O projeto de imigração italiana no Rio Grande do Sul começou com a criação de três núcleos colonizadores, Conde d'Eu, atual município de Garibaldi, Dona Isabel que viria se tornar Bento Gonçalves e Caxias do Sul. Com o rápido crescimento dessas colônias com a chegada de novas levas de imigrantes, foram então criados novos núcleos para recebê-los, assim em 1880 surgiram as colônias italianas de Antônio Prado e Alfredo Chaves, atual Veranópolis e em 1892 a colônia de Guaporé. Durante o período de 1875 a 1914, o governo imperial brasileiro trouxe oficialmente quase 100 mil italianos para a serra gaúcha.
Em 20 de maio de 1875, os primeiros italianos chegaram ao atual município de Farroupilha. Inaugurou-se então o primeiro ciclo imigratório italiano em solo gaúcho, o qual durou até 1914. Os primeiros imigrantes italianos que chegaram ao Rio Grande do Sul provinham sobretudo das regiões da Lombardia, Vêneto e Trento, sendo que estes eram chamados de tiroleses. O pico máximo da imigração italiana no Rio Grande do Sul foi alcançado entre os anos de 1884 e 1894, quando chegaram cerca de 60 mil imigrantes, número que foi diminuindo a partir de então, com o cancelamento do subsídio as passagens transoceânicas por parte governo republicano. As primeiras colônias imperiais foram:
1874 Colônia Dona Isabel (Bento Gonçalves) e Conde d’Eu (Garibaldi)
1875 Colônia Fundos de Nova Palmira (Caxias do Sul)
1877 Silveira Martins, próximo a Santa Maria, a 4* Colônia
1881 Colônia Maciel (próximo a Pelotas)
1884 Colônia Álvaro Chaves (Veranópolis)
1885 São Marcos e Antônio Prado
Com o tempo foram sendo criadas outras mais, localizadas mais ao norte do estado.
Os imigrantes ao chegarem, desembarcavam no porto do Rio de Janeiro, e após um período de quarentena internados na Ilha das Flores, trocavam de navio e se dirigiam ao sul com destino ao porto de Rio Grande, seguindo depois pela Lagoa dos Patos até Porto Alegre. Na capital permaneciam alojados, por semanas ou mesmo até meses, em barracões construídos para esse fim, até que os seus lotes fossem demarcados.
Nesse período deviam prestar trabalho compulsório na abertura de estradas. Finalmente, recebiam do governo a ordem de se deslocarem para os seu lotes de terra, localizados mais para o interior do estado. Para lá chegarem deviam ainda percorrer muitos quilômetros rio acima. Usavam pequenos barcos fluviais seguindo alguns rios, como o Caí, até locais próximos das colônias demarcadas, onde seriam finalmente assentados. Após o trajeto embarcados, eles passavam a se deslocar por terra, a pé ou grandes carroças puxadas por bois, através de estreitas picadas, cercadas por densas florestas povoadas por animais desconhecidos para eles, os quais emitiam gritos e sons guturais que os amedrontava bastante, principalmente à noite. Esses animais eram principalmente grandes bandos de papagaios e de agitados e barulhentos bugios. Durante o trajeto precisavam em muitas ocasiões subir por morros e atravessar alguns cursos de água. Chegados finalmente na colônia, ficavam alojados em precários barracões com áreas comuns até conhecerem o lote que tinha sido destinado a cada um. Dali, após o descanso, os chefe de família ainda precisavam se embrenhar pelo mato, acompanhados por funcionários do governo, até o local onde estava o seu lote de terra, fixado pela administração da colônia. Nesse momento, amedrontados se davam conta que estavam no meio do nada, que ali estava o lote de sua propriedade, pelo qual tinham enfrentado toda essa longa viagem. Cada família era então deixada por conta própria, sem um abrigo para escapar do frio ou da chuva, dos animais ferozes que os cercavam, os quais incessantemente davam o sinal das suas presenças. Eram deixados sozinhos com a pouca comida fornecida, as sementes para plantarem a primeira roça, algumas ferramentas agrárias entregues pelo governo na chegada em Porto Alegre, ainda no barracão. Esse material consistia basicamente foice, machado, enxada, pá, facão e faca. Era tudo que eles tinham, mas, apesar de tudo, geralmente, estavam contentes pois agora iriam trabalhar na terra que os pertencia.
As providências mais urgentes eram a derrubada do mato, a construção de um pequeno barraco como abrigo e preparar a terra para o plantio da primeira safra, a qual somente seria colhida muitos meses depois, se as condições do clima fossem favoráveis. Para complementar aqueles poucos mantimentos recebidas do governo, procuravam obter a carne da caça de aves e pequenos animais existentes, abundantes naquela época. Também, logo aprenderam com os mestiços e índios que pela região passavam, a usar o pinhão como alimento.
Com muito trabalho as antigas colônias rapidamente progrediram e deram origem aos ricos municípios da Serra Gaúcha. Uma grande maioria desses imigrantes eram analfabetos, mas, não ignorantes, já traziam dentro de si a cultura milenar dos suas províncias de origem na Itália e a arte inata de fazer negócios. A antiga arte de comprar e vender, o fazer comércio, sempre esteve presente nas veias da maioria dos imigrantes, herança de um povo com muita história.
Católicos fervorosos, na sua grande maioria, fizeram ao redor da igreja o centro da vida religiosa e social da colônia e das cidades que formaram. Os italianos exerceram grande influência na cultura do Rio Grande do Sul. Berço das vocações, milhares de freiras e padres tiveram uma grande participação na instrução religiosa e laica do estado.
Para o Brasil trouxeram a cultura do vinho, cuja comercialização permitiu acumular capitais que posteriormente se tornaram importantes indústrias.
Dr. Luiz Carlos Piazzetta
Erechim RS