fedele nt. a Fornace il 09.02.1872 
5) STOLF FORTUNATO LUIGI di Fedele nt. a Fornace il 18.12.1875

1) LORENZI GIOVANNI PROSPERO fu Domenico nt. a Fornace il 08.04.1830 
2) TOMELIN MARIANNA moglie nt. a Fornace il 08.04.1841 
3) LORENZI MARIA ORSOLA di Giovanni Prospero nt. a Fornace il 24.12.1864 
4) LORENZI ROSA MADDALENA di Giovanni Prospero nt. a Fornace il 30.09.1866 
5) LORENZI ANNA ANGELICA di Giovanni Prospero nt. a Fornace il 30.06.1869 
6) LORENZI GENOVEFFA GIOCONDA di Giovanni Prospero nt. a Fornace il 17.05.1872 
7) LORENZI DOMENICO ANTONIO di Giovanni Prospero nt. a Fornace il 02.03.1877

1) VALLER DOMENICO fu Giuseppe nt.a Fornace il 18.06.1823 
2) MARCONI DOMENICA nt. il 28.07.1838 
3) VALLER FORTUNATA APPOLLONIA nt. a Fornace il 09.02.1862 
4) VALLER ROSA MARIA di Domenico nt. a Fornace il 03.02.1870 
5) VALLER AMALIA MARIA di Domenico nt. a Fornace il 23.09.1871 
6) VALLER IGNAZIO di Domenico nt. a Fornace il 29.09.1874