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quarta-feira, 20 de janeiro de 2021

A Emigração Temporária



Os moradores da regiões alpinas, os "mestieranti", que viviam na zona de montanhas e nos profundos vales, desde tempos antigos, andavam regularmente fazer a chamada emigração temporária, partindo regularmente em determinadas estações do ano, em busca de trabalho, nos países vizinhos, como a França e o Império Austríaco, mas também muitos deles se dirigiam para outros locais da própria Italia, como as férteis planícies mais ao sul.  

No período da primavera saíam para buscar trabalho na colheita das folhas da amoreira, necessárias para a criação do bicho da seda. No verão partiam para fazer a colheita de cereais e cortar o feno, que seria armazenado para o inverno. No outono partiam para a colheita da uva. 




Junto com essa emigração de braços relacionados com trabalhos agrícolas, também existia a emigração temporária de artesãos: serradores, cortadores de lenha, fabricantes e arrumadores de cadeiras, guarda-chuvas, caldeiras, utensílios domésticos  afiadores de facas e tesouras, cortadores de árvores, pedreiros, fabricantes de carvão e tantos outros, até os mais simples como os "badilanti"e os "carriolanti" que migravam apenas com uma pá ou com o seu carrinho de mão, Também os "spazzacamini", limpadores de chaminés, que se deslocavam em zonas distantes, sendo que em alguns países vizinhos essa profissão era exercida somente por italianos. Todos eles deixavam temporariamente as suas casas para oferecerem seus trabalhos nas zonas mais ricas da própria Itália ou nos países vizinhos. 

Para as populações mais pobres do Vêneto esse tipo de  emigração temporária serviu durante muito tempo para compensar a falta crônica de recursos financeiros e mitigar a fome de muitos.




O êxodo de homens válidos era total, ficando em casa somente os velhos, mulheres e crianças. Mas, muitas vezes, partiam também elas para fazerem trabalhos domésticos nas cidades, como transportadoras de água em Veneza, empregadas domésticas e babás nas casas particulares mais ricas da Itália e dos países vizinhos. Também partiam as "balie", jovens mães que ainda amamentavam no peito os  seus próprios filhos, os quais deixavam em casa aos cuidados de familiares, para servirem, por alguns meses, de amas de leite para os filhos das famílias ricas mais bem sucedidas. As amas de leite da província de Belluno eram uma das mais requisitadas.




Nesse período as populações do Vêneto ainda não estavam preparadas para uma emigração definitiva para lugares mais distantes. Tentavam encontrar trabalho nas cidades vizinhas pois, ainda se sentiam ligados às famílias e ao "campanile". Se transferir para o Novo Mundo  ainda parecia uma solução extrema e por demais  desesperada. Por isso se limitavam a ir até a França, Áustria, Alemanha e Suiça. Ficavam longe de casa por alguns meses. Deixavam as mulheres e filhos sozinhos esperando pelo seu retorno.

Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta

Erechim RS