Espaço destinado aos temas referentes principalmente ao Vêneto e a sua grande emigração. Iniciada no final do século XIX até a metade do século XX, este movimento durou quase cem anos e envolveu milhões de homens, mulheres e crianças que, naquele período difícil para toda a Itália, precisaram abandonar suas casas, seus familiares, seus amigos e a sua terra natal em busca de uma vida melhor em lugares desconhecidos do outro lado oceano. Contato com o autor luizcpiazzetta@gmail.com
domingo, 30 de junho de 2024
L'Eco dei Ricordi
sábado, 29 de junho de 2024
L'Ultimo Viaggio
sexta-feira, 28 de junho de 2024
As Revoltas dos Camponeses Vênetos
Nos primeiros anos após a unificação, entre 1868 e 1869, começaram a eclodir os primeiros movimentos de contestação contra as recentes leis que criaram novos e pesados impostos, as quais gravavam com maior peso especialmente aqueles mais pobres da população.
Vários motins eclodiram em todo o território italiano contra o famigerado imposto sobre a moagem dos grãos para fazer a farinha, a odiosa taxa sobre o macinato, que passou a ser cobrada diretamente no momento da retirada da farinha do moinho.
Os pequenos agricultores e os trabalhadores braçais diaristas, que constituíam a maioria da população, começaram a invadir os moinhos. Surgiam também outras formas de delitos, como as tentativas de assalto as casas dos patrões e vandalismos contra os prédios públicos.
Diferente de outras regiões italianas, o Veneto não presenciou confrontos tão violentos com feridos e mortos, como na região de Emilia Romagna, mas, a população também se manifestou contra.
Os Venetos acostumados durante anos a obedecer sempre, a calarem-se sempre, acreditando nos ensinamentos da Igreja católica e impostos pela classe de senhores de terras, preferiram responder a esse sofrimento com a emigração. Esta foi a forma revolucionária de protesto escolhida pelos mais pobres e necessitados da região do Vêneto.
Ainda hoje podemos encontrar nos arquivos de estado de algumas províncias venetas documentos referentes às revoltas populares contra a lei da moagem de grãos e também os protestos daqueles que pretendiam emigrar.
Muitos sacerdotes, tentando acalmar a população, foram acusados de serem agentes disfarçados da emigração, que orientavam os seus paroquianos e organizavam grupos de famílias com destino ao exterior. Outros padres, mo entanto, foram acusados de insuflarem os seus paroquianos para protestarem junto as autoridades constituídas.
Os camponeses que promoviam o movimento rebelde passavam pelos povoados procurando adesão da população ao protesto contra a cobrada da taxa da moagem. Cartazes eram fixados em algumas casas com os seguintes dizeres: “Cidadãos, não paguem as taxas sobre a moagem de grãos porque ela é imposta pelos senhores, e subscrevam-se para que possamos enviar à Firenze uma petição para que essa injusta taxa seja imediatamente abolida.”
Em muitos municípios do Veneto os grupos de manifestantes cresciam em número de participantes, apesar do controle das autoridades policiais. Os camponeses gritavam palavras de ordem contra a odiada taxa da moagem de grãos, o "macinato": "Viva a Áustria, viva o papa! Morte aos senhores, morte ao macinato!"
A população de diferentes povoados venetos demonstrou o seu descontentamento em relação ao governo italiano e aos grandes proprietários, atacando os moinhos e os prédios públicos. Muitos desses movimentos de protesto da classe rural receberam apoio dos padres das aldeias, também eles descontentes com as mudanças que estavam ocorrendo.
