Mostrando postagens com marcador italianos. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador italianos. Mostrar todas as postagens

quarta-feira, 28 de fevereiro de 2024

Imigração Italiana no Brasil: Impactos e Desafios

 



A partir do final da década de 1870, a emigração italiana para o Brasil passou a adquirir contornos mais definidos e ganhar proporções consideráveis, culminando em um fenômeno de massa. Este movimento exerceu um papel decisivo no crescimento demográfico do país sul americano. Os italianos desempenharam um papel crucial no processo de modernização do Brasil contemporâneo, contribuindo ativamente para o desenvolvimento da economia de exportação, da industrialização e dos processos de politização e nacionalização das massas. Muitos deles, especialmente os mais empreendedores, deixaram o campo, onde inicialmente se estabeleceram, para se aventurar nos setores de serviços, comércio e varejo, impulsionando significativamente o rápido desenvolvimento das cidades brasileiras. Entretanto, o caminho para alcançar esse status foi repleto de desafios, ilusões e desilusões, esperanças e desistências, saudades e uma inabalável determinação.
Mas o que motivou o governo brasileiro a acolher tantos imigrantes italianos e quais expectativas trouxeram um número tão expressivo deles para o vasto e distante Brasil? O território brasileiro sempre apresentou uma dicotomia marcante: de um lado, riquezas naturais abundantes, como ouro, diamantes e minerais; do outro, uma escassez extrema de mão de obra, capaz apenas de atender às necessidades básicas. Os colonizadores portugueses, que dominavam a vasta colônia, buscaram resolver esse problema trazendo milhares de escravos da África. Inicialmente, essa mão de obra escrava foi fundamental para a extração de madeira nobre e para sustentar a indústria açucareira. Posteriormente, foi empregada na criação de gado e, mais tarde ainda, na exploração das minas de ouro e diamantes. O Brasil se apresentava, assim, como um tesouro imenso que carecia de mãos para explorá-lo plenamente.
Com o advento do cultivo do café, a partir de 1840, o Brasil passou a dominar o mercado mundial. No entanto, essa prosperidade estava intrinsecamente ligada à mão de obra escrava. Com a abolição da escravidão em 1888, o Brasil enfrentou uma grave crise de mão de obra, uma vez que os ex-escravos não estavam mais dispostos a trabalhar para seus antigos senhores. Para um país constantemente às voltas com a escassez de mão de obra, esse foi um verdadeiro desafio. Alguns anos antes da promulgação da Lei Áurea, pela princesa Isabel, os grande produtores rurais de cana remanescentes e os cafeicultores viram no crescimento do movimento abolicionista, com a aprovação do parlamento de diversas leis que favoreciam os escravos, como Lei do Ventre Livre e a dos Sexagenários, começaram a pensar em utilizar trabalho assalariado em suas lavouras, o que para o Brasil era uma grande novidade na época, aproveitando o excedente de mão de obra nos países europeus que passavam por uma superpopulação e desemprego.
Diante desse cenário, o governo brasileiro vislumbrou na Itália uma possível solução para o problema. Acreditava-se que os italianos, especialmente aqueles das regiões do Vêneto que tinham preferencia, por serem pacíficos, brancos, católicos e conhecidos por sua diligência e respeito ao trabalho, poderiam suprir a demanda por trabalhadores e, ao mesmo tempo, contribuir para "clarear" uma raça considerada "muito escura" pelas autoridades imperiais. Assim, na segunda metade do século XIX, o governo brasileiro começou a promover ativamente a imigração italiana, oferecendo viagens gratuitas e promessas de terras para cultivo.
Os camponeses italianos, muitos dos quais enfrentavam condições de vida miseráveis e sem perspectivas de melhoria, viram na oferta do governo brasileiro uma oportunidade de escapar da pobreza e construir uma vida melhor para si e suas famílias. No entanto, o caminho rumo a essa nova vida foi marcado por desafios e dificuldades. Ao chegarem ao Brasil, muitos foram enviados para áreas selvagens e insalubres, onde substituíram os escravos libertos nas grandes fazendas de café.
A vida nessas fazendas e também nas colônias não foi fácil, especialmente após o entusiasmo inicial se dissipar e os imigrantes perceberem as duras realidades que teriam que enfrentar, como a falta de amparo religioso pela falta de igrejas e padres, a escassa e, em muitas áreas do Rio Grande do Sul inexistente assistência médica, a falta de educação, o isolamento e os diversos conflitos com os povos indígenas locais. Nas fazendas de café, a situação era ainda mais difícil, com exploração no preço dos alimentos fornecidos no armazém da fazenda, no preço pago pelo trabalho que muitas vezes sofriam diminuição de valores combinados, violência física, abusos sexuais e condições de vida deploráveis nos casebres a eles destinados, uma vez a senzala dos antigos escravos. Os proprietários das grandes fazendas e seus capatazes, não estavam acostumados a lidar com pessoas livres e tratavam os imigrantes italianos com brutalidade, da mesma forma como antes faziam com os indefesos escravos. Isso foi motivo de inúmeras desavenças, algumas graves, que necessitaram intervenção da polícia, como as ocorridas no interior de São Paulo.  
Apesar de todas essas adversidades, os italianos aos poucos conseguiram se estabelecer em diversos setores da economia brasileira, contribuindo para a modernização do país. A século e meio após a chegada dos primeiros imigrantes italianos ao Brasil, seu legado ainda é lembrado com afeto, admiração e reconhecimento, testemunhando a importância e a influência dessa comunidade na história e na cultura brasileira.



sexta-feira, 23 de fevereiro de 2024

A História da Imigração Italiana no Paraná



A colonização do Paraná teve início em 1816 com a chegada dos colonos açorianos a Rio Negro, marcando um começo gradual na formação de núcleos coloniais. Até 1853, apenas três colônias haviam sido estabelecidas, acolhendo um total de 420 imigrantes. Até 1864, apenas mais duas colônias foram fundadas. Desde os primeiros momentos de sua autonomia política e administrativa, os líderes paranaenses buscaram uma política de imigração adaptada às suas necessidades. Ao contrário de outras regiões do Império, onde a imigração visava suprir a falta de mão de obra na agricultura de exportação, no Paraná, priorizava-se a agricultura de subsistência.
Este cenário, contudo, persistiu, e apenas com colonos trabalhadores e respeitosos habitando suas vastas e férteis terras, a abundância de alimentos e o excesso de produção reviveriam o comércio de exportação agrícola. Os governantes provinciais subsequentes buscaram implementar planos de colonização com base na criação de colônias agrícolas próximas a centros urbanos.
Entre as décadas de 1830 e 1860, imigrantes alemães estabeleceram-se nos arredores de Curitiba, especialmente nas partes norte, noroeste e nordeste da cidade, contribuindo para um notável crescimento demográfico. Observando o sucesso da colonização nas áreas circundantes, novos projetos foram concebidos para intensificar a colonização do planalto de Curitiba, do litoral e de outras regiões do Paraná. A partir de 1870, esse programa foi intensificado, especialmente durante a administração de Lamenha Lins, seguindo a tendência nacional de reativar a imigração.
A década de 1870 marcou o início da imigração italiana no Paraná. Os governos provinciais geralmente delegavam a colonização a empresas privadas, que traziam imigrantes por meio de concessões de terras acessíveis. Em 1871, um contrato entre o Governo da Província do Paraná e o empresário italiano Savino Tripoti planejou o estabelecimento de imigrantes italianos no litoral.
O primeiro grupo de colonos chegou ao porto de Paranaguá em fevereiro de 1875, estabelecendo-se em Alexandra, mas a colonização enfrentou dificuldades devido às condições climáticas e deficiências administrativas. Para acomodar os colonos, o Governo Provincial criou a Colônia Nova Itália em 1877, com sede em Morretes, qual também teve vida breve devido a má administração do empreendimento e desentendimentos do empresário com o governo da província.
As experiências negativas em Alexandra e Nova Itália desestimulou a colonização no litoral, levando muitos imigrantes a se mudarem para o planalto. Nos anos seguintes, mais italianos se estabeleceram no Paraná, especialmente em Curitiba. A maioria era originária das regiões do Vêneto e do Trentino. Após a Segunda Guerra Mundial, houve uma retomada do processo migratório, com italianos contribuindo para o desenvolvimento industrial da região.



terça-feira, 8 de agosto de 2023

Uma Reflexão sobre a Imigração Italiana no Sul do Brasil: Perspectivas e Desafios

Porto Alegre em 1878


A imigração italiana teve um impacto bastante significativo nos estados do sul do Brasil: Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. Essa onda migratória teve início em meados do século XIX, quando a Itália passava por um período de intensa crise econômica e social. O Brasil, por sua vez, oferecia a possibilidade de uma nova vida, com terras férteis e oportunidades de trabalho. Ao longo dos anos, os italianos se estabeleceram nos três estados e contribuíram para a formação de suas culturas e economias.

No Rio Grande do Sul, os italianos se concentraram principalmente nas regiões de Caxias do Sul e Bento Gonçalves. Eles se dedicaram principalmente à viticultura e à produção de vinhos, além da produção de alimentos em geral. A cultura italiana é muito presente nessas cidades, com influências na gastronomia, na arquitetura e nas tradições locais. A região também é conhecida por suas festas típicas, como a Festa da Uva em Caxias do Sul, que celebra a colheita da uva e a cultura italiana.


Desterro atual Florianópolis




Santa Catarina, por sua vez, recebeu muitos italianos nas cidades de Nova Veneza, Criciúma e São João do Oeste, entre outras. Eles se dedicaram principalmente à agricultura, especialmente ao cultivo de arroz e fumo. Além disso, muitos italianos trabalharam em minas de carvão na região de Criciúma. A influência da cultura italiana é evidente em Nova Veneza, que foi fundada por imigrantes italianos e preserva até hoje muitas tradições, como a gastronomia típica e a arquitetura com influências italianas.


Coritiba em 1855




No Paraná, os italianos se estabeleceram principalmente na região de Curitiba e em cidades próximas, como Colombo e São José dos Pinhais. Eles trabalharam principalmente na agricultura, especialmente no cultivo de café e erva-mate. A cultura italiana também é presente na região, com a celebração de festas típicas, como a Festa da Polenta em Santa Felicidade, que celebra a gastronomia típica italiana.

Além de suas contribuições econômicas, os italianos também tiveram um impacto significativo na cultura e na sociedade dos três estados. Eles trouxeram consigo suas tradições, como a culinária, a música e a dança, que se mesclaram com as culturas locais, criando uma rica diversidade cultural. Além disso, muitos italianos se estabeleceram em áreas rurais e ajudaram a colonizar essas regiões, contribuindo para o desenvolvimento da agricultura e da produção de alimentos.

No entanto, a imigração italiana também teve seus desafios. Os imigrantes muitas vezes enfrentavam dificuldades financeiras e sociais ao chegar ao Brasil, tendo que trabalhar duro para sobreviver e se estabelecer. Além disso, a língua e a cultura eram diferentes das dos brasileiros, o que muitas vezes levava a conflitos e preconceito. No entanto, ao longo do tempo, os italianos se integraram à sociedade brasileira e contribuíram para a diversidade cultural do país.

Outro desafio enfrentado pelos imigrantes italianos foi a adaptação ao clima e às condições de trabalho no Brasil. Muitos deles não estavam acostumados ao clima tropical e tiveram que se adaptar às novas condições de trabalho. Além disso, a falta de infraestrutura nas áreas rurais onde se estabeleceram também foi um desafio. No entanto, com o tempo, os italianos aprenderam a lidar com essas dificuldades e a aproveitar as oportunidades que o Brasil oferecia.

A imigração italiana também teve um impacto duradouro na economia dos três estados. Os imigrantes ajudaram a desenvolver a agricultura e a produção de alimentos, o que se tornou uma das principais fontes de renda dessas regiões. Além disso, muitos italianos se envolveram na produção de vinhos, que hoje é uma indústria importante no sul do Brasil. A cultura italiana também se tornou um importante atrativo turístico, com muitos visitantes vindo de todo o país para conhecer as tradições e a gastronomia italiana.

Em resumo, a imigração italiana teve um impacto significativo nos estados do sul do Brasil. Os imigrantes ajudaram a desenvolver a economia, a cultura e a sociedade dessas regiões, contribuindo para a diversidade cultural do país. Embora tenham enfrentado muitos desafios ao chegar ao Brasil, os italianos se adaptaram e se integraram à sociedade brasileira, deixando um legado duradouro para as gerações futuras.

No entanto, é importante reconhecer que a imigração italiana também teve um impacto negativo em algumas áreas. Os italianos, assim como outros grupos de imigrantes, muitas vezes foram vítimas de exploração e discriminação por parte dos empregadores e da sociedade em geral. Além disso, a chegada de grandes quantidades de imigrantes também teve um impacto na terra e no meio ambiente, com muitas áreas rurais sendo desmatadas e exploradas para fins agrícolas.

Hoje, muitos descendentes de italianos ainda vivem nos estados do sul do Brasil e mantêm vivas as tradições de seus antepassados. A culinária italiana, por exemplo, é uma das mais apreciadas e influentes do país, com muitos pratos típicos sendo encontrados em restaurantes e festivais de comida em todo o Brasil. Além disso, muitas cidades e regiões continuam a celebrar as tradições italianas, com festas e eventos que atraem turistas de todo o país.

Em conclusão, a imigração italiana teve um impacto significativo nos estados do sul do Brasil, ajudando a moldar a cultura, a economia e a sociedade dessas regiões. Embora os imigrantes tenham enfrentado muitos desafios ao chegar ao Brasil, eles se adaptaram e se integraram à sociedade brasileira, deixando um legado duradouro para as gerações futuras. Hoje, a cultura italiana é uma parte importante da identidade do sul do Brasil e um exemplo do poder e da riqueza que a imigração pode trazer para um país.


Texto
Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS



sexta-feira, 23 de junho de 2023

De Pederobba ao Brasil: A História Prodigiosa da Emigração Italiana e a Construção de um Novo Lar

 

Vista desde a colina San Sebastiano


No final do século XIX e início do século XX, a Itália era um país marcado pela pobreza, pela fome e pela instabilidade econômica. A população rural era particularmente afetada pela falta de recursos e pelo difícil acesso à terra e aos meios de produção. Foi nesse contexto que muitos italianos, incluindo aqueles de Pederobba, começaram a emigrar definitivamente para outros países, em busca de uma vida melhor.
A emigração de Pederobba para o Brasil foi impulsionada pela falta de oportunidades econômicas e pela crise agrícola que afetava a região. Na sua maioria esses emigrantes eram camponeses, ou moradores na pequena vila, que trabalhavam como empregados diaristas para algum proprietário de terras, buscando melhores condições de vida e trabalho em outros lugares. A emigração para o Brasil foi incentivada por agências de recrutamento que prometiam trabalho e terra para os italianos que se aventuravam a cruzar o oceano.
A travessia para o Brasil era longa e perigosa, e muitos emigrantes enfrentaram condições precárias durante a travessia do Atlântico. Viajavam em navios superlotados e insalubres, onde as condições de higiene eram ruins e as doenças que surgissem se espalhavam rapidamente. A viagem podia durar semanas, e muitos emigrantes morriam devido à deficiência alimentar, à sede e às doenças a bordo.
Ao chegar ao Brasil, os emigrantes enfrentavam novos desafios. Não falavam português, somente o seu tradicional dialeto vêneto, marcadamente da direita do Piave e poucos tinham experiência na vida urbana, o que dificultava a adaptação ao novo ambiente. Além disso, as condições de vida nos centros urbanos eram precárias, com moradias superlotadas, falta de saneamento básico e doenças endêmicas, como a febre-amarela e a varíola.
No entanto, apesar das dificuldades, muitos emigrantes de Pederobba conseguiram se estabelecer no Brasil e construir uma nova vida para si e para suas famílias. Muitos se dedicaram à agricultura, trabalhando em fazendas e plantações em diferentes regiões do país. Outros se dedicaram ao comércio e à indústria, estabelecendo pequenos negócios e fábricas em cidades como São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba entre outras.
Com o tempo, os imigrantes italianos, incluindo aqueles de Pederobba, foram se integrando à sociedade brasileira e contribuindo para o desenvolvimento do país. Eles trouxeram consigo suas tradições culturais, incluindo a culinária, a música e as festas, que hoje são uma parte importante da identidade cultural brasileira. A presença dos descendentes de italianos no Brasil é um testemunho da importância da imigração na história do país e do papel vital que os imigrantes desempenharam na construção do Brasil moderno.
Atualmente, a cidade de Pederobba é uma cidade com cerca de 5.000 habitantes e está localizada na região do Vêneto, na província de Treviso. Embora seja uma cidade pequena, Pederobba tem uma rica história e cultura, que reflete a herança dos imigrantes italianos que deixaram a cidade no final do século XIX e início do século XX em busca de novas oportunidades no Brasil. Ela tem desde 2003 um programa de cidades-irmãs chamado em italiano de gemellaggio com o município gaúcho de Jacutinga e a mais de 40 anos com a cidade de Hettange-Grande na França.
A emigração de Pederobba para o Brasil foi apenas uma parte de um fenômeno maior de emigração italiana para o exterior. Entre 1876 e 1976, estima-se que mais de 26 milhões de italianos tenham deixado o país em busca de uma vida melhor em outros lugares. A maioria dos emigrantes italianos se dirigiu para os Estados Unidos, Argentina e Brasil, mas muitos também foram para a Austrália, Canadá e outros países da América Latina e Europa.
A emigração italiana para o Brasil foi particularmente significativa durante as últimas décadas do século XIX e as primeiras décadas do século XX, com um hiato no período de 1914 a 1918 devido o conflito mundial. Estima-se que entre 1880 e 1930, cerca de 1,5 milhão de italianos tenham deixado o país em direção ao Brasil. A maioria dos emigrantes era de origem rural e se estabeleceu em regiões agrícolas do país, como o Paraná, São Paulo e Rio Grande do Sul.
No Paraná, os imigrantes italianos foram inicialmente assentados em colônias no litoral paranaense próximas a Paranaguá e depois se estabeleceram por conta própria em cidades como Curitiba, Piraquara, Colombo e São José dos Pinhais. Eles contribuíram para o desenvolvimento da agricultura e da indústria na região, e sua presença deixou uma marca indelével na cultura e na identidade do estado.
Atualmente, os descendentes de imigrantes italianos no Brasil formam uma grande comunidade, com uma forte presença em cidades como São Paulo, Vitória, Curitiba e Porto Alegre. Eles mantêm vivas as tradições e a cultura de seus antepassados, incluindo a culinária, a música e as festas, sendo reconhecidos como uma parte importante da diversidade cultural do país.
A emigração de Pederobba para o Brasil no final do século XIX e início do século XX foi um exemplo de como a falta de oportunidades econômicas e as condições de vida precárias podem levar as pessoas a buscar uma vida melhor em outros lugares. Embora os emigrantes italianos tenham enfrentado muitos desafios e perigos durante a viagem e a adaptação ao novo ambiente, eles conseguiram construir uma nova vida para si e para suas famílias no Brasil. A presença dos descendentes de imigrantes italianos no país é um testemunho da importância da imigração na história do Brasil e do papel vital que os imigrantes desempenharam na construção do país moderno.


Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS





quarta-feira, 11 de novembro de 2020

Cartas de Chamada






No ano de 1911, foi promulgada uma lei brasileira que em certo sentido legalizava o uso da Carta de Chamada. Por exemplo, introduzia a obrigação da chamada para os maiores de 60 anos e os não aptos para o trabalho que quisessem emigrar. No seu parágrafo único dizia: os maiores de 60 anos de idade e os inaptos para o trabalho só serão admitidos com imigrantes quando acompanhados de suas famílias, ou quando vierem para a companhia destas, contanto que haja da mesma família pelo menos um individuo válido, para outro inválido ou para um até dois maiores 60 anos. O único modo para demonstrar que o migrante vinha para estar com a família e esta estava disposta e apta para sua manutenção era se munir de uma Carta de Chamada. O governo federal forneceria gratuitamente aos agricultores ou aos chamados pelas mesmas, desde que aptos para o trabalho, passagem de terceira classe, transporte e acomodações até o destino escolhido, isenção do pagamento das taxas de bagagem e ótimo motivo para se apresentar com uma Carta de Chamada.  




Ainda no Capítulo III, art. 18° da referida lei, dizia que: dava-se preferência para o embarque com as companhias de navegação, autorizadas pelo governo federal, para transporte dos imigrantes, para os assim denominados imigrantes espontâneos e para aqueles chamados por parentes já estabelecidos no Brasil. 

As Cartas de Chamada eram aquelas escritas por parentes que já haviam anteriormente imigrado e mandavam notícias para seus familiares que ainda estavam na Itália. Esses parentes ou amigos que já moravam no Brasil, imigrados há algum tempo se responsabilizavam pela vinda do resto da família, que deveria carregar consigo as cartas de chamada durante a viagem, como um documento para ser aceito no novo país. Essas cartas de chamada do Brasil permitiam que tanto cidadãos brasileiros quanto os imigrantes, com residência permanente no país, “chamassem” seus parentes, fornecendo-lhes um atestado de apoio.  




Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS








 

 


terça-feira, 3 de novembro de 2020

Relato de uma mãe emigrante italiana



Relato de uma mãe, emigrante italiana, que lembra a agonia de perder uma filha na travessia do grande oceano, viagem mil vezes sonhada enquanto esperava a partida, nos longos meses passados na sua pequena vila no interior do Vêneto, vendendo tudo que tinham para juntar o dinheiro necessário para pagar as passagens de navio.

"Durante a viagem no navio a menina ficou coma febre, uma febre cada vez mais alta, eu ficava com ela dia e noite, não sabia o que fazer. Uma noite a ouvi gemer, estava suando frio, tremendo; tentei aquecê-la e segurá-la perto de mim, mas de repente ela parou de tremer. Estava morta. Morta. Talvez porque não havia remédios, talvez porque não havia nenhum médico por perto; não sei. Talvez ela tivesse contraído uma febre mortal”. 

"Arrancaram ela dos meus braços, a enfaixaram bem apertado da cabeça aos pés e amarraram uma grande pedra ao pescoço; durante a noite, às duas horas da madrugada, com aquelas ondas tão negras, baixaram-na ao mar. Eu gritava, gritava, não queria me afastar dela, queria me afogar com minha filhinha; alguns braços me seguraram, homens eu creio. Eu não queria que minha filhinha tão pequenina acabasse naquele mar tão frio, tão escuro, certamente devorada pelos peixes. Eu queria ser enterrada com ela, protegê-la de alguma forma, defendê-la, para que não a devorassem. Eu não queria deixá-la sozinha, pobre criança, mas eles me seguraram enquanto a jogavam ao mar. Aquele baque na água, nunca mais consegui esquecer”. 





A imigrante vêneta que viajava para o Brasil era Amalia Pasin que, com seu marido Giovanni, partiram da cidade de  Villafranca Padovana, no ano de 1923, teria ela, muitos anos depois, contado esta sua tragédia para a escritora Francesca Massarotto Raouik, autora do livro "Brasil sempre. Mulheres do Vêneto no Rio Grande do Sul”. Mulheres todas movidas pela mesma esperança: "catàr fortuna". Lá, no "Brasil taliàn" cheio de nossos imigrantes e evocado uma comovente canção "Itália bela, mostre-se gentil/ não abandone teus filhos/ senão todos irão para o Brasil /e não mais se lembrarão de retornar ..." . Alguns fizeram fortuna. Outros não. 

Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS







Narrativas da Longa Viagem pelo Oceano




Os acontecimentos entre o velho e o novo mundo naquele período da grande emigração italiana não passou despercebida para Edmondo De Amicis (um escritor e militar italiano, nascido em 21 de outubro de 1846, em Oneglia, Imperia.) como se pode ler neste belo fragmento da sua obra Sull'Oceano:

“E mais do que qualquer outra coisa, fui atraído pelas malas postais, amontoadas em um canto, amarradas e lacradas. Pois ali havia fragmentos do diálogo de dois mundos: quem sabe quantas cartas de mulheres que pela terceira ou quarta vez pediam dolorosamente notícias do filho ou do marido, que há anos não se viam; e súplicas para retornar ou chamá-los para se juntar a eles; questões de emergência; anúncios de doenças e mortes; e retratos de meninos que seus pais não teriam mais reconhecido, e chamadas desoladas de namoradas e mentiras atrevidas de esposas infiéis e últimos conselhos de velhos: tudo isso misturado com cartas eriçadas com figuras de banqueiros, com cartas de amor de dançarinas e coristas, para perspectivas de lojistas de vermute, com maços de jornais aguardados pela colônia italiana, ávidos por notícias da pátria; talvez até o último poema de Carducci e o novo romance de Verga: uma confusão de folhas de todas as cores, escritas em cabanas, em edifícios, em oficinas, em sótãos, rindo, chorando, tremendo. E todos esses sacos seriam espalhados em poucos dias desde a foz do Prata até as fronteiras do Brasil e da Bolívia e até as costas do Pacífico e no interior do Paraguai e subindo as encostas dos Andes, para despertar alegria, remorso, dor, medo. Que, então, por sua vez, embalados em outros sacos, teriam feito o mesmo caminho no sentido contrário, amontoados em outro camarim daqueles, onde teriam visto passarem outras procissões de pobres, voltando ao velho mundo, talvez menos pobre, mas não mais felizes do que quando eles o abandonaram na esperança de um destino melhor. " 

Em 11 de março de 1884, Edmondo De Amicis embarcou no Porto de Gênova, no navio a vapor América do Norte, com destino à Argentina. As suas obras Sull'Oceano (de 1889) e In America (de 1897) estão associadas à sua viagem à América do Sul, uma viagem que lhe dará ideias e material para criar outro livro Dos Apeninos aos Andes.

Relata: "O calor escaldante não era o pior, era um fedor de ar frácido e borrado, que da escotilha aberta dos dormitórios masculinos subia em sopros até o tombadilho, uma mancha digna de pena considerar que vinha de criaturas humanas, e assustador pensar no que aconteceria se uma doença contagiosa surgisse a bordo. No entanto, eles nos disseram, não havia mais passageiros do que a lei permite que embarquem em relação ao espaço. Eh! O que importa se você não respirar! A lei está errada. Permite que quase um terço do espaço seja ocupado nos vapores italianos do que nos ingleses e americanos; e não está lá para ver se tudo bem encontrado pela polícia na partida, é então mantido durante a viagem; evitar, por exemplo, que mais passageiros embarquem em outros portos do que lugares sobrando, e que viajantes saudáveis ​​sejam jogados no espaço reservado para enfermeiras e que dormitórios sejam improvisados ​​no estilo de bella diana. Quanto ainda há por fazer dentro destes belos vapores que no dia da partida se avistam resplandecendo como palácios de príncipes! Em sua maioria, os marinheiros e foguistas estão lá como cachorros, a enfermaria é um armário, os lugares que deveriam ser mais limpos são horríveis e para mil e quinhentos viajantes da terceira classe não há banheiro. E digam o que dizem os higienistas que fixaram o número necessário de metros cúbicos de ar: a carne humana é muito apinhada, e que já foi pior, não desculpe: hoje ainda é algo que faz compaixão e move ao desprezo . " Esta passagem é tirada de Sull'Oceano, que, inicialmente, De Amicis intitulou Nossos agricultores na América. Pelas notas de De Amicis, na margem do manuscrito, sabemos que a "América do Norte" embarcou para Buenos Aires 1.600 passageiros na terceira classe, 20 na segunda e 50 na primeira, além dos 200 tripulantes. Similares eram as condições de viagem dos camponeses do sul do Piemonte, Lombardia, Veneto e Itália Central indo para a América. Para milhares e milhares deles, aquela travessia permanecerá na memória como a memória do inferno. 

Continua De Amicis: “À medida que a coluna do termômetro aumentava, as ocupações e os aborrecimentos do Comissário aumentavam; o mais importante deles era o dormitório feminino, onde ela tinha que ir com frequência, dia e noite, para restaurar a ordem ou para zelar pela limpeza. Mesmo levando em conta o que fazer, aquele espetáculo obrigatório teria bastado para fazer qualquer cavalheiro perder o amor pelo escritório. Imagine dois andares abaixo do convés, como dois grandes mezaninos, iluminados por uma luz de adega, e em cada um deles três fileiras de beliches colocados um em cima do outro, ao redor das paredes e no meio, e ali cerca de quatrocentos entre a amamentação e mulheres e crianças mimadas, e trinta e dois graus de calor. Aqui, no beliche de baixo, uma mulher grávida dormia com uma criança de dois anos, acima dela uma mulher de setenta anos, acima dela uma menina na primeira flor; ali, um camponês da Calábria estendeu-se ao lado de uma senhora que havia caído na pobreza; mais à frente, uma aventureira da cidade maquilando-se no escuro, ao lado de uma camponesa temente a Deus, que dormia com o rosário nas mãos. "




Esta ilustração de Arnaldo Ferraguti aparece nas primeiras páginas da luxuosa edição de 1890 de Sull'Oceano, onde De Amicis descreve o embarque: “Então as famílias se separaram: os homens de um lado, do outro as mulheres e os meninos foram levados aos seus dormitórios. E foi uma pena ver aquelas mulheres descerem com dificuldade as escadas íngremes e tatearem por aqueles dormitórios amplos e baixos, entre aqueles inúmeros beliches dispostos no chão como caixas de vermes, e aquele, ofegante, pedindo contas de um perdidos para um marinheiro que não os compreendia, os outros se jogam onde estavam, exaustos e espantados, e muitos vão e vêm ao acaso, olhando com preocupação para todos aqueles companheiros de viagem desconhecidos, inquietos como estão, confusos também daquela aglomeração e daquela desordem ”. Mais uma vez, o escritor lança luz sobre uma declaração lacônica de Mosè Bertoni ("mulheres alojadas nos piores lugares") e retoma o argumento mais tarde, no capítulo intitulado O dormitório feminino: "Imagine dois andares abaixo do convés, como dois mezaninos muito grandes, iluminados por uma luz de adega, e em cada um deles três fileiras de beliches colocados um em cima do outro, ao redor das paredes e no meio, e ali cerca de quatrocentas mulheres e crianças bebês amamentados e mimados e trinta e dois graus de calor. [...] Indo lá à noite, cabelos grisalhos, tranças loiras, panos enfaixados, canelas horríveis e senis e lindas pernas de menina, e um trapo de xales, vestidos e saias pendurados nos beliches de todas as cores naturais e adquiridas imagináveis ​​e possíveis, como bandeiras do exército infinito da miséria: e no embarque os montes confusos de botas, tamancos, chinelos, cadarços, sapatinhos, meias, para assustar pensar que havia pilhas de problemas e contendas preparadas para amanhã, na hora do nascer ”.


terça-feira, 6 de março de 2018

Os Imigrantes Italianos e os Vênetos no Rio Grande do Sul

Emigrantes Italianos no Porto de Gênova esperando o embarque


Os Imigrantes Italianos e os Vênetos no RS

 O Rio Grande do Sul foi uma terra disputada pelas coroas da Espanha e Portugal e a expansão da sua população teve o seu início com a chegada do século XVIII. 
Depois de muitos anos de cruentas lutas, a então Província foi delimitada e se deu início a sua colonização de forma sistemática. Assim no ano de 1824 chegaram os imigrantes alemães e mais tarde, cinquenta anos após, em 1875 as primeiras famílas de colonos italianos. 
Tendo obtido bons resultados com as colônias alemãs, no ano de 1875, a Província recebeu do Império as colônias Dona Isabel (que mais tarde se chamou de Bento Gonçalves) e Conde D'Eu (depois chamada de Garibaldi) destinadas a receber imigrantes italianos em geral, sendo que os vênetos eram a grande maioria. 
Depois foram criadas outras colônias: a Colônia Fundos de Nova Palmira, logo depois rebatizada como Colônia Caxias e também a Colônia Silveira Martins
O primeiro grupo de imigrantes italianos chegou no Rio Grande do Sul em 1875 e se estabeleceu na Colônia Nova Palmira, no local chamado Nova Milano (hoje Farroupilha). Neste mesmo ano outros imigrantes italianos em geral e vênetos em particular se estabeleceram nas Colônias Conde D'Eu e Dona Isabel e já em 1877 na Colônia Silveira Martins, vizinho a atual cidade de Santa Maria.
Os imigrantes italianos que vieram para as novas colônias no Rio Grande do Sul proveniam, na sua quase totalidade, do norte da Itália (Vêneto, Lombardia, Trentino Alto Adige, Friuli Venezia Giulia, Piemonte, Emilia Romagna, Toscana, Liguria). Um dado estatístico nos revela que por zona de proveniência: Vênetos 54%, Lombardos 33%, Trentinos 7%, Friulanos 4,5% e os demais 1,5%. Como se pode ver os vênetos e os lombardos constituíram 88% dos imigrantes fixados na Província do Rio Grande do Sul. 
Os imigrantes italianos chamados para substituir mão de obra escrava, com o advento da abolição da escravidão no Brasil, rapidamente, em poucos anos, os territórios à eles destinados para colonização, já estavam inteiramente ocupados, obrigando os que chegavam, e também aos filhos desses pioneiros, a procurar novas terras, mais distantes das primeiras colônias. Assim foram surgindo outras colônias, sempre com a esmagadora predominância numérica dos vênetos: atuais cidades de Alfredo Chaves, Nova Prata, Nova Bassano, Antônio Prado, Guaporé e um pouco mais tarde, Vacaria, Lagoa Vermelha, Cacique Doble, Sananduva e Vale do Rio Uruguai, como Casca, Muçum, Tapejara, Passo Fundo, Getúlio Vargas, Erechim, Severiano de Almeida.



Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS