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segunda-feira, 17 de abril de 2023

Colônia Alessandra: A História da Imigração Italiana no Paraná

Estação Ferroviária de Alexandra



A Colônia Alessandra, a primeira do gênero criada em solo paranaense, foi fundada no dia 14 de fevereiro de 1872, após intermediação do controvertido empresário italiano Savino A. Tripoti, nascido em 184o, na província de Teramo. Proprietário das terras e dono da concessão de colonização da área, Tripoti pretendia trazer, no decorrer de alguns anos, milhares de agricultores italianos para a província do Paraná. Foi somente a partir de 1877 que ela mudou de nome passando a ser chamada de Colônia Alexandra. No ano de 1875, com o veleiro Anna Pizzorno e o vapor Liguria, chegaram os primeiros imigrantes italianos, pouco mais de trezentas pessoas, provenientes das províncias de Teramo, na região de Abruzzo, de Caserta, na Campania e de Potenza, na Basilicata. Uma vez desembarcados no porto de Paranaguá, foram alojados na Casa da Imigração, recebendo sua primeira alimentação em terra, ocasião quando alguns tiveram uma grande decepção pelo tipo de alimentos que eram consumidos no país, especialmente a sem sabor farinha de mandioca tão consumida pelos brasileiros, ainda desconhecida para eles, que desapontados confundiram com o queijo ralado. Da Casa da Imigração, eram levados à Colônia Alessandra, com as despesas de hospedagem e transporte correndo por conta do governo da província. Ao chegarem no local onde se situavam os seus lotes, os colonos perceberam de imediato que aquela terra não era o que sempre tanto tinham sonhado. Muitos dos lotes ficavam em lugares praticamente inabitáveis, com os terrenos posicionados em áreas alagadiças, arenosas ou muito pedregosas, localizados em uma zona isolada e afastada dos centros mais povoados, como Morretes e Paranaguá, o que causou um grande desânimo em todos os recém chegados. Não tinham o menor conhecimento prévio do clima que encontrariam, com ar abafado, muito quente e úmido, típicos de zonas do litoral cercadas por montanhas. Chamou atenção de todos a grande quantidade de incômodos insetos que infestavam o lugar, além da presença de animais selvagens que não conheciam e cujos gritos e rugidos muito os amedrontava. Não viam por onde pudessem começar a implantar uma agricultura rentável naquele lugar. Ficaram esmorecidos e isso também influiu negativamente no futuro sucesso econômico da colônia. Os primeiros casos de doenças graves como a malária logo começaram a aparecer em vários pontos da colônia. A falta de assistência médica ficou rapidamente evidente e os poucos médicos disponíveis estavam nas cidades vizinhas mas, segundo eles, cobravam muito caro pelos atendimentos e assim eram pouco procurados pelos imigrantes. Recorriam freqüentemente aos charlatães e curandeiros que gozavam de grande prestígio entre a população brasileira nativa, pessoas ignorantes e também, como os italianos, bastante supersticiosas. Casos de frequentes deserções e desavenças entre o empresário e alguns colonos, assim como os desentendimentos constantes, com as autoridades provinciais, foram se acirrando. A chegada de novos contingentes de imigrantes italianos era intensa e por essa época mais 870 colonos, provenientes da Lombardia, Tirol e do Piemonte, chegaram ao porto de Paranaguá, trazidos pelo mesmo empresário e que também tinham como destino final a Colônia Alessandra, o que agravaria as condições já deficientes desta colônia. Tripoti dizendo que estava sem recursos até para manter os antigos colonos, abandonou-os declarando que não tinha meios sequer para entregar os primeiros suprimentos. Por sua vez os imigrantes recém chegados alegaram que tinham sido ludibriados pelo empresário e ao saberem da situação de penúria, que estavam passando os colonos já moradores na colônia, não quiseram de forma alguma ser assentados naquele lugar sem futuro. Apresentaram reclamações junto à direção da colônia e também às autoridades provinciais exigindo a transferência de Alexandra para a recém criada Colônia Nova Itália, localizada em Morretes. Caso não fossem atendidos pretendiam a recisão dos contratos firmados com os empresários e as autoridades do império. Segundo alguns historiadores, como a prestigiada escritora paranaense Altiva P. Balhana, que diz: "o empresário Savino Tripoti não se interessou nem pelos colonos, nem pela colonização. Seu objetivo era apenas atrair o maior número de imigrantes para assim poder usufruir maiores ganhos". Por sua vez, a pesquisadora e escritora Jussara Cavanha, revela o contrário em seu livro intitulado "Colônia Alessandra" onde diz: "o empresário Savino Tripoti era uma pessoa preparada para implantar e gerir colônias agrícolas" e continuando baseia essa afirmativa em documentos preservados que provam "que produtos obtidos na Colônia Alessandra receberam diplomas especiais de honra na Feira Mundial da Philadelphia em 1876". Ainda de acordo com as suas pesquisas: "Tripoti se empenhou para construir um projeto viável, mas, que sucumbiu por motivos alheios à sua vontade". Com a situação dos colonos de Alexandra se agravando a cada dia e a chegada e um novo grande grupo de imigrantes, o então presidente da província do Paraná, Adolfo Lamenha Lins, por motivos políticos ou mesmo econômicos da província, talvez ainda por ter percebido o rumo que estava sendo dado ao empreendimento, por decreto assinado em 1877, rescindiu o contrato realizado e confiscou as terras do empresário, que acabou extraditado para a Itália, vindo a falecer poucos anos depois. Mas o descontentamento ainda continuou reinando na colônia de Nova Itália, para onde foi transferida a maior parte dos imigrantes de Alexandra, com muitos colonos em situação de miséria, iniciando uma nova debandada. Nesse meio tempo as autoridades provinciais providenciavam a aquisição de terrenos em torno de Curitiba para a formação de novas colônias.


Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS