A Itália foi unificada muito tardiamente e precisou de um longo tempo para se consolidar como uma nação. Esta se iniciou em 1870, a somente cinco anos do início da grande emigração, quando o país se inseriu no projeto de industrialização, que já tinha sido implementado por muitos outros países europeus. O país chegava com atraso a época da industrialização e os pequenos agricultores não teriam muito espaço nesse novo contexto econômico no qual a máquina, gradualmente, foi substituindo o homem.
O sistema vigente no campo era até então o do arrendamento das terras, no qual se praticava um agricultura antiquada, ainda nos moldes do semi feudalismo, e nas comunidades rurais cada vez mais cresciam os problemas sociais e se tornavam um peso para as autoridades do país. Era uma agricultura era ainda de subsistência, onde o pequeno agricultor, que formavam a grande maioria da população italiana na época, não possuíam a propriedade das terras onde trabalhavam. Viviam em pequenas e antigas comunidades, pequenas vilas do interior e arrendavam dos grandes proprietários rurais acanhados lotes de terras já esgotadas.
Os agricultores italianos rapidamente ficaram tomaram conhecimento que no Novo Mundo a situação era totalmente diferente. No Brasil um país imenso e essencialmente agrícola, com grandes espaços desabitados, ainda cobertos por uma densa floresta nativa, devido a abolição da escravatura e do sucesso da cultura do café, estava precisando de mão-de-obra e passara a incentivar a chegada de emigrantes europeus para trabalharem nas extensas plantações dos estados de São Paulo e Espírito Santo.
O governo imperial brasileiro também estava necessitando de imigrantes agricultores para ocuparem as terras devolutas nos três estados do sul do país, grandes extensões de terras ainda improdutivas. Para tanto estava oferecendo gratuidade nas despesas de viagem para as famílias de imigrantes que quisessem se estabelecer. Para tanto já tinha iniciado um grande programa imigratório, com a criação de várias colônias, inicialmente no Rio Grande do Sul, depois nos outros dois estados Paraná e Santa Catarina.
Essas notícias se espalharam como fogo por toda a zona rural italiana e especialmente naqueles primeiros anos nas províncias do norte, especialmente, o Vêneto e a Lombardia. As notícias que o Brasil estava pagando todas as despesas de viagem até os diversos locais de trabalho, foram exaustivamente propagadas pela grande rede de agentes e sub agentes de emigração rapidamente criadas pelas companhias de navegação italianas, que não queriam perder aquela oportunidade para tirá-las da bancarrota.
Em um primeiro momento as lavouras de café absorveram a maior parte da grande leva de emigrantes italianos com destino ao Brasil. Nessas plantações eles eram assalariados ou contratados com direito a uma pequena porcentagem da colheita, mas não podiam comprar terras. Tinham uma rústica casa na grande propriedade e podiam plantar, entre as fileiras de pés de café, algumas culturas para a sua própria subsistência. Logo os imigrantes se deram conta que tinham saído de um sistema de quase escravidão na Itália, para cairem no Brasil a servir um grande proprietário sem a esperança de um dia chegarem a ser proprietários de um pedal de terra. Para os que que queriam abandonar a fazenda, eram proibidos de fazê-lo até o fim do contrato e do respectivo pagamento de todas as dívidas que haviam contraído com o patrão: alimentos, médico, remédios e outras despesas feitas pelo patrão até chegarem no Brasil.
Por outro lado, um número cada vez maior de imigrantes preferiu se transferir e se fixar nas colônias italianas do sul do Brasil, onde poderiam, desde a chegada aos seus lotes, serem os proprietários das suas terras. O acalentado sonho da propriedade e o enriquecimento rápido foram os principais atrativos para se dirigirem para os estados do sul.
No Rio Grande do Sul o governo imperial, e logo depois aquele da república brasileira e de cada província, criaram colônias nas regiões montanhosas do estado, pois, os campos já estavam ocupados com a criação intensiva de gado. O projeto imigratório foi iniciado com a criação de três núcleos colonizadores: Conde d'Eu (atual município de Garibaldi) Dona Isabel (futura cidade de Bento Gonçalves) e Caxias (atual Caxias do Sul). Logo em seguida foi criada a Colônia de Silveira Martins, conhecida como a quarta colônia italiana no Rio Grande do Sul. Com a chegada cada vez maior de imigrantes italianos o governo da província se viu obrigado de criar novas colônias, que rapidamente também ficaram lotadas: Antônio Prado, Alfredo Chaves (atual cidade de Veranópolis) e Guaporé.
Após aguardarem o período da quarentena na Ilha das Flores, no Porto do Rio de Janeiro, os colonos imigrantes eram colocados em outros navios menores, em direção a cidade de Porto Alegre onde ficavam temporariamente abrigados em grandes barracões ainda no porto de Rio Grande e Pelotas e, quando liberados para prosseguirem a viagem, seguiam a bordo de pequenos barcos a vapor navegavam pelo rio Guaíba, na Lagoa dos Patos, e depois continuavam subindo pelos rios Caí e Jacuí para desembarcarem em pequenos portos fluviais, mas, ainda muito longe dos locais onde seriam definitivamente assentados. Ainda precisavam muitos dias de difícil caminhada, subindo a serra, a pé e em carroções puxados por juntas de bois, acompanhados por agentes do governo abrindo as picadas com facões. Estavam destinados a colonizarem a região mais alta do estado e a produzirem gêneros de primeira necessidade para abastecer a crescente população da capital da província.
Na fase inicial da imigração, entre 1875 até o começo da I grande guerra mundial em 1914, foram introduzidos aproximadamente 100 mil imigrantes italianos no Rio Grande do Sul.
No Paraná inicialmente foram criadas duas colônias italianas na cidade litorânea de Morretes, cidade vizinha ao Porto de Paranaguá por onde chegavam os imigrantes provenientes da Itália. Essas colônias duraram pouco tempo devido aos problemas de administrativos, a falta de um grande centro consumidor para absorver os produtos colhidos, e também, pelo clima quente e úmido do litoral que não foi de agrado dos recém chegados. Em dois anos após a chegada os imigrantes conseguiram se transferir para novas colônias nos arredores da capital paranaense, onde o clima era excelente e as terras muito férteis. Muitas outras colônias de imigrantes italianos ou mistas, foram criadas no Paraná, e todas elas floresceram e de deram o nascimento de grandes cidades, com excessão da Colônia Cecília, na cidade de Palmeira, onde se assistiu uma tentativa falida de colonização anarquista. Em Santa Catarina também foram criadas inúmeras colônias, algumas somente de imigrantes italianos e outras mistas. A imigração de tiroleses e trentinos, predominaram nesse estado.
Pela Lei de Terras, promulgada em 1850 pelo então governo imperial brasileiro, as glebas devolutas que pertenciam ao governo, poderiam ser comercializadas. Nesse sentido que as colônias de imigração foram demarcadas em lotes de 250 metros de frente e 1000 ou 1200 metros de fundo, um verdadeiro latifúndio para aqueles pequenos agricultores acostumados, na Itália, a trabalharem em pequenos lotes de terra. Essas propriedades o imigrante podia adquirir mediante financiamento do governo, estendido em prazos de até cinco anos para o pagamento. Para se tornar proprietário a única exigência era a ocupação imediata e o consequente início da produção, gerando para eles os dividendos que seriam usados para a quitação da dívida com o governo. As densas matas foram aos poucos sendo derrubadas dando lugar à plantações de culturas variadas, onde a mão-de-obra familiar era empregada em todo o processo da produção. Enquanto que na Itália onde viviam, devido a total falta de recursos, os pequenos agricultores não tinham condições de ser os donos da terra, no Rio Grande do Sul, os imigrantes foram favorecidos pelos financiamentos a longo prazo do governo em prestações compatíveis e tornaram-se proprietários da tão sonhada terra, e isso com relativa facilidade. Para os imigrantes o descaso do governo italiano para com os pequenos produtores rurais, contrastava com o empenho das autoridades do governo federal brasileiro e das províncias do Rio Grande do Sul e Paraná para criarem toda a infraestrutura necessária para o projeto de imigração.
Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS
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