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sábado, 27 de janeiro de 2024

Destino: Brasil - A Odisseia Inesquecível de uma Família de Imigrantes




No mês de janeiro de 1836, nas acidentadas terras de Cesiomaggiore, cercada por altas montanhas, repletas de neve naquela época do ano, Giacomo veio ao mundo, um homem destinado a traçar uma jornada que moldaria o destino de gerações da sua família. Maddalena, nascida em 1835 em Arsiè, seria sua companheira nessa odisséia, uma mulher alta e forte, com determinação e amor tão profundos quanto as raízes das árvores que testemunhariam sua saga.
O casal de pequenos agricultores trouxe à vida uma família vibrante, começando com Giuseppe, o primogênito, nascido em 1858 em Cesiomaggiore, sendo a escolha do seu nome uma homenagem ao avô paterno, Giuseppe, cujo nome ressoava nas colinas como um tributo à tradição familiar. Logo, Maria Augusta veio ao mundo em 1860, seguida por Beatrice em 1861 e Giovanni Battista em 1863, todos nascidos na mesma cidade de Cesiomaggiore, na província de Belluno. Uma família unida, mas inquieta, cujo destino se entrelaçaria com a imensa vastidão do Brasil.
A história da família ganhou uma nova dimensão em 1875, quando todos, de Giacomo e Maddalena aos filhos e netos, decidiram embarcar em uma jornada épica para terras desconhecidas localizadas do outro lado do grande e temeroso oceano. O irmão mais novo de Giacomo, nascido em 1842, casado com Fiordalise, e seus filhos Angelo e Augusto, completavam a caravana que se aventuraria muito além dos horizontes familiares. O governo imperial brasileiro, necessitando urgentemente de mão de obra estava concedendo a passagem grátis até o novo local de trabalho, para as as famílias que aceitassem o convite para se transferirem para o grande país. Foi a oportunidade que tiveram para abandonar de forma definitiva aquele novo país no qual sempre viveram, mas que agora depois da unificação, não reconheciam mais. Lá, o desemprego grassava em todas as regiões, a má alimentação e a fome assolavam suas vítimas, forçando milhares de pessoas a buscarem um novo lugar para garantir seu sustento diário, bem distante daquelas circunstâncias adversas. 
A viagem, da pacata Belluno até o movimentado porto de Genova, foi uma experiência marcante. O desconhecido trem conduziu-os pela paisagem italiana, antes que embarcassem no navio Adria, enfrentando as intempéries do oceano. Duas tempestades memoráveis desafiaram sua resiliência, mas a determinação de deixar uma Itália desconhecida superou as adversidades. Apesar de tudo estavam felizes porque sabiam que um mundo melhor os aguardava.
O desembarque no porto do Rio de Janeiro, em janeiro de 1869, marcou o início de uma nova fase. Ficaram dois dias hospedados na Hospedaria dos Imigrantes, aguardando ansiosos o navio Rio Negro, que os conduziria à Colônia Dona Isabel no longíquo Rio Grande do Sul.
A bordo do Rio Negro, entre centenas de outros sonhadores, a família enfrentou seis dias de travessia até desembarcarem no porto de Rio Grande. Grandes barracões comunitários de madeira, onde quase não havia privacidade, os abrigaram por quase quinze dias, enquanto esperavam pela chegada dos barcos fluviais que os levariam até a cidade de Montenegro, o local mais próximo à tão aguardada Colônia Dona Isabel.
A travessia pela grande Lagoa dos Patos até Porto Alegre, e a subsequente subida do rio Caí por mais de sete horas, culminaram na chegada ao porto da pequena cidade de Montenegro, o local mais próximo que poderiam chegar de barco ao seu destino final. Um breve descanso de um dia precedeu a preparação para a jornada final até a colônia, que se fazia com carroças e mulas transportando os poucos pertences do grupo. Os homens, as mulheres aptas e as crianças maiores, caminhavam ao lado das carroças, enquanto as pequenas e as mulheres grávidas seguiam nas grandes carroças. O trecho era pedregoso e difícil, a maior parte dele percorrido em subida. Ao chegarem na colônia sempre acompanhados por funcionários do governo brasileiro, que serviam de guias, foram acomodados em outros barracões de madeira esperando a liberação dos seus lotes de terra.
No dia seguinte, os homens, determinados, partiram para conhecer e ajudar demarcar as terras adquiridas do governo. As mulheres e as crianças permaneceram nos barracões enquanto os alicerces do sonho eram estabelecidos. Como eram três famílias, cada uma adquiriu um grande lote 500.000 metros quadrados cada, uma área de terra vasta, coberta por uma vegetação exuberante e rios que seriam testemunhas da prosperidade por vir. Haviam realizado o sonho da propriedade acalentado por todos. Agora deixariam de calar sempre e dividir a safra com o patrão dono da terra. Eles agora eram os patrões. Com orgulho diziam "Desso, qua, in coesto paradiso, naltri ghe semo i paroni"!
Os primeiros anos foram bastante árduos, com derrubada de florestas, construção de casas precárias e o desbravamento do solo para plantio de milho e trigo. A colheita da primeira safra inaugurou uma era de melhoria nas condições de vida, e a família floresceu. Ao longo dos anos, cresceram não apenas em número, mas em riqueza e sucesso, tornando-se um exemplo do espírito pioneiro que impulsionou tantos imigrantes italianos na construção do Rio Grande do Sul.
Assim, a história dessa família italiana se entrelaçou com as paisagens verdejantes do Brasil, uma narrativa de coragem, determinação e sucesso que ecoa através das gerações.


Texto 
Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS

quinta-feira, 2 de novembro de 2023

Destinos Entrelaçados: A Jornada da Emigração



 

Destinos Entrelaçados: A Jornada da Emigração




No silêncio das partidas, nas lágrimas contidas, 
Ecos da emigração, histórias compartilhadas. 
Destinos entrelaçados, memórias enterradas, 
No cerne da saudade, nas almas divididas.

De terras longínquas, à procura de novos céus, 
Partem os sonhadores, com coragem e anseio, 
Deixando para trás lares, risos e enseio, 
Em busca de horizontes onde reinventar os seus.

No abraço da incerteza, do idioma e da cultura, 
O emigrante se forja, na força e na ternura, 
No coração, a pátria, como estrela-guia segura.

Em cada esquina, uma esquina da pátria esquecida, 
Em cada prato, um sabor da terra nascida, 
A emigração, um poema épico de vida costurada, 
Onde herança e esperança, na diáspora, são tecidas.



quinta-feira, 11 de maio de 2023

A Jornada de Matteo: Da Itália ao Brasil



𝐀 𝐉𝐨𝐫𝐧𝐚𝐝𝐚 𝐝𝐞 𝐌𝐚𝐭𝐭𝐞𝐨: 𝐃𝐚 𝐈𝐭𝐚́𝐥𝐢𝐚 𝐚𝐨 𝐁𝐫𝐚𝐬𝐢𝐥


Era o ano de 1890 e Matteo, um emigrante italiano, decidiu ser hora de deixar sua terra natal em busca de uma vida melhor para si e sua família. A Itália não saía de um longo ciclo de desemprego, pobreza e até fome em muitas regiões. O país não oferecia um bom futuro e pensando nos filhos ele juntou todas as suas economias e comprou passagens no navio Adria que partiria de Gênova em direção ao Rio de Janeiro. Matteo, era viúvo há já três anos, viajou com seus cinco filhos: Giovanni, Francesco, Vittorio, Maria e Assunta. A travessia do oceano não foi fácil, as condições de viagem eram precárias e muitos passageiros adoeceram. Durante a longa, monótona e interminável viagem marítima, eles puderam conhecer outros imigrantes italianos que também estavam buscando uma vida melhor no Brasil. Compartilhavam histórias de suas terras natais e formaram laços de amizade que durariam por muitos anos. Mas, finalmente, após várias semanas de viagem, eles chegaram ao Rio de Janeiro. Ao desembarcarem, foram recebidos pelas autoridades brasileiras em um porto agitado e movimentado, muito diferente de tudo o que eles haviam visto antes. Matteo e os filhos ficaram maravilhados com tudo o que viam, mas o que mais os impressionou e marcou foi encontrar inúmeras pessoas de pele escura, eram, como souberam depois, os descendentes dos antigos escravos trazidos da África. As longas praias com areias muito brancas e as verdejantes montanhas entorno do porto eram de formato muito bonito, mas, não tiveram muito tempo para contemplar as belezas do seu novo país, sabiam terem de continuar a jornada para chegar ao seu destino. 
Embarcaram em outro navio de menor calado que os levaria ao porto de Paranaguá, no estado do Paraná, encerrando finalmente as incômodas viagens por mar. Durante a curta travessia, enfrentaram uma forte, mas rápida, tempestade, que os deixou muito assustados e apreensivos. Mas, com a ajuda de Deus, chegaram ao porto de destino em segurança. Este era bem menor daquele do Rio de Janeiro e também muito menos movimentado. 
De lá, seguiram de trem até a cidade de Curitiba, onde se estabeleceram na Colônia Dantas, inaugurada doze anos antes e já com muitos moradores, onde Matteo adquiriu um grande terreno. Ao chegarem na capital do Paraná, tiveram que se adaptar a uma nova língua e cultura. Na colônia eles tiveram poucas dificuldades para se comunicar com os moradores do local, pois quase todos eram italianos como eles, também se adaptaram rapidamente com os costumes brasileiros. Gradualmente, foram aprendendo a língua e se ajustando à nova vida em uma cidade muito grande para eles, pois na Itália moravam numa pequena e pacata vila do interior. Trabalharam duro, mas, com firmeza e alegria para construir uma nova vida no Brasil. Giovanni, o filho mais velho que já era maior de idade ao sair da Itália, conseguiu emprego em uma fábrica de louças, enquanto Francesco e Vittorio começaram a trabalhar com o pai que era um marceneiro. Maria e Assunta ajudavam nos serviços casa e cuidavam da horta entorno da casa, da qual tiravam parte do sustento da família e também podiam ganhar algum dinheiro com a venda, para os vizinhos, dos produtos excedentes colhidos.
Matteo, e os filhos não eram analfabetos, além do dialeto da vila onde moravam também falavam italiano, o que muito os ajudou. Tinham estudado os quatro anos do primário ainda na Itália. Matteo era, por herança das gerações anteriores, um hábil marceneiro e com as economias trazidas da Itália, obtidas com a venda da casa e outros bens, além de comprar o lote e aos pouco construir a moradia, em pouco tempo conseguiu também construir uma pequena oficina ao lado da casa. Ficou muito feliz e orgulhoso por conseguir sozinho dar uma vida melhor para seus filhos, mas nunca se esqueceu de suas raízes italianas. Em casa só se comunicavam no dialeto italiano e as filhas cozinhavam pratos tradicionais da região do Vêneto de onde vieram. Mesmo longe do país de origem, eles mantiveram vivas a língua e a cultura italiana. Com o tempo a família prosperou bastante, sobretudo devido à qualidade dos belos móveis, das portas e janelas para casas que fabricavam, muito requisitados pelos curitibanos mais abastados. Eles nunca esqueceram as dificuldades que enfrentaram durante a viagem e sempre foram gratos pela nova vida que encontraram no Brasil. 
Com o tempo, a Colônia Dantas se tornou um bairro próspero de Curitiba, passando a se chamar Água Verde, com muitas famílias italianas e de algumas outras nacionalidades que se estabeleceram lá. Matteo se tornou um líder local na colônia e ajudou outros imigrantes italianos a se fixarem na região. Com o seu trabalho eles também ajudaram na construção da nova igreja do bairro, que passou a ser uma paróquia, separando-se daquela de Santa Felicidade. Fornecendo portas, janelas e assoalho, participaram ativamente como sócios fundadores na construção da Sociedade Garibaldi, um grande clube italiano de Curitiba que existe até hoje, onde os imigrantes podiam se reunir, conversar em sua língua materna e manter vivas as suas tradições. 
Os filhos de Matteo se casaram com outros imigrantes italianos e formaram grandes famílias. Continuaram morando na mesma cidade sempre colaborando com a comunidade italiana de Curitiba e mantendo viva a cultura de seus antepassados.A história de Matteo e seus filhos é um exemplo de coragem, perseverança e resiliência, e uma prova de como a imigração pode enriquecer uma sociedade.


Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS