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sexta-feira, 9 de dezembro de 2022

A Emigração Italiana em Resumo

 



A Itália, mesmo desde antes da época feudal, sempre foi um conglomerado de cidades estados independentes, cada uma com seu próprio  sistema de governo, suas leis, sua cultura e até mesmo a sua língua, que nem sempre mantinham relações amistosas entre si, tendo por diversas ocasiões combatido ferozmente entre si, pelos mais diversos motivos. 

Através de um movimento armado liderado pela casa de Savoia esses estados antes independentes foram coagidos pela força a se unirem em um movimento armado no período chamado de risorgimento, que deu origem ao Reino da Itália em 1866.

Esse movimento que ficou conhecido por Unificação, criou um novo país, o Reino da Itália, em 1861, após o rei Vitor Emmanuel da Sardenha ter sido proclamado rei e cuja sede de governo estava localizado no Piemonte.

A unificação levou o governo a aumentar impostos e a criar novas taxas para suportar os pesados gastos do novo país. Foi principalmente em decorrência da unificação que levou muitos, agora cidadãos italianos, principalmente os mais pobres das áreas rurais, decidirem escapar da pobreza e melhorar suas vidas buscando novas oportunidades de crescimento em outros países. 

Eram eles pequenos agricultores com safras medíocres, que não aguentavam com os impostos; diaristas que não encontravam trabalho, mas também muitos artesãos e até pequenos comerciantes. 

Antes de 1890 emigravam os italianos das regiões do norte da Itália, que também fugiam do país devido a safras mal sucedidas, que levou a alta taxa de desemprego no campo e falta de postos de trabalhos suficientes nas indústrias das cidades.

Após 1890, a maior parte dos emigrantes italianos partiram do sul da Itália: Abruzzo, Molise, Campania, Puglia, Basilicata, Calábria, Sicília e Sardenha. Muitos deles, alguns anos depois, retornariam à pátria. Estima-se, através de estatísticas pouco exatas, que tenham sido cerca de 30 a 50% deles. 

Aqueles que se fixaram definitivamente em outros países  enviavam regularmente parte de suas poucas economias para os seus parentes que ficaram na Itália. Essas remessas no montante representaram valores realmente expressivos, constituindo-se em uma forte ajuda para a ainda pobre economia italiana, ajudando na reconstrução do país e na criação do seu parque industrial. 

Os principais portos por onde emigrantes italianos embarcavam foram os portos de Gênova, Nápoles e Palermo. Os países que mais acolheram os emigrantes italianos no início do grande êxodo foram: Brasil, Argentina, Estados Unidos. Anos mais tarde Venezuela, Canadá e Austrália. 



Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS





segunda-feira, 3 de outubro de 2022

O Brasil como Destino

Piroscafo Adria 1898


Nos anos de 1875 a 1975 estima-se que cerca de um milhão e meio de italianos optaram por emigrar para o Brasil. Os anos de maior desenvolvimento do fluxo migratório italiano incluem o período 1887-1902, então o fluxo diminuiu até ser interrompido com a Primeira Guerra Mundial, para retomar de forma reduzida nos anos entre as duas guerras e com mais força no segundo pós-guerra.

Os italianos têm desempenhado papel fundamental nos processos de modernização do Brasil contemporâneo, participando pessoalmente do desenvolvimento da economia exportadora, da industrialização, dos processos de politização e nacionalização das massas.

Dentre as diversas nacionalidades de migrantes que chegaram ao Brasil desde as primeiras décadas do século XIX, o italiano foi imediatamente considerado um migrante apto a solucionar a escassez de mão de obra que existia em diversos setores da economia devido às afinidades culturais e étnicas. 

A importância do grupo italiano dentro do movimento migratório europeu para o Brasil inclui vários motivos:

- a primeira razão é quantitativa. Entre 1870 e 1920, auge do longo período denominado "grande imigração", os italianos representaram 42% do total de imigrantes que entraram no Brasil, ou seja, 1,4 milhão de italianos em 3,3 milhões de imigrantes.

- a segunda razão é qualitativa. O italiano incorporou as duas condições do imigrante mais apreciadas pelas autoridades públicas, intelectuais e empresários privados: as afinidades de idioma, religião e costumes facilitaram a assimilação do imigrante italiano mais do que do alemão ou do japonês. Além disso, o imigrante italiano estava, pelo menos no imaginário brasileiro, mais apto a realizar o ideal de "embranquecimento" da população local, condição considerada necessária para tornar o Brasil mais "civilizado".

Os italianos deixaram seu país principalmente por razões econômicas e sócio-culturais. A emigração, de fato, por um lado, aliviou os países das pressões socioeconômicas libertando-os da falta de trabalho e, por outro lado, reabastecendo os cofres de seus países de origem com remessas que os migrantes regularmente enviavam a seus familiares.

A Itália, depois de mais de 20 anos de luta pela unificação do país, encontrou-se com uma população, especialmente rural, com enormes problemas de sobrevivência tanto no meio rural como no urbano. Nessas condições, a emigração não era apenas apoiada pelo governo, mas era a única solução de sobrevivência para muitas famílias. É por isso que entre 1860 e 1920 mais de 7 milhões de italianos emigraram. 




No Brasil, a imigração "subsidiada" vigorou de 1870 a 1930 com o objetivo de estimular a chegada de imigrantes. Neste período, foram emitidas facilidades e ajudas em dinheiro para a compra de passagens, para hospedagem e para o primeiro emprego de forma a facilitar a instalação inicial do migrante no país. Os imigrantes comprometem-se a respeitar os contratos que estabelecem o seu local de trabalho e as condições de trabalho a que têm de se submeter. Aprovado em 1871, a partir da lei “Ventre Livre”, tratava-se inicialmente de iniciativas espontâneas dos fazendeiros. A Lei do Ventre Livre, de fato, editada em 1871, libertou da escravidão crianças nascidas de pais escravos. 

Na verdade, após a abolição da escravatura, os imigrantes - inclusive italianos - tomaram o lugar dos escravos nas plantações de café. Posteriormente, esta iniciativa passou cada vez mais para os governos, provinciais e imperiais até 1889, e depois para os dos Estados individuais e federais. Como a imigração "subsidiada" favorecia a chegada de famílias e não de indivíduos, nesse período chegaram famílias muito numerosas (cerca de doze pessoas), compostas por homens, mulheres e crianças, mesmo de gerações diferentes.

Os primeiros migrantes a abandonar a Itália na época da "grande emigração" (1870-1920) eram essencialmente os vênetos (cerca de 30% do total), seguidos pelos campônios, calabreses e lombardos. A este primeiro grupo de imigrantes juntaram-se mais tarde emigrantes das regiões do sul da Itália. 


Fonte: Brasil 500 anos de povoamento. IBGE. Rio de Janeiro. 2000


Os destinos dos migrantes neste período de imigração "subsidiada" eram as fazendas cafeeiras de São Paulo e os principais assentamentos, localizados no Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Espírito Santo. Um terceiro grupo de imigrantes instalou-se em cidades como Rio de Janeiro e São Paulo, onde se concentraram as pessoas que fugiam dos campos ou, eludindo a vigilância, não iam trabalhar nas colônias.

Os italianos que se tornaram colonos ou trabalhadores nas fazendas de café trabalharam em condições adversas, com poucas chances de economizar. Eram poucos aqueles que podiam comprar uma pequena propriedade.
As famílias migrantes, que chegaram às fazendas, sujeitaram todos os membros, inclusive mulheres e crianças, a um contrato de trabalho. O contrato estipulava que cada família deveria cuidar de um certo número de pés de café, recebendo uma quantia em dinheiro a cada mil pés.

O contrato lhes dava direito a uma casa com um pequeno terreno contíguo, onde poderiam criar animais e fazer uma pequena horta, além da possibilidade de plantar milho e feijão preto entre as fileiras de cafeeiros que lhes fossem confiadas. De qualquer forma, essa produção própria servia apenas para alimentar os membros da família. 

As condições de vida dos imigrantes que chegavam aos assentamentos ou povoados para povoar não eram igualmente fáceis. Os italianos, de fato, chegaram ao sul do país depois dos alemães e, portanto, os núcleos coloniais atribuídos a eles eram os mais distantes das regiões já habitadas, os menos férteis, sem meios de comunicação e sem qualquer assistência médica e religiosa.

Nessas condições adversas, eram frequentes os casos de abandono de lotes por imigrantes que, após dez anos de trabalho, quase não tinham poupança e, na sua maioria, ainda estavam em dívida com o governo e comerciantes da área.

Estas são as áreas onde a presença de agricultores italianos foi mais disseminada:
- Rio Grande do Sul: o sucesso das colônias criadas nesta área foi em muitos aspectos desigual. Houve casos de colônias exitosas que deram origem às cidades de Bento Gonçalves, Garibaldi e Caxias e outros casos de colônias que tiveram vida curta como a de Silveira Martins.
- Santa Catarina: os colonos italianos tiveram que rumar para as colônias alemãs já presentes onde foram discriminados e explorados.
- Paraná: as colônias próximas a Curitiba se desenvolveram bem principalmente porque na região foi possível trabalhar na construção de ferrovias (Paranaguà-Curitiba e Curitiba-Ponta Grossa). Algumas colônias não prosperaram: Alessandra, Nova Itália ambas no litoral paranaense e colônia Cecília na cidade de Palmeira.
- Minas Gerais: as colônias próximas às cidades prosperaram sobretudo às que ofereceram trabalhadores para obras públicas. Foi o caso de Barreiros, Carlos Prates e Américo Werneck, criados em 1896 perto da nova capital (Belo Horizonte).
- Espírito Santo: houve forte presença de imigrantes italianos entre 1870 e 1920. As terras férteis e prósperas da colônia de Demétrio Ribeiro são famosas. 
Outros destinos dos migrantes italianos foram as cidades, entre elas São Paulo, que recebeu o maior número de italianos, e o Rio de Janeiro, que foi a capital do Brasil e um dos principais portos de chegada dos emigrantes.

Em São Paulo, chamada de "cidade italiana" no início do século XX, os italianos foram empregados principalmente na nascente indústria e nas atividades de serviços urbanos. Os italianos passaram a representar 90% dos trabalhadores das fábricas paulistas em 1901. Formaram-se verdadeiros “Pequenas Itálias"  (como o Brás, Bom Retiro, Bexiga), onde os imigrantes italianos muitas vezes se concentravam de acordo com os locais de origem.

Como trabalhador da indústria, o imigrante recebia baixos salários, trabalhava muitas horas e não tinha nenhum tipo de seguro contra acidentes e doenças. Como no trabalho na agricultura, também nas fábricas, todos os membros da família trabalhavam, incluindo mulheres (nas fábricas têxteis) e crianças menores de 12 anos. 

Na qualidade de trabalhador, era difícil para os imigrantes (italianos e não italianos) melhorar sua situação social e econômica. Por isso, muitos passaram a trabalhar por conta própria, principalmente como artesãos, pequenos comerciantes, motoristas de táxi e ônibus, vendedores ambulantes de frutas e verduras, engraxate, com bares e restaurantes.

Entre os migrantes italianos (não muitos na verdade) que fizeram uma posição, encontramos como exemplo o conde Matarazzo. Chegando ao Brasil em 1881, já vinha de uma família de classe média. O conde Matarazzo trouxe algumas economias e já tinha uma ideia clara do negócio que começaria no novo mundo. Para isso obteve o apoio de banqueiros ingleses e ele próprio atuou como banqueiro encarregado de transferir as remessas de outros migrantes italianos para a Itália. Sua imagem de imigrante bem sucedido também está repleta de "aspectos esportivos", pois foi ele quem doou o terreno onde foi construído o estádio de futebol Palestra Itália que, em 1942, devido à Segunda Guerra Mundial passou a se chamar Sociedade Esportiva Palmeiras, hoje importante esquadra de futebol brasileira.

Os imigrantes italianos participaram junto com os trabalhadores brasileiros dos movimentos de protesto e greve, aderindo a associações e sindicatos em sua maioria de inspiração socialista e anarquista.
 
Se as condições de trabalho eram insalubres, o mesmo pode ser dito das casas, já que os imigrantes costumavam se estabelecer em casas coletivas, chamadas de cortiços, ou nas favelas, localizadas na parte alta das cidades. Em alguns casos, os migrantes italianos poderiam morar em determinados bairros étnicos, como Brás ou Bexiga em São Paulo, onde contariam com a cooperação e solidariedade de seus conterrâneos.

A luta pela reivindicação de uma identidade italiana (italianidade) foi uma batalha travada por imigrantes e seus descendentes no Brasil. O governo de Mussolini entrou plenamente nessa luta e tentou fomentar o sentimento de orgulho "de ser italiano" fora da Itália. É o período em que a questão da italianidade assumia essencialmente um caráter político, tanto que muitos imigrantes italianos ou seus descendentes aderiram ao fascismo.

No entanto, não faltaram episódios de conflito interno na comunidade italiana entre fascistas e antifascistas, que por muito tempo marcaram o equilíbrio e as relações entre os italianos.
Outra forma de conflito dentro da comunidade surgiu nos anos que se seguiram à Segunda Guerra Mundial. Entre 1946 e 1960, cerca de 110.000 imigrantes italianos chegaram no Brasil, portadores de um novo conceito de emigração, mais pragmático e vinculado à possibilidade de retornar logo à Itália e com alguma poupança. As associações e referências tradicionais à pátria não tinham o encanto que podiam exercer sobre as velhas gerações e não foram poucos os casos de incompreensão e rivalidade entre antigos e novos imigrantes.

Muitas outras instituições contribuíram para manter viva a reivindicação da italianidade. Estes incluem a Igreja, escolas, associações, patronatos e a própria imprensa.

A Igreja Católica aproveitou tanto o clero italiano enviado ao Brasil quanto seu status privilegiado na sociedade brasileira para fortalecer o vínculo entre a catolicidade e a italianidade, por meio de espaços de ensino e pós trabalho, por meio de escolas religiosas e festas dos santos patronos.

Como o idioma era o instrumento estratégico da unidade étnica, procurou-se incluir o italiano como ensino nas escolas públicas, mas isso foi difícil por dois motivos: pela falta de oferta do governo brasileiro e também pela falta de demanda dos imigrantes, que vivendo essencialmente em fazendas de café e quase toda família trabalhando, tinham poucas chances de mandar seus filhos para a escola. 
Do ponto de vista das políticas migratórias, é importante destacar que os italianos fizeram parte desse imenso fluxo imigratório que começou a se espalhar em meados da década de sessenta do século XIX. As classes dominantes brasileiras incentivaram a imigração principalmente por dois motivos: povoar um imenso território cultivando o máximo de terra possível e apoiar um modelo de crescimento econômico baseado na exportação de certos produtos, em especial o café.

Em 1888, após a abolição da escravatura, tornou-se essencial incentivar a chegada de mão-de-obra não qualificada para a inclusão na agricultura e nas grandes plantações. Os governos brasileiros passaram então a promover a chegada de contingentes de imigrantes europeus. Esta promoção deu-se essencialmente através de duas medidas: o pagamento da travessia transoceânica através de agências especiais (para as quais o emigrante não tinha que pagar o preço da passagem) e a preferência por acolher não imigrantes solteiros mas sim famílias inteiras, iniciativa que só poderia ter sucesso nas numerosas áreas deprimidas do centro-sul da Europa.

A emigração após a Primeira Guerra Mundial, por outro lado, ocorria por fora dos mecanismos criados pelo governo brasileiro. Os italianos partiam contando com as redes sociais de seus territórios de origem e iam trabalhar nas inúmeras atividades comerciais que hoje caracterizam os italianos no Brasil. Muito importante, desse ponto de vista, é o papel dos italianos na construção civil em áreas urbanas.


Texto Ministero degli Affari Esteri

Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS



















segunda-feira, 14 de fevereiro de 2022

Os Camponeses Italianos e o Grande Êxodo

 
Desembarque dos imigrantes de Antonio Ferraguti




Desde o ano de 1861, milhões de italianos, homens, mulheres e crianças tiveram a necessidade de sair do país em busca de uma melhor sorte no exterior, muitas vezes em países longínquos da América. Nessas suas novas pátrias foram recebidos com os mesmos preconceitos que hoje muitas vezes alguns ainda reservam aos imigrantes que chegam à Itália.

A maioria dos emigrantes italianos, mais de 14 milhões, partiu nas décadas que se seguiram à unificação da Itália, fenômeno que foi denominado a "grande emigração" (1876-1915).

Vilas inteiras viram a sua população cair pela metade nas décadas entre os séculos XIX e XX. Quase um terço tinha como destino dos sonhos a América do Norte, então ávidos por mão de obra. Destinos como New York eram os mais populares. Bem antes de 1861 já os genoveses partiam para a Argentina e Uruguai.

Da mesma maneira que os imigrantes que hoje chegam aos milhares na Itália, não vinham acompanhados por toda a família. A emigração começou como temporária e geralmente somente era composta por homens, quase sempre solteiros.


Desembarque dos imigrantes de Antonio Rocco




Famílias inteiras de camponeses da região do Vêneto e das províncias do sul da Itália, passaram a emigrar para o Brasil nos últimos 25 anos do século XIX, principalmente após 1888, quando se deu a abolição da escravidão, deixando a grande nação sul-americana necessitada de mão de obra. Campanhas oficiais organizadas, para angariar emigrantes, foram realizadas por toda a Itália por representantes do governo imperial do Brasil, que anunciavam um vasto programa de colonização. Nesse programa estava incluída a viagem grátis para aqueles que embarcassem com toda a família.

Os emigrantes do norte da Itália embarcavam normalmente pelo Porto de Gênova ou até mesmo por Le Havre, na França, enquanto que aqueles do sul embarcavam pelo Porto de Nápoles.

À bordo, eram visíveis as diferenças de tratamento para os passageiros emigrantes que estavam na terceira classe, a maioria deles representada pelas famílias de pobres camponeses que viajavam gratuitamente ou com passagens subsidiadas, e aqueles da primeira, ou mesmo da segunda classe, que pagavam pelos bilhetes, era muito grande. A maioria dos emigrantes viajava na terceira classe e não tinham nenhum conforto para enfrentar mais de um mês de viagem pelo oceano.


Caderno dominical do Jornal Corriere della Sera



Nos Estados Unidos desembarcavam geralmente no Porto de Ellis Island, na baía de New York, onde eram submetidos a um rigoroso exame médico e de aptidão físico e mental que podia durar até três dias e os rejeitados sumariamente proibidos de entrar no país e deviam empreender a viagem de volta, as tristes viagens de retorno.

Os emigrantes cujo destino era a América do Sul, principalmente Brasil, Argentina e Uruguai, encontravam maiores facilidades para entrar. O exame médico no desembarque não era tão rigoroso e se não houvesse ocorrido alguma comunicação de uma epidemia à bordo ou mesmo de casos isolados de doenças infectocontagiosas, o emigrante podia desembarcar normalmente e proseguir até o seu destino final.

No Brasil, nos primeiros anos, desembarcavam na Ilha das Flores, no Porto do Rio de Janeiro, onde havia um grande aparato construído para o recebimento dos imigrantes, com hospital e uma hospedaria, onde ficavam provisoriamente alojados aguardando o prosseguimento da viagem. Com o rápido crescimento da imigração nos anos seguintes, onde milhares de estrangeiros chegavam anualmente ao Brasil, também o Porto de Santos passou a ser utilizado, principalmente para aqueles imigrantes que ficariam no estado de São Paulo.


Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta

Erechim RS





sexta-feira, 7 de maio de 2021

O Grande Êxodo em Números

 

Emigrantes a bordo durante a travessia do oceano




Entre os anos de 1861 e 1985, deixaram a Itália cerca de 29 milhões de pessoas. Destes cerca de 10.275.000 retornaram posteriormente à Itália perfazendo um percentual aproximado de 35%, enquanto 18.725.000 de emigrantes se fixaram definitivamente no exterior perfazendo um percentual de 65%. 

No arco de pouco mais de um século, um número significativo de italianos teve que deixar o seu país, em busca de uma vida melhor, chegando a enorme cifra de aproximadamente 26 milhões de italianos. 
Para se ter uma melhor noção desse fenômeno: a população italiana só atingiu 56 milhões de habitantes em 1981. 

Foi um enorme êxodo que comprometeu de maneira diferente todas as regiões italianas, umas mais intensamente que outras. 
Entre os anos de 1876 até 1900 a emigração italiana foi predominante proveniente no norte da Itália, onde, somente, três de suas regiões sozinhas representavam mais de 47% de todo o contingente migratório italiano: o Vêneto com 17,9%, Friuli-Venezia Giulia com 16,1% e o Piemonte com 13,5%. 

Nas duas décadas seguintes, a primazia migratória se deslocou para o sul da Itália, com quase três milhões de pessoas emigradas apenas da Calábria, Campania, Puglia e Sicília, e quase nove milhões de toda a Itália. 

Foram três períodos em que a Itália experimentou um fenômeno mais forte de emigração destinada à expatriação. O primeiro período, conhecido como Grande Emigração, começou em 1861 logo após a unificação da Itália e terminou na década de 1920 com o surgimento do fascismo. 

O segundo período de forte emigração para o exterior, conhecido como Migração Européia, ocorreu entre o final da Segunda Guerra Mundial, 1945 e a década de 1970. 

No período entre 1861 e 1985, cerca de 18.725.000 italianos deixaram o país, para nunca mais voltar. Os seus descendentes, denominados "oriundos italianos", podem possuir, além da cidadania do país de nascimento, também a nacionalidade italiana após a terem apresentado para o devido reconhecimento, mas ainda são poucos os que solicitaram em muitos países, principalmente no Brasil. Os naturais italianos somam no mundo um número entre 60 e 80 milhões.

Uma terceira onda de emigração destinada à expatriação, teve início no começo do século XXI e é conhecida como Nova Emigração, causada pelas dificuldades surgidas na Itália devido a grande recessão econômica mundial, uma crise econômica global iniciada em 2007. Esta terceira, de consistência numérica inferior aos dois ciclos anteriores, atingiu  principalmente os mais jovens, muitas vezes diplomados em universidades e escolas profissionalizantes italianas, tanto que se define o fenômeno desse período como uma fuga de cérebros.


Número de Emigrantes Italianos por decênio e países de destino
AnosFrancia FrançaGermania AlemanhaSvizzeraSuiçaStati Uniti Estados Unidos e
Canada Canadá
Argentina ArgentinaBrasile BrasilAustralia AustráliaOutros países
1861-1870288.00044.00038.000----91.000
1871-1880347.000105.000132.00026.00086.00037.000460265.000
1881-1890374.00086.00071.000251.000391.000215.0001.590302.000
1891-1900259.000230.000189.000520.000367.000580.0003.440390.000
1901-1910572.000591.000655.0002.394.000734.000303.0007.540388.000
1911-1920664.000285.000433.0001.650.000315.000125.0007.480429.000
1921-19301.010.00011.490157.000450.000535.00076.00033.000298.000
1931-1940741.0007.900258.000170.000190.00015.0006.950362.000
1946-1950175.0002.155330.000158.000278.00045.91587.265219.000
1951-1960491.0001.140.0001.420.000297.00024.80022.200163.000381.000
1961-1970898.000541.000593.000208.0009.8005.57061.280316.000
1971-1980492.000310.000243.00061.5008.3106.38018.980178.000
1981-198520.000105.00085.00016.0004.0002.2006.00063.000
Partiram6.322.0003.458.0004.604.0006.201.0002.941.0001.432.000396.0003.682.000
Voltaram2.972.0001.045.0002.058.000721.000750.000162.00092.0002.475.000
Ficaram3.350.0002.413.0002.546.0005.480.0002.191.0001.270.000304.0001.207.000
Total: 29.000.000 · Total: retornaram: 10.275.000 · Total que ficaram: 18.725.000