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segunda-feira, 8 de julho de 2024

Em Busca de uma Nova Pátria: As Razões por Trás da Onda Migratória Italiana para o Brasil

  


Na análise da migração italiana para nosso país, as indagações iniciais que emergem são: quais foram os motivos que levaram as autoridades brasileiras a acolher uma quantidade tão significativa de imigrantes da Itália e quais foram os impactos desse influxo considerável de italianos no vasto território brasileiro? Qual era a origem geográfica desses imigrantes italianos que escolheram o Brasil como destino?

Desde os primórdios da colonização portuguesa em nossa terra, a escassez de trabalhadores sempre representou um desafio de considerável magnitude. Naquela época, a concepção predominante era de que o labor árduo não era uma incumbência dos aristocratas e dos abastados, aqueles nascidos em berço de ouro e detentores de vastas riquezas. O trabalho manual era reservado às classes menos privilegiadas ou aos cativos, que há muito tempo desempenhavam um papel fundamental no avanço econômico de várias nações.

Durante o período colonial brasileiro, o território era abundantemente agraciado com valiosos recursos naturais, como o pau-brasil e uma diversidade de minerais preciosos, com destaque para o ouro e os diamantes, pelos quais os portugueses travaram grandes disputas.

Para suprir a carência de mão-de-obra necessária para a exploração do vasto território, os portugueses optaram por trazer uma quantidade considerável de escravos africanos. Foi o árduo labor desses indivíduos escravizados que garantiu o desenvolvimento da exploração das riquezas florestais, a extração pesada nas minas de ouro e diamantes, bem como o cultivo em larga escala nas plantações de cana-de-açúcar, além da posterior criação de gado no sul, o que elevou Portugal ao status de proeminente fornecedor desses produtos no cenário internacional. A partir de 1840, o café emergiu como uma commodity de grande demanda no mercado global, suplantando a predominância açucareira. Isso provocou o surgimento de imponentes fazendas, predominantemente nas províncias de São Paulo e Espírito Santo, lideradas por abastadas famílias portuguesas, os influentes barões do café, que não apenas abasteciam, mas também dominavam o mercado mundial dessa mercadoria. Assim como ocorreu com o açúcar, a mão-de-obra empregada nos cultivos e na colheita era majoritariamente composta por escravos negros, cujo número aumentava constantemente, de forma degradante, com a chegada de africanos. O cenário internacional passava por mudanças significativas, com a ascensão da Inglaterra como potência dominante, iniciando seu processo de industrialização e, consequentemente, reduzindo sua necessidade de importar escravos. Demonstrando seu poder militar, especialmente por meio de sua poderosa marinha, a Inglaterra passou a impor sanções aos países que ainda dependiam do trabalho escravo. Navios negreiros foram interceptados em alto-mar e impedidos de chegar ao Brasil, o que resultou em um aumento exorbitante no valor de cada escravo. Internamente, no Brasil, iniciou-se um movimento político para criar condições visando à abolição da escravidão no país. Após a promulgação de diversas leis que dificultavam a prática escravagista, em 13 de maio de 1888, foi proclamada a Lei Áurea, que encerrou oficialmente a instituição da escravidão no Brasil, após três séculos de sua existência.Foi certamente um grande choque para um país em que a mão-de-obra era somente aquela escrava, e esses, uma vez libertos, não queriam mais trabalhar para o seus antigos donos. Alguns anos antes, quando já se ouviam as primeiras notícias dessa eminente mudança, os grandes fazendeiros, que lutaram politicamente contra dar liberdade total aos escravos, começaram a procurar pelo mundo nações onde havia um grande número de pessoas querendo abandonar o país. Algumas exigências no entanto, foram apresentadas pelo império brasileiro, para escolha de onde poderia vir essa tão necessária mão-de-obra. Entre as exigências estava: esses trabalhadores precisavam ser brancos, terem religião aceita pelo estado e fossem dóceis em receber ordens. Inicialmente, foram trazidos grupos de colonos alemães, mas a experiência não deu muito certo pelo fato deles serem muito difíceis em aceitar ordens e também porque se mantinham fiéis a sua língua e tradições, criando quistos culturais onde viviam. Assim os fazendeiros paulistas e o Império do Brasil se voltaram para os habitantes da península italiana, o recém unificado reino da Itália, que estavam passando por sérias dificuldades, até mesmo a fome, pela falta de trabalho no novo país. Os italianos, sobretudo os das províncias vênetas, eram vistos pelas autoridades imperiais como ideais, por serem um povo dócil, trabalhador e professarem a mesma religião que o Brasil. Outro fator, não menos importante, para a escolha dos europeus era o fato de serem brancos o que também atenderia a exigência de povoar as imensas áreas quase desabitadas do sul do Brasil e contribuir para o branqueamento da população, uma raça considerada muito escura pelas autoridades imperiais.

A partir de 1875, o governo brasileiro lançou uma série de incentivos para atrair a migração italiana, incluindo passagens gratuitas e a promessa de parcelas de terra para cultivo. Essas medidas eram exatamente o que os camponeses italianos mais desfavorecidos desejavam ouvir, realizando o sonho da propriedade que acalentavam há séculos. Ao se tornarem proprietários de suas terras, eles deixariam de compartilhar suas colheitas com senhores. Assinaram contratos em branco em troca da passagem e da promessa de um pedaço de terra para cultivar, comprometendo-se a se estabelecerem onde o governo brasileiro designasse, geralmente em áreas remotas e intocadas, seja no meio da densa vegetação no sul do Brasil ou nas vastas fazendas de café de São Paulo e Espírito Santo, substituindo os escravos recém-libertos. Os imigrantes designados para as novas colônias do sul do país, inicialmente no Rio Grande do Sul e posteriormente em Santa Catarina e Paraná, encontraram-se repentinamente em meio a vastas áreas selvagens e despovoadas, envoltas por densas florestas e desprovidas de estradas ou qualquer infraestrutura, distantes de centros urbanos ou recursos essenciais. A vegetação em suas propriedades era habitada por uma fauna desconhecida para eles, com uma grande variedade de animais selvagens, aves em abundância, onças e macacos, como os bugios, cujos gritos assustavam os recém-chegados. No entanto, o clima encontrado assemelhava-se ao que deixaram na Itália, e o isolamento permitiu que os imigrantes aplicassem seus conhecimentos e recriassem sua própria cultura. O processo de aquisição de terra não foi fácil. Os imigrantes eram transportados gratuitamente do porto de desembarque para os vários núcleos de colonização, onde lotes de 25 a 60 hectares eram concedidos exclusivamente às famílias e deveriam ser resgatados em prestações a partir do segundo ano, após a primeira colheita. Os colonos recebiam algum material para construir casas temporárias, subsídios alimentares por alguns meses, ferramentas agrícolas e sementes que deveriam ser reembolsadas posteriormente. As famílias assumiam a responsabilidade de desmatar parte do lote, preparar o solo para o cultivo, semear, construir suas próprias habitações e abrir estradas para delimitar as fronteiras da propriedade. Os imigrantes logo enfrentaram as dificuldades nas colônias isoladas, algumas das quais constantemente invadidas por índios, onde a falta de escolas, igrejas e assistência médica era evidente, ou, quando disponíveis, estavam distantes e inacessíveis devido aos custos. Apesar dos desafios, uma parte significativa desses imigrantes realizou o sonho da propriedade e, em poucos anos, ricas cidades surgiram nesses locais remotos. A situação foi diferente para aqueles destinados a trabalhar nas grandes fazendas de café em São Paulo, Espírito Santo e Minas Gerais. Lá, as condições de vida eram ainda mais difíceis, e era extremamente difícil economizar para adquirir terras nas cidades próximas às fazendas. Segundo os termos do contrato, para deixar a fazenda, primeiro deveriam reembolsar o proprietário por todas as despesas incorridas, após o prazo de permanência estabelecido no documento. Nesses locais, prevaleciam a segregação, o arbítrio e várias formas de violência, incluindo sexual. A vontade do proprietário ou administrador era soberana, com pouca ou nenhuma liberdade pessoal para os trabalhadores. O acesso a cuidados de saúde, educação e práticas religiosas era limitado ou fornecido com parcimônia. O abandono das plantações tornou-se o protesto mais eficaz. Aqueles que decidiram migrar novamente ou buscar outras fazendas com melhores condições de vida ou se mudaram para centros urbanos em busca de novas oportunidades de emprego. Muitos, desiludidos, optaram por retornar à Itália. Aqueles que deixaram as fazendas se estabeleceram nas periferias das pequenas cidades vizinhas ou na capital, alguns já com profissões ou habilidades comerciais, trabalhando por conta própria ou como empregados nos diversos estabelecimentos que o rápido progresso estadual proporcionava. À medida que as condições financeiras melhoravam, os imigrantes começavam a construir suas próprias casas, reproduzindo os modelos arquitetônicos de sua terra natal e recriando uma pequena Itália no Brasil. Aqueles que preferiram viver nas grandes cidades, como a capital, a maioria deles residia em grandes cortiços, subdivididos em pequenos compartimentos nos bairros.

Esse movimento migratório evidenciou uma mudança gradual no perfil dos imigrantes italianos ao longo do tempo, refletindo também as transformações socioeconômicas tanto na Itália quanto no Brasil. A chegada de técnicos e operários especializados a partir do segundo pós-guerra, por exemplo, demonstrou uma maior qualificação da mão-de-obra italiana, além de uma diversificação dos setores de trabalho nos quais os imigrantes se inseriam.

Além disso, a distribuição geográfica dos imigrantes italianos no Brasil também se modificou ao longo do período analisado. Inicialmente concentrados nas regiões sul e sudeste, especialmente em áreas rurais e nas grandes fazendas de café, posteriormente passaram a migrar em maior número para os centros urbanos, buscando oportunidades de trabalho nas indústrias emergentes e no comércio.

A imigração italiana para o Brasil atingiu seu ápice entre 1887 e 1902, quando quase um milhão de pessoas desembarcaram no país em um período de quinze anos, representando 60% do total de estrangeiros que aqui chegaram. Nesse período, o Brasil ocupava o terceiro lugar no ranking global de recebimento de imigrantes italianos, ficando atrás apenas dos Estados Unidos e da Argentina. Após 1902, o fluxo de chegadas diminuiu significativamente, pois o governo italiano decidiu interromper a emigração subsidiada devido às denúncias das condições precárias enfrentadas pelos italianos, comparadas à escravidão nas fazendas. Essa redução também pode ser atribuída à crise de superprodução do café e à queda de preços no mercado internacional, que agravaram as condições de vida e trabalho nas plantações. Entre as duas grandes guerras, o número de chegadas diminuiu, com uma leve retomada após 1946. A partir dos anos 1960, as chegadas de italianos diminuíram para algumas centenas por ano, com a maioria sendo transferências de funcionários de empresas italianas com investimentos no Brasil ou escolhas pessoais. Até 1915, a maioria dos imigrantes era composta por trabalhadores rurais, em sua maioria analfabetos, que chegavam ao Brasil com suas famílias devido a contratos de trabalho. A partir de 1920, houve uma mudança no perfil dos imigrantes, com a predominância de solteiros, artesãos, trabalhadores fabris e braçais. Essa tendência se intensificou no período pós-guerra, com a chegada de técnicos e operários especializados, que tinham um nível de instrução mais elevado. Entre 1878 e 1886, a maioria dos emigrantes era da região do Vêneto e Lombardia, especialmente destinados às novas colônias do Sul do Brasil, enquanto os imigrantes do sul do país, principalmente da Campania, Calábria e Abruzzo, começaram a chegar em maior número após 1893/95, tornando-se majoritários a partir de 1898.Essa história da imigração italiana no Brasil revela não apenas a busca por melhores condições de vida e oportunidades de trabalho, mas também a capacidade de adaptação e resiliência dos imigrantes diante dos desafios encontrados no novo país. Contribuíram significativamente para a formação cultural, econômica e social do Brasil, deixando um legado que perdura até os dias de hoje.

Em cada núcleo formado por essas comunidades, uma autêntica reprodução de traços da Itália emergia, preservando os costumes e tradições de suas regiões de origem. Essa preservação cultural não apenas amenizava a saudade dos lares distantes, mas também enriquecia o cenário brasileiro com um mosaico de heranças italianas. Apesar dos desafios enfrentados e das dificuldades impostas, os imigrantes italianos deixaram uma marca indelével na modernização tanto da economia quanto da sociedade brasileira nos locais onde se estabeleceram.

Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS



sexta-feira, 23 de fevereiro de 2024

A História da Imigração Italiana no Paraná



A colonização do Paraná teve início em 1816 com a chegada dos colonos açorianos a Rio Negro, marcando um começo gradual na formação de núcleos coloniais. Até 1853, apenas três colônias haviam sido estabelecidas, acolhendo um total de 420 imigrantes. Até 1864, apenas mais duas colônias foram fundadas. Desde os primeiros momentos de sua autonomia política e administrativa, os líderes paranaenses buscaram uma política de imigração adaptada às suas necessidades. Ao contrário de outras regiões do Império, onde a imigração visava suprir a falta de mão de obra na agricultura de exportação, no Paraná, priorizava-se a agricultura de subsistência.
Este cenário, contudo, persistiu, e apenas com colonos trabalhadores e respeitosos habitando suas vastas e férteis terras, a abundância de alimentos e o excesso de produção reviveriam o comércio de exportação agrícola. Os governantes provinciais subsequentes buscaram implementar planos de colonização com base na criação de colônias agrícolas próximas a centros urbanos.
Entre as décadas de 1830 e 1860, imigrantes alemães estabeleceram-se nos arredores de Curitiba, especialmente nas partes norte, noroeste e nordeste da cidade, contribuindo para um notável crescimento demográfico. Observando o sucesso da colonização nas áreas circundantes, novos projetos foram concebidos para intensificar a colonização do planalto de Curitiba, do litoral e de outras regiões do Paraná. A partir de 1870, esse programa foi intensificado, especialmente durante a administração de Lamenha Lins, seguindo a tendência nacional de reativar a imigração.
A década de 1870 marcou o início da imigração italiana no Paraná. Os governos provinciais geralmente delegavam a colonização a empresas privadas, que traziam imigrantes por meio de concessões de terras acessíveis. Em 1871, um contrato entre o Governo da Província do Paraná e o empresário italiano Savino Tripoti planejou o estabelecimento de imigrantes italianos no litoral.
O primeiro grupo de colonos chegou ao porto de Paranaguá em fevereiro de 1875, estabelecendo-se em Alexandra, mas a colonização enfrentou dificuldades devido às condições climáticas e deficiências administrativas. Para acomodar os colonos, o Governo Provincial criou a Colônia Nova Itália em 1877, com sede em Morretes, qual também teve vida breve devido a má administração do empreendimento e desentendimentos do empresário com o governo da província.
As experiências negativas em Alexandra e Nova Itália desestimulou a colonização no litoral, levando muitos imigrantes a se mudarem para o planalto. Nos anos seguintes, mais italianos se estabeleceram no Paraná, especialmente em Curitiba. A maioria era originária das regiões do Vêneto e do Trentino. Após a Segunda Guerra Mundial, houve uma retomada do processo migratório, com italianos contribuindo para o desenvolvimento industrial da região.



segunda-feira, 12 de junho de 2023

Nomes e Datas de Fundação das Colônias Italianas em Santa Catarina: Uma Viagem ao Passado


 

Os primeiros imigrantes italianos que chegaram foram direto para a colônia Nova Itália, que hoje é São João Batista. Era um grupo de 122 pessoas, aproximadamente 30 famílias. 
Os primeiros imigrantes italianos eram provenientes da ilha da Sardenha. Outros vieram da região de Trentino, eram os chamados tiroleses. 
A partir de 1875 com achegada de mais  imigrantes foi necessário a criação de novas colônias italianas em Santa Catarina, como em Rio dos Cedros, Ascurra, Apiúna, Rodeio e outras. 
O fluxo de imigrantes cessou em 1895, quando eclodiu a Revolução Federalista, uma das guerras civis que aconteceram no Brasil.

Os imigrantes italianos eram provenientes  principalmente do Vêneto, em menor número, da Lombardia e Friuli Venezia Giulia.

Colônias e data de fundação: 
  1. Azambuja (1877)
  2. Urussanga (1878)
  3. Criciuma (1880)
  4. Cocal, ex Accioli de Vasconcelos (1880)
  5. Grão Pará (1882)
  6. Orleans (1885)
  7. Treze de Maio, ex-Presidente Rocha (1887) 
  8. Nova Veneza (1891), com expansões para Meleiro e Turvo, hoje Siderópolis
  9. Nova Treviso (1891) hoje Treviso
  10. Acioli de Vasconcelos (1892) hoje Cocal do Sul.

sexta-feira, 2 de junho de 2023

Do Outro Lado do Oceano: Descubra por que o Brasil foi um dos Destinos Escolhido por tantos Imigrantes Italianos


 

No estudo da imigração italiana no nosso país, as primeiras perguntas que surgem são: o que levou o governo brasileiro a receber tantos imigrantes italianos e quais contribuições trouxeram esse número tão elevado de imigrantes italianos ao grande e longíquo Brasil? De onde eram provenientes os italianos que para cá vieram?

Desde o início da colonização portuguesa do nosso país, a falta de mão de obra, sempre se constituiu em um grave problema. Para a mentalidade da época o trabalho duro não era destinado aos nobres e pessoas ricas, aquelas bem nascidas e possuidoras de grandes patrimônios. O trabalho braçal estava destinado para as classes menos favorecidas ou para os escravos, que desde sempre foram os responsáveis diretos pelo progresso dos diversos países.

O Brasil colonial era um país muito rico em reservas naturais de madeiras muito cobiçadas naqueles tempos como o pau-brasil e  diversos minerais preciosos, especialmente o ouro e os diamantes, pelos quais os portugueses tanto lutaram.

Para enfrentar a falta de mão-de-obra necessária para a exploração do grande país, os portugueses procuraram resolver o problema trazendo milhares de escravos da África. Foi o trabalho duro desses escravizados que assegurou a exploração das madeiras de lei, o trabalho pesado nas minas de ouro e diamantes e nas grandes plantações de cana de açúcar,  mais tarde a criação de gado no sul, transformando o pequeno Portugal em um grande fornecedor desses produtos no mercado internacional. A partir de 1840 o café passou a ter uma maior procura no mercado mundial, suplantando a indústria açucareira. A sua cotação cada vez mais alta, fez surgir, principalmente nas províncias de São Paulo e Espírito Santo, grandes fazendas comandadas nobres famílias de origem portuguesa,  os ricos barões do café, que supriam e dominavam o mercado mundial do produto. Como já tinha acontecido com o açúcar, quem cultivava as plantações e trabalhava na colheita, eram os escravos negros, que em número cada vez maior, e de forma degradante, chegavam da África. O mundo passava por muitas alterações e a potencia dominante agora era a Inglaterra, que já havia iniciado o processo de industrialização do país e agora não necessitava mais de importar escravos. Com o seu grande poder militar, especialmente representado pela sua grande marinha, começou impor sanções aos países em que ainda os escravos eram necessários. Navios negreiros eram abordados em alto mar e impedidos de chegar até o Brasil, aumentando muito valor de cada escravo. Também no Brasil se iniciou um processo político para criar condições para a abolição do trabalho escravo no país. Depois de várias leis que dificultavam a escravidão, em 13 de Maio de 1888 foi proclamada a Lei Áurea, a qual pôs fim à escravidão no Brasil depois de três séculos de prática.

Foi certamente um grande choque para um país em que a mão-de-obra era somente aquela escrava, e esses, uma vez libertos, não queriam mais trabalhar para o seus antigos donos. Alguns anos antes, quando já se ouviam as primeiras notícias dessa eminente mudança, os grandes fazendeiros, que lutaram politicamente contra dar liberdade total aos escravos, começaram a procurar pelo mundo nações onde havia um grande número de pessoas querendo abandonar o país. Algumas exigências no entanto, foram apresentadas pelo império brasileiro, para escolha de onde poderia vir essa tão necessária mão-de-obra. Entre as exigências estava: esses trabalhadores precisavam ser brancos, terem religião aceita pelo estado e fossem dóceis em receber ordens.  Inicialmente, foram trazidos grupos de colonos alemães, mas a experiência não deu muito certo pelo fato deles serem muito difíceis em aceitar ordens e também porque se mantinham fiéis a sua língua e tradições, criando quistos culturais onde viviam. Assim os fazendeiros paulistas e o Império do Brasil se voltaram para os habitantes da península italiana, o recém unificado reino da Itália, que estavam passando por sérias dificuldades, até mesmo a fome, pela falta de trabalho no novo país. Os italianos, sobretudo os das províncias vênetas,  eram vistos pelas autoridades imperiais como ideais, por serem um povo dócil,  trabalhador e professarem a mesma religião que o Brasil. Outro fator, não menos importante, para a escolha dos europeus era o fato de serem brancos o que também atenderia a exigência de povoar as imensas áreas quase desabitadas do sul do Brasil e contribuir para o branqueamento da população, uma raça considerada muito escura pelas autoridades imperiais.

A partir de 1875 o governo brasileiro anunciou uma serie de vantagens para favorecer a emigração dos italianos, até mesmo viagem grátis e promessa de lotes de terra para cultivar. Isso era tudo que os miseráveis camponeses italianos queriam ouvir, satisfazia o sonho da propriedade acalentados há séculos. Sendo proprietários das suas terras deixariam de dividir as colheitas com um senhor. Assinaram contratos em branco em troca da passagem e da promessa de um pedaço de terra para cultivar. Se obrigavam a ir aonde o governo brasileiro determinasse, geralmente lugares localizados em zonas ainda intocadas, no meio da mata no sul do Brasil ou nas grandes fazendas de café de São Paulo e Espírito Santo, para substituir os escravos liberados. Aqueles imigrantes que foram destinados para as novas colônias do sul do país, inicialmente Rio Grande do Sul e depois Santa Catarina e Paraná, se viram repentinamente no meio de imensas zonas selvagens, despovoadas, no meio da mata virgem, sem estradas ou outro meios de comunicação, distante de cidades ou de  qualquer recurso. No local de sua propriedade a mata era repleta de uma fauna para eles desconhecida. Muitos animais selvagens, abundância de aves, onças e macacos, como os bugios, cujos gritos dos bandos muito amedrontaram os récem-chegados. O clima encontrado, no entanto, era mais parecido com aquele que deixaram na Itália e o isolamento permitiu aos imigrantes pôr em prática os próprios conhecimentos e recriar a própria cultura. O processo de aquisição da terra foi tudo menos fácil. Os imigrantes eram transportados, gratuitamente, do porto de desembarque aos vários núcleos. Estes estavam divididos em lotes de 25 a 60 hectares, que eram concedidos exclusivamente à famílias e deviam ser resgatados em parcelas a partir do segundo ano, isto é, depois de feita a primeira colheita. Os colonos recebiam algum material para construir uma casa provisória, subsídios alimentares para alguns meses, ferramentas agrícolas e sementes que deveriam ser reembolsados mais tarde. A família assumia a obrigação de desmatar uma parte do lote, preparar o terreno para o cultivo, semear, construir a própria habitação, abrir e manter estradas e caminhos para delimitar as fronteiras da propriedade. Os imigrantes logo perceberam as dificuldades que teriam que enfrentar naquelas colônias isoladas, algumas com presença constante de índios, locais em que faltavam escolas, igrejas e onde a assistência médica era inexistente, ou quando havia estava muito distante em alguma cidade maior, e encontrada a preço muito alto para eles. Apesar de tudo uma parte significativa desses imigrantes conseguiu realizar o sonho da propriedade e em poucos anos nesses locais ermos surgiram ricas cidades. Diferente foi a situação para  aqueles imigrantes que foram destinados para trabalhar nas grandes fazendas de café de São Paulo, Espírito Santo e Minas Gerais. Nesses locais as condições de vida eram ainda mais duras e com grande dificuldade dava a eles a oportunidade de economizar para poder comprar um terreno na cidade mais próxima da fazenda. Por contrato para deixar a fazenda primeiro deviam ressarcir o proprietário de todos os gastos que haviam contraído com eles e isso após o prazo obrigatório de permanência  estipulado naquele documento. Ali se vivia em um mundo de segregação, arbítrios, violências de todo tipo, até sexuais. A vontade do proprietário ou do administrador era lei e quase não existia liberdade pessoal. O acesso à assistência à saúde, a instrução escolar e ao conforto religioso eram ausentes ou fornecidos com grande parcimônia.  A forma mais eficaz de protesto foi o abandono da plantação. Aqueles que decidiam migrar novamente ou procuravam outras fazendas que podiam oferecer-lhes melhores condições de vida ou se transferiam para os centros urbanos em busca de novas ocupações. Muitos, desiludidos resolviam retornar para a Itália. Aqueles que deixavam as fazendas se dirigiram a periferia das pequenas cidades vizinhas ou mesmo na capital,  alguns que já tinham uma profissão, ou tinham tino comercial, trabalhando por conta própria ou como empregados nos vários tipos de estabelecimentos que o progresso acelerado do estado proporcionava. À medida que as condições financeiras melhoravam, os imigrantes começavam a construir suas próprias casas, reproduzindo os modelos arquitetônicos do país natal e recriando uma pequena Itália em território brasileiro. Aqueles  que preferiram viver nas grande cidades como  na capital, a maior parte deles vivia em enormes cortiços, subdivididos em pequenos cômodos, nos bairros. 

A emigração italiana no Brasil teve seu pico máximo entre os anos de 1887 e 1902, quando em quinze anos chegaram ao Brasil quase um milhão de pessoas, ou seja 60% dos estrangeiros que aqui desembarcaram. Nessa época o Brasil estava em terceiro lugar no grande fluxo da emigração italiana, atrás dos Estados Unidos e da ArgentinaDepois de 1902, as chegadas reduziram-se consideravelmente, pois o governo italiano decidiu proibir a emigração subsidiada, por causa de denúncias sobre as dramáticas condições dos italianos, comparados a escravos brancos nas fazendas. Essa redução, provavelmente, se justificou também pela crise de superprodução do café, queda do preço no mercado internacional, que determinou uma exacerbação das más condições de vida e de trabalho nas plantações. No período entre as duas grandes guerras, as chegadas diminuíram, enquanto uma leve retomada se registrou depois de 1946. A partir dos anos 1960, as chegadas de italianos se reduziram a poucas centenas ao ano e corresponderam à lógica de transferência de empregados de sociedades italianas com investimentos no Brasil ou a escolhas de vida. Até 1915 prevaleceu a mão-de-obra rural, previdentemente analfabeta e os imigrantes por força de contrato chegavam acompanhados pela família. A partir de 1920 houve uma predominância de solteiros, artesãos, empregados de fábricas e trabalhadores braçais. Tal tendência se acentuou no segundo pós-guerra, com a chegada de técnicos e operários especializados, com um nível crescente de instrução. Entre 1878 e 1886, emigraram apenas indivíduos da regiões do Vêneto e Lombardia, encaminhados especialmente para as novas colônias do Sul do país e os meridionais dirigidos, em grande parte, para as fazendas de café, mas sobretudo, para os centros urbanos. Já entre 1887 e 1895, tem-se uma nítida maioria de setentrionais enquanto o grosso da emigração meridional começará depois de 1893/95 e tornar-se-á majoritária a partir de 1898 com imigrantes provenientes da Campania, a Calábria e  Abruzzo.
Cada uma dessas populações recriou, onde se estabelecia uma pequena comunidade, um pedaço da Itália em que mantinha os usos e os costumes da região de origem. Isso garantiu a preservação de muitas tradições italianas em território brasileiro e permitiu aos emigrantes atenuar, em parte, a saudade de casa. Apesar dos inúmeros problemas e das grandes humilhações que os italianos tiveram de sofrer, é verdade também que eles, nos locais em que se instalaram, contribuíram para a modernização da economia e da sociedade brasileira.


Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS