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sexta-feira, 28 de junho de 2024

As Revoltas dos Camponeses Vênetos



O imposto sobre a moagem dos grãos provocou uma forte subida do preço do pão e dos derivados do trigo e de outros cereais, preço que não baixou após a revogação do imposto.

O novo imposto contribuiu para o equilíbrio do orçamento em 1876, ao mesmo tempo espalhou o descontentamento nas classes sociais mais pobres, para as quais os derivados do trigo representavam um dos principais alimentos da população, se não, o mais importante. 

A criação desse novo imposto levou ao fechamento progressivo da maioria das pequenos moinhos, incapazes de adquirir os aparelhos de medição necessários para apurar o valor do imposto a ser pago.
 
Após a introdução do imposto, eclodiram violentas revoltas em todo o reino italiano, as quais foram severamente reprimidas pelas autoridades, às vezes com derramamento de sangue.

Nos primeiros anos após a unificação, entre 1868 e 1869, começaram a eclodir os primeiros movimentos de contestação contra as recentes leis que criaram novos e pesados impostos, as quais gravavam com maior peso especialmente aqueles mais pobres da população. 

Vários motins eclodiram em todo o território italiano contra o famigerado imposto sobre a moagem dos grãos para fazer a farinha, a odiosa taxa sobre o macinato, que passou a ser cobrada diretamente no momento da retirada da farinha do moinho. 

Os pequenos agricultores e os trabalhadores braçais diaristas, que constituíam a maioria da população, começaram a invadir os moinhos. Surgiam também outras formas de delitos, como as tentativas de assalto as casas dos patrões e vandalismos contra os prédios públicos. 

Diferente de outras regiões italianas, o Veneto não presenciou confrontos tão violentos com feridos e mortos, como na região de Emilia Romagna, mas, a população também se manifestou contra. 

Os Venetos acostumados durante anos a obedecer sempre, a calarem-se sempre, acreditando nos ensinamentos da Igreja católica e impostos pela classe de senhores de terras, preferiram responder a esse sofrimento com a emigração. Esta foi a forma revolucionária de protesto escolhida pelos mais pobres e necessitados da região do Vêneto. 

Ainda hoje podemos encontrar nos arquivos de estado de algumas províncias venetas documentos referentes às revoltas populares contra a lei da moagem de grãos e também os protestos daqueles que pretendiam emigrar. 

Muitos sacerdotes, tentando acalmar a população, foram acusados de serem agentes disfarçados da emigração, que orientavam os seus paroquianos e organizavam grupos de famílias com destino ao exterior. Outros padres, mo entanto, foram acusados de insuflarem os seus paroquianos para protestarem junto as autoridades constituídas. 

Os camponeses que promoviam o movimento  rebelde passavam pelos povoados procurando adesão da população ao protesto contra a cobrada da taxa da moagem. Cartazes eram fixados em algumas casas com os seguintes dizeres:  “Cidadãos, não paguem as taxas sobre a moagem de grãos porque ela é imposta pelos senhores, e subscrevam-se para que possamos enviar à Firenze uma petição para que essa injusta taxa seja imediatamente abolida.” 

Em muitos municípios do Veneto os grupos de manifestantes cresciam em número de participantes, apesar do controle das autoridades policiais. Os camponeses gritavam palavras de ordem contra a odiada taxa da moagem de grãos, o "macinato": "Viva a Áustria, viva o papa! Morte aos senhores, morte ao macinato!" 

A população de diferentes povoados venetos  demonstrou o seu descontentamento em relação ao governo italiano e aos grandes proprietários, atacando os moinhos e os prédios públicos. Muitos desses movimentos de protesto da classe rural receberam apoio dos padres das aldeias, também eles descontentes com as mudanças que estavam ocorrendo. 




Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS