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segunda-feira, 16 de outubro de 2023

Caminhos Transatlânticos: Uma Jornada Épica da Itália à Colônia Silveira Martins




No início do inverno de 1890, Antonio B. e Giovanna R., dois jovens emigrantes italianos de 25 anos, como tantos outros compatriotas, embarcaram em uma emocionante e totalmente desconhecida jornada rumo ao mítico Brasil, na ocasião reputado como um verdadeiro el Dorado. A situação econômica da Itália continuava cada dia pior, a quebra de safras e a concorrência dos produtos importados atingia especialmente a agricultura, com diminuição dos postos de trabalho no campo e nas cidades. O fenômeno da emigração já há quinze anos contagiava todos na Itália, cada qual tentando encontrar meios para comprar os bilhetes para o navio e embarcarem para aquele novo país do outro lado do oceano. O casal era proveniente de um pequeno município, de não mais de dois mil habitantes, no interior de Vicenza, e vinha com o sonho e o firme propósito de construir uma nova vida na Colônia Silveira Martins. Levavam consigo seu precioso tesouro, um filho de 18 meses chamado Carlo.
A angustiante e temida travessia do oceano Atlântico foi uma experiência desafiadora a qual ficou indelevelmente marcada na memória de todos os emigrantes italianos. O navio em que viajavam, o Utopia, estava lotado de outros imigrantes, todos ansiosos por uma chance melhor. As condições a bordo eram simples, com beliches apertados, comida e água limitadas, higiene precária e falta de instalações sanitárias suficiente para aquele grande número de passageiros. Antônio e Giovanna enfrentaram duas tempestades ferozes, as quais pareciam que fossem o fim do mundo, mas nunca perderam a esperança, agarrados aos corrimões do barco e orando fervorosamente à Madonna di Monte Berico, a Santa de devoção dos dois jovens. 

Finalmente, após semanas de sofrimento e muitas incertezas, avistaram a costa brasileira. O Porto do Rio de Janeiro os recebeu com a promessa de um novo começo. Tinham enfim conseguido chegar ao Brasil, mas ainda faltava muito até o local onde seriam assentados. A jornada até a Colônia Silveira Martins foi outro trecho longo e árduo, que durou quase quatro semanas, com viagem em um novo navio, barco fluvial e carroções puxados por diversas mulas, mas a família chegou com a determinação de transformar aquele lugar em seu lar.

As primeiras impressões da nova terra eram um misto de surpresa, encantamento e medo com tantas coisas novas. A paisagem era desafiadora, com vastas áreas ainda cobertas de mata virgem a serem desbravadas, povoadas por bandos de aves e animais desconhecidos, alguns perigosos. No entanto, a comunidade de imigrantes italianos que já haviam se instalado estava unida, e todos ajudaram na construção de suas casas simples, erguidas com troncos de árvores, abundantes nos seus lotes e cobertas com folhas e capim entrelaçados.

Os primeiros anos foram bastante difíceis. Após abrirem uma clareira na mata, plantaram suas primeiras sementes e lutaram contra os desafios da agricultura em um clima tão diferente do que estavam acostumados. Mas com trabalho duro e a ajuda de seus vizinhos, logo viram os frutos de seu esforço crescerem. A terra era muito fértil e havia abundância de água.

Carlo, o filho que havia cruzado o oceano com eles, cresceu forte e saudável. Antônio e Giovanna tiveram mais seis filhos, todos nascidos na Colônia. A família prosperou, expandindo sua plantação e construindo uma vida melhor.

Os anos se passaram, e os filhos de Antônio e Giovanna cresceram, casaram-se com outros imigrantes italianos, e a família cresceu ainda mais. A Colônia Silveira Martins também floresceu, tornando-se um ponto de referência na região. Ela ficou conhecida como a quarta colônia da imigração italiana no Rio Grande do Sul, localizada na parte central do estado, próxima à cidade de Santa Maria.

Antônio e Giovanna viram a chegada de netos, e seu lar se encheu de risos e histórias. A jornada desde aquela pequena e atrasada vila na Itália até a Colônia Silveira Martins havia valido a pena. Eles haviam construído um legado, uma família unida e uma história de sucesso naquela nova terra.

A saga da família italiana continuou, com cada geração contribuindo para o crescimento da colônia e mantendo viva a memória de Antônio e Giovanna, os corajosos imigrantes que ousaram sonhar e construir uma vida melhor em uma terra distante. E assim, a história da família italiana na Colônia Silveira Martins se tornou uma parte essencial da rica tapeçaria cultural e histórica do Brasil.



domingo, 24 de setembro de 2023

Caminhos Transatlânticos: Uma Jornada Épica da Itália à Colônia Silveira Martins




No início do inverno de 1890, Antônio e Giovanna, jovens imigrantes italianos, ambos com 25 anos, da mesma maneira que tantos outros italianos, embarcaram em uma emocionante e totalmente desconhecida jornada rumo ao mítico Brasil. A situação econômica da Itália continuava cada dia pior, com diminuição dos postos de trabalho no campo e nas cidades, onde grandes grupos de desempregados passavam as manhãs reunidos na praça da matriz, na esperança de conseguir algum trabalho como diarista. O fenômeno da emigração contagiava todos, cada qual tentando encontrar meios para comprar as passagem e embarcarem para aquele novo país do outro lado do oceano. Eles vinham de um pequeno comune no interior de Vicenza, com o sonho de construir uma nova vida na Colônia Silveira Martins. Levavam consigo seu precioso tesouro, um filho de 18 meses chamado Carlo.

A tão temida travessia do oceano Atlântico foi uma experiência desafiadora a qual ficou indelevelmente marcada na memória daqueles emigrantes. O navio em que viajavam, o Andrea Doria, estava lotado de outros imigrantes, todos ansiosos por uma chance melhor. As condições a bordo eram simples, com beliches apertados, comida limitada, higiene precária e falta de instalações sanitárias suficiente para o número de passageiros. Antônio e Giovanna enfrentaram duas tempestades ferozes, as quais pareciam que fosse o fim do mundo, mas nunca perderam a esperança, agarrados nos corrimões do barco e orando fervorosamente à Madonna di Monte Berico, a Santa de devoção dos dois jovens. 

Finalmente, após semanas de sofri e incertezas, avistaram a costa brasileira. O Porto do Rio de Janeiro os recebeu com a promessa de um novo começo. Tinham chegado ao Brasil, mas ainda faltava muito até o local onde seriam assentados. A jornada até a Colônia Silveira Martins foi longa e árdua, durou mais quatro semanas, com viagem de navio, barco e carroças puxadas pó diversas mulas, mas a família chegou com a determinação de transformar aquele lugar em seu lar.

As primeiras impressões da nova terra eram mistas. A paisagem era desafiadora, com vastas áreas ainda cobertas de mata virgem a serem desbravadas. No entanto, a comunidade de imigrantes italianos ja instalados estava unida, e todos ajudaram na construção de suas casas simples, erguidas com troncos de árvores, abundantes nos seus lotes..

Os primeiros anos foram bastante difíceis. Depois de abrir uma clareira na mata, plantaram suas primeiras sementes e lutaram contra os desafios da agricultura em um clima tão diferente do que estavam acostumados. Mas com trabalho duro e a ajuda de seus vizinhos, logo viram os frutos de seu esforço crescerem.

Carlo, o filho que havia cruzado o oceano com eles, cresceu forte e saudável. Antônio e Giovanna tiveram mais seis filhos, todos nascidos na Colônia. A família prosperou, expandindo sua plantação e construindo uma vida melhor.

Os anos se passaram, e os filhos de Antônio e Giovanna cresceram, Casaram-se com outros imigrantes italianos, e a família cresceu ainda mais. A Colônia Silveira Martins também floresceu, tornando-se um ponto de referência na região. Ela ficou conhecida como a quarta colônia da imigração italiana no Rio Grande do Sul, localizada na parte central do estado, próxima à cidade de Santa Maria.

Antônio e Giovanna viram a chegada de netos, e seu lar se encheu de risos e histórias. A jornada desde aquela pequena vila na Itália até a Colônia Silveira Martins havia valido a pena. Eles haviam construído um legado, uma família unida e uma história de sucesso naquela nova terra.

A saga da família italiana continuou, com cada geração contribuindo para o crescimento da colônia e mantendo viva a memória de Antônio e Giovanna, os corajosos imigrantes que ousaram sonhar e construir uma vida melhor em uma terra distante. E assim, a história da família italiana na Colônia Silveira Martins se tornou uma parte essencial da rica tapeçaria cultural e histórica do Brasil.



segunda-feira, 12 de dezembro de 2022

O Caminho dos Imigrantes Italianos no Brasil

Travessia do Rio Caí

 



Os primeiros imigrantes italianos que chegavam ao Brasil desembarcavam exclusivamente pelo porto do Rio de Janeiro. Desciam nas instalações portuárias da Ilha das Flores, onde se situava a Hospedaria dos Imigrantes, que os acolhia pelo prazo máximo de oito dias  depois seguiam o seu destino. 

A partir de 1882, com o grande aumento do fluxo de imigrantes, o desembarque também passou a ser feito pelo porto de Santos, especialmente para aqueles imigrantes cujo destino final era o Estado de São Paulo. Os recém chegados faziam o trajeto desde o porto até a cidade de São Paulo, por trem ou em grandes carroças. Ficavam hospedados na Hospedaria dos Imigrantes esperando pelos representantes dos fazendeiros que vinham busca-los. 

Os imigrantes já vinham da Itália com contratos assinados com grandes fazendeiros de café, e também de algodão, e somente depois de registrados na hospedaria é que ficavam sabendo para onde seriam levados.

Aqueles imigrantes que seguiriam ainda para outros destinos na região Sul, como os portos de Paranaguá, Laguna ou Porto Alegre, eram transportados por navios costeiros brasileiros de menor calado. 

Os imigrantes que estavam destinados às colônias italianas do Sul do país, criadas a partir de 1875, paravam no porto de Rio Grande, no Rio Grande do Sul. 

Depois de uma parada de alguns dias, esperando pelas pequenas embarcações fluviais a vapor, ainda na Lagoa dos Patos, passavam por Pelotas até Porto Alegre, para então começar a subir pelos rios Caí ou Jacuí, até desembarcarem no local mais próximo de onde estavam situadas as colônias italianas recém criadas pelo governo brasileiro.

Subindo o rio Caí, os imigrantes que estavam destinados para as Colônia Dona Isabel e Conde d'Eu, hoje respectivamente as cidades de Bento Gonçalves e Garibaldi, desembarcavam em Montenegro. Já aqueles destinados para a Colônia Caxias, desembarcavam em São Sebastião do Caí. 

Do desembarque, nos portos do rio Caí, até as respectivas colônias, precisavam vencer uma longa distância, cujo percurso era feito em carroções puxados por bois ou a pé. A estrada era somente uma estreita picada no meio da mata, aberta a facão pelos próprios imigrantes e funcionários do governo brasileiro que os acompanhavam. 

No fim do trecho plano da chamada estrada Rio Branco, às margens do Rio Caí, tinha então início a parte mais difícil do trajeto que era a subida da Serra. Mas, antes de seguirem viagem, muitos paravam na improvisada hospedaria para se alimentar e descansar. Os italianos eram acompanhados por alguns funcionários do serviço de imigração que além do transporte, também serviam de guias para localizar o lote de terra correspondente a cada um dos imigrantes. 

Os imigrantes italianos que seguiram para a Colônia Silveira Martins, nome dado em homenagem ao presidente da província, porém, mais conhecida como quarta colônia de imigrantes italianos no Rio Grande do Sul, tiveram que subir pelo rio Jacuí até Rio Pardo e completar o restante do caminho em carros de bois ou a pé, até a localidade de Val de Buia.

A 4ª Colônia, criada em 1877, ficava próximo do município de Santa Maria, uma extensa região no planalto central do estado que engloba os atuais municípios de Silveira Martins, Ivorá, Faxinal do Soturno, Dona Francisca, Nova Palma, Pinhal Grande e São João do Polêsine, além de partes dos municípios de Agudo, Itaara e Restinga Seca.



Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS






sábado, 24 de março de 2018

Barracão de Val de Buia o triste início da Quarta Colônia



Após o êxito alcançado com as três primeiras colônias italianas no Rio Grande do Sul: Conde D´Eu, Dona Isabel e Caxias, o governo da Província de São Pedro do Rio Grande do Sul passou a criação da Colônia de Silveira Martins, vizinha à cidade de Santa Maria da Boca do Monte, a qual depois veio a ser conhecida como 4º Colônia, por ter sido a quarta a ser criada.
A primeira leva de imigrantes italianos, composta por aproximadamente 100 famílias, chegou a esta colônia por volta da primavera de 1877, ficando hospedados no Barracão de Val de Buia.
Val de Buia, localiza-se no pé da Serra de São Martinho, distante 30 km do Município de Santa Maria da Boca do Monte e entorno de 290 Km da capital Porto Alegre. Os pobres imigrantes tinham saído da Itália com a promessa do governo, que teriam total assistência até quando obtivessem o seu lote de terra. Ao se verem sem recursos e abandonados à própria sorte, em uma terra totalmente desconhecida, cercada por todos os lados por florestas repletas de animais que também não conheciam, podemos hoje aquilatar o arrependimento que eles sentiram. Esse arrependimento era  muito maior nas mulheres que, para se socorrerem, com muita fé, se apegavam a Deus e aos Santos de devoção, quando algum um filho ou outro membro da família adoecia. Estavam sozinhos e não tinham a quem mais recorrer.
A chegada dessa primeira leva coincidiu com a saída às pressas dos imigrantes eslavos que os antecederam – russos e poloneses – os quais abandonavam o local em direção a Porto Alegre, com destino ao Paraná. Esses emigrantes não resistiram às precárias condições do barracão tendo muitas vidas sido ceifadas devido as várias epidemias que ali eclodiram, e assim decidiram abandonar definitivamente as instalações. Logo vieram as levas de italianos e vênetos provenientes de Porto Alegre, os quais subindo o rio Jacuí, desembarcavam em Rio Pardo e, depois de um sem número de sofrimentos, a pé e em carroças de bois, alcançaram o local onde se encontrava o barracão que os devia hospedar temporariamente em Val de Buia, até a demarcação final dos lotes pela Comissão do Governo Imperial. Devido o moroso trabalho dessa comissão de demarcação e a sempre contínua chegada de novos imigrantes, que compunham as demais levas, o número daquela população rapidamente atingiu a cifra de aproximadamente 1000 pessoas, que era a soma das quatro levas, que esperavam a sua colocação nos lotes a eles destinados. O chamado barracão, que devia hospedar os recém-chegados, nada mais era que um pavilhão de grandes proporções, sem divisórias internas, sem privacidade, construído em madeira bruta lascada, coberto por folhas de palmeira, com muitas frestas nas paredes e chão de terra batida. A promiscuidade, a falta de higiene e a péssima alimentação disponível serviram de combustível que fez eclodir no local uma violenta, rápida e letal epidemia de doença infecto-contagiosa, aproximadamente entre os meses de maio e julho de 1878. Em pouco tempo as mortes já se sucediam num ritmo tão rápido que não dava mais tempo para a confecção de caixões que proporcionasse um enterro digno. Os enterros eram feitos com o corpo envolto em lençóis diretamente na terra. Muitas foram as famílias vênetas atingidas, algumas chegando a perder quase todos os seus membros. Acredita-se, de acordo com historiadores, que tenham morrido no local, em poucas semanas, mais de 300 imigrantes.

Segundo uma narrativa de Júlio Lorenzoni, no livro Memórias de um imigrante italiano, podemos hoje aquilatar o que estava se passando com esse grupo pioneiro.
Da boca da picada ao Primeiro Barracão – um breve arrependimento: no dia seguinte entramos no bosque, numa estrada de inferno: buracos e barro onde os pobres animais afundavam até a barriga. Os gritos dos carreteiros para estimulá-los e faze-los atravessar aquelas poças d’água e lama e arrastar as carretas com nossas bagagens, causava-nos uma tristeza enorme. Seguindo-as, vinha a fileira de homens, mulheres, velhos e crianças, procurando escolher o local exato para firmar os pés sem afundar naquele terreno barrento e lodoso. Os homens marchavam com os filhinhos no colo, calças arregaçadas até acima dos joelhos e as mulheres também não podiam evitar de mostrar as pernas, sujas e enlameadas, procurando salvar da sujeira as saias que vestiam. Uns caminhavam de cabeça baixa, taciturnos e tristes, outros gritavam, blasfemavam e maldiziam a hora de terem vindo ao Brasil, enquanto algumas mulheres, silenciosamente, seguiam chorando. Quando Deus quis, isto é, pelas três horas da tarde, desembocamos daquele mato numa linda planície, propriedade do fazendeiro Penna. Paramos aí, novamente, para tomar algum alimento, pois estávamos sem comer desde manhã cedo, para repousar um pouco, enxugar nossas roupas e mesmo porque os animais estavam exaustos, escorrendo suor e embarrados até os chifres. No dia seguinte, às 9 horas mais ou menos, estávamos novamente a caminho, em direção ao barracão, que distava da casa do Sr. Penna, apenas 6 km. No entanto, só às 2 horas da tarde aproximadamente, chegávamos finalmente ao barracão, ponto final do nosso destino!"

Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS