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domingo, 18 de outubro de 2020

Imigração Italiana no Paraná



No ano de 1853 a província do Paraná se desmembrou definitivamente de São Paulo e a partir de então foi dado início ao processo de colonização do seu território, com a criação de algumas colônias destinadas a receber os imigrantes de várias nacionalidades que começariam a chegar no estado.

A introdução de imigrantes italianos no Paraná se deu primeiramente através de um contrato firmado entre o Presidente da Província, Venâncio José Lisboa, e o empresário Sabino Tripoti, no ano de 1872. Um total de 262 imigrantes italianos foram instalados em Alexandra, a partir de 1875, uma colônia particular, de propriedade do agenciador, que ficava distante apenas 14 quilômetros da cidade de Paranaguá, já importante porto no Sul do país e porta de entrada dos imigrantes. A colônia de Alexandra era composta por uma sede e três núcleos: São Luís, Piedade e Toural. 

Alexandra era uma localidade pequena para o número de imigrantes que foram levados para lá. Os colonos ali instalados não tiveram êxito com as lavouras, devido ao clima de litoral e  pela péssima qualidade do solo encontradas em seus lotes, com terras improdutivas e localizadas em terrenos de difícil acesso.   Movido por interesses pessoais, o agenciador Sabino Tripoti, tinha fundado esta colônia em uma área pouco adaptada para a agricultura. Os imigrantes não estavam acostumados com aquele clima e também os cultivos que conheciam não se adaptavam àquelas terras. A maioria dos imigrantes era formada de pequenos agricultores vênetos, onde o clima era muito mais frio do que aquele do litoral paranaense. O calor aumentava o cansaço e provocava o aparecimento de doenças, especialmente, aquelas causadas por insetos tão comuns naquela região cercada pela mata atlântica. 



O missionário italiano Padre Pietro Colbacchini que passou grande parte de sua estada no Brasil atendendo as colônias paranaenses em um relatório para os seus superiores na Itália, de 1892,  o padre escreveu que as condições daqueles colonos que viviam no litoral paranaense, entre os anos de 1875 e 1877. Entre tantos problemas, o missionário Pietro Colbacchini destacava especialmente as doenças causadas pelos insetos: "...de dia era insuportável trabalhar devido ao forte calor e por enxames de mosquitos que faziam inchar as partes descobertas das pessoas produzindo  incômodos insuportáveis; à noite outra espécie do mesmo mosquito atrapalha o sonos e pica os pobres trabalhadores. Também, entre a carne e a pele, aparecia um verme, que ao crescer alcançavam a grossura de um feijão, eram injetados por  uma mosca cor de ouro (era o berne). Nos pés, especialmente nas extremidades e no calcanhar, apareciam coceiras insuportáveis e feridas malcheirosas, produzidas por outro inseto (bicho de pé) que nidifica e incuba, se desenvolvendo como uma pequena pulga. As crianças e os velhos são os mais susceptíveis a esta grave enfermidade, que não respeita, todavia, idade e sexo ou condição das pessoas. A isto acrescento as consequências produzidas diretamente pelo clima, isto é, tontura, enfraquecimento dos membros, falta de apetite, desânimo, preguiça e tédio da vida. Esta é a verdadeira condição daqueles que vivem no litoral do Paraná". 

Descobrindo que tinha sido enganados, o descontentamento já era muito grande entre os imigrantes que ameaçavam retornar para a Itália, abandonando o grande  sonho. Assim, em 22.04.1877 o Presidente da Província Adolfo Lamenha Lins rescindiu o contrato com o empresário Sabino Tripoti e promoveu a transferência dos colonos e de algumas outras novas famílias italianas que chegavam, para uma nova colônia denominada Nova Itália. Esta também se localizava na baixada litorânea do Paraná, na região de Morretes, nas proximidades do Porto de Barreiros, nos contrafortes da Serra do Mar. A Colônia Nova Itália tinha dimensões bem maiores que a colônia Alexandra. Era uma colônia governamental e estava dividida em 12 núcleos coloniais: Rio dos Pintos, Sesmaria, Sítio Grande e Cary, América, Marques, Entre Rios e Prainha, Cabrestante, Rio Sagrado, Ipiranga, Graciosa, Zulmira e Turvo. Em 1880 já tinha uma população de cerca de 2.318 pessoas assentadas em 529 lotes. 




A localização das colônias litorâneas dificultava a comercialização dos produtos, e as famílias italianas ali instaladas também desejavam trabalhar com a terra produzindo gêneros alimentícios e desenvolvendo a sua própria forma de plantio. Além disso, a maioria das colônias era margeada pelos principais rios do litoral paranaense, como o Rio Nhundiaquara e o Rio Sagrado. Esses rios em época de grandes chuvas transbordavam ocasionando enchentes e dificultando o trabalho nas lavouras. A locomoção pelas estradas era comprometida pela má conservação e pela dificuldade de acesso devido aos terrenos íngremes, levando em conta ainda que praticamente grande parte do acesso aos núcleos coloniais se dava pelas vias fluviais.  Em 1878, o Presidente da Província, Rodrigo Octávio de Oliveira Menezes, relatou a precariedade das condições de sobrevivência e a insatisfação dos colonos italianos ali estabelecidos: estavam sem alimentação, sem roupas e acometidos de muitas doenças decorrentes do clima do litoral. Havia mais de 800 famílias ocupando 610 lotes, muitos dos quais eram impróprios para o plantio. Tudo isso dificultava a sua permanência nas terras a eles destinadas. Devido aos mesmos problemas que afetaram e tornaram inviável a Colônia Alexandra, a colônia Nova Itália também não prosperou.  Ainda no ano de 1878, portanto somente dois a três anos após a fundação dessas comunidades, restavam na região poucas famílias italianas emigradas e alguns brasileiros. 

O projeto inicial do governo do Paraná não era a de remover os colonos italianos insatisfeitos até o planalto Curitibano, porém esse foi o destino da maioria daquelas famílias que deixaram as colônias do litoral. Por conta própria, sozinhos ou em grupos, se dirigiram até Curitiba, onde adquiram lotes de terras, nos arredores da capital paranaense, muito férteis, local com um clima ameno, muito parecido com aquele que estavam acostumados na Itália.  

 



Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS

















 
















sexta-feira, 10 de agosto de 2018

A Emigração Italiana no Paraná as Colônias Italianas Alessandra e Nova Itália - parte 2




A Colônia Nova Itália começara a sofrer o êxodo, abundante nos seus primeiros tempos, a ponto de assustar as autoridades encarregadas da colonização, pressentindo estar em risco o êxito da iniciativa. Pensara-se então ser o clima, o maior fator do esvaziamento.
Além das condições climáticas que em parte contribuíram para afugentar os imigrantes, também, surtos mórbidos vitimavam os colonos.
Muito duvidoso era, então, acreditar-se que só o clima determinava a fuga de muitos para o planalto. Porém é sabido, que muitos deles, um dia, retornaram espontaneamente aos seus primitivos lotes da Colônia Nova Itália em Morretes.
Haviam colonos carpinteiros, pedreiros, canteiros, alfaiates, sapateiros, etc.
Muitos foram impelidos à construção da estrada de ferro Paranaguá-Curitiba (1881-1885), aproveitados principalmente no seu trecho mais difícil (Volta Grande à Roça Nova), onde demonstraram os seus conhecimentos de cavouqueiros, perfuradores de túneis, preparadores de minas, sendo nesses misteres muito eficientes. Anteriormente, também trabalharam na estrada de rodagem Graciosa.
No livro n° 239 intitulado 'Livro de Contas de Colonos de Morretes - 1878', encontram-se nomes de imigrantes como: Lazarotto Pietro, Taverna Giacomo, Trevizan Giuseppe, Simioni Giovani, Mocelin Adamo, Mottin Giovani, Maschio Francesco e outros, aos quais o Governo Provincial creditava utensílios, ferramentas, alimentos e outros pertences úteis ao seu trabalho.
A procura de trabalho na estrada de ferro foi tão grande por parte do imigrante (Arquivo Público, Livro de Ofícios n° 16-1 880) que se fez disso um caso de polícia enfrentado pelas autoridades de Morretes, onde estavam os escritórios da companhia.
Em 10 de agosto de 1880, dirige-se o delegado de polícia Antonio Polidoro, ao Presidente da Província, solicitando o aumento do destacamento local: - "Invadida como se acha esta cidade (Morretes) por estrangeiros que procuram serviços na Estrada de Ferro".
Mais tarde, com a decadência da Colônia Cecília (anarquistas) localizada no município de Palmeira, os italianos, tendo perdido suas terras, dispersaram-se, e ficaram perambulando sem destino em busca de trabalho para que pudesses reconstruir suas vidas.
Na ocasião, a construção da estrada de ferro nos trechos de Restinga Seca à Palmeira e entre Palmeira e Lago, ofereceu a essa gente oportunidade de emprego, beneficiando tanto às obras quanto aos colonos, sendo esse trabalho assalariado a arrancada para uma vida melhor e estável, e o olvido de seus ideais anárquicos.
Inúmeros toparam o trabalho assalariado na estrada de ferro. Os do litoral, muitos deles subiram a serra junto com os trilhos e por lá ficaram. Os que permaneceram foram aos poucos se adaptando ao meio, adquirindo costumes locais e, em troca, introduzindo conhecimentos e costumes trazidos de sua longínqua terra de origem.
Em 1886, muitos italianos já possuíam títulos provisórios dos seus lotes, recebidos por autorização do Presidente da Província.
Pelos idos de 1885-1886, fundaram-se sociedades de imigração em Morretes e Porto de Cima, que muito concorreram para o bom êxito e o bom andamento dos núcleos. Colaboravam em tudo no sentido de dar pronto atendimento às colônias, revelando o cuidado pela instalação conveniente de novos imigrantes que chegavam à Província.
Sobressaiu-se nesse setor, a Sociedade de Imigração de Porto de Cima, a qual tinha por fim ocupar-se com tudo o que se inclinava a favorecer o aumento da imigração e o bem estar dos núcleos.




Souberam os colonos italianos, em poucos anos de permanência entre nós, conquistar a simpatia dos brasileiros com os quais passaram a viver na maior e melhor harmonia, pouco a pouco amalgamando-se, aprendendo o vernáculo, os seus costumes e unindo as duas raças parecidas através de matrimônio cruzado.
O jornalista italiano Alfredo Cusano, que esteve no Brasil durante cinco anos, publicou na Itália o seguinte depoimento (resumido) quanto ao estabelecimento de imigrantes italianos em nosso país:
"Itália Oltre Mare - Impressioni e Ricordi Dei Miei Cinque Ani di Brasile" (Milão, 1911).
Começando pelas colônias do município de Morretes, isto é: Sítio Grande, Porto de Cima, Alexandra, América, Rio do Pinto, Anhaia e outras que, como já frisei, são muito prósperas, encontramos por volta de uns quarenta que saíram da mediocridade para uma vida melhor.


Destes, três usufruem de uma verdadeira riqueza, porque o seu patrimônio oscila entre 200 mil liras a meio milhão, a saber:
Salvatore Scucato, vindo de Vicenza em 1888; a viúva Brambilla e Marcos Malucelli, o mais rico de todos, que produziu um engenho de cana de açúcar.


Doze possuem uma fortuna que varia de 80 a 150 mil liras, a saber:
Giuseppe Gnatta, de Vicenza; André Buzetti, Vicente Bettega. Bôrtolo Foltran, José Sanson e Benjamim Zilli, de Treviso; Alexandre Brandalize, de Belluno; Antonio Chierigatti, de Môntova; Antonio Pedinato, de Vicenza, e Antonio Consentino, de Cocenza.
Finalmente, vinte e cinco possuem de 50 a 80 mil liras, a saber:Júlio Vila Nova, Antonio Fruscolin, Luiz de Fiori, Antonio de Bona, Battista Citti, Ângelo de Rocco e Ângelo Ciscata, de Belluno; Antonio Robassa, Francisco Filipetti, Pedro Callegari, Luiz Tonetti, André Simon, José Dal' Col, Domingos Dall' Negro, Marcelino Meduna e Antonio Orreda, de Treviso; Antonio Dalcucchi, de Mântova; Pio Manosso, Ângelo Pilotto, José Fabris e Marcos Tosetto, de Vicenza.

E outros como: Valério, Turin, De Mio, Fante, Cherobin, Sotta, Ghignone, Fontana, Dall' Stella, Borsatto, Grandi, Piazza, Mazza, Gregorini, Bindo, Lati, Pontoni, Bacci, Madalozzo, Della Bianca, Pasquini, Gobbo, Zanardi, Canetti, Moro, Bavetti, Cavagnoíli, De Lay, Mori, Possiedi, Piovesan, Sundin, Miranda, Bertholdi, Bortholin, Triacchini (Triaquim), Curcio, Meneghetti, Contin, Cavogna, Bazzani, Grossi, Cavagnari, Brustolin, Belotto, Bergonse, Bertagnolli, Bortholuzzi, Carazzai, Carta, Casagrande, Cavalli, Cavallin, Cheminazzo, Chiarello, Zicarelli, Cini, Cit, Conte, Costa, Cusman, Dall' Ligna, Daí Lin, Dea, De Carli, De Paola, Dirienzo, Dotti, Ercole, Scarante, Favoretto, Comandulli, Ferrari, Ferrarini, Fraxino, Ferruci, Gabardo, Galli, Gaio, Gasparin, Grigoletto, Guzzoni, Jacomelli, Lazzarotto, Lucca, Lunardeli, Manfredini, Marchioratto, Marconsin, Marcon, Menin, Moreschi, Menegazzo, Molinari, Muraro, Nadalin, Nori, Olivetti, Orlandi, Panzolini, Pietrobom, Pilatti, Poletto, Possiedi, Ramina, Ramagnolli, Roncaglio, Rossetto, Rossi, Salvare, Santi, Savio, Scarpin, Scorzin, Scremin, Semionatto, Simeão, Sperandio, Sguário, Stocco, Stocchero, Strapasson, Talamini, Feltrin, Tessari, Giglio, Tosin, Tozetto, Tramontini, Trevisan, Trombini, Todeschini, Túllio, Valenti, Valenza, Vicentini, Volpato, Vardanega, Zalton, Zeni, Zem, Zampieri, Zanardini, Zanella, Zanetti, Zanier, Zanon, Zortea e muitos outros.




