A introdução de imigrantes italianos no Paraná se deu primeiramente através de um contrato firmado entre o Presidente da Província, Venâncio José Lisboa, e o empresário Sabino Tripoti, no ano de 1872. Um total de 262 imigrantes italianos foram instalados em Alexandra, a partir de 1875, uma colônia particular, de propriedade do agenciador, que ficava distante apenas 14 quilômetros da cidade de Paranaguá, já importante porto no Sul do país e porta de entrada dos imigrantes. A colônia de Alexandra era composta por uma sede e três núcleos: São Luís, Piedade e Toural.
Alexandra era uma localidade pequena para o número de imigrantes que foram levados para lá. Os colonos ali instalados não tiveram êxito com as lavouras, devido ao clima de litoral e pela péssima qualidade do solo encontradas em seus lotes, com terras improdutivas e localizadas em terrenos de difícil acesso. Movido por interesses pessoais, o agenciador Sabino Tripoti, tinha fundado esta colônia em uma área pouco adaptada para a agricultura. Os imigrantes não estavam acostumados com aquele clima e também os cultivos que conheciam não se adaptavam àquelas terras. A maioria dos imigrantes era formada de pequenos agricultores vênetos, onde o clima era muito mais frio do que aquele do litoral paranaense. O calor aumentava o cansaço e provocava o aparecimento de doenças, especialmente, aquelas causadas por insetos tão comuns naquela região cercada pela mata atlântica.
O missionário italiano Padre Pietro Colbacchini que passou grande parte de sua estada no Brasil atendendo as colônias paranaenses em um relatório para os seus superiores na Itália, de 1892, o padre escreveu que as condições daqueles colonos que viviam no litoral paranaense, entre os anos de 1875 e 1877. Entre tantos problemas, o missionário Pietro Colbacchini destacava especialmente as doenças causadas pelos insetos: "...de dia era insuportável trabalhar devido ao forte calor e por enxames de mosquitos que faziam inchar as partes descobertas das pessoas produzindo incômodos insuportáveis; à noite outra espécie do mesmo mosquito atrapalha o sonos e pica os pobres trabalhadores. Também, entre a carne e a pele, aparecia um verme, que ao crescer alcançavam a grossura de um feijão, eram injetados por uma mosca cor de ouro (era o berne). Nos pés, especialmente nas extremidades e no calcanhar, apareciam coceiras insuportáveis e feridas malcheirosas, produzidas por outro inseto (bicho de pé) que nidifica e incuba, se desenvolvendo como uma pequena pulga. As crianças e os velhos são os mais susceptíveis a esta grave enfermidade, que não respeita, todavia, idade e sexo ou condição das pessoas. A isto acrescento as consequências produzidas diretamente pelo clima, isto é, tontura, enfraquecimento dos membros, falta de apetite, desânimo, preguiça e tédio da vida. Esta é a verdadeira condição daqueles que vivem no litoral do Paraná".
Descobrindo que tinha sido enganados, o descontentamento já era muito grande entre os imigrantes que ameaçavam retornar para a Itália, abandonando o grande sonho. Assim, em 22.04.1877 o Presidente da Província Adolfo Lamenha Lins rescindiu o contrato com o empresário Sabino Tripoti e promoveu a transferência dos colonos e de algumas outras novas famílias italianas que chegavam, para uma nova colônia denominada Nova Itália. Esta também se localizava na baixada litorânea do Paraná, na região de Morretes, nas proximidades do Porto de Barreiros, nos contrafortes da Serra do Mar. A Colônia Nova Itália tinha dimensões bem maiores que a colônia Alexandra. Era uma colônia governamental e estava dividida em 12 núcleos coloniais: Rio dos Pintos, Sesmaria, Sítio Grande e Cary, América, Marques, Entre Rios e Prainha, Cabrestante, Rio Sagrado, Ipiranga, Graciosa, Zulmira e Turvo. Em 1880 já tinha uma população de cerca de 2.318 pessoas assentadas em 529 lotes.
A localização das colônias litorâneas dificultava a comercialização dos produtos, e as famílias italianas ali instaladas também desejavam trabalhar com a terra produzindo gêneros alimentícios e desenvolvendo a sua própria forma de plantio. Além disso, a maioria das colônias era margeada pelos principais rios do litoral paranaense, como o Rio Nhundiaquara e o Rio Sagrado. Esses rios em época de grandes chuvas transbordavam ocasionando enchentes e dificultando o trabalho nas lavouras. A locomoção pelas estradas era comprometida pela má conservação e pela dificuldade de acesso devido aos terrenos íngremes, levando em conta ainda que praticamente grande parte do acesso aos núcleos coloniais se dava pelas vias fluviais. Em 1878, o Presidente da Província, Rodrigo Octávio de Oliveira Menezes, relatou a precariedade das condições de sobrevivência e a insatisfação dos colonos italianos ali estabelecidos: estavam sem alimentação, sem roupas e acometidos de muitas doenças decorrentes do clima do litoral. Havia mais de 800 famílias ocupando 610 lotes, muitos dos quais eram impróprios para o plantio. Tudo isso dificultava a sua permanência nas terras a eles destinadas. Devido aos mesmos problemas que afetaram e tornaram inviável a Colônia Alexandra, a colônia Nova Itália também não prosperou. Ainda no ano de 1878, portanto somente dois a três anos após a fundação dessas comunidades, restavam na região poucas famílias italianas emigradas e alguns brasileiros.
O projeto inicial do governo do Paraná não era a de remover os colonos italianos insatisfeitos até o planalto Curitibano, porém esse foi o destino da maioria daquelas famílias que deixaram as colônias do litoral. Por conta própria, sozinhos ou em grupos, se dirigiram até Curitiba, onde adquiram lotes de terras, nos arredores da capital paranaense, muito férteis, local com um clima ameno, muito parecido com aquele que estavam acostumados na Itália.
Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS