sábado, 30 de janeiro de 2021

A Imigração Italiana no Rio Grande do Sul



A Itália foi unificada muito tardiamente e precisou de um longo tempo para se consolidar como uma nação. Esta se iniciou em 1870, a somente cinco anos do início da grande emigração, quando o país se inseriu no projeto de industrialização, que já tinha sido implementado por muitos outros países europeus. O  país chegava com atraso a época da industrialização e os pequenos agricultores não teriam muito espaço nesse novo contexto econômico no qual a máquina, gradualmente, foi substituindo o homem. 

O sistema vigente no campo era até então o do arrendamento das terras, no qual se praticava um agricultura antiquada, ainda nos moldes do semi feudalismo, e nas comunidades rurais cada vez mais cresciam os problemas sociais e se tornavam um peso para as autoridades do país. Era uma agricultura era ainda de subsistência, onde o pequeno agricultor, que formavam a grande maioria da população italiana na época, não possuíam a propriedade das terras onde trabalhavam. Viviam em pequenas e antigas comunidades, pequenas vilas do interior e arrendavam dos grandes proprietários rurais acanhados lotes de terras já esgotadas. 




Os agricultores italianos rapidamente ficaram tomaram conhecimento que no Novo Mundo a situação era totalmente diferente. No Brasil um país imenso e essencialmente agrícola, com grandes espaços desabitados, ainda cobertos por uma densa floresta nativa, devido a abolição da escravatura e do sucesso da cultura do café, estava precisando de mão-de-obra e passara a incentivar a chegada de emigrantes europeus para trabalharem nas extensas plantações dos estados de São Paulo e Espírito Santo. 

O governo imperial brasileiro também estava necessitando de imigrantes agricultores para ocuparem as terras devolutas nos três estados do sul do país, grandes extensões de terras ainda improdutivas. Para tanto estava oferecendo gratuidade nas despesas de viagem para as famílias de imigrantes que quisessem se estabelecer. Para tanto já tinha iniciado um grande programa imigratório, com a criação de várias colônias, inicialmente no Rio Grande do Sul, depois nos outros dois estados  Paraná e Santa Catarina. 

Essas notícias se espalharam como fogo por toda a zona rural italiana e especialmente naqueles primeiros anos nas províncias do norte, especialmente, o Vêneto e a Lombardia. As notícias que o Brasil estava pagando todas as despesas de viagem até os diversos locais de trabalho, foram exaustivamente propagadas pela grande rede de agentes e sub agentes de emigração rapidamente criadas pelas companhias de navegação italianas, que não queriam perder aquela oportunidade para tirá-las da bancarrota. 

Em um primeiro momento as lavouras de café absorveram a maior parte da grande leva de emigrantes italianos com destino ao Brasil. Nessas plantações eles eram assalariados ou contratados com direito a uma pequena porcentagem da colheita, mas não podiam comprar terras. Tinham uma rústica casa na grande propriedade e podiam plantar, entre as fileiras de pés de café, algumas culturas para a sua própria subsistência. Logo os imigrantes se deram conta que tinham saído de um sistema de quase escravidão na Itália, para cairem no Brasil a servir um grande proprietário sem a esperança de um dia chegarem a ser proprietários de um pedal de terra. Para os que que queriam abandonar a fazenda, eram proibidos de fazê-lo até o fim do contrato e do respectivo pagamento de todas as dívidas que haviam contraído com o patrão: alimentos, médico, remédios e outras despesas feitas pelo patrão até chegarem no Brasil. 

Por outro lado, um número cada vez maior de imigrantes preferiu se transferir e se fixar nas colônias italianas do sul do Brasil, onde poderiam, desde a chegada aos seus lotes,  serem os proprietários das suas terras. O acalentado sonho da propriedade e o enriquecimento rápido foram os principais atrativos para se dirigirem para os estados do sul. 

No Rio Grande do Sul o governo imperial, e logo depois aquele da república brasileira e de cada província, criaram colônias nas regiões montanhosas do estado, pois, os campos já estavam ocupados com a criação intensiva de gado. O projeto imigratório foi iniciado com a criação de três núcleos colonizadores: Conde d'Eu (atual município de Garibaldi) Dona Isabel (futura cidade de Bento Gonçalves) e Caxias (atual Caxias do Sul). Logo em seguida foi criada a Colônia de Silveira Martins, conhecida como a quarta colônia italiana no Rio Grande do Sul. Com a chegada cada vez maior de imigrantes italianos o governo da província se viu obrigado de criar novas colônias, que rapidamente também ficaram lotadas: Antônio Prado, Alfredo Chaves (atual cidade de Veranópolis) e Guaporé.
Após aguardarem o período da quarentena na Ilha das Flores, no Porto do Rio de Janeiro, os colonos imigrantes eram colocados em outros navios menores, em direção a cidade de Porto Alegre onde ficavam temporariamente abrigados em grandes barracões ainda no porto de Rio Grande e Pelotas e, quando liberados para prosseguirem a viagem, seguiam a bordo de pequenos barcos a vapor navegavam pelo rio Guaíba, na Lagoa dos Patos, e depois continuavam subindo pelos rios Caí e Jacuí para desembarcarem em pequenos portos fluviais, mas, ainda muito longe dos locais onde seriam definitivamente assentados. Ainda precisavam muitos dias de difícil caminhada, subindo a serra, a pé e em carroções puxados por juntas de bois, acompanhados por agentes do governo abrindo as picadas com facões. Estavam destinados a colonizarem a região mais alta do estado e a produzirem gêneros de primeira necessidade para abastecer a crescente população da capital da província.

Na fase inicial da imigração, entre 1875 até o começo da I grande guerra mundial em 1914, foram introduzidos aproximadamente 100 mil imigrantes italianos no Rio Grande do Sul. 

No Paraná inicialmente foram criadas duas colônias italianas na cidade litorânea de Morretes, cidade vizinha ao Porto de Paranaguá por onde chegavam os imigrantes provenientes da Itália. Essas colônias duraram pouco tempo devido aos problemas de administrativos, a falta de um grande centro consumidor para absorver os produtos colhidos, e também, pelo clima quente e úmido do litoral que não foi de agrado dos recém chegados. Em dois anos após a chegada os imigrantes conseguiram se transferir para novas colônias nos arredores da capital paranaense, onde o clima era excelente e as terras muito férteis. Muitas outras colônias de imigrantes italianos ou mistas, foram criadas no Paraná, e todas elas floresceram e de deram o nascimento de grandes cidades, com excessão da Colônia Cecília, na cidade de Palmeira, onde se assistiu uma tentativa falida de colonização anarquista. Em Santa Catarina também foram criadas inúmeras colônias, algumas somente de imigrantes italianos e outras mistas. A imigração de tiroleses e trentinos, predominaram nesse estado. 

Pela Lei de Terras, promulgada em 1850 pelo então governo imperial brasileiro, as glebas devolutas que pertenciam ao governo, poderiam ser comercializadas. Nesse sentido que as colônias de imigração foram demarcadas em lotes de 250 metros de frente e 1000 ou 1200 metros de fundo, um verdadeiro latifúndio para aqueles pequenos agricultores acostumados, na Itália, a trabalharem em pequenos lotes de terra. Essas propriedades o imigrante podia adquirir mediante financiamento do governo, estendido em prazos de até cinco anos para o pagamento. Para se tornar proprietário a única exigência era a ocupação imediata e o consequente início da produção, gerando para eles os dividendos que seriam usados para a quitação da dívida com o governo. As densas matas foram aos poucos sendo derrubadas dando lugar à plantações de culturas variadas, onde a mão-de-obra familiar era empregada em todo o processo da produção. Enquanto que na Itália onde viviam, devido a total falta de recursos, os pequenos agricultores não tinham condições de ser os donos da terra, no Rio Grande do Sul, os imigrantes foram favorecidos pelos financiamentos a longo prazo do governo em prestações compatíveis e tornaram-se proprietários da tão sonhada terra, e isso com relativa facilidade. Para os imigrantes o descaso do governo italiano para com os pequenos produtores rurais, contrastava com o empenho das autoridades do governo federal brasileiro e das províncias do Rio Grande do Sul e Paraná para criarem toda a infraestrutura necessária para o projeto de imigração.




Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS






quinta-feira, 28 de janeiro de 2021

A Emigração de Pederobba



O município de Pederobba foi instituído através de um decreto imperial de Napoleão Bonaparte em 1810 e se localiza na zona de transição entre a fértil planície atravessada pelo rio Piave e aquela de colinas, um pouco mais elevada, pelas montanhas que circundam o maciço do Monte Grappa. Ele se situa na zona fronteiriça entre as Províncias de Treviso e Belluno.

Como os demais municípios vizinhos, vivia, até o último quartel do século XIX de uma economia pobre  baseada principalmente  na pequena agricultura e algum artesanato. Os pequenos agricultores e os artesãos complementavam os seus parcos ganhos com a migração temporária em terras próximas e muitas vezes naquelas mais longínquas atravessando fronteiras. A população mais pobre, desde tempos remotos, andava a "fare la stagione", uma migração temporária, onde partiam em determinadas estações do ano, alcançando as terras do vizinho Império Austríaco, que  então compreendia a Hungria, parte da Romênia e da Polônia, e terminada a estação, retornavam para as suas casas com alguma economia nos bolsos. São ainda lembradas as aventuras dos "badilanti" dos "carriolanti", os emigrantes temporários, que munidos de um carrinho de mão, com alguns instrumentos de trabalho, ns poucos quilos de farinha de milho, para a polenta e, as vezes, uma forma de queijo, percorriam a pé longas distâncias, muito além das fronteiras da Itália, em procura de trabalho.


Igreja de Covolo
 

Com a queda da Sereníssima República de Veneza, durante os longos anos de dominação austríaca, quando Pederobba e toda a região  estavam foram anexados à casa dos Habsburgos, os jovens em idade militar serviam o exército imperial por nove anos, estacionados nas mais diversas partes do grande império. Isso proporcionava à esses jovens o contato com uma outra realidade, conhecendo regiões menos pobres que Pederobba em que viviam, e muitas vezes não mais retornavam mais para casa, tendo constituído família em terras austríacas. 




Por volta de 1880 teve início a emigração definitiva dos vênetos, para os países vizinhos mais ricos da própria Europa, mas, principalmente, em direção ao Novo Mundo: Estados Unidos, Brasil, Argentina e Uruguai. Sendo que aquela mais significativa nesse final de século foi em direção ao Brasil, iniciando-se após 1875. Partiam agora, não mais os homens sozinhos, com um carrinho de mão, ou uma grande caixa de madeira nas costas, repleta de estampas, mas, de famílias inteiras, em busca de uma vida melhor no tão sonhado Brasil, a mítica terra da cucagna, com as suas intermináveis extensões de terra e grandes plantações de café. Agora tinha início uma emigração para terras distantes, para nunca mais voltarem. 




Mais tarde, já no século XX, os pederobbesi emigraram também para a África e especialmente para a Austrália. 


pederobbesinelmondo.blogspot.com

Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS


terça-feira, 26 de janeiro de 2021

Lista de Vapores com Imigrantes no Porto do Rio de Janeiro





Adria - 28 de setembro de 1888
Adria - 27 de dezembro de 1888
Adria - 02 de abril de 1891
Agordat - 09 de julho de 1896
Amazon - 18 de maio de 1886
America - 22 de maio de 1882
America - 07 de julho de 1882
America - 20 de julho de 1882
America - 02 de outubro de 1896
Aquitaine - 04 de setembro de 1896
Argentina - 12 de novembro de 1876
Arno - 15 de julho de 1896
Artoes - 22 de abril de 1897
Attività - 20 de janeiro de 1896
Aurea - 25 de abril de 1877

Bahia - 26 de julho de 1882
Bearn - 08 de agosto de 1896
Bearn - 11 de agosto de 1896
Bearn - 09 de janeiro de 1897
Bearn - 12 de julho de 1897
Belgrano - 1º de outubro de 1875
Belgrano - 18 de maio de 1876
Belgrano - 10 de junho de 1876
Belgrano - 17 de fevereiro de 1877
Belgrano - 05 de março de 1877
Belgrano - 12 de junho de 1882
Belgrano - 11 de outubro de 1876
Biela - 16 de março de 1877
Biela - 1º de março de 1878
Bourgogne - 28 de agosto de 1890
Brazil - 04 de janeiro de 1891
Brenero - 14 de dezembro de 1885
Britania - 28 de maio de 1876
Britania - 02 de abril de 1877
Britania - 19 de março de 1886

Caffaro - 29 de julho de 1891
Camões - 04 de fevereiro de 1877
Camões - 04 de abril de 1877
Canova - 15 de março de 1877
Canova - 13 de abril de 1877
Catopaxi - 04 de fevereiro de 1877
Ceres - 30 de maio de 1875
Ceres - 17 de abril de 1877
Cervantes - 14 de janeiro de 1877
Chaves 2º - 19 de março de 1877
Città di Genova - 02 de maio de 1892
Colombia - 27 de maio de 1876
Colombia - 10 de fevereiro de 1877
Colombia - 24 de abril de 1877
Colombo - fevereiro de 1878
Colombo - 17 de janeiro 1882
Colombo - 13 de janeiro de 1897
Cybelle - 19 de março de 1877

Douro - 21 de agosto de 1876
Duque de Galícia - 1º de janeiro de 1888

Eclide - 06 de janeiro de 1892
Elba - 21 de março de 1877
Elbe - 21 de junho de 1876
Elbe - 21 de setembro de 1876
Equateur - 15 de agosto de 1876
Equateur - 14 de fevereiro de 1877
Equateur - 13 de maio de 1877
Equateur - 25 de julho de 1877
Espadarte - 06 de junho de 1876
Espagne - 16 de dezembro de 1897
Espírito Santo - 20 de março de 1877
Ester - 31 de julho de 1876
Ester - 17 de setembro de 1876
Ester - 21 de julho de 1877

Formoza - 28 de julho de 1911
Fortunata Raggio - 04 de junho de 1896

Galícia - 20 de julho de 1877
Gerà - 02 de outubro de 1892
Gironde - 20 de junho de 1876
Gironde - 31 de julho de 1876
Gironde - 30 de março de 1877
Gottardo - 28 de maio de 1886
Guadiana - 07 de fevereiro de 1877
Guadiana - 07 de maio de 1877

Habsburg - 16 de maio de 1877
Halley - 30 de janeiro de 1877
Hamburg - 1º de junho de 1882
Harald - 1º de março de 1878
Henri IV - 03 de junho de 1876
Henri IV - 13 de janeiro de 1877
Henri IV - 03 de maio de 1877
Henri IV - 13 de dezembro 1877
Hespanha - 06 de dezembro de 1891
Hevelius - 14 de outubro de 1876
Hevelius - 14 de janeiro de 1877
Hevelius - 16 de julho de 1877
Hohenzoller - 18 de agosto de 1876
Hollandia - 04 de agosto de 1911
Hypparchus – 08 de maio de 1877

Iberia - 21 de julho de 1876
Iberia - 22 de julho de 1877
Illimani - 18 de março de 1877
Inhauma - 12 de setembro de 1876
Isabella - 25 de janeiro de 1877
Isabella - 28 de janeiro de 1877

John Elder - 10 de novembro de 1876

Kepler - 28 de agosto de 1876
Kepler - 27 de março de 1877
Kromprinz Friedrich Wilhelm - 15 de abril de 1877
Kromprinz - 23 de setembro de 1888

La France - 26 de julho de 1876
La France - 06 de outubro de 1876
La France - 25 de outubro de 1876
La France - 27 de julho de 1877
La France - 25 de outubro de 1877
La France - 1º de fevereiro de 1882
La France - 29 de abril de 1882
La France - 11 de maio de 1882
La France - 05 de agosto de 1882
La Place - 26 de maio de 1876
La Place - 26 de setembro de 1876
Lavarello - 15 de julho de 1887
Liguria - 06 de agosto de 1876
Liguria - 26 de outubro de 1876
Liverpool - 22 de março de 1892

Marta - 09 de setembro de 1888
Marta - 15 de setembro de 1888
Mendoza - 10 de setembro de 1876
Mendoza - 1º de outubro de 1876
Minho - 07 de abril de 1876
Minho - 07 de outubro de 1876
Minho - 08 de abril de 1877
Mondego - 07 de junho de 1876
Mondego - 15 de agosto de 1876
Mondego - 07 de março de 1877
Montevideo - 28 de março de 1877

N. America - 08 de agosto de 1892
Napoli - 27 de outubro de 1892
Neva - 21 de fevereiro de 1877
Neva - 19 de fevereiro de 1884
Niger - 15 de junho de 1876
Niger - 24 de agosto de 1876
Niger - 13 de março de 1877

Orenoque - 15 de julho de 1876
Orenoque - 24 de setembro de 1876
Orenoque - 15 de outubro de 1876
Orenoque - 14 de abril de 1877
Orioni - 06 de junho de 1892

Pampa - 07 de agosto de 1882
Panton - 07 de julho de 1882
Parana - 12 de outubro de 1876
Parana - 31 de outubro de 1876
Parana - 11 de janeiro de 1877
Parana - 02 de fevereiro de 1877
Parana - 30 de abril de 1877
Parana - 26 de maio de 1886
Pernambuco - 18 de setembro de 1876
Perseo - 21 de agosto de 1885
Perseo - 21 de abril de 1886
Planeta - 23 de dezembro de 1895
Poitou - 05 de agosto de 1876
Poitou - 26 de agosto de 1876
Portenã - 10 de maio de 1876
Portenã - 06 de junho de 1876
Portenã - 08 de setembro de 1876
Portenã - 02 de outubro de 1876
Potosi - 17 de setembro de 1876
Presidente - 02 de abril de 1877
Provence - 28 de agosto de 1890

Reggio d'Italia - 1º de agosto de 1911
Re Umberto - 16 de agosto de 1882
Re Umberto - 04 de agosto de 1911
Rhenania - 26 de setembro de 1876
Rio de Janeiro - 20 de setembro de 1876
Rio de Janeiro - 20 de outubro de 1876
Rio de Janeiro - 28 de janeiro de 1877
Rio de Janeiro - 28 de fevereiro de 1878
Rio de Janeiro - 28 de agosto de 1890
Rio Grande - 22 de janeiro de 1877
Rio Plata - 24 de junho de 1882
Rio Plata - 25 de junho de 1882
Rio Plata - 29 de junho de 1882
Rivadavia - 30 de março de 1877
Roma - 18 de fevereiro de 1886

San Gottardo - 25 de dezembro de 1891
San Gottardo - 06 de janeiro de 1892
San Martin - 12 de março de 1877
San Martin - 06 de julho de 1888
San Martin - 10 de julho de 1888
San Martin - 13 de julho de 1888
San Martin - 19 de julho de 1888
San Martin - 21 de julho de 1888
San Martin - 25 de julho de 1888
San Martin - 03 de agosto de 1888
Savoie - 06 de setembro de 1876
Savoie - 26 de setembro de 1876
Senegal - 09 de novembro de 1876
Senegal - 09 de fevereiro de 1877
Senegal - 1º de março de 1877
Senegal - 09 de maio de 1877
Sirio - 18 de maio de 1886
S. José - 26 de maio de 1882
Sorata - 23 de julho de 1876
Sud America - 06 de março1877

Tagus - 22 de abril de 1877
Tagus - 21 de julho de 1877
Teniers - 20 de outubro de 1876
Thames - 28 de dezembro de 1896
Toscana - 29 de julho de 1911
Transporte Madeira - 10 de fevereiro de 1877
Tycho Brahe - 26 de fevereiro de 1878

Valparadiso - 28 de agosto de 1876
Valparadiso - 31 de agosto de 1876
Valparaiso - 15 de abril de 1877
Vicenzo Florio - 25 de setembro de 1891
Victoria - 15 de junho de 1888
Ville de Bahia - 29 de junho de 1876
Ville de Santos - 15 de junho de 1875
Ville de Santos - 30 de setembro de 1876
Ville de Santos - 30 de março de 1877
Ville de Santos - 09 de abril de 1877
Ville de Santos - 31 de julho de 1877
Ville de Santos - 28 de fevereiro de 1878
Visconde de Inhauma - 12 de setembro de 1876

Washington - 09 de abril de 1886
Werneck - 03 de outubro de 1876
Weser - 26 de outubro de 1888




Datas de Chegada que Não consta o nome do vapor


13 de janeiro de 1882 - São Paulo
31 de janeiro de 1884 - São Paulo
10 de fevereiro de 1884 - São Paulo
02 de março de 1884 - São Paulo
04 de março de 1884 - São Paulo
06 de março de 1884 - São Paulo
18 de abril de 1886 - São Paulo
20 de abril de 1886 - São Paulo
26 de abril de 1886 - São Paulo
1º de maio de 1886 - São Paulo
16 de maio de 1886 - São Paulo
Anterior 1940 - Espírito Santo
Anterior 1941 - Espírito Santo
Anterior 1942 - Espírito Santo
Anterior 1943 - Espírito Santo
Anterior 1944 - Espírito Santo
Anterior 1945 - Espírito Santo
Anterior 1946 - Espírito Santo
Após 1963 - Espírito Santo






domingo, 24 de janeiro de 2021

A Criação da Língua Italiana e o Surgimento do Talian

Dante Alighieri


Por ocasião da formação do Reino da Itália, o dialeto falado nas diversas partes do território que mais tarde veio se chamar Itália, era a língua usada por todos: o rei, os burgueses, os aristocráticos e principalmente pelo povo comum. No novo reino a língua que usava era somente os diversos dialetos regionais, com suas centenas de variantes. Quando foi proclamada a unidade italiana no ano de 1861, aqueles que conheciam a língua italiana, a língua usada por Dante em suas obras literárias, era a grande minoria da população do reino, aproximadamente 600.000 falantes, em um universo de 25 milhões de habitantes. Uma parte da população usava ainda o latim, os demais usavam uma língua a base do dialeto toscano, que era uma espécie de língua mercantil e de viajantes. Nos atos públicos usavam ainda o dialeto. A língua italiana era  mais usada pelos escritores e poetas. 

Após a unificação italiana também chegou a escola pública e com ela a língua italiana, a qual ainda custou muito tempo para ser usada pelo povo. Este povo a considerava uma língua estrangeira, pois, combatia os dialetos de antiga tradição, uma língua trazida e imposta a força pelos novos patrões. Esta língua usada nas academias, nos tribunais, no parlamento era incompreensível para o grande público, o que contribuiu para isolar os mais cultos do comum homem de rua. 

A Itália ainda não existia de fato, mas, já tinha uma língua oficial. Na verdade quem conseguiu unir os italianos não foram os governantes, a religião, a história ou a força e sim a literatura que já estava presente nas grandes obras de Dante, Boccacio, Machiavelli, Petrarca e mais alguns outros. 


Colônia Caxias no século XIX


Quando à partir de 1875 as primeiras levas de emigrantes italianos partiram para a América, e os Vênetos foram os primeiros a sair, a grande maioria deles compreendia o idioma italiano, mas, muito poucos foram aqueles que falavam. Os que vieram para o Rio Grande do Sul foram assentados nas colônias, localizadas no meio da mata, longe das cidades e sem estradas para  locomoção. Este longo isolamento forçado fez com que eles ficassem por muitos anos por fora do que acontecia no mundo. Sabiam muito pouco do que estava acontecendo no próprio Brasil. As únicas informações que recebiam da Itália era através das poucas cartas trazidas pelos imigrantes que ainda  vinham chegavam. 


Caxias em 1880


No Rio Grande do Sul chegaram mais de 80.000 imigrantes, sendo a maioria formada por vênetos e lombardos e o restante eram os chamados tiroleses, trentinos e friulani. Os provenientes da Emilia Romagna, Liguria, Piemonte e Toscana eram muitos poucos. A língua italiana era usada muito raramente e somente em poucas ocasiões, predominava o dialeto que cada família tinha aprendido e trazido com eles. Com os casamentos que foram acontecendo entre italianos das diversas regiões, um problema surgia para o entendimento na mesma família. Assim, com os vênetos que constituíam a grande maioria, foi surgindo uma nova linguagem dialetal misto, que tinha por base a antiga língua de Veneza, acrescida de palavras dos dialetos da outras regiões. Nascia assim uma linguagem nova que assimilava palavras de todos os grupos de emigrantes que viviam próximos, sempre com o predomínio dos dialetos vênetos falados pela maioria do imigrantes. A essa nova língua foi posteriormente dado o nome de talian, o vêneto sul rio grandense. Esta nova linguagem somente se consolidou por volta do ano de 1925, quando em um jornal da Colônia Caxias, o Stafetta Riograndense, passou a publicar semanalmente e suas páginas a história, escrita em talian, do personagem Nanetto Pipetta, nassùo in Italia e vignudo in Mèrica par catar la cucagna. A partir de então o talian se consolidou e se transformou em uma verdadeira língua, escrita e falada ainda hoje pela maior parte dos descendentes de italianos do sul do Brasil. Essa língua adquiriu status próprio e em vários municípios gaúchos, berços da imigração italiana no estado, foi declarada como a segunda língua oficial da cidade. 



sábado, 23 de janeiro de 2021

A Migração a Pé



Com uma caixa de madeira nas costas, como uma grande e pesada mochila, sustentada por duas tiras de couro, os chamados maiolini partiam a pé levando no seu interior diversas estampas coloridas representando santos, imagens sacras e cartas de baralho. Eram vendedores ambulantes itinerantes que chegavam a percorrer trajetos muito longos, ficando fora de casa durante muitos meses e até anos. Vendiam as gravuras produzidas pela estamparia Remondini de Bassano, empresa famosa em toda a região, reconhecida até em lugares distantes, pela qualidade do material editado, e naqueles tempos era considerada uma das melhores do mundo nesse setor. 

Já no século XVIII e no XIX, devido as precárias condições de vida que enfrentavam, milhares de pequenos agricultores e lenhadores deixaram seus trabalhos para se tornarem vendedores ambulantes de estampas da Remondini, percorrendo vales e cidades, batendo de porta em porta por toda a Itália e nos territórios do Império Austríaco, França, Suiça, Inglaterra, Alemanha, Polônia, Dinamarca, Rússia, chegando até a cidade de São Petersburgo. 

O trabalho  desses vendedores era muito duro e perigoso, vivendo em situações precárias, sempre longe das suas casas e da família. Alguns deles não retornariam mais, outros roubados por delinquentes. Alguns deles ao conhecerem novas terras acabaram por se fixar definitivamente, abrindo algum tipo de comércio. Ainda hoje podem ser encontrados seus descendentes em várias regiões da Itália  com na Lombardia, Vêneto, Emilia Romagna e no Alto Adige. No entanto, para a maioria deles todo esse esforço despendido nem sempre trazia a compensação financeira esperada, pois, somente alguns conseguiam algum lucro palpável no seu retorno à casa. Esses pequenos comerciantes ambulantes, com a grande caixa sobre os ombros, certamente, se constituíram nos precursores da grande emigração vêneta que já se desenhava e surgiria com força no século seguinte. 

Passaram-se alguns anos e na região da Valsugana  surgiram algumas fábricas de artigos de vidro e esses vendedores ambulantes passaram também a revender  jarras, garrafas, copos e outros objetos de vidro para uso caseiro. 

Profundas transformações ocorreram no século XIX, em todos os países da Europa, que deram lugar a construção de grandes obras públicas: estradas, pontes, galerias e ferrovias, atraiam cada vez mais centenas de milhares de trabalhadores, que se deslocavam entre os países, em busca de trabalho. Esse início da emigração italiana atingiu em cheio a região de Bassano e as zonas montanhosas de Belluno e nessas grandes obras, nos países vizinhos, encontraram o trabalho necessário para melhorar as precárias condições de vida a que estavam sujeitos, saindo das suas humildes casas para encontrar a Europa. Entretanto, todo esse movimento migratório foi precedido em mais de 200 anos pelos pequenos comerciantes ambulantes, os quais, a pé e com uma pesada caixa de madeira nas costas, percorriam enormes distâncias para sobreviverem.


Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS


A Complexa Eleição de um Doge

Doge Leonardo Loredan 1501 - 1505

 

Como acontece em todos os governos do mundo, entorno do cargo de doge, se moviam  não só interesses familiares, econômicos e de poder, mas, também abusos e rivalidades mal disfarçadas. 


Doge Andrea Gritti 1455 - 1538


Nos primeiros séculos da história veneziana, alguns doges tentaram tornar o seu poder absoluto e hereditário. Em 1268 para por fim a esse tipo de ideia foi introduzida a promessa ducal, uma espécie de contrato que o doge firmava com o Maior Conselho, que era o verdadeiro centro do poder do estado veneziano, que limitava os seus poderes e um novo mecanismo eleitoral a ser usado para a escolha do futuro doge. Este complicado sistema de eleição foi mantido até a queda da república em 1797, com a invasão das tropas napoleônicas. 

A demorada eleição se desenvolvia em diversas fases: primeiro o conselheiro mais jovem devia sair do palácio ducal e descer até a Basílica de San Marco, pegar pela mão o primeiro menino que encontrasse e levá-lo para o palácio. Era o denominado balotin, o encarregado de extrair as esferas da votação de uma urna. Todos os eleitores deviam obviamente fazer parte do Maior Conselho e deveriam ter completado a idade de trinta anos. No dia escolhido para a eleição do novo doge, todos os que tinham o direito de votar, se reuniam na Sala do Maior Conselho. Ali, em uma urna, estavam as esferas, em número exato ao total dos membros votantes. Em trinta destas esferas estava escrito "elector". 

O menino (balotin) extraia uma esfera por vez e a consignava sucessivamente a um dos votantes. Os conselheiros que tinham recebido a esfera com a palavra elector se reuniam e sorteavam nove nomes entre eles. Estes nove se reuniam e escolhiam outros quarenta conselheiros - os primeiros quatro dos nove tinham o direito de escolher cinco nomes e os cinco deles restantes podiam propor quatro nomes cada um. Todos esses quarenta conselheiros que tinham sido escolhidos faziam uma nova extração entre eles e designavam doze representantes, os quais por sua vez elegiam outros vinte e cinco conselheiros, estes por sua vez deveriam escolher, através de novo sorteio, nove nomes entre eles. Estes nove deveriam escolher outros quarenta e cinco conselheiros, os quais por sua vez deviam escolher onze nomes. Estes últimos onze conselheiros deveriam eleger quarenta e um "grandes eleitores" os quais elegeriam o novo doge. 

Era eleito doge aquele que conseguisse o maior número de preferências, com o mínimo de vinte e cinco votos. 




Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS

sexta-feira, 22 de janeiro de 2021

A Odisséia da Emigração Italiana



“Às duas horas da manhã do dia 6 de setembro, no porão 2, nos braços de seus pais, uma menina de 7 anos morreu, e logo foi jogada ao mar. Às 9 horas, uma menina de 11 meses deixou de viver; esta tinha sido internada no hospital e, assim que morreu, foi jogada ao mar, o médico e os passageiros presentes. Esta é uma das passagens mais dramáticas do livro A Odisséia do Steamer Remo, um livro de memórias escrito por um passageiro em fevereiro de 1894, poucos meses após o fim da viagem que custou a vida de 96 emigrantes italianos, de cólera, tifo e difteria. O volume é pouco conhecido pela historiografia e praticamente desconhecido do grande público, com exceção de um parágrafo do livro Odissee do jornalista Gian Antonio Stella; no entanto, seria muito útil republicá-lo e torná-lo conhecido, para fornecer novos instrumentos de reflexão a um debate público que, sobre essas questões, atingiu picos de rara ignorância sobre quais são os fundamentos da identidade italiana, forjada não pouco nas tragédias da emigração. , com sua carga de exploração, falsas promessas, violência e retrocessos aos portos. 

O navio a vapor Remo zarpou de Gênova em 15 de agosto de 1893, dois dias antes de outra tragédia da emigração italiana, o massacre de Aigues Mortes, quando 500 franceses irados massacraram trabalhadores italianos acusados ​​de roubarem seu pão. Muitos dos passageiros do navio vieram da planície inferior de Modena, que foi duramente atingida pela crise agrária do final do século XIX. Só no ano de 1888, 415 pessoas emigraram do Município de Cavezzo (de uma população de 4.876 habitantes). Uma investigação realizada no ano seguinte no município de Mirandola explicava as razões deste enorme êxodo, “até então desconhecido numa terra que sempre deu aos seus habitantes um sustento”. As principais causas desta fuga de braços foram «a miséria e a falta de trabalho para os diaristas e operários. A maior parte dos camponeses do nosso campo, repleto de numerosas famílias - lê-se no relatório -, são dormitórios e carecem de um trabalho diário seguro e lucrativo para si e para a sua família. "Nossos trabalhadores preferem emigrar na incerteza de uma renda segura, convencidos de que não encontrarão miséria maior do que a que têm em casa ”. “No ano passado - o jornal mensal local, escreveu o Indicador Mirandolês em 1889 - famílias inteiras de nossos camareiras colonos com seus parcos utensílios domésticos partiram para Gênova para embarcar lá para as longínquas praias do Brasil e do Prata. Portanto, nós também fomos testemunhas oculares deste deplorável flagelo da emigração, que já há muito tempo aflige muitas outras partes da Itália. Essa praga está crescendo cada vez mais a cada dia e ameaça assumir formas contagiosas. O êxodo desconsolado dessa população rural - concluiu amargamente o escritor - entre os quais vimos velhos decadentes, mulheres grávidas, crianças chorando de frio e de fome que, perdidas, fugiam de sua pátria ingrata e rumaram para o exterior em busca de destinos melhores, sem garantia certa, formando o mais desolador dos espetáculos, que deve também dar a pensar a todos aqueles que se preocupam seriamente com os interesses nacionais ”. 

Hospedaria da Ilha das Flores

Se a miséria era a causa das partidas, os agentes da emigração, que com seus discursos, folhetos e livrinhos tranquilizavam sobre as condições da viagem e exageravam as oportunidades oferecidas pelos países de chegada  tirando  as dúvidas e muitas vezes escondendo a verdades bem claras para aqueles que organizavam esse tráfico de homens; em primeiro lugar, que a viagem muitas vezes se revelava a própria e verdadeira odisseia, depois os frequentes casos de engano, ilícito e abusos de poder contra quem havia decidido mudar de vida deixando o seu torrão natal. No início dos anos noventa do século XIX, existiam dois agentes que operavam na zona entorno a Mirandola. O primeiro foi o Capitão Celso Ceretti, conhecido garibaldiano e anarquista, representante da Companhia Geral de Navegação, que segundo o Indicador Mirandolês estava fazendo "excelentes negócios". O segundo foi o tipógrafo e editor Candido Grilli, agente da Companhia de Navegação La Veloce de Gênova, que ao contrário tinha "pouco sucesso". 

“Do nosso município - lê-se na edição de agosto de 1891 - mais de 300 pessoas já partiram este ano com a Sociedade de Navegação Geral com as viagens e alimentação pagas até o Brasil. Muitos outros estão se preparando para a partir, a qual  acontecerá assim que concluída a colheita no campo". 

Um desses emigrantes foi Cesare Malavasi, natural de Cavezzano, autor do livro impresso pelo agente e editor Grilli. Chegando com a mulher ao porto de Gênova, Malavasi teve que "dar uma boa gorjeta" para os carregadores embarcarem a bagagem, que ultrapassava o peso permitido. A maioria dos emigrantes esperava a partida num grande salão, sentados ou deitados no chão: «Uns comiam, outros dormiam. Vi mulheres que, cansadas dos sofrimentos e da insônia das noites anteriores, dormiam numa espécie de sono letárgico; e crianças pequenas que, sem o seu conhecimento, sugavam o leite do peito. Havia choros, gritos, gemidos e palavrões em mil disfarces, causados ​​por diferentes motivos. Fiquei maravilhado com aquela visão, com aquele espetáculo e, se bem me lembro, nunca havia sentido essa emoção em toda a minha vida ”. 

No dia 15 de agosto, às 3h30 da tarde, os 900 passageiros embarcaram, depois que uma comissão de saúde "examinou, fez a vacina de varíola nas crianças e examinou os outros emigrantes em geral". O navio tinha uma tonelagem de 2.964 toneladas, tinha 100 metros de comprimento e 12 de largura e foi construído em 1891 no estaleiro Ansaldo, em Sestri Ponente, com o nome de Michele Lazzaroni, por encomenda da empresa Mazzino de Gênova. Ele tinha 60 lugares na primeira classe e 900 na terceira classe. Em 1892, o mesmo proprietário o rebatizou como Remo.  

Os que estavam partindo conheciam superficialmente os detalhes da travessia, mas, neste caso, os viajantes foram deixados propositalmente no escuro sobre um detalhe decisivo, isto é, que o primeiro destino era Nápoles, onde grassava uma epidemia de cólera. Os temores de alguns passageiros mais bem informados foram até desmentidos, sem o mínimo pudor, por um agente de emigração.

O navio ancorou às 4,10 da tarde e pouco antes da meia-noite de 16 de agosto embocou no porto de Nápoles, onde entrou no dia seguinte. Outros 700 passageiros e uma grande quantidade de mercadorias foram embarcados, incluindo 400 barris de vinho. Os novos emigrantes eram vistos com desconfiança, pois além de reduzirem espaço e alimentação, aumentavam o risco de doenças. 

Na noite de 17 de agosto, o navio partiu. Depois de cruzar o estreito de Gibraltar, em 21 de agosto, o navio enfrentou as ondas "furiosas e violentas" do oceano. «Quando apareceram no convés, quase todos ficaram mareados; gemidos foram ouvidos, contorções e esforços causados ​​pela forte ânsia de vômito, de ficar horrorizado. O café foi distribuído, mas quase ninguém - escreve Malavasi - conseguiu tirar proveito dele, e o mesmo vale para todas as outras comidas servidas naquele dia”. Após a parada em Nápoles, a comida servida começou a diminuir e a piorar, em meio a protestos dos passageiros. A partir de 24 de agosto, “eclodiram discussões e lutas pela ocupação dos postos”. Uma delas envolvia Rosalia Biscuola, uma concidadã de Malavasi. Subindo ao convés para ocupar o lugar dos dias anteriores, encontrou-o ocupado «por uma mulher do sul; ela implorou que se retirasse, mas a mesma se recusou. La Biscuola colocou as suas roupas, mas a sulista por três vezes refutou-as com insistência. A minha ousada compatriota zangou-se, atirou-se sobre a adversária e deu-lhe uma forte série de socos. Se a sulista não tivesse carregando uma criança nos braços, que servia de escudo, ela teria levado mais. Outros sulistas ao mesmo tempo ajudaram a colega, e a essa altura a ousada cavezzese já teria levado a pior. Mas a sorte quis que, naquele momento, eles também não tivessem a intenção de brigar por aquele motivo, de modo que o incidente passou despercebido ". 

A partir de uma pesquisa no Arquivo Histórico Municipal de Cavezzo, verifica-se que em junho de 1893 o marido da fogosa Rosália, Teodorico Lugli, 42, agricultor, havia pedido passaporte para viajar ao exterior com seu sobrinho Ildegardo Lugli para São Paulo, com "certeza de emprego". Tendo conseguido um emprego lucrativo, Tedorico pediu a Rosália (casada em segundo casamento) e sua filha, Ernesta Lugli, que se juntassem a ele. No arquivo histórico municipal encontram-se muitos outros pedidos de passaporte da época, entre os quais o de Brunechilde Minelli, embarcado no vapor Remo com as filhas Maria e Ida (ou Iva).

A viagem continuou em meio a graves inconvenientes, maus-tratos, perseguições por parte dos oficiais do navio e brigas furiosas. Quatro toscanos que estavam tentando persuadir outros emigrantes a não comparecerem para a receber a ração foram amarrados a grandes correntes da âncora em uma prisão sob a proa.

A comida era ruim. No dia 2 de setembro, pela manhã, foi servido um café "muito parecido com água quente". Às 11 horas, a distribuição de «pequenos macarrões indevidamente chamado, de "in brodo"; e para prato principal, um pouco de carne cortada em pedaços muito pequenos. A outra ração consistia em um pouco de arroz, muito comprido e que não serve para nada, e carne salgada cozida, acompanhada de lentilha”. Outras vezes serviam grão-de-bico, batata, atum e salada, "baccalà in umido"e outras imundícies, que eram não só de mau gosto, como também faziam muito mal à saúde de todos, produzindo diarréia, disenteria, com dores na maioria de passageiros com dores tais de fazer você rastejar".

Com a aproximação da "terra prometida", uma grande agitação se espalhou pelo Remo. Todo mundo estava falando sobre a América, agora apenas alguns dias de distância. Alguns estavam começando a pensar que os sonhos de riqueza - ou pelo menos de progresso tangível na própria condição humilde - estavam para se tornar realidade; outros se limitaram a planejar a viagem de Santos, porto de desembarque, à São Paulo, destino final de muitos emigrantes. Para economizar tempo, alguns chegaram a pensar em pagar do seu próprio bolso por esta última etapa da viagem, ao invés de aproveitar o transporte gratuito oferecido pelas agências de viagens. O clima de grande euforia foi abruptamente interrompido no dia 6 de setembro, com a notícia (que mencionei no início) da morte de duas meninas, atiradas ao mar na presença de seus parentes desesperados. Mas para a carga humana do navio a vapor Remo foi apenas o começo.

“Chove muito, o frio é forte, é um desconforto geral, principalmente para mulheres e crianças. Ao anoitecer, o médico foi chamado para visitar um passageiro de Catanzaro gravemente doente no primeiro porão, andar inferior. Quando o médico veio, após um exame minucioso, disse que era indigestão de água. Estou muito convencido de que aquele seguidor de Esculápio havia entendido bem que era cólera quase fulminante, mas ele tinha um bom motivo, se não queria colocar a apreensão a bordo! Ele ordenou que fossem preparados conhaque, marsala e caldo para o paciente, e antes das 20h foi transportado para o hospital"..

Na manhã do dia 7 de setembro, foi avistado o farol de Cabo Frio, no Brasil. A navegação continuou, no sentido sudoeste, em direção ao Rio de Janeiro e Ilha Grande. Quando o navio estava a apenas 70 milhas de distância, dois sulistas adoeceram "de cólera, de modo que todos os outros foram dispensados ​​do hospital, do qual ninguém estava gravemente enfermo, com exceção do passageiro de Catanzaro, que deixou de viver às 2 da tarde". Ao anoitecer o navio parou na Ilha Grande, aguardando o exame médico. No dia seguinte, uma comissão de saúde chegou com um pequeno navio a vapor, ordenou ao comandante do Remo que voltasse 20 milhas, para lançar o corpo do  passageiro de Catanzaro ao mar antes de retornar ao porto. Aqui o pequeno navio a vapor esperava por outros procedimentos  sob a ameaça dos canhões de um encouraçado brasileiro. Na noite entre 8 e 9 de setembro, um homem e uma mulher foram hospitalizados com sinais claros de cólera. Então, pela manhã, veio a notícia que lançou a todos no mais profundo desespero. O governo brasileiro decidiu rejeitar os emigrantes italianos em bloco. 

Não foi o primeiro navio a sofrer este destino e também não foi o último. Muitos navios italianos tiveram negada a possibilidade de atracar. Também por isso, muitos outros italianos morreram durante as travessias da esperança. Por exemplo, foram centenas de mortes por cólera entre os 1.333 passageiros do Matteo Bruzzo, rejeitado com tiros de canhão pelas autoridades uruguaias e forçado, como o Remo, a acabar com a epidemia vagando pelos mares e jogando os cadáveres no oceano. Os casos de acidentes com esses vapores eram tão frequentes que o termo "navios da morte" passou a ser usado para defini-los. O navio a vapor Carlo Raggio, colocado em quarentena na baía da Ilha Grande junto com o Remo, teve 211 mortes por uma epidemia de cólera e sarampo. Neste mesmo navio, outros passageiros já haviam morrido de fome seis anos antes.

No Remo, na noite entre 9 e 10 de setembro, "um calabres  que se encontrava no convés, teve uma congestão cerebral, caiu da sala que ficava na primeira espera. Ao se levantar três ou quatro vezes, ele caiu outras vezes, batendo com tanta força no chão de ferro que parecia impossível não quebrar seu crânio. Chamado com urgência o chefe do porão, apelou aos conterrâneos do desafortunado, que, embora com relutância, esbanjaram-lhe os cuidados indicados para tal acontecimento”. 

Durante a noite também faleceu o filho de um certo Primo Luppi de San Prospero (Modena). "De manhã, no rosto de cada um podia ler-se dor e tristeza; muitos tinham o rosto molhado de lágrimas: mas era preciso resignar-se ao destino adverso ", comentou Malavasi.

O navio foi abastecido com água e comida, incluindo 13 bois, farinha, galinhas e macarrão. Em 12 de setembro, morreu um piemontês que tinha mulher e dois filhos a bordo, e um sulista, de cerca de 60 anos e um filho, no terceiro porão. Então o filho de um certo Angelo Bosi de Disvetro, uma fração do município de Cavezzo, estava em estado grave. Antes da noite, Clementina Meschiari, também da fração Disvetro, também adoeceu com uma forte febre. "Consultada pelo médico, foi-lhe receitado um determinado medicamento que desta vez restaurou a sua saúde." 

"Antes do anoitecer apareceu um pequeno barco a vapor rebocando uma lancha, trazendo medicamentos e a notícia de que as provisões solicitadas chegariam no dia seguinte". Às 8 da noite, o encouraçado de guerra levantou as âncoras e deixou apenas a tripulação do Remo.

Na manhã de 13 de setembro, uma certa Filomena Garuti, esposa de Angelo Bosi, foi levada ao hospital "por vômitos, diarréia e câimbras.  Na mesma hora, o vapor Andrea Doria, que chegou aqui ontem, passou perto de nós e foi dar sepultamento para os cadáveres que ele tinha a bordo; o conhecido barco a vapor que nos trouxe a completação da água também chegou... Uma vêneta às 16 horas  pediu ao médico para ele consultar o marido hospitalizado; ele a princípio se opôs, depois a alertou sobre a morte da esposa de seu amante. Nessa época, uma certa Mazza Cleonice de Cavezzo adoeceu, com disenteria e vômitos, e foi consultada pelo médico. Ao cair da noite, soube-se que Garuti Filomena tinha piorado e que Mazza tinha sido estado hospitalizado ”.

Malavasi também nos deixou uma amostra interessante do estado de espírito dos passageiros: “Vi homens e mulheres decididos a ler e meditar sobre as coisas sagradas; Vi outros que se ocupavam com leituras profanas e até obscenas; mulheres que rezaram o rosário durante a maior parte do dia, e outras que investiram contra seus filhos e maridos, lançando contra eles as mais torpes vilanias; maridos que amaldiçoavam seus filhos e esposas vomitando as mais atrozes blasfêmias. Finalmente, ouvi a viúva do piemontês [...] articular as orações fúnebres aos seus dois ternos filhos e ao pai falecido. Uma variedade semelhante de coisas e fatos me comoveu profundamente"

Na noite de 13 de setembro, o Remo zarpou para a Itália. Na manhã seguinte “para alguns foi dada a permissão de abrir o baú e tirar peças de roupa, porque as roupas usadas pela maioria não só estavam imundas, mas também infestadas de insetos asquerosos. Não faltaram mortes [...]. Estamos nas hora antes do meio dia  de 15 de setembro e uma charmosa menina de 7 anos morre de cólera; no terceiro porão, outro morreu e uma mulher estava gravemente doente. Em uma tarde Mazza Cleonice deixou de viver: no hospital estavam doentes e mortos. Agora o tifo e a difteria se associaram ao cólera e todos com verdadeiro heroísmo aguardam a vez de morrer, pois acreditavam que é moralmente impossível que pessoas maltratadas, esgotadas das finanças, sofram pela perda, algumas do pai, outras do marido, que da esposa, alguma do irmão, ou do amigo, pode ter força suficiente para sobreviver a tantas calamidades”. Nos dias seguintes a situação não melhorou: 

Muitos são os que adoecem no dia 16 de setembro e, consequentemente, são hospitalizados, e a bordo corre-se o boato de que seis tinha ido servir alimento para os peixes. A uma hora da tarde se soube pelo Comissário que tanto Garuti Filomena como o seu filho tinham pagado a inefável homenagem à natureza. Agata Tozzini também deixou de viver pelo cólera, apesar do fato de seu marido Pietro Naldini, de Calci (Pisa), com excepcional favor, ter descido ao hospital, era talentoso, a esbanjar todas as curas, durante o transcurso da doença. Havia muitas crianças doentes na terceira e quarta estiva na manhã de 17 de setembro, e às 10 horas se adoentava novamente Meschiari Clementina, que tinha a bordo seu marido Pivetti Primo e um filho de apenas cinco meses. O marido com muita dor foi ao médico, e somente à 1 hora da tarde ele conseguiu permissão para encontrá-lo. A Meschiari tinha disenteria, dores intestinais, perda de apetite, aperto no estômago e teve uma crise de febre. [...] O relógio de bordo marcava 17 horas quando se agravou o quadro clínico de Meschiari, somando-se também vômitos e câimbras, pelos quais ela teve que ser hospitalizada. Antes de se retirar, seu marido Pivetti, por ordem do médico, trouxe o bebê Tonino ao hospital para que sua mãe pudesse amamentá-lo, mas logo em seguida ordenou que o retirasse e o levasse para seu beliche". 

Em 23 de setembro também faleceu Clementina Meschiari. Ao marido, "imerso em dores, restou a tarefa de prosseguir, tanto de dia como de noite, com todos os cuidados necessários ao filho pequeno Tonino, que, por falta de leite, estava extremamente enfraquecido"

Nos últimos dias de setembro, quando o navio se preparava para entrar no Mediterrâneo, a epidemia começou a diminuir de intensidade, mas os mortos já se somavam 76. No dia 29 de setembro o navio fez escala em Tenerife, depois partiu para Asinara, onde os passageiros seriam colocados em quarentena. Naqueles dias também morreu a pequena Iva Flandoli, que partiu com a mãe e a irmã para se reencontrar com o pai. O Remo chegou à ilha no nordeste da Sardenha na manhã de 6 de outubro. Seis grandes fossos, com três metros de profundidade, foram cavados em Asinara para recolher os mortos de quatro navios atingidos por epidemias (além do Remo, o Carlo Raggio, o Vincenzo Florio e o Andrea Doria). No dia 7 de outubro, foi iniciada a desinfecção do navio. Os doentes foram transportados para o hospital, enquanto os passageiros saudáveis ​​foram encaminhados para desinfecção. Às 10h30 do dia 14 de outubro, outro navio a vapor também rejeitado pelo Brasil chegou à ilha, o Vincenzo Florio, com 19 mortes e com possibilidades de aumentarem.

Após as operações de desinfecção, o navio partiu para Nápoles, após o sinal verde de uma comissão de saúde. Antes de partir, porém, alguns passageiros do sul enviaram uma carta ao prefeito napolitano denunciando os tratamentos sofridos durante a travessia. Enquanto isso, Malavasi fora nomeado, junto com outros dois passageiros, para uma comissão encarregada de apresentar ao capitão do navio as reclamações coletadas entre os passageiros. 

O navio chegou a Nápoles no dia 18 de outubro e de lá, no dia seguinte, partiu inesperadamente para Nisida. O prefeito, ao receber a carta, ordenou de fato uma investigação imediata, confiando-a à Autoridade Portuária de Nápoles. A comissão responsável interrogou vários passageiros e marinheiros. Numerosas irregularidades e árbitrios emergiram da investigação. Um certo Luigi Pedrazzi de Cavezzo, por exemplo, tinha pedido repetidas vezes ao subcomissário do navio que lhe pudesse abrir a mala para tirar roupa, obtendo sempre uma resposta negativa. Pedrazzi pediu então a sua concidadã Maria Zucchi que se apresentasse ao vice-comissário declarando por sua vez que precisava abrir um baú, contando com o fato, escreve Malavasi, “que as mulheres, especialmente se forem bonitas, muitas vezes são chaves poderosas que todos destravam". O oficial concordou, mas quando Pedrazzi também apareceu para a nomeação, o vice-comissário, "amargurado", desafiou-o "para um duelo, deixando-lhe a escolha das armas". Também descobriu-se que alguns passageiros foram maltratados e que dinheiro e alimentos foram roubados de outros. 

A comissão de inquérito realizou rapidamente os seus trabalhos e na manhã de 22 de Outubro foram levantadas as âncoras da enseada de Nisida para Nápoles, onde desembarcaram os sulistas, e depois para Gênova. Na manhã de 26 de outubro, os últimos passageiros desembarcaram no cais. Se a dramática história do Remo tivesse acabado, a miséria dos passageiros continuaria. “A maioria - concluiu Malavasi desconsolado - parecia sentir alívio e revigoramento ao narrar, sem a menor reticência, a miséria em que logo se encontrariam: sem pão, sem teto, na impossibilidade de ganhar um centavo, sem saber o que fazer para saciar a fome deles, de suas esposas e de numerosos descendentes. Não são palavras, são fatos, e fico horrorizado a cada momento que os meus pensamentos voam para esses momentos de tanta miséria, de tanto desânimo"



quinta-feira, 21 de janeiro de 2021

Passageiros Italianos do Vapor Scrivia 28.08.1884




 

  • BERTI ou BERTHI PAGANI Antonia, Cesira e Italia – HRJ 7 / 7 20 / 27 – IF 1/6 2/38 – destino São Paulo SP
  • BERTONI ou BERTONE Giuliano e Gioachino – HRJ 7 / 7 20 / 27 – IF 16 1/38 – destino Pelotas RS
  • BARACCHINI Giovanni, Teresa, Maria, Luigia, Rosalia, Gio Batta, Ferdinando, Margherita e Elisa – HRJ 7 / 7 20 / 27 – destino Porto Alegre RS
  • BERTAGNA Antonio – HRJ 7 / 7 20 / 27 – IF 1 / 6 5/ 38 – destino Araras SP
  • BISSON Camillo, Luigia, Valentino e Luigi – HRJ 7 / 7 20 / 27 – IF 1/6 3/38 – destino Araras SP
  • BEVILACQUA Giuseppe, Pierina, Angelo e Luigi – HRJ 7 / 7 20 / 27 – IF 1/2 3/38 – destino Araras SP
  • BASSI Gio Batta – HRJ 7 / 7 20 / 27 – destino SP
  • BIANCHI Giuseppe
  • BISSON Luigi Atlantico – HRJ 7 / 7 20 / 27 
  • CIANCAGLINI Silvio e MOCCHI Angela – HRJ 7 / 7 20 / 27 – IF 1/2 1/38 – destino Campinas SP
  • COLECCHIA Raimondo
  • CARTUCCI ou CATUCCI Esposito Pasquale – HRJ 7 / 7 20 / 27 – IF 1/2 1/38 – destino São Paulo SP
  • CORRADI Bortolo, Orsola e Bertolina – HRJ 7 / 7 20 / 27 – IF 1/2 1/38 – destino São Paulo SP
  • CARDESSINI Angela – HRJ 7 / 7 20 / 27 – destino São Paulo SP
  • CAPRIGLIONE ou CAPRIOLI Angelo – HRJ 7 / 7 20 / 27 – IF 1/6 1/38
  • CONTENTE Cincinato – HRJ 7 / 7 20 / 27 – IF 1/6 1/38 – destino SP
  • CIANCHERINI Adriano – HRJ 7 / 7 20 / 27 – IF 1/6 1/38 – destino Porto Alegre RS
  • CUCCARO Pasquale
  • DELL’INNOCENTE Maria – HRJ 7 / 7 20 / 27 – IF 1/6 1/38 – destino RJ
  • DRUSIAN Pietro, Luigia, Emilia, Matilde, Maria, Dalmasio, Giovanni, Carolina, Vittoria e Angela – HRJ 7 / 7 20 / 27 – IF 1 / 6 5/ 38 – destino Araras SP
  • DALLA TORRE Giuseppe – HRJ 7 / 7 21 / 27 – – IF 1 / 6 5/ 38 destino Araras SP
  • DE LUCA Nicola – HRJ 7 / 7 21 / 27 – IF 1/6 1/38 – destino SP
  • DORSI Salvatore – HRJ 7 / 7 21 / 27 – destino RS
  • ERNICA G. Pietro, Maddalena, Catterina, Amadeo e Domenico – HRJ 7/ 7 21/ 27 – IF 1/ 6 7/ 38 – destino Ribeirão Preto SP
  • FAIOTTO Luigi ou Alvise, Catterina, Augusta e Basilio – HRJ 7 / 7 21 / 27 – IF 1/6 4/38 – destino Ribeirão Preto SP
  • GHEZZI Santo e Santo – HRJ 7 / 7 21 / 27 – IF 1/6 2/38 – destino São Paulo SP
  • GEROTTO Luigi – HRJ 7 / 7 21 / 27 – destino sP 
  • GEROTTO Angelo, Maddalena, Eugenio, Valentino, Fortunato – HRJ 7 / 7 21 / 27 – IF 1/6 4/38 – destino Ribeirão Preto SP
  • GEROTTO Tancredi e Maria – HRJ 7 / 7 21 / 27 – destino São Paulo SP
  • GRANELLO Antonio, Carlotta, Giacomo, Luigia, Domenica e Maria – HRJ 7 / 7 21 / 27 – IF 1 / 6 5/ 38 – destino Araras SP
  • GALLI Carlo – HRJ 7 / 7 21 / 27 – IF 1/6 1/38 – destino RJ
  • GUIDO Antonio – HRJ 7 / 7 21 / 27 – destino RJ
  • GIRARDI Agostino, Regina, Elena e Eugenio – HRJ 7 / 7 21 / 27 – IF 1/6 3/38 – destino Ribeirão Preto SP
  • GIRARDI Davide, Angelica, Carlo, Antonia, Vittorio e Battista – HRJ 7 / 7 21 / 27 – IF 1/6 3/38 -destino Ribeirão Preto SP
  • ALBERTI Giuseppe e Adele
  • IANTORNO Francesco – HRJ 7 / 7 21 / 27 – IF 1/2 2/38 – destino RJ
  • IUDICI Nicola – HRJ 7 / 7 22 / 27 – IF 1/2 1/38 – destino BA
  • ISOLA Narciso – HRJ 7 / 7 22 / 27 – IF 1/2 1/38 – destino SP
  • LANDI Bartolomeo – IF 1/2 3/38 – destino SP
  • MARIGO Antonio – HRJ 7 / 7 22 / 27 – IF 1/2 2/38 – destino SP – destino SP
  • MARCUCCI Luigi – HRJ 7 / 7 22 / 27 – IF 1/2 1/38 – destino Campinas SP
  • MATTEI, MAFFER ou MAFFEG Costanza e Maria – HRJ 7 / 7 22 / 27 – IF 1/2 1/38 – destino Campinas SP
  • MASSAGLI ou MASSALI Giosuè – HRJ 7/7 22/27 – IF 1/2 1/38 – destino Campinas SP
  • MINELLI Giovanni – HRJ 7 / 7 22 / 27 – IF 1/2 4/38 – destino Ribeirão Preto SP
  • MAINARDI Antonio e Angela – HRJ 7 / 7 22 / 27 – IF 1/2 3/38 – destino Ribeirão Preto SP
  • MATHEL Giosuè, Giovanna, Luigi e Giuseppe – HRJ 7/ 7 22/ 27 – IF 1/ 6 7/ 38 – destino Ribeirão Preto SP
  • MARANZATO Giovanni, Anna e Leonora – HRJ 7 / 7 22 / 27 – IF 1 / 6 7/ 38 – destino Araras SP
  • MOMESSO ou MOMMESSO Pietro – HRJ 7/7 22/27 – IF 1/6 7/38 – destino Araras SP
  • MOGNO ou MAGNO Biagio, Marianna e Elisabetta – HRJ 7 / 7 22 / 27 – IF 1 / 6 6/ 38 – destino Ribeirão Preto SP
  • MONTESANO Maria e RUSSU Luigi – HRJ 7 / 7 22 / 27 – IF 1/6 1/38 – destino RJ
  • MARIAN Valentino, Giuseppa, Carlo, Oliva, Sante, Virginia, Santa e Anna Maria – HRJ 7 / 7 22 / 27 – IF 1 / 6 6/ 38 – destino Ribeirão Preto SP
  • MARIAN Marianna – HRJ 7 / 7 22 / 27 – IF 1 / 6 6/ 38
  • PALMINI Luigi e Maria – HRJ 7 / 7 22 / 27 – IF 1/6 2/38 – destino SP e SP
  • PAGNON ou PAGNAN Alessio, Teresa, Giuseppe, Vittorio e Giovanni – HRJ 7 / 7 22 / 27 – IF 1 / 6 6/ 38 – destino Araras SP e SP
  • POLESEL Luigi, Giuseppa, Ruggiero e Maria – HRJ 7 / 7 22 / 27 – IF 1 / 6 6/ 38 – destino Ribeirão Preto SP
  • PIN Giovanni – HRJ 7 / 7 22 / 27– destino Ribeirão Preto SP
  • PIN Giacomo, Teresa, Maria, Antonio, Giuseppe e Luigi – HRJ 7/7 22/27 – IF 1/6 4/38 – destino Ribeirão Preto SP
  • PERUCH Domenico, Rosa e Catterina – HRJ 7 / 7 23 / 27 – IF 1 / 6 6/ 38 – destino Ribeirão Preto SP
  • PARO Marco, Maddalena, Maria, Giovanni, Riccardo, Florindo, Eliseo, Eugenio, Amalia, Ernesto e Veneranda – HRJ 7 / 7 23 / 27 – IF 1 / 6 5/ 38 – destino Ribeirão Preto SP
  • PERUCH Maria ou Michele Maria – HRJ 7 / 7 23 / 27 – destino Ribeirão Preto SP
  • PERUCH Giuseppe – HRJ 7 / 7 23 / 27 – destino Ribeirão Preto SP
  • PENNA Luigi – HRJ 7 / 7 23 / 27 – destino RJ
  • PILUSO ou PELUSO Pietro – HRJ 7 / 7 23 / 27 – IF 1/6 2/38 – destino São Paulo SP
  • PISANI ou PISANO Giacomo – HRJ 7 / 7 23 / 27 – IF 1/6 1/38 – destino SP
  • PERASSO Berardo ou Berardino – HRJ 7 / 7 23 / 27 – IF 1/6 1/38 – destino BA
  • PUPIN Luigi e Francesco – HRJ 7 / 7 23 / 27 – IF 1/ 6 5/ 38 – destino Ribeirão Preto SP
  • PARO Giuseppe, Catterina, Pietro, Maria, Ida e Vincenzo – HRJ 7 / 7 23 / 27 – IF 1 / 6 6/ 38 – destino Ribeirão Preto SP
  • ROSSI Floriano – IF 1/6 3/38 – destino SP
  • RACCHIO Angela – HRJ 7 / 7 23 / 27 – destino SP
  • RAIMONDI Francesco Antonio – HRJ 7 / 7 23 / 27 – IF 1/6 2/38 – destino SP
  • ROMAIRONE Gustavo – IF 1/6 2/38 – destino RJ
  • SIMONINI Guglielmo – HRJ 7 / 7 23 / 27 – IF 1/6 1/38 – destino RJ
  • SARI Giovanna, Luigia e Achille – HRJ 7 / 7 23 / 27 – destino Araras SP
  • SERVIDIO ou SERVE DIO Carmela ou Carmina – HRJ 7 / 7 23 / 27 – IF 1/6 1/38 – destino SP
  • SANTELLO Sante, Luigia e Antonio – HRJ 7 / 7 23 / 27 – IF 1 / 6 7/ 38 – destino Araras SP
  • SPERANZA Giuseppe – HRJ 7 / 7 23 / 27 – destino RJ
  • TOSIN Domenico e MASIERO Teresa – HRJ 7 / 7 23 / 27 – IF 1/2 1/38 – destino Porto Alegre RS
  • TREVISAN Luigi, Angela, Sante e Costante – HRJ 7 / 7 23 / 27 – IF 1/6 4/38 – destino Araras SP
  • TREVISAN Tommaso – HRJ 7 / 7 23 / 27 – IF 1/6 4/38 – destino Araras SP
  • TALARICO ou DALL’ARICO Bruno- IF 1/6 1/38 – HRJ 7 / 7 23 / 27 – destino São Paulo SP
  • ULIANA Paolo – HRJ 7 / 7 23 / 27 – IF 1/6 2/38 – destino Laguna SC
  • VIVAN Tiziano, Augusta, Teresa, Catterina e Maria – HRJ 7 / 7 23 / 27 – – IF 1 / 6 5/ 38 – destino Araras SP
  • VITTORELLI ou VITTORATTI Antonio, Maria, Giuseppe, Adelaide, Maria e Giovanni – HRJ 7 / 7 24 / 27 – IF 1/6 4/38 – destino Ribeirão Preto SP
  • VADOLATO Maria Rosaria e Catterina – HRJ 7 / 7 24 / 27 – IF 1/6 1/38 – destino SP
  • VITTORELLI Felice, Antonia, Eurico e Gio Batta – HRJ 7 / 7 24 / 27 – destino SP
  • ZIROLDO Angelo – HRJ 7 / 7 24 / 27 – IF 1/6 3/38 – destino Ribeirão Preto SP
  • ZIROLDI Pietro – HRJ 7 / 7 24 / 27 – IF 1/6 3/38 – destino São Paulo SP
  • ZIROLDO Gio Batta e Maria Luigia – IF 1/6 3/38 – destino Ribeirão Preto SP
  • ZOZZOLOTTO Giuseppe, Annunziata e Giovanni – HRJ 7 / 7 24 / 27 – IF 1 / 6 7/ 38 – destino Ribeirão Preto SP
  • ZANIN Valentino e Luigia – HRJ 7 / 7 24 / 27 – IF 1 / 6 7/ 38 – destino Araras SP
  • HERMANN Julius – destino São Paulo SP
  • CAIMER GALLIANI GADLER POLLANO RAMONDINI ou RAIMONDINI
  • ZIROLDI Luigi, Sante, Attilio, Regina e Erminia – IF 1/6 3/38 – destino São Paulo SP
  • PERUCH Angela, Teresa e Caterina – IF 1 / 6 7/ 38 – destino Ribeirão Preto SP
  • CORRADI Santo e Angelo – IF 1/6 2/38 – destino São Paulo SP
  • NICOLINI Bortolo, Antonia, Antonio e Gioacchino – IF 1/6 2/38 – destino São Paulo SP
  • CASELLA Antonio – destino São Paulo SP
  • ARCIERO Geremia – IF 1/2 1/38 – destino RJ
  • VETTORELI Eugenia e Metilde – IF 1/2 4/38 – destino SP
  • GHEZZI BONI CAIMER GALIANI REMONDINI GADLER POLANA in

quarta-feira, 20 de janeiro de 2021

A Emigração Temporária



Os moradores da regiões alpinas, os "mestieranti", que viviam na zona de montanhas e nos profundos vales, desde tempos antigos, andavam regularmente fazer a chamada emigração temporária, partindo regularmente em determinadas estações do ano, em busca de trabalho, nos países vizinhos, como a França e o Império Austríaco, mas também muitos deles se dirigiam para outros locais da própria Italia, como as férteis planícies mais ao sul.  

No período da primavera saíam para buscar trabalho na colheita das folhas da amoreira, necessárias para a criação do bicho da seda. No verão partiam para fazer a colheita de cereais e cortar o feno, que seria armazenado para o inverno. No outono partiam para a colheita da uva. 




Junto com essa emigração de braços relacionados com trabalhos agrícolas, também existia a emigração temporária de artesãos: serradores, cortadores de lenha, fabricantes e arrumadores de cadeiras, guarda-chuvas, caldeiras, utensílios domésticos  afiadores de facas e tesouras, cortadores de árvores, pedreiros, fabricantes de carvão e tantos outros, até os mais simples como os "badilanti"e os "carriolanti" que migravam apenas com uma pá ou com o seu carrinho de mão, Também os "spazzacamini", limpadores de chaminés, que se deslocavam em zonas distantes, sendo que em alguns países vizinhos essa profissão era exercida somente por italianos. Todos eles deixavam temporariamente as suas casas para oferecerem seus trabalhos nas zonas mais ricas da própria Itália ou nos países vizinhos. 

Para as populações mais pobres do Vêneto esse tipo de  emigração temporária serviu durante muito tempo para compensar a falta crônica de recursos financeiros e mitigar a fome de muitos.




O êxodo de homens válidos era total, ficando em casa somente os velhos, mulheres e crianças. Mas, muitas vezes, partiam também elas para fazerem trabalhos domésticos nas cidades, como transportadoras de água em Veneza, empregadas domésticas e babás nas casas particulares mais ricas da Itália e dos países vizinhos. Também partiam as "balie", jovens mães que ainda amamentavam no peito os  seus próprios filhos, os quais deixavam em casa aos cuidados de familiares, para servirem, por alguns meses, de amas de leite para os filhos das famílias ricas mais bem sucedidas. As amas de leite da província de Belluno eram uma das mais requisitadas.




Nesse período as populações do Vêneto ainda não estavam preparadas para uma emigração definitiva para lugares mais distantes. Tentavam encontrar trabalho nas cidades vizinhas pois, ainda se sentiam ligados às famílias e ao "campanile". Se transferir para o Novo Mundo  ainda parecia uma solução extrema e por demais  desesperada. Por isso se limitavam a ir até a França, Áustria, Alemanha e Suiça. Ficavam longe de casa por alguns meses. Deixavam as mulheres e filhos sozinhos esperando pelo seu retorno.

Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta

Erechim RS