quinta-feira, 27 de junho de 2024
L'Ultimo Viaggio di Elena
quarta-feira, 26 de junho de 2024
As Corporações Medievais das Artes e Profissões
terça-feira, 25 de junho de 2024
Lista de Imigrantes Italianos no Vapor Equateur em 14.02.1877
ACTIS CASO:Carlo – 38 anosReligião: CatólicoProfissão: TrabalhadorACTIS CASO:José – 34 anosReligião: CatólicoProfissão: TrabalhadorBAILINI:Antonio – 20 anosReligião: CatólicoProfissão: TrabalhadorFELINO:Giovanni – 33 anosReligião: CatólicoProfissão: TrabalhadorFERRARI:Joseph – 21 anosReligião: CatólicoProfissão: TrabalhadorPAINA:Francesco – 26 anosReligião: CatólicoProfissão: TrabalhadorSARDI:Joseph – 23 anosReligião: CatólicoProfissão: Trabalhador
Entre Ramos e Raízes: Sobrenomes Italianos Inspirados em Árvores
segunda-feira, 24 de junho de 2024
Lista de Imigrantes Italianos no Vapor Hespanha em 06.12.1891
NAVIO HESPANHA
Porto de saída e chegada não informados
Chegada 06 dezembro 1891
FAGANELLI:Anselmo – 22 anos – só – solteiroProfissão: AgricultorReligião: CatólicoDestino: MinasData de saída da hospedaria: 17.12.1891RAMAGNOLLI:Giacomo – 31 anos – só – solteiroProfissão: AgricultorReligião: CatólicoDestino: MinasData de saída da hospedaria: 11.12.1891
Lista de Imigrantes Italianos no Vapor Hevelius em 14.10.1876
NAVIO HEVELIUS
Saída Porto do Rio da Prata
Chegada Porto do Rio de Janeiro
14 outubro 1876
FEDELE:Ricca – 27 anos – solteiroProfissão: TrabalhadorMANDORE:Gaetano – 32 anos – solteiroDomenico – 30 anos – solteiroRaffaele – 36 anos - solteiroProfissão: Marinheiro
domingo, 23 de junho de 2024
Sobrenomes Italianos Derivados de Nome de Santos
O Eco das Memórias
O Eco das Memórias
Isabel sentava-se junto à janela do seu pequeno quarto de 12 metros quadrados, observando o movimento silencioso do jardim do lar de idosos. As árvores balançavam suavemente ao vento, como se sussurrassem segredos antigos que só elas conheciam. As flores, cuidadas com esmero por algum jardineiro anônimo, exibiam suas cores vivas, contrastando com a monotonia cinzenta que Isabel sentia em seu coração.
Ela pensava nos filhos, quatro ao todo. Cada um seguiu seu caminho, construindo suas vidas, criando seus próprios filhos. Isabel nunca foi de reclamar, mas a saudade era uma companheira constante. Seus netos, onze pequenas extensões do seu amor, eram a razão de muitos dos seus sorrisos solitários. Os bisnetos, dois pequeninos que ela mal conhecia, eram como um sonho distante, quase irreal.
"Como chegamos a isso?", perguntava-se. Isabel lembrava-se das noites em que fazia nuggets e ovos recheados, e dos almoços de domingo com rolos de carne moída que tanto agradavam a todos. Lembrava-se das risadas ecoando pela casa, dos brinquedos espalhados, das brigas infantis e das reconciliações rápidas. Era uma casa cheia de vida.
Agora, a vida dela estava limitada a este pequeno quarto. Não havia mais a sua casa, nem as suas coisas amadas. Os móveis que escolheu com tanto carinho foram substituídos por peças impessoais. Ela tinha quem arrumasse seu quarto, quem lhe preparasse as refeições, quem lhe fizesse a cama, quem lhe controlasse a pressão e a pesasse. Mas não tinha mais a alma do lar que tanto amava.
As visitas dos filhos e netos eram raras. Alguns vinham a cada quinze dias, outros a cada três ou quatro meses. Alguns, nunca. Isabel tentava não se abater com isso, mas a ausência deles era um fardo pesado. Não fazia mais sentido preparar seus pratos favoritos ou decorar a casa para recebê-los. Sua alegria era agora contida em passatempos solitários, como o sudoku, que a entretinha por alguns momentos.
Naquele lar, Isabel conheceu outras pessoas. Muitas estavam em condições piores que a dela. Ela se apegava a algumas, ajudava no que podia, mas evitava criar laços muito fortes. "Eles desaparecem frequentemente", pensava. A vida no lar era uma constante dança com a morte. O tempo passava devagar, mas cada dia parecia trazer a notícia de uma nova partida.
Dizem que a vida é cada vez mais longa. "Por quê?", questionava Isabel em seus momentos de solidão. Quando estava sozinha, olhava para as fotos da família e para algumas memórias que trouxera de casa. Isso era tudo o que lhe restava. A decisão de ir para o lar não foi fácil. Isabel ainda se lembrava da reunião de família, quando todos se sentaram ao redor da grande mesa de jantar que agora pertencia a outra pessoa. Seus filhos tentaram convencê-la de que era o melhor para ela. “Mãe, você não pode mais viver sozinha”, disseram. “É perigoso, e no lar você terá todos os cuidados de que precisa.”
Ela sabia que estavam certos, mas doía pensar em deixar a casa onde criou sua família. A casa tinha alma, e cada canto estava impregnado de lembranças. Quando fechou a porta pela última vez, Isabel sentiu como se um pedaço de seu coração ficasse para trás.
O lar parecia mais uma instituição hospitalar do que uma casa. Os corredores eram amplos e frios, as paredes brancas e sem vida. O quarto que lhe designaram era pequeno, mas ela tentou decorá-lo com alguns objetos pessoais: fotos dos filhos e netos, um quadro que ela mesma pintara, e uma colcha de crochê feita por sua mãe. Mas nada conseguia mascarar a sensação de solidão.
Os primeiros dias foram os mais difíceis. Isabel estava acostumada à sua rotina, à liberdade de fazer o que queria quando queria. No lar, tudo era controlado. As refeições tinham hora marcada, assim como os remédios e as atividades. Era uma mudança brusca e dolorosa. Com o passar do tempo, Isabel começou a conhecer os outros moradores. Havia Dona Maria, uma senhora de 90 anos com um sorriso contagiante, mas que sofria de Alzheimer. Seu José, um ex-marinheiro com histórias fascinantes, mas com uma saúde frágil. E Dona Clara, uma mulher que, como Isabel, fora deixada pelos filhos no lar e nunca recebia visitas.
Essas novas amizades traziam algum alívio à solidão de Isabel. Ela passava horas ouvindo as histórias de Seu José e ajudando Dona Maria a lembrar dos nomes dos filhos. Mas cada nova amizade vinha com o medo da perda. As despedidas eram frequentes, e Isabel começou a se proteger, evitando se apegar demais.
A terapia ocupacional era uma das atividades que Isabel mais apreciava. Ela se sentia útil, ajudando a organizar eventos, fazendo artesanato e até ensinando as enfermeiras a fazerem os pratos que um dia preparou para sua família. Mas mesmo esses momentos de alegria eram sombreados pela tristeza da ausência daqueles que ela mais amava. Isabel passava muito tempo refletindo sobre a vida e o que ela ensinara. Lembrava-se das palavras da própria mãe: “A família se constrói para ter um amanhã”. Ela criara seus filhos com amor e dedicação, esperando que um dia eles retribuíssem com o mesmo cuidado. Mas a realidade era diferente. Eles estavam ocupados com suas próprias vidas, seus próprios filhos e problemas.
Ela não os culpava. Entendia que o mundo mudara, que as pressões do trabalho e da vida moderna afastavam as pessoas. Mas ainda assim, doía. Isabel queria que as próximas gerações entendessem a importância de cuidar daqueles que nos cuidaram. Que vissem além da correria do dia a dia e encontrassem tempo para estar com os mais velhos, para ouvir suas histórias, para retribuir o amor que receberam.
Certa noite, Isabel estava sentada à janela, observando as estrelas. Pensava na vida, na morte e no que viria depois. Sentiu uma calma profunda ao perceber que, apesar de tudo, vivera uma vida plena. Criara uma família, amara e fora amada. E mesmo que agora estivesse sozinha, tinha suas memórias e a certeza de que fizera o melhor que pôde. O tempo passou, e Isabel tornou-se uma memória no lar onde viveu seus últimos dias. Mas suas palavras e ensinamentos permaneceram. Os filhos e netos, tocados pela ausência e pelas reflexões tardias, começaram a valorizar mais o tempo com suas próprias famílias. O ciclo da vida continuava, mas com uma nova consciência sobre a importância da presença, do cuidado e do amor.
Isabel se foi, mas deixou um legado. Seu quarto de 12 metros quadrados, que um dia fora um símbolo de solidão, tornou-se um símbolo de esperança. Uma lembrança de que, no final, o que realmente importa são os laços que construímos e o amor que deixamos para trás.
sábado, 22 de junho de 2024
A Visão dos Americanos sobre os Imigrantes Italianos
sexta-feira, 21 de junho de 2024
Jornada Perigosa: O Drama da Imigração Italiana nas Américas no Século XIX
No final do século XIX, a imigração em massa italiana para as Américas tornou-se uma séria preocupação devido às condições desumanas nos navios. Superlotação, más condições de higiene e surtos de doenças infecciosas, como cólera, tifo e sarampo, eram enfrentados pelos imigrantes. As autoridades sul-americanas, preocupadas com riscos sanitários, recusavam a entrada de navios europeus, resultando em incidentes dramáticos. A história do navio Matteo Bruzzo, rejeitado a tiros em Montevideo em 1884 após casos de cólera, ilustra a negligência das companhias de navegação. Viagens como a do navio Remo, em 1893, revelam condições desumanas, com alimentos escassos e epidemias, enquanto a falta de regulamentações eficazes contribuiu para incidentes de envenenamento. A saúde precária, superlotação e falta de cuidados médicos adequados tornaram as viagens transatlânticas uma jornada perigosa e angustiante para os imigrantes italianos do século XIX. Além dos perigos óbvios, como cólera e febre amarela, as condições de vida nos navios eram desoladoras. A superlotação nas áreas de terceira classe, destinada aos passageiros com preços mais acessíveis, era extrema. Incidentes como o do navio Carlo Raggio em 1888, com 18 mortes por fome, e do Piroscafo Pará em 1889, com uma epidemia de sarampo que matou 34 pessoas, destacam a extrema vulnerabilidade dos passageiros. As empresas de navegação, mesmo cientes das condições adversas, continuaram a lotar os navios, ignorando os alertas e experiências passadas dos próprios imigrantes. Mesmo com a conscientização na Itália, expressa através de cartas e relatos, as companhias buscavam maximizar os lucros, preenchendo os navios em cada viagem transatlântica. A higiene precária e a falta de cuidados médicos adequados levaram a surtos de difteria, tuberculose e outros males. A história do Piroscafo Remo, em 1893, ilustra a prontidão em descartar doentes para evitar a propagação de epidemias, mesmo quando isso resultou em mortes evitáveis. O retorno dos navios também apresentava desafios, incluindo incidentes de envenenamento devido a más condições de armazenamento de alimentos. Regulamentações de higiene alimentar foram introduzidas em 1890, mas sua eficácia era limitada. A preocupação com epidemias, a superlotação, a má nutrição e a falta de assistência médica eram uma constante para os imigrantes italianos. A despeito dessas dificuldades, alimentados pela esperança de uma vida melhor, eles continuaram a embarcar em navios em direção às Américas, enfrentando incertezas e perigos para tentar construir um futuro mais promissor no Novo Mundo. A experiência dos imigrantes italianos no século XIX, apesar dos desafios e perigos enfrentados nas travessias transatlânticas, era impulsionada por uma mistura de desespero e esperança. Muitos venderam tudo o que tinham para financiar a viagem, enquanto outros partiram na tentativa de se reunir com familiares no Brasil e em outros países das Américas. A notícia devastadora de que, após uma longa jornada em condições desesperadoras, 1.500 pessoas não seriam permitidas no Brasil gerou desânimo e desespero entre os passageiros do Piroscafo Remo. O retorno desses navios após as dificuldades encontradas também foi uma prova da resiliência e força dos imigrantes. Após 70 dias de viagem, incluindo uma parada forçada na ilha de Asinara, na Sardenha, para quarentena, o Piroscafo Remo chegou de volta a Gênova, tendo perdido 96 vidas no percurso. A falta de cuidados médicos adequados e as condições precárias persistiam nas viagens, e as companhias de navegação hesitavam em assumir os custos para melhorar a qualidade dos serviços a bordo. A luta contra epidemias, envenenamentos alimentares e outros males continuava a assombrar os imigrantes que buscavam uma vida melhor do outro lado do oceano. Essa época deixou um legado de coragem e resiliência, pois os imigrantes italianos enfrentaram adversidades inimagináveis em sua busca por oportunidades nas Américas. O preço humano pago durante essas jornadas é uma parte significativa e muitas vezes esquecida da história das migrações. Em uma canção dos imigrantes italianos, reflete a mentalidade daqueles que, apesar das incertezas e perigos, escolheram enfrentar os desafios da travessia oceânica em busca de uma vida melhor. A frase "Tentiamo la sorte" ("Vamos tentar a sorte") encapsula a atitude corajosa e otimista que impulsionou esses indivíduos a embarcar em uma jornada incerta. A história dessas migrações é um testemunho da tenacidade humana diante das adversidades. Mesmo diante de condições desumanas, doenças e incertezas, os imigrantes italianos perseveraram, motivados pela esperança de um futuro mais promissor e pelas oportunidades que a América poderia oferecer. Esses relatos históricos também ressaltam as deficiências nos sistemas de saúde e regulamentações de segurança da época, evidenciando a necessidade de melhorias significativas nas condições de viagem e nas práticas das companhias de navegação. O legado dessas experiências contribui para a compreensão da complexidade e das dificuldades enfrentadas pelos imigrantes italianos durante o século XIX. Hoje, essas histórias servem como um lembrete poderoso do sacrifício, da resiliência e da determinação que moldaram as trajetórias de muitos que buscavam uma vida melhor além das fronteiras de sua terra natal. A imigração italiana para as Américas é uma parte fundamental da narrativa global de migrações, deixando um impacto duradouro na história e na cultura desses países. A coragem demonstrada pelos imigrantes italianos ao enfrentar adversidades inimagináveis durante suas travessias transatlânticas é um testemunho da força do espírito humano diante das circunstâncias mais difíceis. Ao escolherem "Tentiamo la sorte" ("Vamos tentar a sorte"), esses indivíduos não apenas buscaram uma vida melhor para si mesmos, mas também contribuíram para a construção de uma nova narrativa nas Américas. A frase encapsula a resiliência, a coragem e a esperança que guiaram esses pioneiros italianos através de uma jornada incerta em direção a um futuro desconhecido. A história das migrações italianas é marcada por sacrifícios, perdas e triunfos, mas, acima de tudo, é um testemunho da busca incessante por oportunidades e de um desejo inabalável de construir um futuro melhor para as gerações vindouras. Essa herança, embora muitas vezes esquecida, é uma parte vital da história das Américas, enriquecendo a tapeçaria cultural dessas nações e destacando a extraordinária resiliência daqueles que ousaram tentar a sorte em terras distantes.