A COLÔNIA NOVA ITÁLIA


A Colônia Nova Itália foi fundada em 22 de abril de 1877, iniciada por imigrantes vênetos retirantes da Colônia Alexandra.
Era formada por 12 núcleos, num total de 610 lotes demarcados, mas com poucas casas construídas.
O município de Morretes contava com sete núcleos: América (de cima e de baixo), Sítio Grande, Sesmaria, Rio do Pinto, Anhaia, Rio Sagrado e N.S. do Porto.
O município de Porto de Cima com cinco núcleos: Marques, Ipiranga, Bananal, Cari e Esperança.
Em janeiro de 1878, época em que o Governo da Província designou o engenheiro André Braz Chalréo para dirigir a Colônia, a situação dos imigrantes era deplorável.
Mais de oitocentas famílias viviam em barracas ou casas alugadas, alimentando-se do que lhes fornecia o Governo (Romário Martins).
Numa de suas visitas, o Presidente da Província Dr. Rodrigo Otávio, a fim de examinar as colônias do litoral e, em particular, a Colônia Nova Itália, que mais chamava a atenção pelas queixas, encontrou-a em estado lastimável: os colonos quase na miséria, sem roupas, habitação apenas suportável, sem sementes para o plantio.
Estavam em completo desânimo; seus terrenos eram alagadiços e ruins.
As más condições da colonização fizeram com que muitos italianos solicitassem sua volta à terra de origem, ou transferência para outros países sul americanos, visto que todos os pedidos às autoridades provinciais eram negados, em virtude da falta de verbas.
Os mais velhos contavam a história de um italiano já de certa idade, que blasfemava contra este estado de coisas e desejava voltar a todo custo para sua terra natal, onde queria morrer. Dizia ele: "Questa sporca terra dei Brasile nom mi mangiara".
E não comeu mesmo, diziam os antigos, pois, ao ser exumado o seu corpo, ao final do período regulamentar, estava mumificado. Fez-se o desejo do italiano e a terra brasileira, também, o rejeitou!

AS REIVINDICAÇÕES

Quando da visita de S.M.I. D.Pedro II à Província do Paraná, no ano de 1880, os italianos residentes nas diversas colônias de Morretes aproveitaram a ocasião para bombardearem-lhe com requerimentos de diversos pedidos:
"Giacomo Arboit e outros, abaixo assinados, colonos moradores no núcleo Rio Sagrado, Colônia Nova Itália, solicitando ao Imperador que lhes mande fornecer a ferragem e mola para estabelecerem um moinho para preparar o milho preciso à sua alimentação". Morretes, junho de 1880.
"Alexandre Bridarolli e outros, abaixo assinados, de colonos do núcleo Sesmaria, solicitando cobertura de telhas para as suas pequenas casas que são precariamente cobertas de palha". Morretes, 3 de junho de 1880.
- "Os mesmos solicitando que lhes seja concedida passagem gratuita na balsa que comunica o caminho de Barreiros com a cidade ou melhor, que se arrecade o produto dessas assinaturas para favorecer a construção de uma ponte, sem o que procurarão estabelecer-se em outros núcleos assim favorecidos". Morretes, 3 de junho de 1880.
- "Giovani Tassi e outros, abaixo assinados, ao Imperador, residentes no núcleo Rio do Pinto, solicitando que se cumpra a promessa de serem cobertas de telhas as suas casas".
Morretes, 3 de junho de 1880.
- "Joseph Comei, sendo um dos primeiros colonos que se estabeleceram na colônia N.S. do Porto, solicita a V.M.I. que se digne manda abonar ao suplicante a alimentação a que tem direito, e cobrir de telhas sua casinha".
Morretes, 3 de junho de 1880.
- "Caterina Vollodel, colona moradora na colônia N. S. do Porto, lote número 27, suplicando a S.M.I., a graça de mandar para a sua companhia seu filho Pietro, a mulher e os três filhos que o Governo mandou para Santa Catarina, ficando assim inconsolável a suplicante sem saber o destino que tiveram".
Morretes, 2 de junho de 1988.
- Muitos dos requerimentos não tiveram o devido encaminhamento, e, se tiveram, alguns não foram agraciados com o respectivo despacho.


 Fonte

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 Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS