Mostrando postagens com marcador imigraçao veneta Brasil. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador imigraçao veneta Brasil. Mostrar todas as postagens

domingo, 7 de setembro de 2025

Entre a Planície do Pó e o Novo Mundo


 

Entre a Planície do Pó e o Novo Mundo


Vittorio Belinazzo nasceu em 1875, em Fratta Polesine, um pequeno município da província de Rovigo. A infância se desenrolara na monotonia das terras planas do Polesine, onde os campos, cortados pelos canais e cercados pelas cheias do Pó, sustentavam com dificuldade as famílias camponesas. A vida era feita de um trabalho constante e de recompensas escassas. O pai, Giuseppe, ganhava a vida como diarista nos vastos arrozais da região, passando os dias dobrado sobre a enxada em terras que nunca seriam suas. A mãe, Rosa, governava a casa e mantinha unidos os sete filhos, enquanto o tempo parecia arrastar-se em um ciclo de pobreza resignada.

Quando a Itália se unificara, muitos em Fratta esperaram por um futuro mais justo. Mas o que chegara às portas da aldeia não fora prosperidade, e sim impostos mais pesados e as crises do trigo que minavam qualquer esperança. Na juventude, Vittorio viu vizinhos e parentes partirem em grupos rumo à América. A ideia o perseguia: deixar a planície, os rios e os arrozais, atravessar o mar e tentar a sorte em terras onde a fome não fosse companheira diária.

No início dos anos 1890, tomou a decisão de partir junto com a família de um seu tio materno. Despediu-se dos pais e dos irmãos menores com a promessa de jamais esquecê-los e embarcou no porto de Genova para o Brasil. A travessia foi longa, marcada pelo aperto dos porões e pelo cheiro sufocante de corpos amontoados. Mas, ao desembarcar em Santos e seguir para São Paulo, sentiu que uma nova vida começava.

Instalou-se primeiro como operário em pequenas oficinas. O trabalho era duro, mas o ritmo frenético da cidade crescia junto com suas oportunidades. Com o tempo, aprendeu o ofício de relojoeiro, profissão que exigia paciência, precisão e um olhar atento aos detalhes, virtudes que lhe serviriam pela vida inteira.

Foi nessa época que conheceu Elisa, filha de imigrantes de Brescia. Casaram-se em 1898. A casa modesta que ergueram em São Paulo foi o primeiro refúgio estável que Vittorio conheceu. Pouco depois, nasceram os filhos: Maria, em 1899, e Alfredo, em 1901. O orgulho de ser pai dava-lhe forças para suportar a exaustão das longas horas de trabalho.

A lembrança da família em Fratta, contudo, jamais o abandonou. O irmão mais novo, Giulio, permanecera na Itália e buscava aprender um ofício. Para Vittorio, ele simbolizava uma esperança: que as gerações seguintes pudessem escapar do destino de servidão ao campo. A irmã Teresa, casada com um funcionário público de Rovigo, representava a estabilidade que ele mesmo buscava no Brasil. E até os sobrinhos, crianças que jamais vira, ocupavam um lugar no seu coração.

Apesar do esforço diário, a prosperidade não vinha. Os ganhos eram sempre consumidos pelas necessidades da família. O Brasil oferecia uma vida mais segura do que o Polesine, mas estava longe das promessas de abundância que haviam circulado nas aldeias italianas. Vittorio, realista, aceitava essa condição. Entendia que sua verdadeira conquista não estava em enriquecer, mas em oferecer aos filhos uma vida que não começasse já marcada pela fome.

Os anos se sucederam, e sua identidade passou a ser dividida entre dois mundos. No Brasil, era marido, pai e artesão. Na Itália, permanecia filho e irmão, ligado por laços invisíveis que nem a distância do oceano conseguia romper. Era a vida de um emigrante: suspensa entre a memória de uma terra perdida e a construção de outra, que nunca deixava de ser estrangeira.

O tempo avançou rápido sobre a vida de Vittorio Belinazzo. A oficina de relojoeiro, modesta mas respeitada, tornara-se seu refúgio durante décadas. Entre engrenagens, ponteiros e cordas de aço, ele via o tempo passar não apenas nos relógios que consertava, mas também no rosto que se transformava diante do espelho.

Os filhos cresceram. Maria, a primogênita, herdara da mãe a firmeza e do pai a delicadeza dos gestos. Tornou-se professora, ocupação que enchia Vittorio de orgulho, pois simbolizava a ruptura com o destino de servidão que ele conhecera na infância. Alfredo, inquieto e enérgico, não quis seguir o ofício paterno; preferiu o comércio, atraído pelo movimento das ruas do centro de São Paulo.

Aos poucos, a cidade mudava. Bondes elétricos substituíam os puxados por mulas, fábricas se multiplicavam, e a enxurrada de imigrantes continuava a transformar o cenário urbano. Vittorio, já homem maduro, sentia-se parte dessa transformação, mas guardava dentro de si uma nostalgia persistente das planícies do Polesine.

Durante anos alimentou a ideia de voltar a Fratta Polesine, ainda que apenas em visita. Imaginava a mãe diante da velha casa de pedra, o irmão Giulio já adulto, talvez dono de uma oficina própria, e os sobrinhos, crescidos sem jamais conhecê-lo. Mas a vida não lhe deu essa chance. A morte da mãe chegou-lhe pela notícia tardia de um vizinho que regressara à Itália. Depois, a guerra de 1915 a 1918 devastou a Europa, tornando impossível qualquer retorno. O sonho de rever a aldeia desfez-se em silêncio.

A velhice chegou discreta. Elisa, companheira de todas as lutas, adoeceu primeiro. Vittorio cuidou dela até o último instante, com a mesma paciência com que cuidava de um relógio frágil. Sua partida abriu um vazio irreparável. Viúvo, continuou vivendo na mesma casa, cercado de lembranças e da presença esporádica dos filhos e netos.

Com os anos, o ofício deixou de ser necessidade e passou a ser companhia. Continuava sentado à bancada, ajustando engrenagens com mãos já trêmulas, como se os relógios fossem testemunhas silenciosas de sua própria resistência. A memória, porém, permanecia viva. Em certos fins de tarde, fechava os olhos e via-se de novo menino em Fratta, correndo pelos campos encharcados, ouvindo a voz da mãe chamando para casa.

Assim viveu Vittorio Belinazzo, homem comum e anônimo, mas cuja coragem em atravessar o mar e recomeçar do nada ecoaria nas gerações seguintes. O sacrifício silencioso de sua existência fazia parte de uma história maior: a de milhares de italianos que, como ele, trocaram as margens do Po pelas ruas de São Paulo, levando consigo saudades, esperanças e a obstinada fé no futuro.

Morreu em 1949, com setenta e quatro anos, cercado pelos filhos e netos. Não deixou riquezas, mas legou à família algo mais duradouro: a coragem de ter cruzado o oceano e a dignidade de uma vida erguida sobre trabalho, fidelidade e amor.

Na pequena sepultura de São Paulo, longe das margens do Pó, repousou Vittorio Belinazzo. Mas, na memória dos descendentes, sua figura jamais ficou confinada ao cemitério. Para eles, ele era o elo entre dois mundos, o homem que carregara na alma a planície de Rovigo e a plantara, invisível, no solo do Brasil.

Nota do Autor

Esta história é baseada em fatos verídicos, embora os nomes tenham sido alterados a pedido de um de seus descendentes, aquele que generosamente forneceu os dados que tornaram possível reconstruir a vida de Vittorio. O objetivo desta narrativa não é apenas preservar a memória de sua trajetória, mas também transformá-la em algo mais amplo: uma homenagem a todos aqueles que, como Vittorio, enfrentaram as adversidades com coragem, honra e perseverança. Ao compartilhar esta história, espero que ela transcenda os limites de uma família, tocando a todos que reconhecem a força e a dignidade de quem se aventura a construir uma vida nova, mesmo diante das dificuldades. 

Dr. Piazzetta




quarta-feira, 3 de setembro de 2025

Settimo Manfrino – Entre as Dolomitas e os Cafezais

 


Settimo Manfrino

Entre as Dolomitas e os Cafezais


Settimo Manfrino nasceu em 1870, em Sappade, uma pequena localidade encravada nas Dolomitas, no comune de Falcade, província de Belluno. Era o sétimo filho de Masueto e Giuseppina, batizado com um nome que carregava tanto a marca da numerosa família quanto o peso da esperança de sobrevivência em uma terra dura. Ali, os campos eram estreitos, pedregosos, de cultivo ingrato. O trigo rareava, o centeio crescia baixo e os invernos cobriam tudo com neve densa, que transformava as montanhas num espetáculo belo e cruel. As casas de pedra lutavam contra o frio que descia noite após noite a temperaturas que congelavam até as fontes.

A vida era trabalho incessante e ganhos mínimos. Nos últimos anos, a instabilidade climática havia trazido ainda mais dificuldades. Colheitas já escassas se tornaram quase inexistentes. Os celeiros, outrora modestos mas suficientes, agora guardavam apenas restos. O pão de cada dia vinha misturado com batata e farinha de castanha, numa luta contra a fome. O pai, envelhecido pelo peso da enxada e das dívidas, sabia que os filhos não teriam futuro ali.

Foi Giuseppe, o primogênito, quem primeiro tomou a decisão: partir para o Brasil, onde, diziam, as terras eram fartas e o trabalho garantido. A notícia correu pelas encostas como um murmúrio de esperança. Settimo, ainda rapaz de dezessete anos, sem laços de matrimônio, aceitou seguir o irmão. Deixaria para trás a paisagem familiar das montanhas, o cemitério dos antepassados, a pequena igreja de Falcade onde fora batizado.

Em 1887, atravessaram a Itália em trem até o porto de Gênova, levando um baú de madeira e duas pequenas malas de couro, pão seco, queijo curado e as lembranças de uma vida inteira. No navio, uma travessia longa e penosa até Santos trouxe febres, enjoos e a saudade da terra natal. Mas ao pisarem no cais paulista, não houve tempo para contemplações. Junto de outras vinte famílias de emigrantes italianos, embarcaram no trem da Mogiana. O percurso pelos campos tropicais, sob um sol abrasador, mostrou um mundo radicalmente oposto às neves das Dolomitas.

Ribeirão Preto, destino final, era uma terra de horizontes planos, marcados por fileiras intermináveis de cafeeiros. A fazenda que os acolheu, imensa e isolada, impunha regras severas. Contratados por quatro anos, substituíam a mão de obra escrava recém-liberta. Logo compreenderam a realidade: a distância até a cidade tornava impossível buscar auxílio em caso de doença, e quando recebiam seus pagamentos, os colonos eram obrigados a deixar grande parte deles no armazém da própria fazenda, que, por ser o único existente, praticava preços elevados. 

Settimo, ainda franzino e sem a experiência do irmão, conheceu logo o peso do trabalho. As jornadas começavam antes do sol nascer e terminavam quando a lua já brilhava sobre os cafezais. O calor lhe queimava a pele, as mãos se cobriam de calos, e os pés, acostumados a trilhas de montanha, sangravam nos sulcos da terra vermelha. A fazenda era um universo fechado: não existiam médicos, remédios eram luxo, e a solidão corroía a todos.

Apesar disso, o jovem guardava uma força silenciosa. Ao lado de Giuseppe, de Chiara e dos sobrinhos — os meninos Lorenzo e Paolo, e a pequena Bianca —, sustentava-se na ideia de futuro. Aprendeu a manejar a enxada, a colher os grãos maduros, a suportar as longas fileiras sob o sol impiedoso.

Os anos no Brasil moldaram Settimo. Aos poucos, perdeu o aspecto de rapaz e se fez homem, com o corpo marcado pela labuta. Guardava, entretanto, um olhar profundo, herança das montanhas que o viram nascer. Cada dia resistido era também um tributo aos que haviam ficado em Sappade.

Quando o contrato de quatro anos terminou, a família não tinha muito mais que dívidas e fadiga. Mas Settimo já não era o mesmo. A miséria de Falcade havia ficado para trás, e diante dele se abria um novo caminho. Permaneceria no Brasil, na esperança de conquistar um pedaço de terra próprio, onde pudesse finalmente plantar não apenas para sobreviver, mas para viver.

A história de Settimo Manfrino confundia-se com a de milhares de italianos que trocaram as montanhas da Europa pelos cafezais do Brasil. Entre a beleza congelada das Dolomitas e a vastidão quente do interior paulista, sua vida se inscreveu como um testemunho da dureza e da perseverança de uma geração que buscou nos horizontes distantes aquilo que sua pátria não pôde oferecer.

Quando o contrato na fazenda expirou, Settimo Manfrino tinha pouco mais de vinte anos. Não possuía quase nada além das roupas gastas, algumas moedas mal guardadas e o corpo endurecido pelo esforço. Mas possuía também algo que não tinha ao deixar as Dolomitas: a certeza de que o Brasil seria sua pátria definitiva. Voltar não fazia parte de seus pensamentos.

Giuseppe, mais cauteloso, permaneceu na fazenda, aceitando novo contrato. Tinha mulher e filhos para sustentar, não podia arriscar. Settimo, livre de responsabilidades familiares, arriscou o passo seguinte. Juntou-se a outros colonos solteiros que haviam decidido tentar a sorte nos arredores das pequenas vilas que cresciam ao redor dos trilhos da Mogiana.

Foi trabalhar como meeiro em uma pequena plantações da região. Plantava milho e feijão trabalhando sem descanso, movido pela lembrança de sua terra natal, onde os campos pedregosos nunca lhe permitiram sonhar com algo além da sobrevivência. Ali, no interior paulista, a terra parecia infinita, vermelha e fértil, esperando apenas a persistência de quem a cultivasse.

Aos poucos, formou uma rede de amizades com outros imigrantes: vênetos, lombardos, piemonteses, cada um carregando seu sotaque e suas histórias de miséria deixadas para trás. Juntos construíam capelas improvisadas, partilhavam as festas religiosas, ajudavam-se nas colheitas. O Brasil os moldava, mas a Itália permanecia em seus gestos, na língua misturada e nas comidas que preparavam.

Em 1893, já com vinte e três anos, Settimo conseguiu sozinho arrendar um pequeno pedaço de terra. Foi o início de sua independência. O contrato era precário, mas para ele simbolizava vitória. O solo respondia ao esforço, e colheitas regulares lhe garantiam não apenas o sustento, mas algum lucro. Guardava cada moeda com disciplina, sonhando em comprar a própria gleba.

O tempo, no entanto, não era generoso. Febres tropicais rondavam os colonos. Muitos tombaram sem jamais ver cumprido o sonho de possuir terras. Settimo resistiu, ainda que debilitado em algumas temporadas. A lembrança da carta que lera em Ribeirão Preto — avisando sobre a falta de médicos e a solidão das fazendas — se confirmava ano após ano. Mas havia também uma energia nova, uma sensação de que aquele sacrifício poderia finalmente romper o ciclo de pobreza herdado.

No início da década de 1890, reencontrou a família do irmão Giuseppe. As crianças haviam crescido, Bianca já se tornava moça. A vida seguia dura para eles, ainda presos a contratos de fazenda, mas também sonhando com um futuro independente. A união entre as duas famílias tornou-se ainda mais forte. Juntos, arrendavam terras maiores, trocavam dias de trabalho, ajudavam-se a resistir às crises.

Foi nesse período que Settimo conheceu a filha de outro imigrante vêneto, vinda de Treviso. O casamento lhe trouxe estabilidade e, pouco depois, filhos que nasceram já em solo brasileiro. A vida mudava de rumo: da condição de colono sem nada, transformava-se em pequeno agricultor.

Em 1898, após mais de dez anos no Brasil, Settimo conseguiu comprar suas primeiras braças de terra, pagando com a economia de colheitas passadas. Era pouco, mas para ele equivalia a uma conquista histórica. Sobre o lote ergueu uma casa simples de madeira, coberta com telhas de barro que comprara na vila próxima. Ao redor, cercou o quintal, plantou frutas, levantou um pequeno galinheiro.

Os anos seguintes consolidaram a transformação. Settimo já não era apenas o rapaz de dezessete anos que chegara perdido e atônito à fazenda de Ribeirão Preto. Tornara-se um homem de respeito, conhecido entre os vizinhos pela coragem e pelo silêncio. Seus filhos corriam pelos cafezais, falando já mais português que o vêneto dos pais, sinal de que uma nova geração se enraizava naquela terra distante das montanhas dolomitas.

A memória da Itália permanecia como uma sombra distante. O frio de Sappade, as neves que cobriam os telhados, os campos estreitos e inférteis já não eram lembrados com dor, mas com uma melancolia suave. A vida agora estava no Brasil, e a terra vermelha, conquistada com suor e esperança, era a pátria real que ele escolhera.

Settimo Manfrino encerrou o século XIX como proprietário de seu próprio pedaço de mundo. Ainda pequeno, ainda modesto, mas conquistado com a dignidade de quem, ao atravessar o oceano, não levou consigo mais que o desejo de sobreviver.

O século XX encontrou Settimo Manfrino já como um homem feito, dono de um pequeno lote que conquistara com suor e disciplina. A casa de madeira, simples, tornara-se ponto de referência para vizinhos e parentes. O quintal era vivo: galinhas ciscavam soltas, pés de laranja e de goiaba cresciam junto ao cercado, e a horta fornecia milho verde, mandioca e feijão. O café, espalhado em linhas retas pelo terreno, começava a produzir com regularidade, transformando-se na base da renda familiar.

Sua esposa, mulher de temperamento firme, cuidava da casa e dos filhos, impondo uma ordem que lembrava a rigidez das vilas italianas. O sotaque vêneto ainda dominava dentro de casa, mas fora dela os filhos se adaptavam ao português, à escola improvisada na capela e ao convívio com outras famílias, algumas italianas, outras de imigrantes espanhóis e até de libertos que haviam recebido lotes pequenos.

Os filhos de Settimo cresceram entre as fileiras de café e os campos de milho. Aprendiam desde cedo a capinar, colher e transportar. Mas também traziam novidades: a leitura, ensinada por professores itinerantes, e a curiosidade pelo mundo além da colônia. Um deles sonhava em ser comerciante, outro falava em estudar na cidade, e a menina, ainda pequena, repetia o desejo de ser professora. Settimo observava essas mudanças com uma mistura de orgulho e estranheza. Na sua juventude, ninguém tivera escolha; o destino era apenas sobreviver ao frio e às pedras da montanha. Agora, seus filhos ousavam sonhar com horizontes mais largos.

A vida no interior paulista seguia dura, mas o tempo começava a recompensar os colonos. As ferrovias avançavam, as vilas cresciam, e o café transformava-se em ouro verde. Settimo, que começara como colono sem nada, agora vendia parte de sua produção a compradores que chegavam de trem, carregando o café em sacas até Santos. Cada safra bem-sucedida lhe permitia ampliar o lote, comprar ferramentas melhores e garantir uma reserva contra os anos ruins.

Por volta de 1910, Settimo já era considerado um pequeno proprietário respeitado. Não era rico, mas estava longe da miséria que marcara sua infância em Sappade. Os vizinhos o procuravam para conselhos, e os mais novos viam nele um exemplo de perseverança. A barba grisalha e o corpo curvado pelo trabalho davam-lhe uma presença austera. Ainda assim, carregava consigo uma serenidade que vinha da consciência de ter vencido a adversidade. 

Com o tempo, a comunidade italiana ao redor se organizou. Construíram igrejas maiores, fundaram sociedades de auxílio mútuo e até pequenas escolas mantidas pelos próprios colonos. As festas religiosas, como a de São José, reuniam famílias inteiras, que levavam vinho caseiro, polenta e queijos produzidos nos quintais. Nessas ocasiões, Settimo sentia novamente a Itália presente, não nas paisagens, mas nas vozes e gestos dos conterrâneos.

Os anos, porém, também cobraram seu preço. Epidemias de gripe e febre amarela rondaram a região. Settimo perdeu amigos, vizinhos e até parentes, lembrando-se sempre do aviso que ouvira décadas antes: as fazendas estavam distantes dos médicos, e muitas vezes a doença levava os mais fortes sem dar chance de resistência. Ele próprio enfrentou febres que o deixaram de cama, mas sobreviveu, sustentado pela robustez construída em anos de labuta.

Ao aproximar-se dos cinquenta anos, via os filhos trilharem caminhos próprios. Um se tornara tropeiro, transportando mercadorias entre vilas; outro abriu uma pequena venda, misturando português e vêneto com clientes brasileiros; a filha mais velha, como sonhara, tornou-se professora numa escola rural. Para Settimo, cada conquista deles era uma prova de que a travessia do oceano não fora em vão.

No fundo da memória, ainda guardava as imagens das Dolomitas cobertas de neve, da aldeia de Sappade onde nascera, dos campos pedregosos que nunca deram sustento. Mas agora essas lembranças não lhe traziam dor. Pelo contrário, davam-lhe a medida da distância percorrida. Do sétimo filho sem herança, condenado a um destino estreito, erguera-se um homem com terra, família e raízes fincadas em outra pátria.

Quando a primeira década do novo século terminou, Settimo Manfrino já podia olhar para trás e reconhecer: sua vida era o retrato de uma geração que abandonara a miséria da Europa para reinventar-se nas planícies tropicais. Não tivera facilidades, não fora poupado da dureza, mas alcançara aquilo que seus pais jamais imaginaram possível: um futuro.

As décadas de 1920 e 1930 trouxeram para Settimo Manfrino o tempo da colheita tardia da vida. Ele já passava dos cinquenta anos, os cabelos grisalhos se confundindo com o pó vermelho da terra, as mãos deformadas pelos calos de décadas de trabalho. Caminhava devagar entre os cafezais, apoiado num bastão, mas sua presença ainda impunha respeito entre os vizinhos. Era um dos colonos mais antigos da região, daqueles que haviam chegado quando Ribeirão Preto ainda não passava de uma promessa e a terra era apenas selva e lavoura bruta.

O café continuava sendo o sustento, mas o mundo ao redor começava a mudar. A ferrovia levava as sacas até Santos, os armazéns das vilas cresciam, e o dinheiro circulava com mais frequência. Alguns imigrantes prosperaram, tornando-se grandes fazendeiros. Settimo permaneceu como pequeno proprietário, fiel à rotina, sem jamais aspirar ao luxo. A ele bastava ter garantido terra para plantar, casa para os filhos e a segurança de que a miséria das Dolomitas não se repetiria em sua linhagem.

Na década de 1920, viu os filhos formarem famílias próprias. A filha professora mudou-se para uma vila maior, onde lecionava para crianças de diferentes origens — filhos de italianos, portugueses, espanhóis e brasileiros pobres. O filho comerciante ampliou sua venda, que já era ponto de encontro de toda a colônia, lugar onde notícias da Itália e do Brasil se misturavam em vozes altas e risadas. O tropeiro, inquieto como sempre, tornou-se carreteiro, transportando mercadorias entre fazendas e cidades. Cada um seguiu seu destino, mas todos retornavam nas festas religiosas e nos domingos de missa, quando a mesa da casa de Settimo voltava a encher-se de vozes e de pão.

O ano de 1929 trouxe um golpe inesperado. A crise econômica mundial derrubou o preço do café. Sacas inteiras foram queimadas ou lançadas fora, e os pequenos produtores viram o valor de sua produção se reduzir a nada. Settimo, já envelhecido, sofreu o impacto, mas resistiu com a mesma tenacidade de sempre. Plantou milho e feijão nos espaços entre os cafezais, garantiu comida antes de pensar em lucro. Os filhos o ajudaram a atravessar os anos difíceis, dividindo recursos e apoiando-se mutuamente. A pobreza ameaçou, mas não venceu.

Com a Revolução de 1930 e a instabilidade política, o interior paulista viveu tempos de tensão. Os colonos ouviam falar de conflitos e de mudanças nas cidades, mas no campo a vida seguia marcada pelo ritmo das colheitas. Settimo já não trabalhava como antes; suas forças haviam diminuído. Passava mais tempo sentado à sombra de um pé de jabuticaba, observando os netos correrem pelo quintal. O sorriso das crianças lhe trazia uma paz que não conhecera na juventude.

Naqueles anos, começou a recordar com mais frequência a aldeia de Sappade. Pedia aos filhos que lhe descrevessem novamente as cartas enviadas por parentes que haviam ficado na Itália. Lia nelas a fome e a guerra que ameaçavam a Europa, e sentia uma estranha mistura de tristeza e alívio. Tristeza por saber que sua terra natal continuava a sofrer; alívio por ter escolhido partir em 1887, garantindo aos seus uma vida diferente.

Ao final da década de 1930, Settimo já não saía mais de casa com frequência. Caminhava pouco, falava menos, mas ainda tinha nos olhos o brilho dos que sabem que venceram a luta essencial da vida. Vivia cercado de filhos e netos, cada um carregando nos gestos uma parte da Itália que ele trouxera consigo.

Quando morreu, por volta de 1938, aos sessenta e oito anos, a comunidade inteira se reuniu. O corpo foi velado na capela erguida pelos imigrantes, e a missa atraiu colonos de todas as redondezas. Muitos o consideravam símbolo de uma geração que atravessara o oceano sem nada e deixara no Brasil raízes profundas. Sua sepultura, simples e de cruz de madeira, foi coberta por coroas de flores trazidas pelos vizinhos e parentes.

Settimo Manfrino partira, mas sua vida já estava impressa no solo vermelho do interior paulista. Os filhos e netos dariam continuidade ao que ele começara, misturando o sangue das Dolomitas ao destino brasileiro. A travessia de 1887, feita por um rapaz franzino de dezessete anos, agora se revelava como o marco fundador de uma nova linhagem. Entre as montanhas pedregosas da Itália e os cafezais do Brasil, Settimo construíra uma ponte eterna.

domingo, 13 de julho de 2025

La Saga de un Emigrante Italiano in Brasil


 

La Saga de un Emigrante Italiano in Brasil

A la fin del sècolo XIX, nasseva a Albettone, ancora ´na modesta vila in meso a le dolse coline verdesianti del Basso Vicentino, Giuseppe Zanon, ciamà con afeto Beppi da tuti quei che ‘l conosséa. El gera ‘n zovene de spìrito inquieto e de soni grandi, che a 23 ani portava in cuor el peso de le dificoltà de la so tera—‘na Italia segnata da mancanse, dal lavoro duro sui campi strachi e da ‘na speransa che no se volea mai ‘ndar via, malgrado el sconforto. Intel 1886, movesto da ‘na voia ardente de ‘n futuro mèio, Beppi el ga dessidesto de lassàr indrio le so radisi che ‘l gavea sempre sostegnù, partendo verso el Brasil. Là, el credeva, che’l podesse siapar ocasioni che ghe cambiarìa la vita, permetendoghe de siapar richessa e prosperità a basta par, un dì, tornar in Italia e viver con dignità e conforto che mai ghe iera stai dati.

La partenza la xe stada segna da lacrime e saludi pieni de dolore a la stazion dei treni de Vicenza. Sota ‘l celo grigio de ‘na matina fredda, el vapor del treno se mescolava co’l fià de parole no dite, co’l dolor che se tegnéa drento nei sguardi che se incrociava par l’ultima volta. El gavea dito ciao a la so mare, ‘na dona che la so pella rugàa contava ani de sacrifici, segnata dal tempo e da ‘na lota sensa fine par nutrir la fameja.

I do fradei più zoveni, coi facci bagnài da ‘n’innocenza spaventada, i gavea l’ocio spalancà, come se i podesse capir el destino incerto che spetava el fradeo più vecio. A ogni fischio del treno, i sentiva la proximità de ‘na assenza che no savea come ciamar, ma che pèsava come ‘na pèdra sul cuor de ‘sti putèi.

Drio de lori, el campo che la fameja coltivava con man callose restava mut, testimone muto de ‘n sforzo che no bastava più. La tera, ingrata e stanca, no voleva restituir el sudor versà, regaland solo rasi e senza speransa. Là, dove ‘na volta sbocciava el sogno de la prosperità, adesso regnava ‘n vuoto che rimbombava nel cuor de chi dovea partir.

In tel momento, ogni dettaglio paréa stampàrse nella memoria come ‘na foto sfumada, piena de ‘na melanconia che no se podéa scancelar. El rumore ritmàico delle rote de fero contro i binari sunava come el ticcheteo de ‘n orologio che no molava, segnando el tempo che restava prima del saluto definitivo. L’odor acre del carbon brucià se mescolava col freddo umido de la matina, impregnando i vestii e i sensi, facendo la scena ancora più viva e indelebile.

Le voci sussurrate dei viaggiatori intorno creava ‘na tela de fondo quasi insignificante, lontani dala so bolla de solitùdine. Ogni parola parea senza peso diante la vastità de la partenza. El tegnéa fissi i oci sulla figura fragile de la so mare, che la provava, invano, a mascheràr le lacrime che scendeva sul viso segnào dal tempo. La tegnéa in man un fazoletto bianco, ‘n gesto quasi inutile, ma pien de significati. Parea volèr fermàr el momento, impedir che ‘l scapasse via.

Drio de le, i fradei più zoveni, coi visi pallidi e i oci inquieti, no capiva ben la profondità de quel che stava per suceder. El più vecio tegnéa la man del più picin, come ‘n scudo contro ‘na minaccia invisibile che sentiva nel cuor. Par ‘n attimo, el se domandava come i saria stai fra qualche ano, se i saria stai boni de affrontàr la dureza de la tera e de la vita senza de lu a dividar el peso.

El savea che, attraversando la linea del orizonte, no solo lassaiva indrio la tera natia — la vila coi so stradini streti, l’odor del pan fresco de matina, el murmurio delle preghiere nella ceseta — ma anca ‘n pezzo de lu stesso, ‘n frammento de la so identità che jera stà forgià da generazioni de lota e sacrificio. Partir gera ‘na sorta de morte lenta, ‘n strappo de radisi che sempre lasaria segni indelebili.

Intanto che el tren fasea el so pito, segnando el imbarco, un misto de paura e determinazion el gà ciapà el so cuor. Fora, un mondo sconossiùo lo spetava, un posto dove forsi ghe sarìa stae oportunità, ma anca dubi e solitudine. El gavea serà i oci par un momento, assorbendo ogni detajo de quel che el lassava indrìo, come un colecionador de ricordi pronto a perder la so piassa reliquia.

Quando el tren el gavea tacà a moverse, el sentì el cor che 'l bateva pì forte, no par speransa, ma par un vuoto profondo, una coscienza amarga che, anca se un dì el tornaria, no sarìa pì el stesso. Ogni metro fatto gavea l'aria de stracare un filo invisibile che el collegaiva a quella vita. E, intanto che la stazion spariva pian pianin tra la nebbia de la matina, el se domandava se quel che el trovaria in futuro sarìa abbastanza par coprir quel che l'avea appena perso.

“Far l’America”, come tanti italiani i disea con un misto de speransa e paura, jera na frase che la portava sia la promessa de un novo começo, sia el peso de un salto nel scuro. L’idea de traversar un oceano intero par rivar a na tera che i conossèa solo par voci, jera tanto sedusente quanto spaventosa. Jera la promessa de na vita mejò, un futuro dove i fioi no i dormirea col stomaco vuoto e i pare no i se piegarea più nei campi aridi par poco. Ma quel che la maggioransa no savea — o forsi preferiva no vardar — jera che el inizio de quella strada sarìa un test de fede e resistenza.

Sul molo de imbarco, el fredo tagliava le robe strope, come se el vento stesso fusse là par metter in discussione le decisioni. L’aria jera un misto de sal, carbon e sudor, mentre el murmurar continuo de centinaia de voci in dialeti diversi creava un sfondo inquietante. Le done strincea i fioi, provando a scaldarli mentre i dava sguard nervosi ai grandi bastimenti ormeggiati, le cui ombre pareva mostri pronti a ingolarli. I òmini i portava valise semplici, qualcossa strinse con corde, che tegnìa tutto quel che i gavea — ricordi, speranse e un poco de pan duro.

L’incertezza stava nel petto de tuti. Cossa ghe spetava dall’altra parte? Sarìa la tera promessa che tanti elogiava nelle lettere e ne i conti, o n’altra trappola del destino? Par tanti, l’imbarco jera na sceta forzà, l’ultima carta contro la fame, la miseria e l’oppression. Eppur, nisuni ne parlava a voce alta. Ghe jera qualcosa de sacro in quel momento, un patto silenzioso tra tuti che i gera lì: se decidiessen de partir, i gavera da afrontàr quel che vien senza vardar indrìo.

E dopo ghe jera el mar, un gigante vivo, misterioso e minaccioso. Par la maggioransa, abituà ai monti e ai valadi de l’Italia, l’oceano jera na forza incomprensibile, na vastità infinita che pareva sfotter la fragilità umana. Tanti no i gavea mai visto el mar, e la so immensità la portava sia fascinazion che paura. Le onde sbatèa forte contro i scafi, come se volesse impedir quella traversada. I fioi piangea, spaventai par la dimension e i suoni che no i capiva, mentre i veci gavea sguardi rassegnà, mormorando preghiere a bassa voce quasi inaudibili.

Quando el campan del bastimento el sonò, chiamando i passeggeri al imbarco, el movimento cominciò. Jera come se na corrente invisibile tirasse la massa inanz, un flusso de corpi e emozioni che no se podìa fermar. Tanti esitava alla base de la rampa, guardando un’ultima volta el porto, le terre che i conossèa ben e i visi de chi i lasciava indrìo. Lacrime le gera versà, no solo par le despedide, ma par la certezza che qualcosa dentro de lori el cambiaressi par sempre.

Al passar el limbo del bastimento, un mondo novo se presentava: corridoi streti, camerotti strapieni e un odor opprimente de legno umido e corpi stanchi. Jera lì che i passarìa settimane, forse mesi, afrontando un mar che no gavea promesse de sicureza. Ma, anca in quel ambiente ostile, ghe jera un filo de speransa che i tegneva in pé. Parceché “Far l’America” no jera solo un viagio — jera un atto de fede nel futuro, una dichiarazion che la vita, per quanto dura, la valeva la pena de esser vissua con coraggio.

Sul tren che pian pianin el se allontanava, el cigolar delle rote sui binari pareva accompagnar el passo veloce del so cuor, facendo eco al dolore de na partenza irreversibile. El gà guardà fora dala finestra offuscà, provando a fissar in memoria ogni detajo de quel che el lassava. La streta nel petto jera quasi insopportabile, come se l’anima stessa la fusse strasciada, pezzo par pezzo, e abbandonada in quei campi familiari che oramai se stava facendo sempre più lontani a ogni secondo.

La figura de so mare restava ferma sulla piattaforma, el corpo piccolo e curvà quasi perso tra la massa. La gavea fato ciao con man tremanti, i dei increspài tignui a un fazolet che a mala pena teneva le lacrime. I oci bagnài de ea la incrociava i so par un momento — un attimo breve, ma eterno —, e el sentì come se tutte le parole non dette, le storie condivise e i silenzi confortanti i fusse racchiusi in quel sguardo. Jera na despedida, ma anca un segreto invito a no scordarse mai da dove el vegnìa.

Più indrìo, i so fradei picioti correva lungo la piattaforma, urlando cose che se perdea nel rumore del tren e nel caos intorno. El se imaginava che i domandava de tornar presto, de no lasciarli soli con responsabilità troppo grosse par lori. Ma jera impossibile fermarse, impossibile scender e prometter che tut jaria andà ben. El savea che quelle parole de conforto saria stà vuote, parceché nel profondo, manco el gavea la certezza che un dì el tornaria.

Intanto che el tren prendeva velocità, el paesaggio familiare gavea tacà a cambiàr. I campi aridi che el conossèa ben gavea cedeù el posto a monti e boschi sconossiùi, e el sentì el peso schiacciante de la promessa silenziosa che gavea fatto: quella de no scordar mai le radici, anca se la distanza jera grande. Ma come tegner vive le radici quando se parte par una tera completamente nova? Come conservar quel che jera essenziale quando la sopravvivenza pretenderà cambiamenti cosi profondi?

El gavea serà i oci un momento, provando a contener le emozioni che minacciava de trabocar. La strada sarìa longa, e la nostalgia jera già compagna inevitabile. In contemporanea, un lampo de speransa el brillava nella mente. La promessa de na vita mejò, de giorni dove so mare no gavaria più dovù lavorar fin a stancarse, dove i so fradei i gavaria la possibilità de studiar e crescer senza la costante ombra de la fame. Jera questo el sogno che lo teneva in moto, che dava forza ai piè stanchi e coraggio al cuor pesaroso.

Ma, anca con sta speransa, el savea che qualcosa dentro el gavea cambià par sempre. Su quel tren, intanto che el passato se ne andava via all’orizzonte, el se gavea trasformà in un altro — un om diviso tra do mondi, portando con sé el ricordo de un casso che no sarebb mai smesso de esser suo, ma che, pian pianin, se faria solo un ricordo.

Arrivà al porto, el se fermò un momento, guardando l’immensità che se stendeva davanti a lui. El bastimento, grosso e scuro contro el cielo grigio, pareva un gigante pronto a divorar tuto quel che ghe metteva davanti. Ma el passo el fu deciso, forte, come se la paura la podesse esser vinta solo col coraggio e la determinazion.

El cuore batteva forte, ma el sapeva che ogni passo verso quel destino incerto el gavea un senso, un valore. Perché “Far l’America” no jera solo na partenza, ma la speranza de costruir un futuro, un doman dove la fame, la miseria e la paura sarebbero restà un ricordo lontan, nascosto tra le pieghe del tempo e della memoria.

Le note nel fondame del navio jera 'na mistura de rumor e silensio che dava fastidio. El sonar continuo del mar che batteva sul casco jera acompagnià da tuse e murmuri de preghiere in dialeto italiano. Tra le ciacoe, Beppi e i Zocante contea storie delle so vigne, dei so campi e dei sogni che i ghe gavea portà fin qua. I parlava del Brasil come se fosse un paradiso lontan, con tera fertili e oportunità che i ghe gavea da liberar dal gir de la miseria. Sti momenti i dava a Beppi 'n senso de appartenenza, 'na ancora emozionale che no savea de aver bisogno.

Ma la traversada gavea portà anca sfide che no se spetava. Prima de imbarcarse, i passageri i gavea da far la vaccinazion contra la vaiolo, 'na precauzion che gavea portà sia conforto che preoccupazion. Par Beppi, quel che pareva solo 'na formalità se trasformò in 'n incubo. Pochi giorni dopo la puntura, el cominciò a sentir febre alta, dolori nel corpo e 'na deboleza che no ghe permetteva de star co i altri nel fondame. La matriarca Zocante la se prendeva cura de lu come podèa, con impiastri freddi e preghiere sussurate, ma la febre no calava.

Quando finalmente el navio rivò al porto de Rio de Janeiro, el destino gavea fato 'na bruta giocada. Beppi el jera stado identificà dai ispettori sanitari come malato e subito separà da la fameia Zocante. No gà tempo manco par dir addio, solo un cenno de man debole mentre el vegnìa portà via su 'na barella improvvisada. I so oci i incrociò i de i so compagni par l'ultima volta, pieni de tristeza e de 'na certezza amara che forse no se rivaria a veder più.

Portà a l’Isola dei Fiori, Beppi el jera messo in quarantena con altri maladi che gavea ciapà mal durante el viaggio. El posto jera insieme 'n rifugio e 'na prigione, con i so padiglioni austeri e el sonar continuo del mar intorno. El gavea una branda de legno, circondà da altri pazienti, coi volti che rispecchiava el stesso disperar silenzioso. La solitudine jera quasi insopportabile. La mancanza del calore dei Zocante, l’unica rete de sostegno, la pesava più della febre che lo consumava.

I giorni se trasformava in settimane, e Beppi i passava tra scoppi de febre e momenti de lucidità. El sentiva i gridi soffocati degli altri maladi e i passi frettolosi de medici e infermieri, che pariva che i lottasse contro 'na forza invisibile. L’isolamento facea che el tempo el se tirasse via, ogni minuto segnà da l’incerteza de un futuro che adesso pareva più lontan che mai.

Nonostante tutto, 'na scintilla de determinazion la restava dentro de lu. Beppi el savea che sopravvivere volèa dir più che solo batter la malatia — voleva dir compier el scopo che el ghe gavea portà fin qua. El sogno de costruir 'na vita mejo in Brasil, per quanto lontano che adesso el paresse, el batteva ancora nel so cuore, come 'na promessa che no voleva mollàr.

Quando finalmente rivò a São Paulo, Beppi el se sentì come se fosse sbarcà su 'n altro pianeta. La cità jera 'na massa confusa de suoni, odori e facce sconosciude. El jera solo, senza amici, senza fameia, senza nemanco un filo de familiarità a cui aggrapparse. El fatto de esser analfabeto lo rendeva vulnerabile, incapace de capir i fogli che i impiegà de l’ufficio d’immigrazione i ghe dava, e la bariera dela lengua trasformava ogni interazion in 'n gioco de indovinelli ansiosi. Le voci intorno pareva un ronzio incessante, 'na mistura de parole in portoghese e frammenti de altre lingue che el ghe riusciva a mal interpretar.

All’ufficio d’immigrazione, Beppi el vegnìa preso da un om che pareva abituà a comandar. Giovanni Barba, padrone de la Fazenda Monte Alegre, jera un contadino robusto, col viso duro e oci acuti. El jera lì par trovàr lavoratori, e Beppi, con la so costituzion forte e 'l viso determinà, pareva el candidato perfeto. Barba el parlava un italiano mescolà col portoghese, ma le so intenzioni jera chiare. El gavea bisogno de mani disposte a lavorar la tera, e Beppi gavea bisogno de un posto dove ricominciar.

"Ti te ne va a Araraquara," el diseva Barba, indicando un mapa rozzo. "Xe lontan da qua, ma ghe xe tera e lavoro. Se ti fa quel che te chiedo, ti ga dove dormir e da magnar."

Araraquara la pareva lontana come el Brasil stesso quando Beppi el jera ancora a Vicenza. La xe ‘na cità alla fin dela linea del treno, i diseva, e dopo no ghe xe altro che selva. Beppi no gavea scelta. El acceptò, sentendo el peso de ‘na decision presa par lu, no par so volontà.

El viaggio fin a la Fazenda Monte Alegre jera stanco e lungo. El treno el sobbalzava sui binari, e ogni fermada lo menava più dentro ‘n mondo sconosiù. La campagna dava posto ai campi vasti e alle radure mescolate a foreste fitte, e Beppi el sentiva ‘na mistura de fascinazion e paura. El Brasil jera vasto, e la so immensità jera al tempo stesso prometente e schiacciante.

Quando finalmente el treno se fermò a ‘na stazion picina in mezzo a la selva, Beppi el scese e trovò Giovanni Barba ad aspettarlo, insieme a do om che i gavea el viso duro come el so. I lo portarono su ‘na carreta tirada da mule e cominciarono el viaggio final fin alla fazenda. La strada jera fragile, tra alberi alti che pareva che magnaresse la luce del sol.

La Fazenda Monte Alegre la se rivelò un pezzo de tera isolà, circondà da foreste fitte e colline ondulate. Le case dei lavoratori jera picine e semplici, fatte de legno grezzo, con i tetti de paglia che prometteva poco conforto. La casa principale, dove stava Barba, jera più grande ma sempre rustica. Intorno, le piantagioni de café se stendeva fin dove se vedeva, mescolate a radure ancora da liberar col machad e la vanga.

Beppi el jera portà in ‘na delle baracche più lontane e ghe dissero che quel saria stado el so lar. No ghe gavea tempo da abituarse. La mattina dopo, prima che el sorgesse el sol, el saria stado già nei campi, a imparar a curar i piedi de café e a lavorar la tera rossa che pareva impastar tuto intorno.

Mentre se sistemava nela nova vita, Beppi el sentì el peso de la solitudine come mai prima. Era a più de 400 chilometri da la capitale, in un posto dove l’orizzonte jera dominà da foreste fitte e campi senza fine. Ma anca lì, in meso al nulla, el savea che no podèa mollàr. La promessa de ‘n futuro mejo la jera quel che lo manteneva in piè, anche se quel futuro pareva lontano come le luci de Vicenza nei so ricordi.

Beppi el jera el primo immigrante italiano a lavorar in Fazenda Monte Alegre, e presto el capì che jera ‘n pioniere anca par altri motivi. No ghe jera altri compatrioti con cui parlar la so lingua o condivider la so cultura, e l’isolamento rendeva ogni giorno più duro del precedente. I campi de café jera vasti, pareva che no finisse mai, e ghe voleva forza e resistenza oltre quel che el pensava de podèr dar.

El lavoro cominciava prima del sorgere del sol. El son del campanèl de la fazenda sveiava i lavoratori dai loro letti duri, e tuchi se dirigeva ai campi ancora sotto la poca luce delle stelle. Beppi, che gavea sognà de "far l’America" e costruir ‘na vita nova, el se trovava chinà sui piedi de café, a tirar via le erbe malvate sotto el sol cocente, mentre la so pelle bianca diventava rossa e dolente. Ogni giornata jera ‘na battaglia contro la stanchezza, la fame e el calor, e el sudor facea la tera rossa attaccarse come ‘na seconda pelle.

A so fianco i lavorava veci schiavi liberà dalla Lei Áurea nel 1888, pochi ani prima. I jera uomini e donne con storie che Beppi capiva a malapena, ma le cicatrici fisiche ed emotive se vedea anca da fora. El se sentiva spaesà, al tempo stesso sollevà de no condividir quel passato brutale e pien de colpa par esser parte de un sistema che ancora i sfruttava. I se muoveva nei campi con ‘na efficacia che el admirava e cercava de imitar, ma i so sguardi spess jera vuoti, come se tuta la speranza javesse già sparìa insieme ai frutti dei piedi de café.

‘Na dona, Maria, con la faccia segnata dal tempo e dalle difficoltà, la prese Beppi sotto la so protezion non ufficiale. "Ti ga da imparar in fretta," la diseva in portoghese col so accento, indicando i calli che ghe cominciava a far sui man. "Qua chi no sta al passo no sopravvive." Maria la ghe insegnava i segreti del lavoro, come capir le piante malate e usar gli attrezzi. La parlava poco, ma i so gesti e i sguardi ghe dava forza.

Beppi el se sentiva lontan dal so paese, da la so famiglia, ma anca lontan da ‘na parte de lu stesso che ghe pareva se perdera in quel mondo nuovo, duro e implacabile. Ogni sera, prima de dormir, el pensava a la so madre, al so paeselo, e al sogno che ghe avea fatto partir. Ma la vita nova el se facea sentire, lentamente, come ‘na pianta che spunta fra le rocce.

Nei ani dopo, el paesaggio de la Fazenda Monte Alegre gavea come a cangiare. L’arrivo de più immigranti italiani gavea portà na nova dinamica in tel posto. Le fameje, in gran parte vegnùe da Treviso, gavea tacà a formar ‘na picina comunità drento a la vasta solitudine de la fazenda. Fra lori gavea anca la fameja Paolon, de Venegazzù, che portava poche robe, ma ‘na rica cargada de tradission, fede e resistenza.

L’è stà durante ‘na festa comunitaria che Beppi el ga conossù Rosa Paolon. El evento, fato fora, sota el lusor de le stele, gera ‘na rara pausa dal lavor sfiancante. Ghe gera magna semplice, come polenta e pan fato in casa, e musica viva suonada da un fisarmonico, suonà da un dei neo arrivài. El suono alegre gavea ‘l poder de cacciar via, anca solo par ‘n momento, le ombre de la stanchezza e de la nostalgia.

Rosa la spicava tra le altre. I so oci i lucéa come le luci dei lumi, e el so soriso caloroso gera ‘na medicina par el cuor stanco de Beppi. La gera ‘na zovene col spirito vivo, con un’aria de determinazion che se metteva ben con la vita dura che i gavea. Durante la festa, i do ga ciacà poche parole, ma gera basta par far naser quarcossa de unico tra lori.

Beppi no ga perso tempo. Nei giorni dopo, el ga tacà a cercar de star drio a Rosa. El gavea proposto aiuto a la fameja Paolon, sia nei cafè, sia a riparar i strument. Sti gesti, anca se semplici, i gera bastanti par far nascere un legame. Rosa, che prima gera un poco timida, la ga tacà a slargar, contand storie de la so tera e dividendo i sogni che la gavea par el futuro.

El innamorarse gera breve, come gera comune tra i immigranti, che i gera sottoposti a continue pression par metter a posto la vita presto. No ghe gera tempo par tante ciacole quando el lavor e la sopravivenza i dominava i giorni. El matrimônio el gera stao in ‘na capela picina e improvvisada, fata dai stessi immigranti con legno locale. El parocho, anca lui italiano, el ga celebrà la cerimonia in latino, mentre i invitai, omini e done stanchi ma contenti, i cantava inni che i risonava tra i boschi intorno.

Par Beppi, el matrimonio con Rosa gera ‘n momento de cambiamento. L’idea de tornar in Italia, che prima el dava forza par affrontar le sfide del Brasil, la tacà a svanir. Stando con Rosa, el ga capìo che podéa far quarcossa de novo, anche in tera straniera. El so desegno de futuro el gera più el passato nostalgico dei colli italiani, ma el presente — ‘na casa semplice ma calda, un orto piccolo dove Rosa la coltivava verdure, e la speranza de un giorno veder i fioi zugar liberi tra i campi.

Inseme, Beppi e Rosa ga tacà a transformar la so parte de tera. I ga piantà no solo cafè, ma anca vigneti, portando un toco de Treviso in Brasil. Rosa la coltivava fiori intorno a casa, disendo che bisognava “imbelir quel che ghe gavea, anca se poco.” Ogni piccolo progresso gera festeggià no con feste, ma con occhiate silenziose e contente scambiate a fine giornata.

Col tempo, la vita in fazenda la gera più de solo sopravivenza. La gera costruzion. E par Beppi, ogni giorno novo gera la prova che, anca lontan dalle radici, el podéa crescer e fiorir. El sogno de “far l’America” el se trasformà in quarcossa de più semplice e profondo: far ‘na casa dove amore e coraggio podéa prosperar.

Rosa e Beppi ga visto la so fameja crescer veloce — otto fioi i nasé, quatar omini e quatar done, portando vita e speranza a le matine de la Fazenda Monte Alegre. El primogenito, Antonio, el nascè nel 1891, un putìn forte che da picinin el segueva el pare nei campi e imparava el ritmo pesante de la tera e del lavor.

Beppi, immerso ne la rutina sfiancante dela coltura, el se dedicava senza pausa. I so giorni i tacava prima che el sol nascesse e i finiva solo quando l’ultima lus del crepuscolo spariva in orizzonte. El coltivava el cafè con mani callose, piantando ogni pianta come se lì riposasse el futuro dei fioi. Oltre ai cafè, el gavea fato ani a le galine che girava libere intorno a casa, ‘na picina fonte de cibo e sostegno che aliviava el peso dela fame costante.

La Fazenda Monte Alegre, pian pianin, tacava a prosperar. El sudor de Beppi e la forza de Rosa trasformava ‘sta tera prima arida e desmentegada in un toco vivo de speranza e resistenza. El cafè, colto con sforzo e pacienza, el guadagnava qualità e fama tra i mercati locali, e la produzione aumentava ogni anno. I fioi i cresceva tra le racolte, i zugar nella tera rossa e le storie che Rosa contava a l’ombra dei alberi.

Ma, anca se la vita gera costruida maton par maton, Beppi no ga mai podesto metter da parte abbastanza par far el sogno più caro — tornar in Italia, riveder i volti cari rimasti indrio, sentir ancora la lengua de la tera natia e caminare par le strade de Vicenza. Ogni moneta risparmiada la pareva scappar via tra le dite, consumada da i bisogni de ogni giorno, dai imprevisti de la fazenda, dai problemi che minaciava la fragile stabilità dela fameja.

Eppure, no ga mai smesso de guardar verso l’orizzonte con ‘na mescolanza de nostalgia e volontà. I ricordi dela mare, dei fradei spaventà alla stazion, dela tera arida che l’avea caccià fora, i restava vivi dentro de lu — ‘na spinta silenziosa che el tegniva in pé, giorno dopo giorno, piantando e racogliendo, lottando contro el tempo e la distanza.

In quella tera lontana, tra le piantagioni e el calor del lavor duro, Beppi el ga costruìo el so lascito — no fato de oro o ricchezze, ma de resistenza, amore e speranza. Un lascito che cresceva insieme ai fioi e che, in qualche modo, faceva diventare reale el sogno de “l’America,” anca se l’Italia la restava ‘na stela lontana nel cielo dei ricordi.

Nonostante la distanza immensa che i separava, Beppi no ga mai rotto i legami con la so mare e i so fradei in Italia. Con le lettere scrite con cura, el manteneva viva la conessione con quei che i era restà indrio. Spesso, la grafia de Beppi gera lenta e incerta, e gera Rosa che, con pazienza e attenzione, l’aiutava a tradur i sentimenti in parole, guidando la so man par far passar el messagio attraverso l’oceano senza perderse nel silenzio.

Ste lettere, segnate da nostalgia e speranza, gera el filo invisibile che univa do vite lontane — el vecio paeseto de Vicenza e la viva Fazenda Monte Alegre, nel interno de San Paolo. Ogni busta consegnada portava un toco de storia de la fameja, notizie sul crescer dei fioi, le difficoltà del lavor, le feste e le picine vittorie del giorno a giorno. E portava anca, come risposta, racconti dela tera natia, dei parenti veci e delle stagioni che se sussegueva, ricordando el passato che Beppi no podéa tocare più.

Quando Beppi el morì, lassando un lascito de sforzo e perseveranza, toccò a Antonio, el primogenito, prender quel delicàto ruolo. El zovene, ora om, el diventò el legame tra le do generazion, continuando a scrivar e ricevar lettere con la stessa dedizione. El capiva el valor de ste parole, che supera confini e tempi, e che manteneva viva la fiamma de l’identità e de la memoria de la fameja.

Cussì, anca in mezze a i cambiamenti e a le difficoltà dela vita in Brasil, el legame tra i Zanon dei do lati de l’Atlantico el restava vivo. Gera ‘na corrente invisibile, fata de carta, inchiostro e sentimenti, che garantiva che, anca con la distanza granda, el passato e el presente i restava intrecciài, fermi e indistrutibili.

Oggi, i discendenti de Beppi i porta nel sangue el corajo vecio — quel stesso che el spingeva a traversar ‘n oceano sconosciùo, a enfrentar la paura e la solitudine in cerca de un futuro che pareva prometter tuto, ma che chiedeva sacrifici grandi. Le storie de lota e resistenza de quel zovene italiano le risona in ogni gesto, in ogni parola tramandada da generazion a generazion, come ‘n lascito invisibile e potente che ga formato no solo ‘na fameja, ma ‘na identità forgiada col calor del lavor duro e la durezza della speranza.

Albettone, el paeseto dove Beppi el nascè e che no ga mai rivisto, el vive nei ricordi raccontai a voce bassa intorno a la mesa, nelle fotografie ingialide tenude in casse de legno, ne le canzoni che Rosa la insegnava ai fioi e che oggi culla i neoti e bisneoti. Anche se lontan e inaccessibile, Albettone no ga mai smesso de esister par lori. L’è diventà ‘n simbolo sacro, ‘n punto de partenza fisso e immutabile in mezzo al turbin dei cambiamenti, el legame che collega la tera del passato con le radici che resta ferme nel presente.

Par ognuno dei fioi e neoti de Beppi, Albettone el xe più de ‘n posto su la carta — el xe el cuor pulsante de la fameja, el testimone silenzioso de ‘ndo i vegnì e de la forza che ghe vol par ricominciar. Anca in mezzo alle vaste terre brasiliane, col cielo aperto e l’orizzonte largo, el nome de quel paeseto italiano el rison come ‘na promessa de appartenenza, un ricordo che, anca con la distanza, el passato el resta vivo dentro a ogn’uno de lori.

E cussì, tra le storie raccontade in serate de festa, i ricordi che fiorisse tra le parole scambiate, e l’impegno continuo par tener viva la eredità culturale, la fameja de Beppi la onora la memoria de quel zovene immigrante. Lu, che partì con el sguardo fisso nel sconosciuto, el ga piantà no solo cafè e speranza, ma radici profonde — radici che ga attraversà mari, resistì al tempo e che continua a crescer, forti e indomabili, in le terre dove i so discendenti oggi i vive, i ama e i lota par i so sogni.

Nota del Autor

Sta storia l’è ‘na opera de fantasia, ma la gà radìsi profonde ne la storia vera. Inspirada da esperiensa de mile e mile de emigranti italiani che, tra el sécolo XIX e el XX, gà lassà la so tera natìa, la vol onorar el coraggio, la resistenza e i sacrifici de chele persone che gavéa el sogno de ‘na vita megio. Anca se Beppi e la so fameja i xe personaggi inventài, la so avventura la riflete i dificoltà e i sforzi de chi che gà navigà el Atlantico, lassando drìo tuto quel che conosseva. Albettone, Monte Alegre e tanti altri posti i xe scenari de un dramma umano, e sta storia la vol dar vose a chi che spesso el xe stà scordà, ma che l’è sta la fondamenta de le comunità che ogi le xe vive e fioreti.