Mostrando postagens com marcador Frosinone. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Frosinone. Mostrar todas as postagens

sábado, 1 de novembro de 2025

O Destino de Sofia


O Destino de Sofia 

Sofia Bellini nasceu em 3 de abril de 1867, em Montecassino, uma localidade pitoresca aninhada entre as colinas da província de Frosinone, na região do Lazio, no centro-sul da Itália. Era um lugar onde o aroma de oliveiras misturava-se ao canto distante dos pássaros, e o tempo parecia correr ao ritmo da vida camponesa. A terceira de cinco filhos de Vittorio e Lucia Bellini, Sofia cresceu em uma casa simples de pedra, onde as paredes pareciam contar histórias de gerações que haviam trabalhado arduamente para arrancar sustento da terra.

Vittorio, um homem de mãos calejadas e olhar distante, carregava o peso das expectativas de um mundo em transformação. Como muitos de sua época, ele havia depositado suas esperanças na unificação italiana, acreditando que a promessa de um país unido traria prosperidade às comunidades rurais. Mas os anos que se seguiram à unificação mostraram-se cruéis para os camponeses. O aumento dos impostos, as mudanças nas políticas agrárias e a competição com grandes latifundiários tornaram a vida em Montecassino uma luta diária.

Lucia, por outro lado, era o coração da família. Pequena em estatura, mas gigantesca em determinação, ela comandava a casa com uma mistura de autoridade e ternura. Cozinhava com maestria, transformando ingredientes escassos em refeições que aqueciam não apenas o estômago, mas também a alma. Era ela quem plantava em Sofia e seus irmãos as sementes de esperança, contando histórias de tempos melhores e sonhando em silêncio com um futuro mais promissor.

As terras que a família Bellini cultivava, porém, tornavam-se cada vez menos generosas. A combinação de práticas agrícolas arcaicas e solos exauridos forçava Vittorio a trabalhar de sol a sol, enquanto Lucia e as crianças ajudavam no que podiam. A vinha, que outrora prometera bons rendimentos, produzia menos a cada ano, e as oliveiras, resistentes como os próprios Bellini, começavam a sofrer com pragas que devastavam a região.

Apesar das dificuldades, Sofia crescia curiosa e determinada. Enquanto seus irmãos mais velhos, Pietro e Giovanni, assumiam responsabilidades no campo, e os mais novos, Caterina e Mario, ainda desfrutavam da inocência da infância, Sofia encontrava momentos para observar o mundo além das colinas. Gostava de ouvir as histórias dos viajantes que passavam pela região, a caminho de Roma ou de outros destinos mais prósperos. Cada relato despertava nela um desejo de descobrir o que havia além da monotonia de Montecassino.

Com o tempo, o descontentamento com a situação da família tornou-se palpável. Os Bellini não eram os únicos a sentir o peso da pobreza crescente; em toda a região, famílias inteiras abandonavam suas terras e embarcavam em navios rumo a destinos desconhecidos, em busca de uma vida melhor. Sofia, mesmo tão jovem, começava a perceber que sua pequena aldeia talvez não fosse grande o suficiente para conter seus sonhos.

Foi nessa atmosfera de incertezas que Sofia começou a moldar seu caráter. A cada dificuldade enfrentada pela família, sua resiliência se fortalecia. E embora seus pés estivessem firmemente plantados no solo árido de Montecassino, sua mente já vagava por lugares distantes, onde ela imaginava um futuro que sua terra natal parecia incapaz de oferecer.

Desde cedo, Sofia demonstrava uma curiosidade aguçada e um espírito inquieto que a diferenciavam das outras crianças de Montecassino. Enquanto seus irmãos pareciam resignados às rotinas do campo, Sofia ansiava por algo mais, um futuro que pudesse oferecer mais do que a labuta incessante e os ciclos repetitivos das colheitas. Essa centelha não passou despercebida pela Signora Teresa, a professora da escola rural, uma mulher de meia-idade com uma paixão quase obstinada por ensinar, mesmo em condições precárias.

A escola era pouco mais que uma sala simples com paredes de pedra bruta, algumas mesas de madeira desgastada e um quadro-negro que parecia tão velho quanto o próprio vilarejo. Os recursos eram escassos, mas isso não impedia a Signora Teresa de inspirar seus alunos. Quando Sofia entrou em sua turma, Teresa logo percebeu que havia algo especial na menina. Sofia tinha uma habilidade natural para a escrita e uma surpreendente facilidade com números, destacando-se em matemática de um modo que poucos em Montecassino poderiam imaginar.

Apesar do entusiasmo da professora, estudar era um luxo que a realidade não permitia. Aos 12 anos, quando outras crianças ainda podiam sonhar com mundos distantes, Sofia foi forçada a abandonar a escola. O campo chamava, e sua família precisava de toda ajuda possível. Foi um momento difícil para ela. Deixar os livros e as aulas não significava apenas perder o contato com o aprendizado, mas também renunciar, mesmo que temporariamente, ao sonho de um futuro diferente.

A nova rotina era extenuante. Sofia começava o dia antes do sol nascer, ajudando a mãe nas colheitas de uvas e azeitonas. O trabalho no campo exigia força, resistência e uma paciência que só a vida rural podia ensinar. Quando não estava na terra, dedicava-se a cuidar de seus irmãos mais novos, Caterina e Mario, garantindo que eles tivessem algo para comer e que não se metessem em encrencas enquanto Lucia e Vittorio trabalhavam.

Mesmo nesse cenário de privações, Sofia encontrava maneiras de alimentar sua mente inquieta. Nas raras horas de descanso, buscava refúgio em um velho livro de contos que a Signora Teresa lhe emprestara antes de sua saída da escola. Lia cada palavra com atenção, absorvendo histórias que a transportavam para terras longínquas e realidades mais promissoras. Às vezes, à luz trêmula de uma vela, ela rabiscava pensamentos e ideias em pedaços de papel que seu pai conseguia. Suas palavras revelavam uma alma que, embora jovem, já começava a compreender a dureza da vida e a sonhar com algo além do que seus olhos podiam alcançar.

Aos poucos, Sofia começou a perceber que o conhecimento, mesmo aquele adquirido em breves momentos de leitura, podia ser uma arma poderosa. Se não pudesse frequentar a escola, ela encontraria outras formas de aprender. Passou a ouvir com atenção as histórias dos vizinhos e dos viajantes que cruzavam Montecassino, absorvendo informações como uma esponja. Cada detalhe que aprendia tornava-se um tijolo na construção de um futuro que ela ainda não sabia como alcançaria, mas que acreditava ser possível.

Essa determinação chamou a atenção não apenas de sua família, mas também de outras pessoas da comunidade. "Essa menina tem fogo nos olhos", comentou certa vez um mercador que passava pela vila. O comentário não foi esquecido por Vittorio, que, embora tivesse seus próprios sonhos esmagados pela realidade, começava a enxergar em Sofia uma esperança para a família Bellini. Para Sofia, porém, esperança era apenas o começo. Ela queria mais do que sonhar.

Com o passar dos anos, a situação em Montecassino deteriorou-se de forma implacável. As terras já exauridas pelas gerações de cultivo começaram a retribuir com cada vez menos generosidade. As vinhas, orgulho da região, foram atacadas por uma praga devastadora que deixou as parreiras estéreis e os campos cobertos de folhas secas, um cenário desolador que parecia refletir o próprio espírito dos camponeses. A produção de azeite, outrora suficiente para cobrir os impostos e garantir um modesto sustento, tornou-se escassa, incapaz de competir com os grandes olivais das regiões mais ricas.

Para a família Bellini, a crise era uma tempestade perfeita de adversidades. Em 1884, um inverno rigoroso veio como o golpe final. O frio cortante entrou pelas frestas das janelas da casa e se infiltrou nos ossos, trazendo consigo a fome. As reservas de alimentos eram insuficientes, e a compra de mantimentos tornou-se um luxo inalcançável. Lucia fazia milagres na cozinha, esticando o pouco que tinham, mas até sua criatividade encontrou limites diante da escassez. As crianças adoeceram, e a preocupação gravou rugas ainda mais profundas no rosto de Vittorio.

Foi durante uma noite de fevereiro, enquanto o vento uivava lá fora e a família se aquecia ao redor de um pequeno fogo, que Vittorio tomou uma decisão que mudaria para sempre o destino dos Bellini. Ele havia ouvido histórias de um lugar distante, o Brasil, onde terras férteis aguardavam por aqueles dispostos a trabalhá-las. Era uma terra cheia de promessas, diziam os mercadores, onde o governo brasileiro oferecia oportunidades para os imigrantes reconstruírem suas vidas.

Lucia ouviu a proposta em silêncio, mas os olhos cheios de lágrimas revelavam o peso de suas emoções. Ela sabia o que isso significava: abandonar tudo o que conheciam, tudo o que amavam, e partir rumo ao desconhecido. Não era apenas uma mudança de país; era uma ruptura com suas raízes, uma despedida de Montecassino, com sua igreja centenária, os campos que haviam sustentado a família por gerações, e até mesmo os túmulos de seus antepassados.

“É o único caminho, Lucia,” disse Vittorio com um tom grave, a voz carregada de uma firmeza que ele nem sempre sentia. “Aqui, não temos futuro. No Brasil, talvez possamos começar de novo.”

Sofia, então com 17 anos, escutava a conversa à distância, mas suas mãos pararam de trabalhar no bordado. A ideia de partir era assustadora, mas, ao mesmo tempo, acendia nela uma fagulha de excitação. Embora amasse sua terra natal, ela sabia, melhor do que a maioria, que Montecassino não lhe oferecia mais do que uma vida de privações. O Brasil, com suas histórias de terras vastas e oportunidades, parecia um lugar onde sua inquietação e determinação poderiam encontrar espaço para florescer.

Os meses seguintes foram um turbilhão de preparação e despedidas. Vittorio vendeu o pouco que possuíam para arrecadar dinheiro para a travessia. A comunidade, embora acostumada a ver famílias partirem em busca de uma vida melhor, despediu-se dos Bellini com tristeza. No último dia, enquanto os sinos da igreja de Montecassino tocavam ao longe, Sofia olhou para trás uma última vez. As colinas que ela conhecia tão bem agora pareciam pequenas, distantes, quase irreais.

A bordo de um navio lotado de outros italianos que também buscavam um novo começo, Sofia sentiu o peso da incerteza, mas também uma ponta de esperança. O mar vasto e interminável era ao mesmo tempo um símbolo de separação e de possibilidades infinitas. Ela sabia que sua vida jamais seria a mesma, mas, pela primeira vez, começou a acreditar que isso poderia ser algo bom.


A Jornada ao Desconhecido

Os Bellini embarcaram no porto de Nápoles em 17 de fevereiro de 1885, em meio a uma multidão de outras famílias italianas igualmente empurradas pela necessidade e pela esperança. O vapor Comte d’Abruzzi era um dos muitos navios destinados a levar imigrantes ao Brasil, sua estrutura robusta contrastando com as frágeis esperanças de seus passageiros. Para os Bellini, o embarque foi um misto de alívio e desespero: alívio por deixarem para trás a fome e o frio de Montecassino, mas desespero por encararem o desconhecido, sabendo que não havia garantias de sucesso ou sequer de sobrevivência.

A travessia, que deveria ser uma passagem para um novo começo, rapidamente se transformou em uma provação. Os porões do navio, na terceira classe onde viajavam os passageiros mais pobres, eram escuros, abafados e infestados de ratos. O ar era pesado, saturado de umidade e do cheiro de corpos cansados e doentes. A comida, quando distribuída, era escassa e de qualidade duvidosa. Água potável era um bem raro, e os conflitos por ela não eram incomuns.

Logo nos primeiros dias no mar, doenças começaram a se manifestar entre os passageiros. O sarampo e a febre tifoide, impulsionados pelas condições insalubres, se espalhavam com rapidez assustadora. O som de tosses e choros de crianças doentes ecoava pelos corredores, enquanto os pais tentavam desesperadamente cuidar de seus filhos com os poucos recursos disponíveis. Para Sofia, agora com 18 anos, a situação trouxe à tona uma força que ela mesma não sabia possuir.

Sofia assumiu o papel de uma enfermeira improvisada, usando sua pouca experiência adquirida ao ajudar a mãe com os irmãos em Montecassino. Ela limpava o alojamento, oferecia água e confortava as crianças, incluindo seus próprios irmãos. Era um trabalho exaustivo e, muitas vezes, ingrato, mas Sofia não permitia que a exaustão a vencesse. Para ela, cuidar dos outros era mais do que uma tarefa; era uma forma de se agarrar à humanidade em meio ao caos.

Entre os doentes estava Lorenzo, de apenas 2 anos, o caçula dos Bellini. Sofia cuidava dele com especial dedicação, segurando sua pequena mão durante as longas noites enquanto ele lutava contra a febre. Mas, apesar de todos os esforços, Lorenzo não sobreviveu. Sua morte abalou profundamente a família. Vittorio, um homem que raramente demonstrava emoção, foi visto chorando silenciosamente à proa do navio, enquanto Lucia parecia ter envelhecido anos em apenas algumas horas. Para Sofia, a perda de Lorenzo foi um golpe que solidificou sua determinação de sobreviver e encontrar algo que justificasse aquele sacrifício.

Depois de 36 dias de mar e sofrimento, o Comte d’Abruzzi finalmente atracou no porto de Santos. O desembarque foi um misto de alívio e tristeza. Os Bellini estavam exaustos, desidratados e emocionalmente devastados, mas também cientes de que um novo capítulo de suas vidas começava ali. Santos era caótica e vibrante, um contraste absoluto com Montecassino. O calor úmido grudava em suas roupas, enquanto os sons da língua portuguesa, desconhecida e estranha, preenchiam o ar.

A jornada, no entanto, ainda não havia terminado. De Santos, a família embarcou em um trem que os levaria ao interior do estado de São Paulo, até a Colônia Pedrinhas, um dos primeiros assentamentos de imigrantes italianos na região. A viagem de trem foi desconfortável, mas nada comparado aos horrores do navio. A paisagem que passava pelas janelas mostrava um mundo verdejante e selvagem, tão diferente das colinas áridas da Itália.

Quando finalmente chegaram a Pedrinhas, foram recebidos por outros imigrantes italianos que os ajudaram a se instalar em uma casa simples de madeira. O local era isolado, cercado por mata virgem, e o trabalho que os esperava seria árduo. Apesar disso, Sofia sentiu algo que não sentia há meses: uma centelha de esperança. Ela sabia que o caminho à frente seria difícil, mas ali, entre aquelas pessoas, havia uma possibilidade de recomeço. Para a família Bellini, Pedrinhas representava mais do que terra; era uma chance de reconstruir suas vidas e honrar os sacrifícios feitos para chegar até ali.


A Luta por Sobrevivência

Na Fazenda Pedrinhas, os Bellini receberam um lote de terra que parecia mais uma selva do que um local para começar uma nova vida. O terreno era cercado por densas árvores com raízes que pareciam agarrar o solo como se fossem guardiãs de um mundo intocado. Para Vittorio, que mal conseguia esconder sua decepção, aquilo era uma sentença de trabalho interminável. As ferramentas que receberam eram rudimentares, e cada golpe do machado parecia pouco mais do que um arranhão na imensidão verde.

Os primeiros meses foram brutais. A umidade constante impregnava roupas, paredes e pulmões, enquanto doenças tropicais como malária e febre amarela atingiam a colônia. Os insetos eram uma praga incessante, picando durante o dia e zumbindo nas noites insones. As crianças ficavam cobertas de marcas vermelhas, e Sofia frequentemente fazia emplastros improvisados com ervas que aprendera a usar com os vizinhos. Os animais selvagens, embora raramente vistos, deixavam seus sinais: rastros ao redor da cabana e rugidos distantes durante a madrugada, fazendo com que cada estalo no mato fosse um lembrete constante do isolamento.

As noites eram especialmente difíceis. Sem luz elétrica, a escuridão parecia esmagadora, uma presença física que envolvia a pequena cabana de madeira. Durante essas longas horas, os lamentos de Vittorio enchiam o espaço. Ele se perguntava em voz alta se havia cometido um erro fatal ao trazer sua família para tão longe, para um lugar onde o solo parecia tão hostil quanto os céus da Itália haviam sido. Lucia, apesar de exausta, era o pilar silencioso, mantendo os filhos unidos e tentando acalmar o marido.

Mas Sofia, mesmo sentindo o peso das dificuldades, recusava-se a ceder ao desespero. Determinada a transformar o caos em oportunidade, começou a se aproximar dos outros imigrantes na colônia. Ela logo percebeu que a maior arma que poderia empregar contra a adversidade era o conhecimento. Com um caderno surrado que havia trazido da Itália, começou a aprender português ouvindo os vizinhos e repetindo as palavras em voz alta, praticando até que a língua começasse a soar menos estrangeira

Sua curiosidade natural e habilidade com números rapidamente chamaram a atenção. Os raros comerciantes locais, que enfrentavam dificuldades para manter as contas em ordem, começaram a procurar Sofia. Ela os ajudava a calcular preços, registrar dívidas e planejar os gastos. Em pouco tempo, tornou-se indispensável. Os pais, vendo a utilidade de sua inteligência, apoiaram sua iniciativa, mesmo quando o trabalho no campo exigia sua presença.

Além disso, Sofia notou que muitas crianças da colônia estavam crescendo sem qualquer tipo de instrução. Com a permissão dos pais e a ajuda de uma vizinha, que também era imigrante e tinha alguma educação, ela começou a organizar uma pequena escola. O espaço era improvisado, uma clareira entre as árvores com bancos feitos de troncos caídos, mas era um começo. As crianças, muitas delas órfãs de esperança, vinham curiosas e ansiosas, trazendo um brilho aos dias de Sofia. Ensinar deu-lhe propósito, e sua determinação inspirou outros colonos a contribuírem, doando tempo, ferramentas ou materiais.

Para Sofia, cada passo à frente, por menor que fosse, era uma vitória contra o destino aparentemente implacável que a família enfrentava. A floresta ainda os rodeava, sombria e imponente, mas agora ela sentia que, dentro daquele verde impenetrável, havia uma promessa de vida. E, acima de tudo, ela acreditava que, mesmo no meio da adversidade, a força de vontade e o trabalho árduo poderiam abrir caminho para um futuro mais promissor.


A Construção de um Futuro

Em 1891, Sofia Bellini encontrou em Marco Fioretti, um jovem ferreiro italiano de espírito empreendedor, um parceiro não apenas para a vida, mas também para os sonhos. Marco era conhecido por sua habilidade em moldar ferro com precisão e força, e sua fama na colônia crescia à medida que ele produzia ferramentas indispensáveis para a sobrevivência dos imigrantes. Eles se casaram em uma cerimônia simples, realizada na capela improvisada da colônia, sob um céu carregado que parecia abençoar a união com sua chuva suave.

Logo após o casamento, Sofia e Marco começaram a sonhar além da sobrevivência diária. Observando a necessidade crescente de materiais de construção à medida que a colônia se expandia, decidiram fundar uma pequena olaria, a Fioretti & Bellini. O local escolhido era próximo de um riacho, onde a argila vermelha de qualidade abundava. Marco dedicou-se à construção do forno de alvenaria, utilizando seus conhecimentos de ferreiro para projetar uma estrutura eficiente, enquanto Sofia organizava o fluxo de trabalho, as finanças e as negociações com os fazendeiros locais.

A olaria logo se tornou um pilar da comunidade. As telhas e os tijolos, moldados à mão e queimados com perfeição, eram robustos e acessíveis, permitindo que os colonos construíssem casas mais sólidas do que as cabanas de madeira em que haviam começado. Marco passava dias junto ao forno, supervisionando cada etapa do processo, enquanto Sofia cuidava das relações comerciais. Sua habilidade em português e matemática fez dela uma negociadora respeitada, garantindo acordos vantajosos e fidelidade dos clientes.

Com o tempo, o casal prosperou. A pequena olaria transformou-se em uma operação de médio porte, empregando outros imigrantes e promovendo o desenvolvimento local. Sofia e Marco tiveram três filhos, que cresceram saudáveis em meio ao progresso da colônia. Sofia fez questão de que frequentassem a escola que ela ajudara a construir anos antes. Embora a educação fosse básica, ela acreditava firmemente que o conhecimento seria a chave para um futuro mais brilhante.

Em 1902, um marco significativo foi alcançado na colônia: a inauguração da primeira igreja de alvenaria, símbolo da fé e da resiliência dos imigrantes. Os tijolos da Fioretti & Bellini estavam em cada parede, um testemunho silencioso da contribuição de Sofia e Marco para o crescimento da comunidade. Durante a cerimônia de inauguração, Sofia foi chamada ao altar pelo padre local e reconhecida publicamente por seu papel no desenvolvimento da colônia. Com lágrimas nos olhos, ela agradeceu em português, sua voz misturando-se ao calor das palmas e ao orgulho coletivo dos colonos.

Aquela igreja não era apenas um prédio; era um monumento à força de vontade, à união e aos sacrifícios de tantas famílias como os Bellini. Sofia, que um dia havia enxergado apenas incertezas na selva, agora via o futuro em cada parede erguida, em cada criança que aprendia a escrever, e no brilho dos olhos de seus filhos, que carregavam a promessa de que a jornada deles não havia sido em vão.


Legado e Memórias

Sofia Bellini Fioretti, uma mulher cuja vida se entrelaçou com a história de uma comunidade, viveu até os 78 anos, deixando um legado que transcendeu sua própria existência. Ao longo das décadas, tornou-se uma das figuras mais respeitadas de Pedrinhas, conhecida não apenas por sua liderança, mas também pela compaixão e determinação que moldaram o destino de tantos ao seu redor.

Nos últimos anos de sua vida, Sofia dedicou-se a registrar suas memórias em cadernos simples, encadernados com couro envelhecido, onde sua caligrafia firme dava vida às histórias de luta e superação de uma geração. Não eram apenas relatos pessoais; eram crônicas de um povo que cruzou oceanos em busca de um futuro melhor. Ela escrevia sobre os primeiros dias de angústia e dúvida, os momentos de perda e desespero, mas também sobre a força que encontrou no trabalho conjunto, no amor por sua família e na fé que os sustentava.

Seus cadernos narravam a jornada desde Montecassini, a vila de colinas verdes que ela jamais esqueceu, até o coração da colônia que ajudou a construir. Eles traziam os detalhes das pragas que devastaram a Itália, da longa travessia no Comte d’Abruzzi, e das noites insones nos primeiros meses em terras brasileiras. Mas, acima de tudo, suas palavras ecoavam esperança, a mesma esperança que havia inspirado seus filhos a estudar, seus vizinhos a persistir, e sua comunidade a crescer.

Quando Sofia faleceu, em 1945, sua morte foi sentida como uma perda coletiva. A pequena igreja de alvenaria, que tantos anos antes fora construída com tijolos da Fioretti & Bellini, encheu-se de amigos, familiares e conhecidos. Durante o funeral, o padre leu um trecho de suas memórias, descrevendo como a coragem de um indivíduo pode influenciar gerações. “Ela não era apenas a mãe de sua família, mas a mãe de nossa comunidade,” declarou ele, emocionado.

Hoje, o nome de Sofia adorna a escola que ela fundou, agora uma instituição de ensino reconhecida pela qualidade e tradição. A Escola Sofia Bellini Fioretti é um símbolo do espírito inquebrantável que transformou sonhos em realidade. Na entrada, uma estátua em bronze retrata Sofia com um caderno em uma das mãos e uma criança pela outra, representando sua dedicação à educação e ao futuro. No salão principal, estão expostos seus cadernos originais, preservados como um testemunho de sua visão.

A influência de Sofia se estende até os dias de hoje. Historiadores, professores e até mesmo descendentes dos primeiros colonos estudam seus escritos, inspirados por sua narrativa de resiliência. Para muitos, sua história é um lembrete de que, mesmo nas circunstâncias mais adversas, a determinação e o trabalho árduo podem construir legados que perduram além do tempo. E em cada sala de aula, cada livro aberto e cada tijolo erguido, a presença de Sofia Bellini Fioretti continua viva.


Nota do Autor


A história de Sofia Bellini Fioretti é uma obra de ficção inspirada nas trajetórias reais de milhares de imigrantes italianos que, no final do século XIX, deixaram suas terras natais em busca de esperança em solo brasileiro. Embora os eventos e personagens apresentados neste relato sejam fictícios, eles representam as experiências, lutas e conquistas de homens e mulheres que enfrentaram o desconhecido com coragem e resiliência. A imigração italiana para o Brasil foi marcada por desafios imensuráveis: a adaptação a um clima tropical, o desbravamento de terras cobertas pela mata atlântica, as condições precárias de trabalho e moradia, e a saudade eterna das paisagens e pessoas deixadas para trás. Contudo, foi também uma história de superação e progresso, com as comunidades italianas contribuindo significativamente para a formação cultural, econômica e social do país.

Em criar Sofia e sua jornada, busquei homenagear não apenas os pioneiros que construíram novas vidas, mas também aqueles que, como ela, valorizaram a educação, a união comunitária e o trabalho como instrumentos para transformar adversidades em oportunidades. Sofia é fictícia, mas o espírito que ela encarna é real. Ele vive nas famílias que plantaram raízes em terras desconhecidas, nos filhos e netos que prosperaram, e nas comunidades que continuam a florescer, carregando o legado de seus antepassados.

Que esta narrativa nos lembre da força que reside em nossos próprios desafios e da importância de preservar e celebrar as histórias de quem veio antes de nós.

Com gratidão e respeito,

Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta


domingo, 7 de setembro de 2025

El Destin de Sofia


El Destin de Sofia 

Sofia Bellini la ze nassesta el 3 de aprile del 1867, a Montecassino, ‘na bea località piantà in meso ai coli de la provìnsia de Frosinone, ´nte la region del Lazio, al sentro-sud de l’Itàlia. Ghe zera un posto ndove l’odor de le ulive se mescolava con i canti lontan dei osei, e el tempo pareva ´ndar al passo de la vita contadina. Terza de sinque fiòi de Vittorio e Lucia Bellini, Sofia la ze cressesta in ‘na casa sèmplice de piera, ndove i muri pareva contar stòrie de generassion che gavea laorà duro par cavar sostegno da la tera.

Vittorio, un omo con le man rovinà, calegà e el sguardo lontan, el portava el peso de le speranse de un mondo in cambiamento. Come tanti de quei tempi, el gavea messo fede ´nte l’unificassion italiana, pensando che un paese unito el ghe portasse prosperità a le comunità contadin. Ma i ani dopo l’unificassion i ze stà crudele con i contadin. Le tasse pì alte, i cambiamenti de le polìtiche agràrie e la concorensa dei grande latifondi i gavea rendesto la vita a Montecassino na lota cotidiana.

Lucia, par conto so, la zera el cuor de la famèia. Picenina de statura, ma granda de determinassion, lei mandava avanti la casa con ´na mèscola de autorità e teneressa. Lei fasea el magnar con maestria, trasformando quel poco che ghe zera in piati che scaldava no solo la pansa ma anca l’ànima. Sofia e i so fradèi i gavea piantà drento de lori le radise de la speransa, contandoghe stòrie de tempi mèio e soniando in silénsio un futuro pì pròspero.

Le tere che i Bellini coltivava, però, le zera sempre meno generose. Le pràtiche agrìcole vècie e i teren spossà i gavea costreto Vittorio a laorar dal sórgere al tramonto, mentre Lucia e i fiòi i faseva quel che podéa. La vigna, che prima gavea promesso boni racolti, la rendeva meno ogni ano, e le ulive, resistenti come i stessi Bellini, le scominsiava a sofrire con le malatie che devastava la region.

Malgrado le fatiche, Sofia la cresseva curiosa e determinà. Mentre i fradèi pì veci, Pietro e Giovanni, i gavea preso el peso del laoro in campo, e i pì pìcoli, Caterina e Mario, i gavea ancora la spensieratessa de l’infànsia, Sofia la gavea momenti par guardar oltre i coli. La fasea pianser ascoltar le stòrie dei viandanti che passava par la zona, ndando verso Roma o altri posti pì richi. Ogni raconto ghe sveiava el desidèrio de scoprire quel che ghe zera oltre la monotonia de Montecassino.

Con el tempo, el malcontento de la famèia el ze diventà evidente. I Bellini no i zera i soli a sentir el peso de la povertà cressente; in tuta la zona, intere famèie le gavea lassà le pròprie tere par imbarcarse su navi verso posti scognossesti, in serca de ´na vita mèio. Sofia, anca così zòvene, la gavea scominsià a capir che la so picolina contrà forse no la zera abastansa grande par contegner i so soni.

Drento ‘sta atmosfera de incertesse, Sofia la gavea scominsià a formar el so carater. Ogni dificoltà che la so famèia la gavea afrontà, la gavea raforsà la so resistensa. E benché i so piè i gavea restà ben piantà su la tera àrida de Montecassino, la so mente la gavea già viaia verso posti lontan, dove la soniava un futuro che la so tera natale no pareva capace de regalar.

Fin da picinina, Sofia la mostrava ‘na curiosità viva e un spìrito inquieto che la fasea diversa da le altre creature de Montecassino. Mentre i so fradèi pareva rasegnà a le rotine del campo, Sofia la gavea vóia de qualcosa de pì, un futuro che podesse ofrirghe pì de la fadiga infinita e del vaevien sensa fin de le racolte. Sta scintila no la sfugìo a la Signora Teresa, la maestra de la scola rural, ´na dona de mesa età con ´na passione quasi testarda par insegnar, anca´nte le condision pì difìssili.

La scola la zera poco pì de ´na stansa sèmplice con muri de piera grise, qualche banco de legno consumà e ´na lavagna che parea vècia come el stesso paese. I mesi i zera pochi, ma questo no fermava la Signora Teresa dal inspirar i so studenti. Quando Sofia la ga scominsià a frequentar, Teresa la se gave sùito conto che ghe gera qualcosa de espessial in ´sta toseta. Sofia la gavea ´na abilità natural par scriver e ´na fassilità sorprendente con i nùmari, distinguendose in matemàtica in modo che pochi a Montecassino podéa imaginar.

Malgrado l’entusiasmo de la maestra, studiar zera un lusso che la realtà no permetea. A dòdese ani, quando le altre creature podéa ancora soniar mondi lontan, Sofia la ga dovù lassar la scola. El campo la ciamava, e la famèia gavea bisogno de ogni man disponìbile. El momento el ze sta duro par lei. Lassar i libri e le lesioni no volea dir solo perder el contato con el imparar, ma anca rinunsiar, anca se par poco, al sònio de un futuro diverso.

La nova rotina zera pesante. Sofia la scominsiava la zornada prima che nassesse el sole, aiutando la mama a racolier l’ua e le ulive. El laoro in campo el ghe chiedeva forsa, resistensa e ´na pasiensa che solo la vita contadina podéa insegnar. Quando no zera ´nte la tera, la se dedicava a curar i so fradèi pì picoleti, Caterina e Mario, assicurandoghe qualcosa da magnar e che no se ficasse ´ntei pastici mentre Lucia e Vittorio laorava.

Anca in ´sto cenàrio de privassion, Sofia la trovava i modo par nutrir la so mente inquieta. ´Ntei rari momenti de pausa, la trovava refùgio in un vècio libro de conti che la Signora Teresa ghe gavea prestà prima che lei lassiasse la scola. Lei leseva ogni parola con cura, assimilando stòrie che la ghe portava in posti lontan e realtà pì prometenti. Qualche olta, a la luse tremolante de ´na candea, la scriveva pensieri e idèie su pesi de carta che so pupà el riussiva a trovar. Le so parole le rivelava ´na ánima che, anca se zòvane, la scominsiava già a capir la duressa de la vita e a soniar qualcosa de pì de quel che i so oci podéa vardar.

Pian pianin, Sofia la ga capìo che el saper, anca quelo aquisito ´nte i pochi momenti de letura, el podéa èsser ´na arma potente. Se no podéa ´ndar a scola, la trovava altri modi par imparar. Lei scominsiava a ascoltar con atenssion le stòrie dei visin e dei viaianti che passava par Montecassino, assorbendo ogni informassion come ´na spugna. Ogni detàlio che lei imparava diventava ´na piera in pì ´nte la costrussion de un futuro che ancora no la sapeva come rasiunser, ma che lei la credeva possìbile.

Sta determinassion la ga colpì no solo la so famèia, ma anca altre persone de la comunità. "Sta toseta la ga el fogo ´ntei oci", el ga deto un mercante che passava par la vila. Sta frase no la ga dimenticà Vittorio, che, anca se i so soni i zera sta schiassà da la realtà, el scominsiava a vardar in Sofia ‘na speransa par i Bellini. Ma par Sofia, la speransa la zera solo el scomìnsio. Lei volea de pì de un sònio.

Con el passar dei ani, la situassion a Montecassino la ze sta peiorà sensa pietà. Le tere, già sfrutà da generassion de cultivassion, le ga scominsià a render sempre de meno. Le vigne, el vanto de la region, le ze sta devastà da ´na malatia che ga lassià le vigne stèrili e i campi coerti de folie morte, un panorama desolante che pareva rifleter el stesso spìrito dei contadin. La produssion de oio, che una olta el zera bastansa par pagar le tasse e assicurar un sustento modesto, la ze se diventà scarsa, incapase de competer con i grandi piantassion de le region pì riche.

Par la famèia Bellini, la crise zera ´na tempesta perfeta de adversità. ´Ntel 1884, un inverno rìgido el ze vegnesto come el colpo final. El fredo taliente el ze entrà tra le crepe de le finestre de la casa e el ze penetrà fin ´ntei ossi, portando con se la fame. Le scorte de vìveri le zera insufissienti, e comprar alimenti el ze diventà un lusso impossìbile. Lucia la fasea miràcoli in cusina, tirando avanti con el poco che gavea, ma anca la so creatività la ze sta schiassà da la scarsità. Le creature le se ga amalà, e la preocupassion la ga segnà rughe ancor pì profonde sul viso de Vittorio.

Zera durante ‘na note de febraro, mentre el vento ululava fora e la famèia la se scaldava torno al  fogon, che Vittorio el ga deciso qualcosa che l’gavaria cambià par sempre el destin dei Bellini. El gavea sentì stòrie de un posto lontan, el Brasile, ndove tere fèrtili le aspetea chi gavea vóia de laorarle. Zera ´na tera pien de promesse, diséa i mercanti, ndove el governo brasilian el gavea oferto oportunità ai emigranti par rifar la so vita.

Lucia la gavea ascoltà la proposta in silénsio, ma i oci pien de làgreme i mostrava el peso de le so emossion. Lei la capiva cosa volea dir: lassar tuto quel che conosséa, tuto quel che ghe zera caro, e partir verso lo scognossesto. No zera solo un càmbio de paese; zera un distaco da le radise, un adio a Montecassino, con la so cesa sentenària, i campi che gavea sostentà la famèia par generassion, e anca le tombe dei so antenati.

“Ze l’ùnica strada, Lucia,” el ga dito Vittorio con un tono grave, la vose pien de ´na fermesa che el no sentiva sempre. “Qua no gavemo futuro. In Brasile, forse podaremo rescominsiar.”

Sofia, che gavea 17 ani, la gavea ascoltà la conversa da lontan, ma le so man le gavea smesso de laorar su el ricamo. L’idea de partir la ghe fasea paura, ma al stesso tempo la ghe scaldava ´na fiameta de essitassion. Anca se la gavea amore par la so tera natale, lei la capia, pì de tanti, che Montecassino no ghe podéa ofrire altro che na vita de privassion. El Brasile, con le so stòrie de tere vaste e oportunità, el parea un posto ndove la so inquietudine e determinassion le podéa fiorir.

I mesi dopo i ze sta ´na confusion de preparativi e adii. Vittorio el gavea vendù quel poco che gavea par pagar el viaio. La comunità, benché abituà a vardar famèie che partia in serca de ´na vita mèio, la gavea salutà i Bellini con tristessa. El ùltimo zorno, mentre le campane de la cesa de Montecassino le suonava lontan, Sofia la gavea vardà indrio ´na ùltima olta. I coli che lei gavea conossesto così ben adesso i pareva piceni, lontan, quasi ireali.

Su un bastimento pien de altri italiani che anca lori sercava un novo scomìnsio, Sofia la gavea sentì el peso de l’incertessa, ma anca un filo de speransa. El mar vasto e infinito el zera al stesso tempo sìmbolo de separassion e de possibilità infinite. Lei la sapeva che la so vita no saria mai pì la stessa, ma, par la prima olta, lei scominsiava a creder che questo podesse èsser qualcosa de bon.

La Zornada Verso lo Scognossesto

I Bellini i ze partì dal porto de Nàpoli el 17 de febraro del 1885, in meso a ´na multitùdine de altre famèie italiane spinte da la necessità e da la speransa. El vapor Conte d’Abruzzi el zera uno dei tanti bastimenti destinà a portar emigranti in Brasile, la so strutura robusta in contrasto con le fràgili speranse dei passegieri. Par i Bellini, l’imbarco el zera un misto de solievo e disperassion: solievo par lassar indrio la fame e el fredo de Montecassino, ma disperassion par afrontar lo scognossesto, savendo che no ghe zera garanzie né de sucesso né de sopravivensa.

La traversia, che doveva èsser un pasàgio verso un novo scomìnsio, la ze diventà presto ´na prova. I fondi del bastimento, in terza classe ndove viasava i passegieri pì pòveri, i zera scuri, sofocanti e infestà de sorzi. L’ària la zera pesà, pien de umidità e de l’odor de corpi strachi e malà. El magnar, quando el vegniva distribuì, el zera poco e de qualità dubitosa. L’aqua potàbile la zera un ben raro, e le liti par essa no zera insòlite.

´Ntei primi zorni de navigassion, le malatie le gavea scominsià a difonderse tra i passegieri. El morbilo e la febre tifòide, fomentà da le condission insalubri, i se propagava con velocità spaventosa. El rumor de tossi e pianti de creature malà el se sentiva par i coridoi, mentre i genitori i provava disperadamente a curar i so fiòi con i pochi mesi disponìbili. Par Sofia, che adesso gavea 18 ani, la situassion la gavea tirà fora ´na forsa che ne anca lei sapeva de gaver.

Sofia la gavea assumì el rolo de ´na infermiera improvisà, usando la poca esperiensa aquisì aiutando la mama con i fradèi a Montecassino. Lei la netava l’alogio, lei dava aqua e lei consolava le creature, inclusi i so fradèi. Zera un laoro stracante e spesso ingrato, ma Sofia la no se fasea superar da la fadiga. Par lei, curar i altri zera pì che ´na tarefa; zera ´na forma par mantegnerse umana in meso al caos.

Tra i malà ghe zera Lorenzo, de solo 2 ani, el picinin dei Bellini. Sofia la se curava de lu con dedission espessial, tegnendoghe la man durante le longhe note mentre che el combatea contro la febre. Ma, nonostante tute le cure, Lorenzo no lo ga sopravivesto. La so morte la ga segnà profondo la famèia. Vittorio, un omo che raramente dimostrava emossion, el ze stà visto pianser in silénsio su la proa del bastimento, mentre Lucia la pareva de gaver invecià ani in poche ore. Par Sofia, la pèrdita de Lorenzo la zera un colpo che la ga reso ancora pì determinà a sopraviver e trovar qualcosa che giustificasse quel sacrifìssio.

Dopo 30 zorni de mare e soferenza, el Conte d’Abruzzi el ze finalmente arivà al porto de Santos. El sbarco zera un misto de solievo e tristessa. I Bellini i zera strachi, disidratà e devastà emossionalmente, ma anca consapèvoli che lì, su ‘sta tera lontana, scominsiava un novo capìtolo de la so vita.

La Luta par Sopraviver

A la Fazenda Pedrinhas, i Bellini i ga ricevù un loto de tera che pareva più ´na selva che un posto ndove scominsiar na nova vita. El teren zera sircondà da àlberi densi con radisi che pareva se agrapà a la tera come se i zera le guardian de un mondo intocà. Par Vittorio, che faticava a nasconder la so desilusion, che gera ´na condana a un laoro sensa fin. Le poche feramenta che i gavea ricevù le zera rudimentai, e ogni colpo de scure pareva solo ´na grafiada su la vastità verde.

I primi mesi i ze stai brutà. L’umidità constante la impregnava robe, muri e pulmoni, mentre malatie tropicai come la malaria e la febre zalda colpiva la colónia. I inseti zera ´na peste contìnua, pisicando de zorno e ronsando de note, impedindo el sònio. Le creature zera pien de segni rossi, e Sofia spesso fasea impiastri improvisà con erbe che gavea imparà a usar dai visin. I animai selvadeghi, anca se rari da vardar, i lassiava segni de la so presensa: trace torno a la cabana e rugido lontan durante le ore pìcole, fasendo che ogni rumore ´nte l’erba zera un ricordo constante de l’isolamento.

Le note zera particularmente difìssili. Sensa luse elètrica, el scuro pareva esmagante, ´na presensa fìsica che siorcondava la pìcola cabana de legno. Durante ´ste lunghe ore, i sospiri de Vittorio riempiva el spasso. El se domandava a vose alta se el gavea fato un sbàlio mortal a portar la so famèia così lontan, in un posto ndove la tera pareva tanto ostile quanto el ciel de l’Itàlia. Lucia, anca se straca, la zera el pilar silensioso, tegnendo uniti i fiòi e cercando de calmar el marito.

Ma Sofia, anca sentindo el peso de le dificoltà, la se rifiutava de ceder a la disperassion. Determinà a trasformar el caos in oportunità, lei la ga scominsià a avicinarse ai altri emigranti de la colónia. Presto, la ga capìo che l’arma pì forte contro le aversità la zera el sapere. Con un quaderno consumà che la gavea portà da l’Itàlia, la ga scominsià a imparar el portoghese ascoltando i visin e ripetendo le parole a vose alta, praticando finché la léngoa la ghe ze sembrava meno straniera.

La so curiosità natural e la so abilità con i nùmari presto le ga fato notar. I pochi mercanti locai, che ga scontrà dificoltà a gestir i conti, i ga scominsià a sercar Sofia. Lei i aiutava a calcular i pressi, registrar i dèbiti e pianificar le spese. In poco tempo, la ze sta diventà indispensàbile. I genitori, vardando l’utilità de la so inteligensa, i ga sustegnù la so inisiativa, anca quando el laoro in campo el gavea bisogno de lei.

Sofia la gavea notà che tante creature de la colónia le zera sensa alcun tipo de istrussion. Con el consenso dei genitori e l’aiuto de na visina che zera anca lei emigrante e gavea un po’ de educassion, la ga scominsià a organizar ´na pìcola scola. El posto el zera improvisà, una radura fra i àlbari con banchi fati de tronchi cascà, ma zera un inìsio. Le creature, tante dele quali òrfane de speransa, le vegnia curiose e ansiose, portando ´na luse ´ntei zorni de Sofia. Insegnar gavea dato a lei un scopo, e la so determinassion la ga inspirà altri coloni a contribuir, donando tempo o materiai.

Par Sofia, ogni passo in avanti, anca el pì picin, zera ´na vitòria contro el destino che pareva implacàbile par la so famèia. La selva ancora li siorcondava, scura e imponente, ma adesso la sentiva che, drento quel verde inpenetràbile, ghe zera una promessa de vita. E, sora tuto, lei credeva che, anca in meso a le adversità, la volontà e el laoro duro podéa vèrde la strada a un futuro pì prometente.

La Construssion de un Futuro

Int el 1891, Sofia Bellini la ga incontrà in Marco Fioretti, un zòvane fàvero italiano con un spìrito intraprendente, un compagno no solo par la vita, ma anca par i so soni. Marco el zera conossùo par la so abilità a laorar el fero con precision e forsa, e la so fama ´ntela colónia la cresséa con el passar del tempo, visto che el produsea ogeti indispensàbili par la sopravivensa dei emigranti. Lori i se ga sposà in una serimónia semplice, tegnuda ´ntela cesa improvisà de la colónia, soto un ciel cargà che pareva benedir l’union con ´na pioveta dolse.

Dopo el matrimónio, Sofia e Marco i ga scominsià a soniar oltre la sopravivensa cotidiana. Vardando la cressente domanda de materiai de construssion mentre la colónia se espandeva, i ga deciso de sverde ´na pìcola fornasa, la Fioretti & Bellini. El posto scielto zera visin a un fiumeto, dove la tera rossa de bona qualità la zera abondante. Marco el se gavea dedicà a costruir el forno de muratura, usando el so sapere de fàvero par disegnar ´na strutura eficiente, mentre Sofia la organisava el laoro, le finanse e le tratative con i contadin locai.

La fornasa presto la ze diventà un pilastro de la comunità. Le tègole e i matoni, lavorà a man e coti con precision, i zera robusti e acessibili, permetendo ai coloni de costruir case pì sòlide rispeto a le cabane de legno. Marco el passéa le zornade al forno, supervisionando ogni fase del processo, mentre Sofia la se curava de le relassion comerssiai. La so abilità con el portoghese e la matemàtica la ga fato de lei ´na negosiatora respetà, assicurando acordi vantagiosi e fidelità dei clienti.

Con el tempo, i ze prosperà. La pìcola fornasa la ze diventà un’atività de mèdia dimension, dando lavoro ad altri emigranti e promovendo el svilupo locae. Sofia e Marco i ga avuto tre fiòi, che i ze cressiuti sani in meso al progresso de la colònia. Sofia la gavea cura che lori i frequentasse la scola che ela gavea contribuito a fondar ani prima. Benchè l’educassion la zera bàsica, lei credeva fermamente che el sapere zera la chiave par un futuro pì luminoso.

´Ntel 1902, un marco significante el ze stà ragiunto ´ntela colònia: l’inaugurassion dela prima cesa de muratura, sìmbolo de la fede e dela resiliensa dei emigranti. I matoni de la Fioretti & Bellini i zera presenti in ogni muro, un testimonio silensioso del contributo de Sofia e Marco al crèsser de la comunità. Durante la cerimónia, Sofia la ze stà ciamà su l’altar dal prete locae e riconossiuda publicamente par el so rolo ´ntela crèssita de la colónia. Con le làgreme ´ntei oci, lei la ga ringrasià in portoghese, la so vose mescolandose al calor dei aplausi e al orgòlio coletivo dei coloni.

Sta cesa no zera solo un edifìcio; la zera un monumento a la forsa de volontà, ala union e ai sacrifìssi de tante famèie come i Bellini. Sofia, che un zorno gavea vardà solo incertesse ´ntela selva, adesso lei vardava el futuro in ogni muro ereto, in ogni creatura che imparava a scriver, e ´ntel sbrilocar ´ntei oci dei so fiòi, che portava la promessa che la so zornada no zera stà in vano.

Lassà e Memòrie

Sofia Bellini Fioretti, ´na dona la cui vita se ze intressià con la stòria de ‘na comunità, la ze vivesto fin ai 78 ani, lassando `na eredità che la ga trassendè le figure pì respetà de Pedrinhas, conossù no solo par la so lideransa, ma anca par la compassion e la determinassion che le ga plasmà el destino de tanti intorno a lei.

´Ntei ultimi ani de la so vita, Sofia la se gavea dedicà a scriver le so memòrie su quaderni sèmplici, rilegà con cuoio invecià, ndove la so caligrafia ferma la dava vita a le stòrie de lota e superassion de ‘na generassion. No zera solo ricordi personai; zera cronache de un pòpolo che gavea traversà osseani in serca de un futuro mèio. Lei la scrivea de i primi zorni de angòscia e dùbio, dei momenti de perdita e disperassion, ma anca de la forsa che la gavea trovà ´ntel laoro insieme, ´nte l’amor par la so famèia e ´nte la fede che i li sosteneva.

I so quaderni i narava la zornada da Montecassino, la vila de coline verdi che lei no gavea mai desmentegà, fin al core de la colónia che lei gavea contribuito a costruir. I riportava i detali de le piaghe che gavea devastà l’Itàlia, de la lunga traversia sul Conte d’Abruzzi, e de le note insone dei primi mesi in tera brasilian. Ma, sopra tuto, le so parole le risuonava de speransa, la stessa speransa che gavea inspirà i so fiòi a studiar, i so visin a resister, e la so comunità a cresser.

Quando Sofia la ze morta, ´ntel 1945, la so scomparsa la ze stà sentì come ‘na perdita coletiva. La pìcola cesa de muratura, che ani prima zera sta costruì con i matoni de la Fioretti & Bellini, la se ze riempi de amissi, parenti e conossesti. Durante el funerale, el prete el gavea leto un passàgio de le so memòrie, descrivendo come el coraio de un indivìduo el podesse influensar generassion. “No zera solo la mama de la so famèia, ma la mama de la nostra comunità,” el ga dichiarà, con la vose emosionà.

Oggi, el nome de Sofia el decora la scola che lei gavea fondà, adesso ´na istitussion de insegno riconossiù par qualità e tradission. La Scola Sofia Bellini Fioretti la ze un sìmbolo del spirito inquebrantavel che el ga trasformà i soni in realtà. Al’entrata, ´na stàtua in bronzo la rafigura Sofia con un quaderno in una man e ´na creatura par l’altra, rapresentando la so dedission a l’educassion e al futuro. ´Ntel salon prinssipal, i ze esposti i so quaderni originai, conservà come un testimónio de la so vision.

L’influensa de Sofia la continua anca incòi. Stòrici, insegnanti e anca i discendenti dei primi coloni i studia i so scriti, inspirà da la so narativa de resiliensa. Par tanti, la so stòria la ze un ricordo che, anca ´nte le situassion pì averse, la determinassion e el laoro duro i podar costruir legadi che i dura oltre el tempo. E in ogni aula, in ogni libro verto e in ogni maton alsà, la presensa de Sofia Bellini Fioretti la resta viva.

Nota de l’Autore

La stòria de Sofia Bellini Fioretti la ze ‘na òpera de fission ispirà da le traietòrie reai de miliaia de emigranti italiani che, a la fine del XIX sècolo, i ga lassà le so tera in serca de speransa su la tera brasilian. Benchè i eventi e i personagi presenti in sto raconto i sia inventà, lori i rapresenta le esperiense, le lote e le conquiste de omi e done che i ga afrontà icognossesto con coraio e resiliensa. L’emigrassion italiana in Brasil la ze sta segnà da sfide imensi: l’adaptassion a un clima tropical, el disboscamento de foreste de mata atlántica, le condission precàrie de laoro e abitassion, e la nostalgia eterna de i paesagi e le persone lassà indrio. Tutavia, la ze anca ‘na stòria de superassion e progresso, con le comunità italiane che le ga contribu significativamente a la formasione culturae, económica e sossial del paese.

In crear Sofia e la so zornada, mi go sercà de render omaio no solo ai pionieri che i ga costruì nove vile, ma anca a quei che, come lei, i ga valorisà l’educassion, l’union comunitària e el laoro come strumenti par trasformar le aversità in oportunità. Sofia la ze ‘na figura fitìssia, ma l’ánima che la incarna la ze real. Lei vive ´nte le famèie che i ga piantà radise su tere scognossesta, ´ntei fiòi e ´ntei nipoti che i ze prosperà, e ´nte le comunità che le contìnua a fiorir, portando avanti el lassà dei so antepassà.

Che sto raconto te ricordi la forsa che ghe ze ´ntei nostri pròpie sfidi e l’importansa de preservar e selebrar le stòrie de chi che se vegnù prima de noialtri.

Con gratitùdine e rispeto,

Dr. Piazzetta