Espaço destinado aos temas referentes principalmente ao Vêneto e a sua grande emigração. Iniciada no final do século XIX até a metade do século XX, este movimento durou quase cem anos e envolveu milhões de homens, mulheres e crianças que, naquele período difícil para toda a Itália, precisaram abandonar suas casas, seus familiares, seus amigos e a sua terra natal em busca de uma vida melhor em lugares desconhecidos do outro lado oceano. Contato com o autor luizcpiazzetta@gmail.com
domingo, 16 de março de 2025
La Potente Artiglieria de Venéssia
domingo, 9 de março de 2025
Veneza: A Importante Metrópole Portuária do Renascimento Europeu
terça-feira, 4 de fevereiro de 2025
O Destacado Papel de Veneza no Renascimento da Música Europeia
quarta-feira, 30 de outubro de 2024
San Marco Evangelista e Venèssia
sexta-feira, 22 de dezembro de 2023
Gatos Venezianos: Guardiões da Salvação e Testemunhas da Peste
A festividade da Madonna della Salute, celebrada em 21 de novembro em Veneza, é profundamente enraizada na história da cidade, especialmente durante a terrível epidemia de peste bubônica que assolou o norte da Itália entre 1630 e 1631. Como mencionado por Alessandro Manzoni em "I Promessi Sposi", essa epidemia teve um impacto devastador na população veneziana.
A transmissão da peste bubônica ocorria principalmente através das pulgas dos ratos, que eram abundantes em áreas urbanas densamente povoadas. Para combater essa ameaça, os venezianos recorreram aos gatos, conhecidos por sua habilidade na caça a roedores. Durante a era da Sereníssima, quando Veneza era uma potência marítima, os gatos eram incluídos nas embarcações que partiam em longas viagens comerciais ao Oriente.
Os venezianos não escolhiam gatos comuns; eles preferiam raças específicas conhecidas por sua agilidade e destreza na caça, como os "soriani" importados da Síria. No entanto, mesmo com essas precauções, o risco de transportar ratos inadvertidamente em navios comerciais persistia. Diante dessa ameaça contínua, os venezianos organizaram expedições à Dalmácia para abastecer os navios com gatos adicionais, que eram então soltos pelas ruas e praças da cidade.
Esses elegantes felinos venezianos rapidamente se tornaram parte integrante da vida na cidade. Os venezianos nutriam um carinho especial por esses animais, reconhecendo sua importância na proteção contra a propagação da peste. Mesmo diante da tragédia da epidemia, os gatos permaneceram como figuras fundamentais na história de Veneza, sendo considerados heróis peludos que contribuíram para preservar a saúde da população.
Além do papel prático dos gatos na defesa contra os roedores durante a epidemia, sua presença na cultura veneziana ganhou contornos especiais. Os gatos não eram apenas considerados guardiões eficazes contra a peste, mas também adquiriram um significado simbólico na vida cotidiana dos venezianos. Sua elegância e agilidade eram admiradas, e muitos viam neles uma representação da graça e da destreza que a cidade buscava em tempos difíceis.
Durante as expedições à Dalmácia para trazer mais gatos, os venezianos não apenas garantiam a segurança sanitária da cidade, mas também reforçavam a conexão única entre Veneza e esses animais. Os gatos tornaram-se parte integrante da identidade veneziana, simbolizando não apenas a resistência contra a peste, mas também a resiliência e a adaptação em face das adversidades.
Com o tempo, a presença dos gatos em Veneza foi além da necessidade prática de controle de pragas. Os venezianos desenvolveram uma relação afetuosa com esses animais, muitas vezes cuidando deles e proporcionando-lhes um lar nos becos e praças pitorescas da cidade. Esses felinos não eram apenas guardiões da saúde pública, mas também companheiros estimados, e essa ligação especial persiste na mentalidade veneziana até os dias de hoje.
Atualmente, enquanto caminhamos pelas ruelas de Veneza, podemos capturar vislumbres fugazes desses descendentes dos valentes gatos da época da peste. A presença de gatos nas ruas venezianas serve como uma ponte viva para o passado, uma lembrança das lutas enfrentadas pela cidade e da resiliência que a caracteriza. Esses felinos, muitas vezes solitários, tornam-se embaixadores silenciosos de uma época em que Veneza contou com sua destemida população de gatos para superar uma das mais desafiadoras crises de sua história.
sexta-feira, 24 de novembro de 2023
Guardiões Peludos: A Saga Épica dos Gatos Venezianos na Batalha Contra a Peste
Na encantadora cidade de Veneza, a Festa da Madonna della Salute evoca memórias de uma época sombria: a terrível epidemia de peste que assolou o norte da Itália entre 1630 e 1631. Durante esses dias aflitivos, os gatos venezianos emergiram como heróis silenciosos, desempenhando um papel crucial na proteção da cidade.
À medida que os barcos zarpavam para longas jornadas em direção ao Oriente, os gatos se tornavam tripulantes essenciais, enfrentando a ameaça dos ratos portadores da doença. A meticulosa seleção de raças, como os destemidos "soriani" da Síria, evidencia os esforços dos venezianos em salvaguardar sua cidade da iminente epidemia.
Mesmo com a propagação da peste, os gatos permaneceram, transformando-se em testemunhas afetuosas e silenciosas da história de Veneza. As vielas e praças da cidade se enchiam de gatos, símbolos de resistência em meio às adversidades. Embora o número deles tenha diminuído ao longo do tempo, os gatos modernos de Veneza são herdeiros da coragem de seus antecessores, perambulando pelas ruas estreitas e canais tranquilos, carregando consigo uma herança única e fascinante.
Na Veneza do século XVII, a cidade enfrentou um desafio sem precedentes durante a epidemia de peste bubônica entre 1630 e 1631. Em tempos sombrios, os gatos venezianos desempenharam um papel crucial na defesa da cidade, embarcando nas imbarcazioni que cruzavam os mares em direção ao Oriente. Esses gatos não eram apenas mascotes, mas guardiões essenciais contra os ratos portadores da doença.
A seleção criteriosa de raças, incluindo os destemidos "soriani" da Síria, revela a sagacidade dos venezianos na proteção de sua cidade. À medida que os barcos retornavam das longas jornadas comerciais, os gatos eram soltos pelas calle e campielli da cidade, tornando-se membros apreciados da comunidade veneziana.
Apesar de todos os esforços, a peste deixou suas marcas em Veneza, ceifando vidas e alterando irrevogavelmente o curso da história da cidade. No entanto, os gatos permaneceram, não apenas como símbolos de resistência durante tempos difíceis, mas como testemunhas peludas da resiliência de Veneza diante da adversidade.
O legado dos gatos venezianos não é apenas uma curiosidade histórica; é um testemunho vívido da ligação única entre os seres humanos e esses companheiros felinos. Mesmo agora, ao passear pelas ruas estreitas e pontes pitorescas de Veneza, é possível sentir a presença sutil, mas duradoura, dos gatos que uma vez ajudaram a cidade a enfrentar uma de suas maiores provações.
As águas serenas dos canais de Veneza refletem não apenas a arquitetura grandiosa, mas também a narrativa silenciosa dos gatos que patrulhavam os barcos e becos da cidade. Esses guardiões de quatro patas, ao desbravarem os recantos venezianos, personificam a coragem e a tenacidade que permearam a sociedade durante aquela época desafiadora. Suas pegadas, agora suaves, contam a história de uma cidade resiliente e dos laços indissolúveis entre ela e seus destemidos protetores felinos.
Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS
sábado, 29 de julho de 2023
Explorando o Tesouro Arquitetônico de Veneza: Uma Visita a Algumas de Suas Igrejas
- Basílica di Santa Maria della Salute - Localizada no Grande Canal, é uma das igrejas mais icônicas de Veneza. Foi construída no século XVII em estilo barroco, com uma cúpula verde distinta. O interior apresenta várias pinturas e altares elaborados.
- Igreja de San Zaccaria - Uma das igrejas mais antigas de Veneza, que remonta ao século IX. É conhecida por sua arquitetura gótica e renascentista, bem como por seus muitos afrescos e esculturas.
- Igreja de San Giorgio Maggiore - Localizada em uma ilha em frente à Praça de São Marcos, a igreja foi projetada por Andrea Palladio no século XVI. Apresenta uma fachada clássica e um interior impressionante, incluindo obras de arte de Tintoretto e Palma il Giovane.
- Igreja de San Sebastiano - Situada no bairro de Dorsoduro, a igreja é conhecida por suas pinturas de Veronese e é um exemplo do estilo barroco veneziano.
- Basílica de Santa Maria Gloriosa dei Frari - Uma das maiores igrejas de Veneza, com uma fachada gótica impressionante. O interior apresenta obras-primas de artistas venezianos como Bellini, Donatello e Titian.
- Igreja de San Pietro di Castello - A igreja principal do patriarcado de Veneza, localizada em uma área residencial menos turística. É uma das igrejas mais antigas de Veneza, com uma história que remonta ao século VIII.
- Igreja de San Giuseppe di Castello - Localizada próxima à igreja de San Pietro di Castello, é uma pequena igreja que apresenta uma fachada simples e um interior adornado com afrescos e esculturas.
- Igreja de San Francesco della Vigna - Uma igreja renascentista projetada por Jacopo Sansovino no século XVI. O interior apresenta várias obras de arte, incluindo um afresco de Giuseppe Angeli.
- Igreja de San Giobbe - Uma pequena igreja no bairro de Cannaregio, com uma fachada simples e um interior decorado com afrescos de artistas venezianos.
- Igreja de Santa Maria dei Miracoli - Uma pequena igreja que apresenta uma fachada ornamentada e um interior decorado com afrescos e esculturas. É um exemplo do estilo renascentista veneziano.
- Igreja de San Moisè - Localizada perto da Praça de São Marcos, é conhecida por sua fachada barroca elaborada e seu interior decorado com afrescos e esculturas.
- Igreja de Santa Maria dei Carmini - Localizada no bairro de Dorsoduro, é uma igreja barroca que apresenta um interior decorado com obras de artistas venezianos.
- Igreja de San Nicolò dei Mendicoli - Uma pequena igreja no bairro de Dorsoduro, com uma fachada simples e um interior decorado com afrescos e esculturas.
- Igreja de Santa Maria dei Miracoli: Construída no século XV, a Igreja de Santa Maria dei Miracoli é uma joia do Renascimento veneziano. Ela é famosa por sua fachada externa espetacular, decorada com mármores coloridos em tons pastéis, além de uma série de relevos em terracota. Seu interior também é impressionante, com afrescos e pinturas em ouro e uma série de altares esculpidos em madeira.
- Igreja de San Moisè: Localizada perto da Piazza San Marco, a Igreja de San Moisè é uma das igrejas mais antigas de Veneza, datando do século IX. A igreja atual foi reconstruída no século XVIII, em estilo barroco, e possui uma fachada impressionante, decorada com estátuas de mármore e uma grande cúpula. Seu interior é rico em afrescos e pinturas em ouro, e possui um altar impressionante.
- Igreja de Santa Maria dei Carmini: Localizada no bairro de Dorsoduro, a Igreja de Santa Maria dei Carmini é uma igreja gótica do século XV. Ela é famosa por sua fachada em estilo renascentista e por sua nave principal, decorada com afrescos e pinturas em ouro. A igreja também abriga uma série de obras de arte notáveis, incluindo pinturas de Tintoretto e Palma il Giovane.
- Igreja de San Nicolò dei Mendicoli: Localizada em um bairro tranquilo e menos turístico de Veneza, a Igreja de San Nicolò dei Mendicoli é uma igreja românica do século XII. Ela é famosa por sua fachada simples, com um belo portal em arco, e por seus afrescos medievais bem preservados no interior. A igreja também possui uma torre sineira alta, que oferece uma vista panorâmica da cidade.
- Igreja de San Polo: Localizada no bairro de San Polo, a Igreja de San Polo é uma igreja barroca do século XVII. Ela é famosa por sua fachada em estilo veneziano e por seu interior impressionante, com uma série de altares esculpidos em madeira e decorados com pinturas em ouro. A igreja também abriga uma série de obras de arte notáveis, incluindo pinturas de Tintoretto e Jacopo Palma il Giovane.
- Igreja de Santa Maria Formosa: Localizada no bairro de Castello, a Igreja de Santa Maria Formosa é uma igreja românica do século VII. Ela é famosa por sua fachada em estilo bizantino e por seu interior rico em afrescos e pinturas em ouro. A igreja também abriga uma série de obras de arte notáveis, incluindo pinturas de Palma il Giovane e Tintoretto. Além disso, a praça em frente à igreja é um ponto de encontro popular para os moradores locais e um ótimo lugar para sentar e observar a vida veneziana passar.
- Igreja de San Stae: localizada no sestiere (bairro) de Santa Croce, em Veneza. Sua construção remonta ao século XII, mas a igreja atual foi reconstruída no estilo barroco no século XVII pelo arquiteto Domenico Rossi. San Sten é famosa por sua fachada elaborada e ornamentada, bem como por seu interior ricamente decorado, que inclui obras de arte de artistas venezianos como Giambattista Tiepolo e Jacopo Guarana. A igreja também é conhecida por sediar eventos musicais e culturais, e sua acústica é considerada uma das melhores de Veneza.
quarta-feira, 7 de junho de 2023
O Leão de São Marcos: Curiosidades sobre o Símbolo de Veneza
sábado, 6 de maio de 2023
A Complexa Eleição do Doge de Veneza: Uma História de Poder e Corrupção
Como acontece em todos os governos do mundo, entorno do cargo de doge, se moviam não só interesses familiares, econômicos e de poder, mas, também abusos e rivalidades mal disfarçadas. Nos primeiros séculos da história veneziana, alguns doges tentaram tornar o seu poder absoluto e hereditário.
Em 1268 para por fim a esse tipo de ideia foi introduzida a promessa ducal, uma espécie de contrato que o doge firmava com o Maior Conselho, que era o verdadeiro centro do poder do estado veneziano, que limitava os seus poderes e um novo mecanismo eleitoral a ser usado para a escolha do futuro doge. Este complicado sistema de eleição foi mantido até a queda da república em 1797, com a invasão das tropas napoleônicas.
terça-feira, 25 de abril de 2023
Duas Grandes Festas em Veneza: Dia de São Marcos e a A Festa del Bòcolo
sexta-feira, 31 de março de 2023
O Barroco na Veneza do Século XVIII: O legado de Piazzetta na história da arte italiana
quinta-feira, 11 de agosto de 2022
A Região do Vêneto
sábado, 30 de julho de 2022
O Doge Pasquale Cicogna e a Ponte de Rialto
Pasquale Cicogna, foi o Doge que pôs fim a algumas pretensões do papado e construiu a ponte de Rialto. Os venezianos pensavam que ele estava predestinado a se tornar Doge.
Em sua bagagem de lendas pessoais encontramos três episódios que originaram tantas profecias relacionadas à sua futura eleição: na ilha de Corfù, atual Grécia, durante a missa, a hóstia consagrada escorregou da mão do padre devido a uma rajada de vento e acabou em suas mãos; em Cândia, atual ilha de Creta, durante uma procissão, uma pomba branca pousou em seu ombro; um dia, quando estava no Conselho, finalmente viu o corno dogal rolando a seus pés, que havia escorregado da cabeça de seu velho predecessor, Nicolò Da Ponte, o qual havia adormecido.
Mas, além dos aspectos lendários, Pasquale Cicogna foi um excelente Doge e estadista, capaz de governar com retidão e enfrentar problemas de comando e organização.
Cicogna percorreu uma carreira extraordinária no Estado veneziano, enfrentando uma dura aprendizagem nas várias magistraturas, ocupando regularmente cargos muito importantes: foi tesoureiro da pátria friulense entre 1534 e 1536; castelão di Corfù entre 1539 e 1541; e depois castelão em Lesina, administrador de Rocca d'Anfo, reitor de Rethymno.
Mas foi também provedor, supercônsul dos Mercadores, e entre 1556 e 1557 foi sábio sobre os Dízimos de Rialto. Uma carreira que também o viu desempenhar o papel de Podestà e Capitão de Treviso até à sua nomeação, em 1567, como Duque de Cândia, onde passou muitos anos deixando uma memória extremamente positiva e sentida por parte dos ilhéus, que se sentiram protegidos dos ataques turcos e bem governados.
Filho de Gabriele Cicogna e Marina Manolesso, nasceu em Veneza em 27 de maio de 1509 e tinha quatro irmãos (um dos quais, Marco, que morreu como herói em Lepanto) e duas irmãs.
A sua família - não muito rica apesar da nobreza - fazia parte do grupo de famílias que entrou no Maggior Consiglio em 1381, à época da guerra de Chioggia, e teve possessões ultramarinas, nomeadamente em Candia, durante todo o século XVI.
Em 1548 casou-se com Laura Morosini, que morreu jovem em Candia, e de quem Cicogna já era viúvo na época de sua eleição. Antes de se tornar Doge, ele também foi Podestà de Pádua (durante a praga de 1575-77), Procurador de San Marco e Provedor do Arsenal.
Sua eleição ocorreu em 18 de agosto de 1585, após um conclave agitado em que os vários eleitores chegaram a brigar. Na quinquagésima quarta votação, o nome de Cicogna foi aprovado.
Não estava na lista de concorrentes e ficou muito surpreso com a notícia, que recebeu enquanto estava em oração na igreja dos Crociferi, em Cannaregio, que era a sua paróquia de referência e na qual era muito assíduo.
Dizem que ele foi ao Palácio Ducal onde pronunciou cinquenta palavras; o povo, que esperava uma generosa distribuição de dinheiro do mais rico Vincenzo Morosini (até então o candidato mais popular), o recebeu com pouco entusiasmo.
Mas os venezianos tiveram tempo de mudar de idéia nos dez anos seguintes: seu Dogado passou principalmente sereno e pacífico, sem prejuízo das repetidas reivindicações do papado, que considerava excessivamente liberal a política da República em relação aos não-católicos.
Pasquale Cicogna, embora muito religioso, sempre defendeu com determinação a liberdade espiritual de que gozavam os cidadãos da República e os estrangeiros que ali viviam.
E se as manobras turcas, após a conquista de Chipre, perturbassem as viagens marítimas, assim como as seguidas incursões dos piratas de Uskok, e Candia atingida pela peste, Veneza não desistiu de continuar a sua política de embelezamento arquitetônico.
Sob o Dogado de Cicogna foram concluídas ou iniciadas algumas obras absolutamente icônicas: a Ponte Rialto, na qual está gravado o nome do Doge, e também alguns grafites de 1588 na Piazza San Marco, relacionados ao lançamento da primeira pedra, parecem se referir a ele, Le Prigioni Nuove , a Ponte dos Suspiros e o próprio Palácio Ducal, parcialmente reconstruído, a igreja do Redentor e a fortaleza de Palmanova.
Pasquale Cicogna morreu em Veneza em 2 de abril de 1595. Deixou um filho natural, Pasquale, que era monge, provavelmente de uma mulher chamada Alba, de quem ele se lembrava em seu testamento. Ele está enterrado na igreja jesuíta, então ainda pertencente aos Crociferi.
por Alberto Toso Fei
DOC – R.S.V. Dorella Luciano
quarta-feira, 6 de outubro de 2021
Veronica Franco a mais Famosa Cortesã de Veneza
Veneza era uma cidade cosmopolita, com a suas estreitas ruas e becos, sempre repletas e agitadas, por onde circulavam diariamente centenas de pessoas, entre os quais estrangeiros, comerciantes, marinheiros e navegadores. A prostituição era considerada pelo governo como um mal necessário e antes de ser uma atividade proibida, era de certa forma protegida e até mesmo estimulada.
Até o século XVI as prostitutas eram submetidas a vigilância dos juizes da noite e dos chefes de cada sestiere (bairro), dois órgãos públicos que tinham poder de polícia. Ela não podiam morar em casas comuns, não podiam frequentar os bares e só podiam passear pela cidade aos sábados, não distante das suas casas. No ano de 1360 foram obrigadas a morar em um conjunto de casas, muito semelhante a um gueto, em San Matteo de Rialto, o local ficou conhecido como "Casteletto". Desse local só podiam sair para passear entorno, mas, dentro de um perímetro bem preciso e restrito, e a noite, depois do terceiro toque do sino, deviam estar reclusas em casa, sob pena de receberem multas em dinheiro e chicotadas caso fossem descobertas. Cada casa era comandada por uma mulher mais velha, a chamada matrona, uma espécie de diretora, que mantinha a contabilidade de cada quarto e pagava os impostos. Muitas prostitutas moravam fora do casteletto, em outras áreas da cidade, que pelo hábito, foram posteriormente também oficializadas à prostituição. Nas datas de festas religiosas, como exemplo a Páscoa e o Natal, não podiam chegar perto de nenhum homem, sob a pena de receberem quinze chicotadas pela infração. Se por um lado o estado emanava normas muito restritivas para elas, por outro criava leis apropriadas para protege-las de abusos e opressões que frequentemente eram vítimas, especialmente, de cavalheiros. Durante um certo período o governo da Sereníssima as deixou ficar nos balcões das suas casas, com os seios a mostra, com a finalidade de estancar o crescimento da homosexualidade.
O número de prostitutas em Veneza era grande, segundo um censo realizado em 1509 foram registradas onze mil cento e sessenta e quatro cortesãs na cidade. A profissão não era considerada desonrosa, elas eram até invejadas pelo teor de vida que tinham e pelas amizades que podiam fazer. A maioria delas eram cortesãs de classe baixa, pouco atraentes, desleixadas, que moravam em casebres insalubres, frequentadas pelo povo de menor poder aquisitivo. Outras, no entanto, eram belas e bem cuidadas mulheres, que moravam em casas luxuosas e usavam roupas confeccionadas com finos tecidos, frequentemente muito cultas, escritoras, poetisas ou até excelentes musicistas, que ocupavam aqueles lugares esperados somente para as mulheres de origem nobre. Eram as cortesãs de altíssimo luxo em cujas salas recebiam literatos, artistas, expoentes da nobilidade veneziana e de outros países que ficavam estupefatos. Para aqueles visitantes estrangeiros elas mandavam publicar catálogos com nomes e os endereços onde podiam ser encontradas, assim como o valor que seria cobrado pelos serviços.
Veronica Franco foi provavelmente o exemplo mais famoso de cortesã "honesta", embora não fosse a única intelectual em uma Veneza renascentista que ostentava uma cultura refinada e contava com inúmeros talentos nos campos literário e artístico. Nascida em Veneza de uma família de classe média da cidade, teve três irmãos, um deles acabou morto na epidemia de peste em 1570 e outro foi prisioneiro dos turcos. Muito jovem ela se casou com o médico Paolo Panizza, deixando-o pouco tempo depois. Foi a mãe que a iniciou nessa arte de cortesã "honesta", profissão que ela também exerceu quando ainda jovem. Veronica Franco não foi a única cortesã intelectual a ostentar uma cultura requintada e a expressar numerosos talentos nos campos literário e artístico. Depois da separação, para se sustentar, ela se tornou uma cortesã de alto nível. Foi incluída no catálogo de todas as principais e mais honradas cortesãs de Veneza, publicado por volta de 1565, era uma lista que fornecia o nome, endereço e taxas das cortesãs mais importantes da cidade, segundo o qual um beijo desta cortesã custava cinco ou seis ducados de ouro e o serviço completo chegava a 50 ducados de ouro. Para se ter uma idéia real do valor nos dias de hoje basta fazer o cálculo: um ducado tinha o peso 3,44 gramas de ouro de 24 quilates.
Graças à sua amizade com homens ricos e figuras importantes da época, ela logo se tornou bastante conhecida pela aristocracia veneziana e até teve uma breve ligação com o rei Henrique III da França. Escritores relatam que em seguida a um grande jantar no palácio ducal, oferecido pelo doge ao monarca francês, ela foi servida nua sobre a mesa a frente do soberano.
Veronica Franco foi uma das cortesãs mais honradas de uma cidade próspera e cosmopolita e viveu cercada de conforto durante a maior parte de sua vida como cortesã; no entanto, ela não pode desfrutar da proteção concedida às mulheres ditas respeitáveis. Ela sempre teve que fazer seu caminho sozinha. Estudou e procurou seus patronos entre homens ricos e instruídos.
A partir de cerca de 1570, passou a fazer parte de um dos círculos literários mais famosos da cidade, participando de discussões, fazendo doações e até curando antologias de poesia. Veronica Franco escreveu dois livros de poesia: Terze rime no ano de 1575 e Lettere familiari a diversi em 1580. Publicou coleções de cartas e reuniu obras de escritores famosos em uma antologia. Após o sucesso dessas obras, ela ainda fundou uma instituição de caridade em favor das cortesãs e seus filhos.
Em 1575, durante a epidemia de peste que assolou a cidade, Veronica Franco foi forçada a deixar Veneza e, após o saque de sua casa e de suas posses, perdeu grande parte de sua riqueza. Após seu retorno, em 1580, ela se defendeu brilhantemente durante o julgamento da Inquisição, que a acusava de encantamento e feitiçaria. Essas acusações eram até muito comuns às cortesãs daquela época, mas acabaram se desfazendo. De acordo com os depoimentos, suas ligações com a nobreza veneziana contribuíram para a absolvição. Após esse evento, pouco se sabe sobre sua vida; porém os documentos ainda existentes relatam o fato de que, mesmo tendo obtido sua liberdade, eles perdeu toda riqueza e bens materiais. Quando seu último benfeitor também morreu, ela se viu privada de apoio financeiro.
Em 1577, ela propôs ao governo da Sereníssima a construção de uma casa para mulheres carentes, administrada por ela, mas, não foi ouvida. Na época, seus filhos já haviam crescido ou morrido de peste, e Verônica estava criando netos órfãos.
A sua vida também é contada no livro de Margaret F. Rosenthal, "The Honest Courtesan". Segundo os críticos literários, este livro "retrata a figura de Veronica Franco de forma contundente no contexto cultural, social e econômico da época. Rosenthal sublinha, nos escritos de Veronica Franco, o apoio desapaixonado às mulheres indefesas, as convicções muito fortes sobre as desigualdades e o caráter político e sedutor de seus poemas, escritos em verso em uma linguagem altamente erótica. É a introspecção de Verônica Franco nos conflitos de poder entre os dois sexos e a consciência de representar uma ameaça ao homem contemporâneo, que fez tão atual suas obras literárias e suas relações com os intelectuais venezianos".
Catherine McCormack interpretou Veronica Franco no filme de 1998 Mistress of Her Destiny. O filme é baseado no livro de Margareth Rosenthal, The Honest Courtesan.
A atriz Giusy Buscemi interpretou Veronica Franco no programa Stanotte...a uma série de documentários sobre a história da arte apresentado por Alberto Angela, transmitidos na Rai 1, a partir de 28 de maio de 2015.