sábado, 28 de junho de 2025

Esperança em Terras Brasileiras As Cartas de Rosa Ricciardi


  

Esperança em Terras Brasileiras

As Cartas de Rosa Ricciardi 


Era o ano de 1910 quando Rosa Ricciardi, uma jovem de 22 anos da pitoresca localidade de Monferrato, no coração da Itália, tomou a difícil decisão de cruzar o oceano rumo ao Brasil. Ao lado de seu irmão mais velho, Pietro, Rosa carregava consigo mais do que uma mala de pertences simples; trazia sonhos moldados por promessas de terras férteis e de um futuro mais próspero. A Itália, com seus campos castigados pela pobreza e pela falta de oportunidades, tornara-se um lugar de limitações, enquanto o Brasil despontava no horizonte como uma terra de possibilidades.

Monferrato, com suas colinas cobertas de vinhedos e igrejas que ecoavam a fé ancestral, era um lar impregnado de tradições. Mas, para Rosa, cada rua conhecida parecia sufocar a ânsia por algo maior. A despedida foi marcada por lágrimas contidas e abraços apertados, com a mãe entregando à filha um pequeno terço, dizendo: “Para que nunca esqueça de rezar, onde quer que esteja.

A viagem no vapor foi longa e exaustiva, repleta de desafios que Rosa não podia ter previsto. Nos primeiros dias, ela se deixava maravilhar pelas águas infinitas do oceano, mas logo vieram o enjoo, o desconforto das cabines apertadas e o cheiro constante de maresia e combustível. A comida era escassa e monótona, e o convívio forçado com dezenas de famílias desconhecidas frequentemente levava a pequenos atritos. Pietro, sempre o protetor, fazia o possível para manter o ânimo de Rosa, contando histórias da infância e descrevendo com entusiasmo as vastas terras que os aguardavam no Novo Mundo.

Apesar disso, os desafios não eram apenas físicos. Cada milha que afastava o navio da Itália parecia arrancar um pedaço do coração de Rosa. A saudade dos pais, dos amigos e do som dos sinos da igreja de Monferrato pesava mais a cada dia. Havia noites em que Rosa, sob a luz pálida da lua, se perguntava se o sacrifício valeria a pena. Contudo, seu espírito resiliente, alimentado pela fé e pelo sonho de um recomeço, a fazia prometer a si mesma que transformaria o sofrimento em força.

Quando finalmente avistaram o porto do Rio de Janeiro, o coração de Rosa se encheu de esperança e apreensão. A exuberância da paisagem tropical, com montanhas verdejantes e palmeiras que pareciam tocar o céu, era deslumbrante, mas o desconhecido também era intimidante. O desembarque foi apenas o início de uma jornada ainda mais árdua. Logo na manhã seguinte embarcaram em outro navio, o Maranhão, rumo ao porto de Santos. 

As promessas de terras férteis escondiam as dificuldades de adaptarem-se a uma realidade completamente nova. A barreira do idioma, o isolamento nas colônias e a luta diária para desbravar e cultivar a terra eram desafios que apenas os mais determinados podiam superar. Rosa sabia que a jornada seria longa, mas também acreditava que, com coragem e união, ela e Pietro conseguiriam transformar aquele pedaço de terra estrangeira em um lar.

Ao desembarcarem no porto de Santos, Rosa e Pietro foram encaminhados para trabalhar nas plantações de café em uma grande propriedade no interior do estado, próxima à cidade de Campinas. As condições na fazenda eram duras: alojamentos precários, que antes tinham servido de senzala, as longas jornadas sob o sol escaldante e uma comunicação limitada com a família na Itália. A saudade era uma constante em sua vida, e Rosa encontrava conforto escrevendo cartas aos pais, relatando sua rotina e seus sentimentos.

Em uma de suas cartas, Rosa escreveu:

"Queridos pais, aqui estou, escrevendo neste pedaço de papel humilde, para responder à vossa tão esperada carta. Ler vossas palavras foi um consolo para meu coração. Saber que todos estão com boa saúde – o senhor, querido pai, a senhora, querida mãe, minhas irmãs Mariuccia e Angelina, meus tios, sobrinhos e até mesmo a pequena Gostina – encheu-me de alegria. Mas, ah, como sinto falta de vossas vozes e de vossos rostos! Imaginem que esperamos ansiosos todas as manhãs pelo retrato que prometestes enviar. Mesmo que seja apenas uma imagem em papel, será como vos rever após cem anos de distância, embora tenham se passado apenas dezesseis meses."

Apesar de sua saudade, Rosa não deixava de reconhecer as pequenas vitórias conquistadas em terras brasileiras. A cada mês, ela e Pietro conseguiam juntar um pouco mais de dinheiro. Sonhavam com o dia em que poderiam adquirir um pedaço de terra próprio e começar uma nova vida, longe das plantações dos fazendeiros, onde não se sentiam em casa. Dizia que deveriam mudar para outro local, onde o clima e o povo eram mais parecidos com a terra natal. Mas, primeiro precisavam cumprir até o fim o contrato firmado e pagar todas as dívidas contraídas com o patrão.

Em uma noite chuvosa, Rosa escreveu outra carta emocionante:

"Queridos pais, hoje escrevo com o coração apertado, mas também esperançoso. Pietro também conseguiu trabalho,  e já estamos economizando para comprar uma pequena propriedade, se conseguirmos, no Rio Grande do Sul. As dificuldades aqui são muitas, mas a fé e o desejo de melhorar nos sustentam. Há dias em que choro de saudade, mas penso em vossas palavras e em vossos rostos, que um dia verei novamente, nem que seja apenas em sonhos."

Cinco anos depois, Rosa e Pietro finalmente realizaram o sonho de suas vidas, estabelecendo-se em uma região mais ao sul do Brasil. Com as economias cuidadosamente poupadas ao longo dos anos, adquiriram um lote de terra nos arredores de Caxias do Sul, na Serra Gaúcha. O terreno, que pertencia a uma imigrante italiana pioneira, viúva recente e sem filhos, que decidira abandonar tudo e retornar à sua terra natal, já possuía um belo parreiral em plena produção. Ali, o casal deu início a uma nova fase: ampliaram o cultivo de videiras e dedicaram-se com paixão à arte da vinicultura, transformando uvas em vinho e sonhos em realidade. A comunidade italiana na região era mais unida, e Rosa logo fez amigos que se tornaram sua nova família. Ela organizava festas tradicionais e compartilhava suas receitas italianas, mantendo vivas as memórias de sua terra natal.

Anos mais tarde, Rosa enviou uma carta à Itália, relatando sua nova vida:

"Queridos pais, escrevo agora com uma alegria que mal consigo conter. Nossa terra em Caxias prospera, e o vinho que produzimos já é conhecido na região. As dificuldades do início foram muitas, mas sinto que todo o sacrifício valeu a pena. Aqui, em nosso pequeno pedaço de chão, encontro a paz e a esperança que tanto busquei. Pietro está casado, e eu também espero, um dia, formar minha própria família. Rezo para que um dia possamos nos reunir novamente, seja aqui ou na Itália, mas enquanto isso, carrego-vos sempre em meu coração."

Rosa Ricciardi pelo seu espírito comunitário tornou-se um símbolo de resistência e coragem na cidade. Sua história, como a de muitos imigrantes italianos, é uma lembrança do poder da esperança e do esforço em busca de uma vida melhor. Embora a saudade fosse uma constante, Rosa encontrou no sul do Brasil não apenas um novo lar, mas também uma razão para seguir em frente e construir um futuro cheio de possibilidades.

Nota do Autor


"Esperança em Terras Brasileiras: As Cartas de Rosa Ricciardi" é uma obra de ficção concebida pela imaginação do autor, mas que encontra suas raízes em eventos históricos reais. A história de Rosa Ricciardi, embora fictícia, é um reflexo fiel das experiências vividas por milhares de imigrantes italianos que, no final do século XIX e início do século XX, deixaram sua terra natal em busca de melhores oportunidades no Brasil. Os desafios enfrentados por Rosa e seu irmão Pietro, como a longa travessia oceânica, as duras condições de trabalho nas plantações de café e a saudade imensurável da família e das tradições italianas, são representativos das lutas e esperanças desses pioneiros. Esses homens e mulheres, impulsionados pela fé e pela determinação, desempenharam um papel fundamental na construção das comunidades italianas no Brasil, especialmente em regiões como a Serra Gaúcha. As cartas de Rosa, que compõem o fio condutor desta narrativa, simbolizam não apenas sua ligação com o passado, mas também a perseverança em manter vivas as memórias e os laços afetivos, mesmo em meio às dificuldades de um novo mundo. Estas linhas são apenas um pequeno resumo do livro que leva o mesmo nome. Na obra completa, o leitor poderá mergulhar mais profundamente nos detalhes da jornada de Rosa, seus dilemas emocionais, a relação com sua terra natal e a construção de um futuro que, embora repleto de desafios, é marcado pela superação e pelo triunfo da esperança. Este livro é dedicado a todos os descendentes de imigrantes que, como Rosa, carregam em suas histórias o legado de coragem, sacrifício e resiliência de seus antepassados. Que estas páginas sirvam de homenagem à memória de tantas vidas que moldaram a história de nossa nação.

Dr. Piazzetta

Nenhum comentário: