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domingo, 5 de novembro de 2023

Imigrantes do Comune di Fornace na Colônia de Rodeio: Rostos e Histórias na Diáspora

Imigrantes no convés do navio

 


Relação de Alguns Emigrantes do 

Comune di Fornace - Trento 

na Colônia Rodeio 

Atual município de Rodeio - SC 



Proprietà di terra - 15 di ottobre di 1875: 
VALLER VIRGILIO, Fornace 
Moglie: Steneck Tereza 
Filgli: Maria (18) 
Proprietà di terra nº 38 - 240.800m² 
Ha ricevuto aiuto finanziere di 473$741 (Réis)

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GIRARDI GIACOMO (17) (figlio di GIRARDI BORTOLO), Fornace 
celibe 
Proprietà di terra nº 44 - 221.600m² 
Ha ricevuto aiuto finanziere di 418$000 (Réis)
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STOLF ANTONIO, Fornace 
Moglie: Maddalena 
Filgli: Antonio (20), Benedeto (19), Maddalena (17), Fortunato (15), Giuseppe (9) 
Proprietà di terra nº 52 - 210.000m² 
Ha ricevuto aiuto finanziere di 373$910 (Réis) 
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STOLF ANTONIO (20), Fornace 
celibe 
Proprietà di terra nº 45 - 201.660m² 
Ha ricevuto aiuto finanziere di 158$000 (Réis)

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PISETA GIOVANNI BATISTA (19), Fornace 
celibe 
Proprietà di terra nº 48 - 205.100m²

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TOMELIN ANTONIO, Fornace 
Moglie: Stolf Maddalene 
Madre: Marianna Piseta Tomelin, vedova fu Antonio Tomelin Senior 
Proprietà di terra nº 49 - 205.460m² 
Ha ricevuto aiuto finanziere di 383$700 (Réis)

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TOMELIN ALFONSO (23), Fornace 
celibe 
nota: in 30-03-1879 ha sposato con Maria Pezzi (16), di Serso (TN) 
Proprietà di terra nº 51 - 308.550m² 
Ha ricevuto aiuto finanziere di 132$500 (Réis)

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Marianna Cristofolini, vedova fu Giovanni Batista Agostini, Fornace 
Figli: Antonio (17), Emmanoele (15), Rosa (11), Paolo (1) 
Proprietà di terra nº 54 - 215.300m² 
Ha ricevuto aiuto finanziere di 349$100 (Réis)

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GIRARDI BORTOLO, Fornace 
Moglie: fu Domenica Steneck 
Filgli: Gioacomo (17), Maria (xx), Domenico (xx), Bortolo (14), Luigia (3) 
Proprietà di terra nº 55 - 211.100m² 
Ha ricevuto aiuto finanziere di 421$500 (Réis)

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PISETTA CONSTANTE, Fornace 
Moglie: Teresa Scarpa 
Filgli: Antonio (21), Giovanni Batista (19), Leopoldina (17), Lorenzo (8), Tereza (7) 
Proprietà di terra nº 56 - 209.300m² 
Ha ricevuto aiuto finanziere di 36$400 (Réis)

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LORENZI GIACOMO, Fornace 
Moglie: Giulia de Carli 
Filgli: Domenica (19), Giacomo (15) 
Proprietà di terra nº 57 - 210.100m² 
Ha ricevuto aiuto finanziere di 353$500 (Réis)

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PISETTA DOMENICO, Fornace 
Moglie: Maria Anna Gili 
Filgli: Placido (28), Pacifica (27), Regina (26), Columba (16), Ernesto (13) 
Proprietà di terra nº 59 - 203.960m² 
Ha ricevuto aiuto finanziere di 439$600 (Réis)

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CRISTOFOLINI MANSUETO, Fornace 
Moglie: Tereza Rocabrum 
Filgli: Virgilio (18), Tereza (15), Domenico (13) 
Proprietà di terra nº 60 - 209.100m² 
Ha ricevuto aiuto finanziere di 580$280 (Réis)

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Depois de 1876: 
 

GIRARDI ENRICO, Fornace 
celibe 
Proprietà di terra nº 42 - 317.700m²

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CRISTOFOLINI VIRGILIO, Fornace 
celibe 
Proprietà di terra nº 48-a -  208.600m²

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TOMELIN EUSEBIO (20), Fornace 
celibe 
Proprietà di terra nº 50 - 219.460m²

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GIRARDI ENRICO, Fornace 
Moglie: Maria Valentini 
Figli: Eurico (9), Giodita (3), Romana (1) 
Proprietà di terra nº 53 - 307.700m² 
Ha ricevuto aiuto finanziere di 457$780 (Réis)

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GIRARDI CLEMENTE, Fornace 
celibe 
Proprietà di terra nº 58 - 210.800m²

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CRISTOFOLINI CELESTINIO, Fornace 
Figlio di Domenico Cristofolini e Domenica Scarpa 
Proprietà di terra nº 79 - 207.540m²

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FRAINER FRANCESCO, Fornace 
Celibe 
Filglio di Quirino Frainer 
Proprietà di terra nº 85 - 180.000m² 
Ha ricevuto aiuto finanziere di 279$500 (Réis) 

Igreja de Rodeio




sexta-feira, 29 de setembro de 2023

Desafios e Superações: A Vida dos Imigrantes Pioneiros nas Florestas do Rio Grande Do Sul

 

Rua central da colônia Caxias na década de 1890


Durante o século XIX, muitos italianos deixaram sua terra natal em busca de uma vida melhor no Brasil. Esses pioneiros imigrantes enfrentaram grandes desafios ao chegar no país e foram abandonados no meio da mata do Rio Grande do Sul, tendo que construir suas próprias casas e plantar suas próprias colheitas para sobreviver.
A vida dos imigrantes italianos nos primeiros anos no Brasil era extremamente difícil. Eles não tinham muita experiência de alguns cultivos que podiam se praticar no sul do Brasil e não estavam acostumados ao clima e ao solo do Rio Grande do Sul. Muitos tiveram que aprender a plantar, cultivar e colher sozinhos, sem a ajuda de especialistas. Muitas vezes aprenderam com  os negros, índios e caboclos que moravam na mata entorno da colônia. A terra tinha uma vegetação exuberante com grossas árvores que precisavam ser abatidas e queimadas para fazer lugar para as plantações, além de ter que lidar com animais peçonhentos desconhecidos, como as cobras, os insetos e outros animais selvagens.
Os imigrantes italianos produziam principalmente alimentos básicos, como trigo, feijão, milho e batatas, além de criar gado, suínos e outros animais para sustento próprio. Logo que puderam, depois de passados alguns anos da chegada, começaram também a produzir vinho, queijos e outros produtos derivados do leite. A produção era em pequena escala, principalmente para consumo próprio, e pouca parte era destinada para venda, mas nem sempre os mercados consumidores estavam próximos.
A falta de médicos era um grande problema nos primeiros anos daqueles imigrantes no Brasil. A maioria das doenças eram tratadas com remédios caseiros, feitos com plantas e ervas encontradas na região. Alguns dos remédios caseiros incluíam chás de ervas para dor de cabeça, febre e problemas digestivos. Além disso, a prática de cuidar de si mesmo e da família era muito comum, muitas vezes passando de geração em geração. Alguns imigrantes já traziam de casa na Itália o dom de curar doenças, fraturas e fazer partos. Eram os chamados curandeiros, os arrumadores de ossos, denominados  giustaossi na língua italiana e as parteiras, conhecidas como comare.
A religião era uma parte muito importante da vida dos imigrantes italianos e, embora não houvesse padres nos primeiros anos, eles mantiveram sua fé. Realizavam parte de ofícios religiosos  em casa, rezavam o rosário e a leitura da Bíblia e a oração eram práticas diárias. Quando os padres chegaram, eles se estabeleceram em pequenas igrejas construídas pelos próprios imigrantes, e a religião católica tornou-se uma parte importante da vida da comunidade.
A vida dos imigrantes italianos não era fácil, mas eles perseveraram e se adaptaram à sua nova vida no Brasil. Com o tempo, começaram a prosperar, construíram novas casas e ampliaram suas plantações e criações. Hoje, a cultura italiana contínua sendo muito importante no Rio Grande do Sul, e os descendentes desses imigrantes italianos ainda mantêm as tradições e costumes de seus antepassados.
Com o passar do tempo, os imigrantes italianos começaram a construir pequenas comunidades em volta de suas plantações e criações. Essas comunidades eram compostas principalmente por outros imigrantes italianos e suas famílias, mas também havia outros europeus e brasileiros que se juntaram a eles.
À medida que a comunidade crescia, os imigrantes italianos começaram a estabelecer escolas, igrejas e outros serviços públicos. As escolas eram muito importantes para eles, que valorizavam muito a educação. Muitas vezes, eles próprios se tornavam professores, ensinando a seus filhos e outros membros da comunidade.
A igreja também era uma parte importante da vida dos imigrantes italianos. Eles construíram pequenas igrejas de madeira ou pedra, decoradas com imagens religiosas e objetos sagrados. A missa era celebrada regularmente e os imigrantes italianos frequentavam a igreja em grande número, cantando hinos e participando de outras cerimônias religiosas.
Embora a religião católica tenha sido a principal religião dos imigrantes italianos, mais tarde havia também aqueles que pertenciam a outras religiões, como o protestantismo. Eles se reuniam em pequenos grupos para orar e estudar a Bíblia, muitas vezes construindo suas próprias igrejas.
A vida dos imigrantes italianos no Brasil também era influenciada pela política. Muitos dos imigrantes italianos eram socialistas e lutavam por melhores condições de trabalho e vida. Eles organizaram sindicatos e greves, exigindo melhores salários e direitos trabalhistas. Muitos imigrantes italianos também se envolveram na política local, apoiando candidatos que prometiam melhorias para a comunidade.
A culinária italiana também se tornou uma parte importante da cultura do Rio Grande do Sul. Os imigrantes italianos trouxeram consigo suas próprias receitas e práticas culinárias, que foram adaptadas com os ingredientes locais. Pratos como massa, pizza, polenta, risoto e outros pratos italianos se tornaram populares entre a população local, e muitos restaurantes e pizzarias foram abertos para atender à demanda.
Hoje, a cultura italiana continua a ser uma parte importante da cultura gaúcha, e muitas cidades têm festivais italianos anuais. Os descendentes dos primeiros imigrantes ainda mantêm as tradições e costumes de seus antepassados, incluindo a religião, a culinária e a língua italiana.
Em resumo, a vida dos pioneiros imigrantes italianos no Brasil foi marcada por grandes desafios e dificuldades, incluindo a falta de conhecimento na agricultura praticada no sul do país, a falta de médicos e a falta de padres nos primeiros anos. No entanto, esses imigrantes perseveraram e se adaptaram à sua nova vida no Brasil, construindo comunidades, escolas e igrejas. A cultura italiana se tornou uma parte importante da cultura do Rio Grande do Sul e os descendentes dos imigrantes italianos ainda mantêm as tradições e costumes de seus antepassados.



quinta-feira, 27 de abril de 2023

A Jornada Épica dos Imigrantes Italianos: Desbravando Novos Mundos





𝐀 𝐄𝐌𝐈𝐆𝐑𝐀𝐂̧𝐀̃𝐎 𝐈𝐓𝐀𝐋𝐈𝐀𝐍𝐀


"Digam à eles que deixamos os patrões na Itália e agora somos donos de nossas vidas, temos quanto queremos para comer e beber, além de bons ares, e isto significa muito para mim. Eu também não queria estar mais na Itália, sob aqueles patrões velhacos. Aqui, para encontrar autoridade, são necessárias seis horas de viagem". Trecho de carta de um imigrante italiano na Colônia Caxias, Rio Grande do Sul, enviada para seus familiares na Itália. 





A emigração italiana iniciou em um momento delicado. Por volta de 1860 a 1870, a Itália acabara de concluir a luta pela unificação política, período conhecido como Risorgimento que se caracterizou por muita agitação, lutas armadas e mudanças na política. Sua economia era em grande parte agrária e sofria com o avanço, cada vez mais agressivo, do capitalismo. É nesse contexto que devemos entender o que foi esse verdadeiro êxodo que no curso de alguns anos despovoou a zona rural do país. Foi sem dúvida uma emigração que visou a sobrevivência. Entre 1850 e 1920, mais de um milhão e meio de imigrantes vieram para o Brasil, especialmente São Paulo, para trabalhar como agricultores nas fazendas de café. Alguns fazendeiros notaram que a escravidão estava condenada, e vários experimentos foram realizados com mão de obra provinda da Europa desde os anos 1840 e 1850. Essas experiências foram quase sempre abandonadas devido à resistência dos imigrantes ao grau de exploração que lhes era imposto. A imigração italiana foi de importância decisiva para a história do Brasil. Ela não apenas contribuiu para o progresso econômico do país, mas também para importantes mudanças sociais e culturais. A unificação da Itália e as transformações capitalistas prejudicaram substancialmente os mais pobres da população, forçando-os a emigrar. Muitos trabalhadores rurais ou mesmo pequenos proprietários de terras não conseguiam mais sobreviver com o produto do cultivo de suas terras. Isso ocorria porque eles não podiam competir com os grandes proprietários de terras que forneciam produtos a preços mais baixos no mercado. Além disso, os pequenos proprietários pagavam taxas muito altas de impostos sobre a terra, sem recursos financeiros para tomar empréstimos, o que os tornava cada vez mais endividados. Para os fazendeiros de café do Brasil, o trabalho escravo era a base da produção agrícola e a sua extinção prejudicava muito seus interesses econômicos. 
Com a desintegração do sistema escravagista, a elite cafeeira de São Paulo encorajou a imigração principalmente a partir da Lei do Ventre Livre de 1871. A escassez de escravos já era um problema desde 1850, com a proibição do tráfico de escravos, a Lei Eusébio de Queirós.  
Para os fazendeiros de café do Brasil, o trabalho escravo era a força que movia toda a produção agrícola. A imigração italiana foi fundamental para suprir a demanda de mão de obra após a abolição da escravidão. As leis provinciais de 30 de março de 1871 e 26 de abril de 1872 ajudaram os fazendeiros paulistas a atrair trabalhadores imigrantes, autorizando um apoio financeiro de até 900 contos para as despesas de viagem dos imigrantes. Assim, a imigração subsidiada para São Paulo começou. A miséria que arruinou o campo italiano e a coragem de deixar o país revelaram que o ato de emigrar não apenas implicava em "fazer a América", ou "fare la cucagna", como muitas vezes se dizia. Os emigrantes não eram, em geral, aventureiros em busca de riqueza fácil, mas sim partiam do seu país como forma de se defender contra as condições cruéis impostas pela solidificação do capitalismo no campo italiano. Muitos desses pobres imigrantes diziam: "me vao in Mèrica par magnar" ou "eu vou para a América para poder comer". A imigração representou para a Itália uma solução para a crise de desemprego que assolava o país desde 1870. Em São Paulo e em outros estados do sudeste, a imigração apareceu como uma solução para a desagregação do trabalho escravo nas fazendas. Nos estados do sul, iniciando pelo Rio Grande do Sul, a imigração foi a solução encontrada para povoar grandes extensões de terras, em zonas parcamente habitadas mais próximas de outros países, e, simultaneamente, colonizar a vasta região isolada e ainda coberta de florestas, criando polos de produção agrícola nas colônias criadas, capazes de suprir de alimentos os centros maiores, escoando a produção pela farta rede fluvial vizinha. O lento desenvolvimento industrial na Itália também favoreceu a emigração. Segundo Candeloro, "a emigração foi crucial para o desenvolvimento socioeconômico (...) no período que viu o lançamento do noroeste industrializado da Itália, e continuou como uma condição para o desenvolvimento econômico devido ao desequilíbrio estabelecido entre o norte e o sul do país". 
No início do século XIX, a economia italiana era essencialmente agrícola. Muitas regiões italianas ainda apresentavam características semi-feudais e feudais no período da unificação por volta de 1870. O norte do país era mais industrializado, a agricultura capitalista havia moldado a região, ao contrário do sul, onde a agricultura ainda mostrava vestígios de servidão. A burguesia industrial e comercial, mesmo após a unificação italiana, tinha pouca participação na classe política porque era composta de grandes e médios proprietários de terras. Levou vários anos para o grupo alcançar o controle econômico e político burguês do país, deixando o estado para a fase de acumulação essencialmente industrial. Em áreas com aspectos feudais predominantes, a emigração ocorreu em grande escala. Essas características limitavam qualquer mudança estrutural e a única saída para a população excedente era emigrar. 
Na região do Vêneto a produção rural dependia do trabalho de toda a família. A mão de obra era basicamente dividida em dois grupos: aqueles que trabalhavam para si mesmos, ou seja, os pequenos proprietários de terra, locatários ou meeiros, e aqueles que trabalhavam como empregados. Dentro deste último grupo estavam os braccianti ou trabalhadores braçais, que podiam ser fixos, vinculados à propriedade por meio de um contrato anual, ou temporários diaristas, que trabalhavam apenas em momentos de grande necessidade de mão de obra e recebendo um pagamento diário. Os braccianti, pelo excesso disponível eram os trabalhadores rurais mais explorados. Os pequenos proprietários de terra, locatários ou meeiros vênetos formaram o primeiro contingente de imigrantes. Eles foram os primeiros a deixar a Itália devido às precárias condições de vida. A região do Vêneto durante a fase inicial do grande êxodo pode ser descrita da seguinte forma: o campo era dividido em pequenos lotes com fileiras de árvores onde se agarram às videiras, enquanto os espaços entre elas eram de 8 a 12 metros de largura, eram quase sempre arados e plantados com cereais. O campo reflete fielmente em sua aparência externa o regime de produção imposto pelas condições sociais da região. Ele fornece aos proprietários milho e vinho, aos trabalhadores milho e muito pouco combustível para alimentar os dois animais que, no entanto, precisam arar e fertilizar o solo já tão esgotado. 
O camponês vêneto que possuía terras era praticamente autossuficiente. O trabalho agrícola quase sempre estava associado à indústria doméstica de tecidos ou artigos de vime e palha. A pequena propriedade lhes deu uma ilusão de independência, mas não aconteceu muito progresso depois da unificação, antes pelo contrário viram as suas economias minguarem. As famílias vênetas viviam em pequenos lotes de terra que lhes pertenciam. Eram em média compostas por doze a quinze pessoas, geralmente com dois ou três homens, suas esposas e filhos capazes de trabalhar. O pai era a autoridade máxima e quando ele não podia mais manter o controle, era substituído por seu filho mais velho. Todos se mantinham juntos enquanto a propriedade conseguia fornecer os recursos necessários para a sobrevivência de todos. Eles se alimentavam diariamente principalmente de polenta de farinha de milho, às vezes misturada com algum tipo de verdura. Os pequenos proprietários que eram responsáveis por até seis pessoas tinham em média uma mesa um pouco mais farta, com ovos, vegetais, mesmo assim, raramente comiam carne, quando comiam era de porco, galinhas, peixe, a carne bovina era usada para festas ou quando estavam doentes. 
A emigração italiana representou uma solução para a crise de desemprego que assolou o país desde 1870. Na verdade, as condições de vida dos pequenos agricultores, locatários e meeiros eram praticamente as mesmas condições dos pobres braccianti. Muitos eram forçados a deixar suas terras e trabalhar em outras propriedades para conseguir levar o sustento para a família. Entre eles, era comum a divisão da terra quando os filhos se casavam e isso era repetido geração após geração, retalhando a propriedade em lotes cada vez menores tornando-os assim produtivamente deficitários, não suprindo mais as necessidades das famílias. Este foi um dos principais motivos para o enfraquecimento das famílias e consequente empobrecimento. Até 1885, grandes regiões do Vêneto, onde primeiro se começou a emigrar, tais como Belluno, Treviso, Udine e Vicenza, que eram predominantemente compostas por montanhas e colinas. Em Udine, havia um proprietário para cada dois residentes, um para cada três em Belluno, um para cada quatro em Vicenza, e as propriedades eram insuficientes para sustentar uma família. 
Algumas regiões italianas, especialmente o Vêneto, destacaram-se por serem os principais fornecedores de mão-de-obra para São Paulo, Espírito Santo e para os estados do sul do país. Essa situação era agravada pela falta de melhorias técnicas na agricultura, com métodos de cultivo antiquados já de muito ultrapassados os altos impostos, a variação do clima, as catástrofes naturais, como a devastação das florestas que prejudicavam o sistema fluvial, levando a inundações nas planícies e avalanches nas zonas elevadas. Nas regiões montanhosas e de colinas, a falta de chuvas abalou a já escassa produção agrícola, que sempre fora de subsistência. Agravando o quadro pintado no período de 1873 a 1895, o panorama internacional foi marcado pela crise agrária ou "grande depressão" em todos os países da Europa. Essa crise precipitou a transição do antigo capitalismo individualista de livre concorrência para o capitalismo monopolista imperialista. Este foi um período de amargas lutas pelos mercados consumidores muito disputados, que afetaram a Itália em um cenário dramático de sua unificação política. A agricultura foi duramente afetada pela concorrência de produtos semelhantes importados de outros países que chegavam a preços muito abaixo dos praticados no país como o trigo americano e russo que, apesar do frete, era oferecido a preços muito abaixo do custo de produção na Itália. Assim, como decorrência a produção de trigo declinou, levando consigo o cultivo de outras commodities da agricultura italiana, como milho, arroz e oleaginosas. Portanto, os produtores agrícolas perderam seu lugar no mercado e sua única alternativa foi deixar o campo, afetados por competidores mais poderosos. O jornal L'Amico del Popolo, em 1882, publicou um artigo observando que mais de 20.000 pequenos proprietários haviam desaparecido da Itália naqueles anos, e certamente todos teriam emigrado para a América. Os emigrantes vênetos não deixaram a Itália com a esperança de retornar, como aqueles do sul. Eles foram obrigados a abandonar tudo o que possuíam, animais, utensílios domésticos. Partiam após a colheita do trigo no outono, entre setembro e novembro. Portanto, o primeiro contingente de trabalhadores que chegou a São Paulo foi composto por esses imigrantes. O sistema de assentamento no Brasil igualou todos os imigrantes a um único padrão, as características peculiares do primeiro contingente de imigrantes foram esquecidas. Nos contratos de trabalho, não foram considerados aspectos individuais. O sistema de assentamento acabou com as diferenças externas entre os inquilinos, os meeiros e outros, mas não com a organização interna das famílias, seus hábitos culturais, valores para os camponeses. Os imigrantes italianos assentados nas colônias do sul do país, criadas especialmente para recebê-los eram predominantemente vênetos, lombardos e tiroleses e experimentaram outro tipo de imigração, diferente daqueles que foram para o sudeste do país. No sul do Brasil, imediatamente após a chegada, os imigrantes puderam adquirir por preços bem baixos os seus lotes de terra, por financiamento do próprio governo, com prestações durando vários anos contados após um período de carência de dez anos. Eram áreas enormes, a maioria delas cobertas de mata virgem, da qual tiraram a madeira para a construção de suas casas, cercas, galpões e lenha para os fogões. Na Itália eles jamais poderiam ter sonhado com esta fartura de espaço, com áreas que variavam de 25 a 50 hectares cada uma, no início da colonização. Assim, desde a chegada eles puderam trabalhar nas suas próprias terras, não precisando mais dividir com ninguém o resultado das suas colheitas. Agora não eram mais empregados, não obedeciam mais a um patrão, como tinham feito durante todas as suas vidas, gerações após gerações, no país natal. O sonho da propriedade, um dos fortes motivos que os impulsionou abandonarem a Itália, estava sendo realizado em terras gaúchas. Essa foi, sem dúvida, a grande diferença ocorrida com o processo de imigração italiana implantada no sudeste do país.



Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS