Após o êxito alcançado
com as três primeiras colônias italianas no Rio Grande do Sul: Conde D´Eu, Dona
Isabel e Caxias, o governo da Província de São Pedro do Rio Grande do Sul
passou a criação da Colônia de Silveira Martins, vizinha à cidade de Santa
Maria da Boca do Monte, a qual depois veio a ser conhecida como 4º Colônia, por
ter sido a quarta a ser criada.
A primeira leva de
imigrantes italianos, composta por aproximadamente 100 famílias, chegou a esta
colônia por volta da primavera de 1877, ficando hospedados no Barracão de Val de Buia.
Val de Buia, localiza-se no pé da
Serra de São Martinho, distante 30 km do Município de Santa Maria da Boca do
Monte e entorno de 290 Km da capital Porto Alegre. Os pobres imigrantes tinham saído
da Itália com a promessa do governo, que teriam total assistência até quando
obtivessem o seu lote de terra. Ao se verem sem recursos e abandonados à
própria sorte, em uma terra totalmente desconhecida, cercada por todos os lados
por florestas repletas de animais que também não conheciam, podemos hoje aquilatar
o arrependimento que eles sentiram. Esse arrependimento era muito maior nas mulheres que, para se
socorrerem, com muita fé, se apegavam a Deus e aos Santos de devoção, quando
algum um filho ou outro membro da família adoecia. Estavam sozinhos e não
tinham a quem mais recorrer.
A chegada dessa primeira
leva coincidiu com a saída às pressas dos imigrantes eslavos que os antecederam
– russos e poloneses – os quais abandonavam o local em direção a Porto Alegre,
com destino ao Paraná. Esses emigrantes não resistiram às precárias condições
do barracão tendo muitas vidas sido ceifadas devido as várias epidemias que ali
eclodiram, e assim decidiram abandonar definitivamente as instalações. Logo
vieram as levas de italianos e vênetos provenientes de Porto Alegre, os quais
subindo o rio Jacuí, desembarcavam em Rio Pardo e, depois de um sem número de
sofrimentos, a pé e em carroças de bois, alcançaram o local onde se encontrava
o barracão que os devia hospedar temporariamente em Val de Buia, até a
demarcação final dos lotes pela Comissão do Governo Imperial. Devido o moroso
trabalho dessa comissão de demarcação e a sempre contínua chegada de novos
imigrantes, que compunham as demais levas, o número daquela população
rapidamente atingiu a cifra de aproximadamente 1000 pessoas, que era a soma das
quatro levas, que esperavam a sua colocação nos lotes a eles destinados. O
chamado barracão, que devia hospedar os recém-chegados, nada mais era que um
pavilhão de grandes proporções, sem divisórias internas, sem privacidade,
construído em madeira bruta lascada, coberto por folhas de palmeira, com muitas
frestas nas paredes e chão de terra batida. A promiscuidade, a falta de higiene
e a péssima alimentação disponível serviram de combustível que fez eclodir no
local uma violenta, rápida e letal epidemia de doença infecto-contagiosa,
aproximadamente entre os meses de maio e julho de 1878. Em pouco tempo as
mortes já se sucediam num ritmo tão rápido que não dava mais tempo para a
confecção de caixões que proporcionasse um enterro digno. Os enterros eram
feitos com o corpo envolto em lençóis diretamente na terra. Muitas foram as
famílias vênetas atingidas, algumas chegando a perder quase todos os seus
membros. Acredita-se, de acordo com historiadores, que tenham morrido no local,
em poucas semanas, mais de 300 imigrantes.
Segundo uma narrativa de
Júlio Lorenzoni, no livro Memórias de um
imigrante italiano, podemos hoje aquilatar o que estava se passando com
esse grupo pioneiro.
“Da boca da picada ao Primeiro Barracão – um breve arrependimento: no
dia seguinte entramos no bosque, numa estrada de inferno: buracos e barro onde
os pobres animais afundavam até a barriga. Os gritos dos carreteiros para
estimulá-los e faze-los atravessar aquelas poças d’água e lama e arrastar as
carretas com nossas bagagens, causava-nos uma tristeza enorme. Seguindo-as,
vinha a fileira de homens, mulheres, velhos e crianças, procurando escolher o
local exato para firmar os pés sem afundar naquele terreno barrento e lodoso.
Os homens marchavam com os filhinhos no colo, calças arregaçadas até acima dos
joelhos e as mulheres também não podiam evitar de mostrar as pernas, sujas e
enlameadas, procurando salvar da sujeira as saias que vestiam. Uns caminhavam
de cabeça baixa, taciturnos e tristes, outros gritavam, blasfemavam e maldiziam
a hora de terem vindo ao Brasil, enquanto algumas mulheres, silenciosamente,
seguiam chorando. Quando Deus quis, isto é, pelas três horas da tarde,
desembocamos daquele mato numa linda planície, propriedade do fazendeiro Penna.
Paramos aí, novamente, para tomar algum alimento, pois estávamos sem comer
desde manhã cedo, para repousar um pouco, enxugar nossas roupas e mesmo porque
os animais estavam exaustos, escorrendo suor e embarrados até os chifres. No
dia seguinte, às 9 horas mais ou menos, estávamos novamente a caminho, em direção
ao barracão, que distava da casa do Sr. Penna, apenas 6 km. No entanto, só às 2
horas da tarde aproximadamente, chegávamos finalmente ao barracão, ponto final
do nosso destino!"
Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS
Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS