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domingo, 27 de julho de 2025

A Terra que Engoliu as Promessas

 


A Terra que Engoliu as Promessas

Santa Fé, Argentina – Ano de 1878

Quando Giovanni Bellomondi partiu da localidade de Pullir, comune de Cesiomaggiore, no Vêneto, o sino da igreja de San Lorenzo repicava a um ritmo fúnebre. Era um dia 2 de fevereiro, mas a neve ainda se amontoava nos beirais das casas, e o sopro cortante dos Alpes parecia uma despedida cruel. Deixava para trás uma esposa cansada, dois filhos pequenos e um pequeno campo que já não mais produzia, só dívidas.

Na Argentina, disseram-lhe, havia terras imensas e sol o ano inteiro. Disse-lhe o cônsul, disseram-lhe os agentes de viagem, repetiram os padres. Não diziam, porém, que o sol ali ardia até ferver a pele, e que os campos se abriam como bocas de poeira, onde promessas afundavam sem deixar rastro.

Desembarcou em Rosario de Santa Fé no início de abril. A cidade parecia um amontoado de madeira e barro à beira do rio Paraná. Os dias eram secos, as noites, frias. Encontrou abrigo num rancho partilhado com outro vêneto, Battista Polanio, natural de Pedavena, e desde então não se separaram mais. Dormiam ao relento quando havia trabalho no campo e se revezavam no preparo de uma sopa rala de milho e feijão-preto. A moeda de papel da Argentina, diziam, não valia mais do que folhas secas — e Giovanni logo percebeu que tudo o que tocava parecia escorrer entre os dedos.

Naquele inverno de 1878, escreveu uma longa carta à esposa, Maddalena, com a caligrafia trêmula de quem já perdera as ilusões. Pedia que cuidasse da filha doente como se fosse filha dela, temendo que a febre da menina fosse reflexo do abandono de um pai ausente. Suplicava que não deixasse a pequena nos campos, e que poupasse o pouco da colheita para o sustento da família. Recomendava cuidado com os vizinhos, com os falsos amigos, com as bocas que perguntavam demais. Os olhos do mundo, dizia ele, não eram mais confiáveis.

Giovanni descrevia os dias com precisão militar. Falava das nuvens de gafanhotos que surgiam como uma cortina negra sobre o céu, eclipsando o sol como se o apocalipse estivesse próximo. Depois da sombra, vinham os ovos. E depois dos ovos, milhões de novas bocas famintas que destruíam tudo no chão: feijão, milho, mandioca, esperanças. Dizia que os camponeses já não semeavam com fé — semeavam por hábito, como quem acende uma vela num túmulo.

O trabalho escasseava. No verão, as tarefas nos campos duravam dois ou três meses e depois vinham meses de espera e silêncio. Dormiam ao ar livre, como animais. "As bestas na Itália", escrevia, "estão melhor acomodadas que os cristãos nesta América." Os dias em Santa Fé tinham cheiro de suor velho e urina de cavalo. E mesmo assim, muitos ainda chegavam, seduzidos por mentiras estampadas em panfletos e promessas de intermediários gananciosos.

Pensava em seguir para Montevidéu, onde ouvira dizer que a moeda era mais forte. Se não desse certo, seguiria para o Brasil, onde ao menos pagavam com dinheiro de verdade. Mas não sabia quando, nem como. A miséria lhe prendia os tornozelos.

Apesar de tudo, havia ternura naquelas linhas. Giovanni pedia que Maddalena não alimentasse esperanças de seguir seus passos. Alertava a cunhada Domenica para que não viesse, e rogava que cuidasse da própria casa e dos filhos — que se esquecesse da América, essa terra que engolia mais sonhos do que grãos de trigo.

Na última parte da carta, falava de amigos de sua região, homens de Seren del Grappa e de Mel, que haviam embarcado cheios de fé e agora imploravam por voltar. Falava também do sofrimento dos que não podiam: os que venderam tudo e agora não tinham sequer o dinheiro da volta. Giovanni terminava com uma promessa contida: se conseguisse juntar algo, ajudaria. Mas por ora, não havia futuro, só poeira.

Na sua despedida, o tom endurecia. "Diga a todos que não venham. Que fiquem com sua fome em casa, que ao menos têm um lar onde morrer. Aqui a fome tem cheiro de abandono e o frio tem gosto de desespero."

Assinava com firmeza:
Giovanni Bellomondi, teu marido, sempre.

Parte II – Os que Ficaram para Sempre

Os anos seguintes àquela carta correram como a água turva do rio Paraná: lentos, pesados, indiferentes às dores humanas. Giovanni Bellomondi permaneceu em Santa Fé, embora já não escrevesse mais à esposa. As palavras, como as colheitas, haviam se tornado escassas.

Battista Polonio, seu fiel companheiro de infortúnio, notou primeiro os sinais da mudança. Giovanni começou a acordar tarde, a tossir pela manhã como um velho mineiro. Às vezes ficava horas sentado sob um carquejal, olhando para a planície como se esperasse ver os montes do Vêneto surgirem entre as ondas de calor. Outras vezes falava sozinho, em voz baixa, como se confessasse pecados a um padre invisível. Certa noite, disse a Battista:
— Creio que a terra me está comendo, um pedaço por vez.

Em 1880, Giovanni ainda fazia biscates nas estâncias próximas. Preparava a terra, carregava fardos, varria as cocheiras. Era um corpo forte em declínio, mas ainda útil. Ganhava em papel, como todos, e às vezes recebia em farinha, mais estável que a moeda argentina. Dormia sob o telhado de um galpão, entre ratos e sonhos velhos. Nos domingos, caminhava até a beira do rio, onde alguns italianos se reuniam para cantar as canções da terra natal — mas ele raramente abria a boca. A saudade, dizia, já não lhe cabia nas canções.

Com o tempo, foi se afastando dos demais. Tornou-se conhecido entre os colonos como "el Veneto Muto" — o vêneto calado. Passava seus dias cavando sulcos ou entalhando pedaços de madeira que ninguém sabia se eram colheres, cruzes ou só rabiscos da memória.

No inverno de 1882, adoeceu de vez. Um resfriado simples, agravado por noites úmidas e alimentação ruim, logo se tornou febre. Battista tentou levá-lo ao hospital de caridade mantido por franciscanos italianos, mas não havia camas. Aplicaram-lhe um cataplasma de eucalipto e rezaram uma prece. O resto, disseram, dependia de Deus.

Giovanni passou seus últimos dias num galpão ao lado da olaria de don Pedro Aguirre, um espanhol viúvo que lhe dava restos de sopa. Em sua cabeceira, mantinha uma pedra lisa, onde gravara com um prego enferrujado os nomes de MaddalenaLucia e Giulio — a esposa e os dois filhos que jamais voltara a ver.

Na manhã do dia 7 de agosto de 1882, o sol nasceu vermelho sobre as margens do Paraná. Giovanni Bellomondi morreu em silêncio, com os olhos abertos voltados para o teto de barro, como se ainda esperasse o sino de San Lorenzo repicar entre as nuvens. Não deixou testamento, nem posses. Seu corpo foi enterrado numa cova rasa, entre outros tantos “desaparecidos da colônia”, numa vala comum do cemitério velho de Santa Fé.

Battista Polonio escreveu uma carta à Itália, avisando à família Bellomondi da morte do amigo. Mas ninguém sabe se a carta chegou. Ou se alguém ainda estava lá para recebê-la.

O nome de Giovanni não consta em nenhum memorial. Apenas um caderno em couro, encontrado entre seus poucos pertences, continha suas cartas não enviadas, suas orações mal escritas e os esboços de uma vida que jamais se cumpriu.

E assim terminou a história de um dos milhares que deixaram o Vêneto rumo à América.
Não pelos caminhos da glória, nem pelos trilhos da fortuna — mas por veredas gastas de desespero, onde o horizonte, outrora promessa, se revelou um túmulo de esperanças.

Carta Nunca Enviada – Santa Fé, Inverno de 1882

A mia cara moglie Maddalena,

Se esta carta um dia te alcançar, será sinal de que ao menos as palavras cruzaram o oceano que me impediu de voltar.

Escrevo com as forças que me restam, deitado num canto escuro onde a noite entra antes da hora e o frio morde os ossos como fera faminta. Aqui, Maddalena, os dias são todos iguais: secos, longos e vazios. Mas esta noite — talvez por ser a última — o céu parece mais perto, e sinto tua voz como se me chamasses lá de Cesiomaggiore, entre as colinas que ainda guardo no peito.

Perdoa-me por não ter voltado. Perdoa por cada colheita que não ajudei, por cada lágrima que caiu sem meu ombro para amparar. Partir foi um ato de esperança, mas a América, minha querida, foi feita de promessas que só duram até a primeira fome. Aqui não há terras de leite e mel, apenas pó e ausência.

Pensei em ti todos os dias. Quando o sol queimava minha nuca, era o teu pano que eu desejava no rosto. Quando as dores vinham, eu chamava por ti como um menino perdido. E à noite, quando o silêncio se assentava como neve sobre os campos, eu falava com as estrelas como se fossem teus olhos.

Não vi nossos filhos crescerem. Não soube da primeira palavra de Lucia, nem do primeiro passo de Giulio. Imagino que já sejam grandes, fortes como tu. Que te ajudem, que te amem, que não me odeiem.

Maddalena, não chores por mim. Eu fui morrendo aos poucos nestes campos — não de doença, mas de saudade. A pior fome foi a de ti. A pior solidão foi estar longe dos teus olhos.

Enterrar-me-ão aqui, entre outros tantos sem nome, homens bons que sonharam alto demais. Não haverá cruz, nem pedra. Mas se um dia tu ou nossos filhos passarem por esta terra, procurem pelo canto onde crescem as flores bravas. Talvez lá o vento ainda saiba meu nome.

Cuida de ti. Cuida dos nossos. E vive, Maddalena. Vive também por mim.

Com todo o amor que um coração pode carregar até o fim,
teu marido para sempre,

Giovanni Bellomondi.

Nota do Autor

Esta história nasceu de um silêncio. Um silêncio antigo, feito de páginas não enviadas, nomes esquecidos, valas anônimas e promessas que nunca cruzaram o oceano. 
Há algum tempo, deparei-me com uma carta real, escrita por um emigrante italiano em 1878, em Santa Fé, Argentina. A letra era vacilante, mas firme. As palavras, simples — e por isso mesmo dilacerantes. Não havia nelas a grandiloquência dos discursos oficiais, nem o verniz dos livros de história. Era um homem falando à sua esposa com uma urgência que só a saudade conhece. Um homem exilado da própria vida.
Ao terminar a leitura, senti algo profundo e inescapável: precisava dar voz àquilo que havia ficado suspenso no tempo.
Assim nasceu Giovanni Bellomondi, personagem ficcional inspirado em tantos homens de carne e osso que, como ele, partiram da Itália no século XIX levando apenas a esperança nos bolsos e voltaram — quando voltaram — como lembrança nos lábios dos que ficaram. Esta narrativa é um gesto de restituição. Não no sentido de resgatar um único nome, mas de evocar, pela literatura, os rostos e corações de milhares de imigrantes cujas vidas jamais foram narradas.
Ao escrever esta história, busquei não apenas recriar uma época ou descrever o cenário duro das colônias latino-americanas. Quis sobretudo fazer justiça emocional. Recolher os fragmentos da dor, da renúncia, do amor à distância e da fé que insiste mesmo quando tudo parece ruir.
Giovanni não é um herói no sentido convencional. Ele não triunfa, não retorna, não deixa heranças. Mas sua grandeza está em continuar amando à distância, esperando no deserto, resistindo ao esquecimento. Ele representa todos aqueles que foram tragados pela promessa de um mundo novo e que, mesmo assim, não deixaram de escrever cartas — ainda que ninguém as lesse.
Escrevi esta história porque ela já existia. Dormia nas entrelinhas de uma carta centenária, nas cicatrizes de um tempo em que o mundo se dividia entre os que partiam e os que ficavam. E eu, como autor, me vi no meio desses dois extremos, tentando dar forma ao que nunca deveria ter sido calado.
A literatura, às vezes, é isso: um lugar onde os mortos falam e os esquecidos voltam a existir — nem que seja por algumas páginas.

Com gratidão,

Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta


terça-feira, 24 de junho de 2025

A Saga de Carlo e Sofia: Imigrantes Italianos na Argentina

 



A Saga de Carlo e Sofia 
Imigrantes Italianos na Argentina


Em 1878, na pequena localidade de Jesus Maria, localizada na província de Córdoba, Argentina, acabava de chegar um jovem casal de imigrantes italianos, Carlo e Sofia Ricci. Eles deixaram sua amada terra natal na Itália em busca de uma nova vida em terras distantes e promissoras. Sua história começa com um misto de desejo de aventura e de explorar horizontes além das fronteiras conhecidas, mas, principalmente da necessidade de deixar para trás aquela miséria crônica que os cercava desde a infância, de abandonar uma Itália sem futuro, que não era nem capaz de oferecer um posto de trabalho digno para sustentar a família. Milhares de outros italianos já tinham partido, emigrado para outros países vizinhos ou do outro lado do oceano  e outros milhares, de norte ao sul da península, aguardavam uma oportunidade para também seguirem o mesmo caminho.

Carlo, um homem de espírito indomável e grande ambição, escolheu embarcar nessa jornada ao lado de sua amada esposa, Sofia. A cansativa viagem pelo mar não foi isenta de desafios, mas eles nunca perderam a esperança. Ao longo de quase quarenta dias de viagem e 8 dias de paradas, enfrentaram o mal-estar do mar e muitas incertezas, mas finalmente chegaram sãos e salvos a Buenos Aires, Argentina, em 1º de março.

A aventura deles não parou por aí. Após uma rápida estadia na hospedaria em Buenos Aires, foram levados  para a província de Córdoba, para a quase pedida localidade de Caroya. Rodeada por altas montanhas e habitada por uma maioria de indígenas, pessoas humildes e generosas, essa localidade esquecida parecia prometer uma vida melhor para Carlo e Sofia. Lá, o casal fez amizade com outros imigrantes italianos, alguns provenientes de lugares próximos à sua terra natal e outros do sul do país. Esses encontros fortuitos fortaleceram seu senso de comunidade e solidariedade, formando laços que durariam por muito tempo.

Carlo e Sofia estavam determinados a construir uma vida próspera na Argentina. Iniciaram a construção de sua casa, unindo forças para fazer tijolos e coletar materiais locais. Sua casa seria um lar acolhedor para eles e para a família que esperavam construir.

Descobriram que o solo na Argentina era fértil e rico em recursos agrícolas. Essa descoberta os motivou a começar a cultivar a terra ao redor e a criar uma nova vida baseada na agricultura. As promessas de abundância de alimentos e a oportunidade de possuir terras sem ter que pagá-las imediatamente eram fonte de grande entusiasmo para o jovem casal.

Enquanto Carlo e Sofia se adaptavam à sua nova vida, participavam também das atividades  religiosas e festivas  locais. Esses eventos festivos os ajudaram a mergulhar na cultura argentina e a sentir um vínculo cada vez mais forte com sua nova pátria.

A vida deles na Argentina era dura e permeada de inúmeros desafios. Tinham que lidar com a saudades da sua vila natal, a grande distância de suas famílias na Itália, mas a esperança de uma vida melhor os mantinha unidos e firmes no propósito de vencer. Enquanto não tomava posse de um lote de terra, Carlo trabalhava arduamente no campo como peão, ganhando um salário de 70 francos por mês, além de alojamento e alimentação, enquanto Sofia cuidava da casa e mais tarde dos filhos.

Seus dias eram simples e cheios de trabalho árduo, mas estavam repletos de esperança para o futuro. Com o tempo, o casal teve a alegria de formar uma família, enquanto Carlo ganhava o respeito da comunidade local por seu trabalho sério e dedicado.

À medida que Carlo e Sofia mergulhavam nas complexidades da vida argentina, suas experiências se entrelaçavam com os altos e baixos da nação em crescimento. A família crescia, os campos prosperavam, mas desafios inesperados testavam sua resiliência. Uma reviravolta inesperada trouxe à tona dilemas éticos e decisões difíceis, desafiando os alicerces da vida que construíram.

A comunidade de Caroya tornou-se palco de eventos que ecoariam através das gerações, moldando não apenas a história de Carlo e Sofia, mas também o destino da localidade. Suas contribuições se tornaram um legado, um testemunho da força do espírito humano e da capacidade de construir algo duradouro em terras estrangeiras.

No entardecer de suas vidas, Carlo e Sofia olhavam para trás, contemplando uma jornada que transcendeu as fronteiras da Itália e se entranhou nas raízes da Argentina. Seus descendentes celebravam não apenas a coragem de um casal, mas a herança de uma família que floresceu em solo argentino.

A história de Carlo e Sofia permaneceu viva nas tradições familiares, nas ruas de Caroya e nos corações daqueles que aprenderam sobre sua saga. Uma história de amor, perseverança e construção de sonhos que resistiram ao teste do tempo, tornando-se uma narrativa eterna que ecoa como um lembrete inspirador de que, onde quer que as sementes da esperança sejam plantadas, raízes profundas podem se formar, criando um legado que transcende gerações.

Nota do Autor

"A Saga de Carlo e Sofia: Imigrantes Italianos na Argentina" é mais do que uma história de migração; é um tributo ao espírito humano que ousa sonhar além das fronteiras e superar as adversidades. Inspirada por relatos históricos e enriquecida pela imaginação, esta narrativa busca retratar a coragem de homens e mulheres que deixaram sua terra natal em busca de um futuro melhor, enfrentando desafios que testaram sua resiliência e moldaram seu caráter.

Carlo e Sofia representam muitos dos imigrantes italianos que, no final do século XIX, contribuíram para o desenvolvimento social, cultural e econômico da Argentina. A força do amor, o trabalho incansável e a capacidade de adaptação são elementos centrais que nos mostram como vidas ordinárias podem produzir feitos extraordinários.

Esta obra é uma homenagem aos pioneiros que, como Carlo e Sofia, deixaram um legado duradouro não apenas para suas famílias, mas também para a sociedade que os acolheu. É um convite para refletir sobre a universalidade dos sonhos e a importância de preservar e celebrar as histórias que nos conectam às nossas raízes e nos inspiram a olhar para o futuro com esperança.





sábado, 29 de março de 2025

Radise Taliane: El Viàio Eròico de i Rinaldo su le Montagne de l'Argentina

 



Radise Taliane: El Viàio Eròico de i Rinaldo su le Montagne de l'Argentina


Nte la lontana sità de San José, in Provìnsia de Mendoza, Argentina, el 14 de lùlio del 1890, ghe ze stà na famèia, de que la stòria mèrita de vegnir contà. Sta stòria scomìnssia el 14 de lùlio del 1890, con Marco e Isabella Rinaldo, coraiosi emigranti taliani che i lassa la so tera natia, le verdi pianure del Véneto, par sercar na nova vita in Amèrica del Sud.

In quei ùltimi 25 ani del sècolo XIX, mile e mile de altri compatrioti, dal nord al sud del paese, gavea zà lassà le so vile ndove lori i zera nati, scampando la situassion económica dura in cui el novo Regno d’Italia se ghe trovava, e con el desidèrio de liberarse da quel sistema de povertà e opression che le so famèie gavea patìo par desseni.

Marco e Isabella lori i zera na còpia determinada, con el sònio de un futuro mèio par lori e par i so fiòi. Lori i parte da l’Itàlia, solcando el mar sensa paura, afrontando le sfide de una lunga traversada sconossua e pericolosa. Lori i soporta i inconvenienti de la mancansa de spassio, de igiene e de bona alimentassion, e anca i malori del mar, soratuto ntei primi zornade de viàio. Lori i imbarca su un viàio che i porta fin a Buenos Aires, indove i sbarca el 2 de lùlio del 1890. Là, i vien ricevù da le autorità del governo argentino e da qualcuni membri de la comunità de emigranti, e lori i passa 15 zornade de quarantena in barachei de legno, malandadi ma necessari par i emigranti.

Dopo lassà Buenos Aires, con el tren, i Rinaldo i va fin a la Provìnsia de Mendoza, e pì esato al pìcolo paeseto de San José, situà vicin a le maestose montagne de la Cordilera de l’Andes. I ga restà incantà da la belesa de le alte montagne, molto sìmili a quei che i vardava ogni zorno ntela so vila natia, e lori i ga decidì de costruir là la so nova casa.

La zona la zera magnìfica, con pochi vigneti che zà se distendéa a l’orizonte e con l’aria fresca de la montagna che i empìe i pulmoni. Marco e Isabella capì sùito che i gavea catà un posto espessial.

Lori scomìnssia a piantar viti, con le barbatele portà da l’Italia, e pì tardi i se mete a produrre vin, seguendo la tradission vinìcola de la so famèia. Nte quel clima seco, con un poco de irigassion, le vendemie zera generose, e i vini che i fa vegnì presto famosi in tuta la zona e oltre.

Mentre lori i prosperava con la so nova vita de vitivinicoltori, Marco e Isabella lori i se ga integrà ativamente ´ntela comunità locae. Lori i  organisa feste e celebrasioni religiose, ndove tuti i abitanti del posto se radunava par festegiar la vendemia e el santo patrono.

Con el passar de l’ani, la vita de i Rinaldo in Argentina continuava a miliorar. Oltre al lavoro duro ´ntei vigneti, lori i ga inisià a goderse anca la riquessa culturae de la zona, participando ai festival locai. La diversità culturae de Mendoza la zera notàbile, na mescola de nasionalità che i fa sentirse parte de na grande comunità globale.

Nte la zona de Mendoza, lori anca ga podù goderse la stasione de la vendemia, con na abondansa de frute fresche par tuti. I resorsi natural i zera tanti, e perfino la càssia la zera na atività disponibile, con osei e quadrupedi in abondanza.

Con el tempo, Marco e Isabella lori i ga avù oto fiòi, che i ze cressù in quelo ambiente idìlico, imparando l’arte de la vitivinicultura da i so genitori. La famèia Rinaldo la ga costruì na vita rica, pròspera e felice in Argentina, circondà da paesagi magnìfiche e na comunità calorosa.

E cusì che finìssi sta stòria de coràio, determinassion e sussesso, che la scomìnssia con el viàio de Marco e Isabella Rinaldo verso na nova vita in Argentina e con la creassion de na pròspera azienda vinìcola sui pendìi de le maestose montagne de l’Andes. La numerosa discendensa de la famèia Rinaldo, continua anca incòi la tradission vinìcola italiana, produsendo vini apresà non solo localmente, ma anca esportà in altre parti del mondo. El so viàio el ze na testimonia del sònio e de la capassità de costruir na vita mèior in un novo paese.

quarta-feira, 17 de julho de 2024

Entre a Esperança e a Adversidade: A Saga dos Italianos Rumo à América



Durante o período de 1876 a 1920, aproximadamente 9 milhões de italianos deixaram sua pátria em busca de melhores condições de vida, impelidos pela pobreza e pela desesperança econômica. Essa migração em massa iniciou-se sob a égide da esperança, alimentando o sonho de uma terra distante que muitos retratavam como um paraíso na Terra: a América. Os destinos principais eram os Estados Unidos, Argentina e Brasil, onde muitos camponeses e artesãos viam na emigração a última chance de escapar da fome e da miséria.
Após a unificação italiana, a elite não apenas não reprimiu essa saída em massa, mas a viu como um alívio para as tensões sociais. Em 1888, foi promulgada a primeira lei oficial reconhecendo o direito de emigrar, o que facilitou o trabalho das agências que persuadiam os pobres a partir. A maioria das autoridades italiana entre os quais Sidney Sonnino, ministro liberal das Finanças e do Tesouro de 1893 a 1896, viam a emigração como uma "válvula de segurança para a paz social".
No entanto, o caminho rumo à América não era fácil. Os emigrantes enfrentavam tremendas dificuldades desde o recrutamento por agentes desonestos até as condições desumanas nos navios superlotados que cruzavam o Atlântico. Muitas vezes tratavam-se de embarcações de carga adaptadas, onde as condições higiênicas eram terríveis, com alta incidência de doenças como o cólera e uma mortalidade infantil alarmante.
Além das dificuldades físicas, os italianos enfrentaram desafios emocionais intensos ao se despedirem de suas terras natais. A nostalgia pela pátria era uma constante durante a travessia, evocada nas canções populares que lamentavam a distância crescente de suas cidades amadas.
Nos destinos finais como Argentina e Brasil, os recém-chegados eram recebidos em condições muitas vezes precárias, como o famoso "Hotel degli Immigrati" em Buenos Aires, onde eram alojados temporariamente em condições indignas.
Apesar dos perigos e das adversidades, a emigração italiana deixou uma marca indelével na história desses países receptores, contribuindo significativamente para seus desenvolvimentos econômicos e sociais.
Adicionalmente, a emigração italiana não foi apenas uma fuga das dificuldades, mas também um fenômeno complexo que moldou profundamente a identidade e a cultura desses países de destino. Os italianos trouxeram consigo não apenas habilidades laborais, como na agricultura e na construção civil, mas também valores familiares fortes e tradições culinárias que enriqueceram a vida cotidiana das comunidades onde se estabeleceram. A diáspora italiana não se limitou apenas aos centros urbanos; muitos italianos contribuíram para o desenvolvimento de áreas rurais, ajudando a transformar vastas extensões de terras em campos produtivos.
A experiência da emigração italiana também foi um catalisador para movimentos sociais e políticos tanto na Itália quanto nos países de destino. Movimentos anarquistas e sindicatos de trabalhadores formados por italianos no exterior desempenharam papéis importantes na luta por direitos trabalhistas e na defesa da justiça social. Essas comunidades transnacionais não apenas mantiveram laços estreitos com suas terras natais, mas também contribuíram para o desenvolvimento de uma consciência global entre os italianos e seus descendentes ao redor do mundo.


segunda-feira, 11 de dezembro de 2023

Além do Horizonte: A Saga de uma Família Calabresa na Emigração para a Argentina"






Rosalia nasceu na tranquila localidade de Spineto, aninhada nas colinas verdes do município de Belmonte Calabro, na Calábria. O sol dourado e os fortes ventos soprados do Tirreno acariciavam as oliveiras que pontilhavam a paisagem, testemunhando o início da vida de uma criança destinada a enfrentar desafios extraordinários.
O ano era 1885, e desde cedo, a vida de Rosalia estava entrelaçada com as histórias de emigração que fluíam como o vento pelas vielas de sua vila. Seu pai, Giuseppe, cultivava uma pequena parcela de terra herdada de gerações passadas, mas as colheitas eram magras, e a promessa de uma vida melhor pairava sobre a mente da família.
Rosalia cresceu sob o aroma picante de ervas frescas e o calor da cozinha de sua mãe, Maria. A família era modesta, mas a resiliência e a esperança eram ingredientes fundamentais em suas refeições diárias. Conforme os anos passavam, a ideia de emigrar para uma terra distante começou a ganhar força na mente de Giuseppe e Maria.
Foi no início do século XX, em 1907, que a vida de Rosalia, então já uma mulher casada, tomou um rumo decisivo. O marido, Domenico, havia recebido uma carta de chamada de um tio que emigrara alguns anos antes, descrevendo oportunidades e sonhos que aguardavam do outro lado do oceano. A família decidiu embarcar no paquete Ravenna, com destino à distante Argentina. O sonho de uma vida melhor para os filhos e netos estava entrelaçado com o murmúrio das ondas do Mediterrâneo.
O que deveria ser uma jornada cheia de esperança transformou-se em tragédia durante a primavera daquele ano. Uma epidemia de sarampo varreu o navio, como uma tempestade silenciosa e mortal. Rosalia, então uma jovem de 22 anos, estava grávida e testemunhou a crueldade do destino quando cerca de um terço das crianças a bordo adoeceu.
Ela viu a angústia nos olhos dos pais que perderam seus filhos para a doença, enquanto a própria Rosalia lutava para manter a saúde de seu bebê por nascer. Entre os 80 falecimentos ocorridos durante a travessia, 65 eram de recém-nascidos e crianças inocentes, uma dor profunda que ecoou através das águas do Atlântico.
Rosalia deu à luz uma filha a bordo, entre lágrimas e suspiros. O choro do bebê misturou-se ao lamento triste que pairava sobre o navio. Essa pequena alma, nascida no meio da tormenta, simbolizava tanto a perda quanto a esperança. A despedida de sua vila natal foi marcada pela dor, mas Rosalia estava determinada a honrar a memória dos que partiram.
A chegada à Argentina trouxe um novo capítulo para Rosalia. Ela enfrentou as adversidades da emigração, construindo uma nova vida em uma terra estrangeira. As memórias daquele trágico episódio nunca a deixaram, mas, com o tempo, ela encontrou força para transformar a dor em resiliência.
Rosalia, a imigrante italiana de Spineto, deixou um legado de coragem e esperança para as gerações que seguiram. Sua história é uma ode àqueles que enfrentaram os desafios da emigração, carregando consigo a bagagem de sonhos e a saudade da terra natal, mas sempre avançando em direção a um futuro incerto, guiados pela promessa de uma vida melhor.




quarta-feira, 15 de novembro de 2023

Saga Italiana nos Pampas: Emigração, Trabalho e Sucesso na Argentina




Nas onduladas e pitorescas colinas da província de Bergamo, no norte da Itália, Luca cresceu imerso em uma vida simples e laboriosa. Sua família, composta pelos pais Antonio e Giovanna, e pelos irmãos e irmãs Giovanni, Marco, Martina, Antonio, Zeno e Sofia, enfrentava as agruras da vida agrícola em uma pequena vila. A pequena propriedade que arrendavam mal produzia o suficiente para sustentar a família, e a maior parte do que colhiam ia para o dono da terra.
Luca, o primogênito, sentia o peso das responsabilidades sobre seus ombros. A vida na vila era marcada pela simplicidade e pela dureza do trabalho no campo. Consciente da necessidade de proporcionar um futuro melhor para seus irmãos e aliviar as lutas financeiras de seus pais, Luca tomou a decisão difícil, mas inevitável, de emigrar em busca de oportunidades além das fronteiras da Itália.
No ano de 1878, movido por um misto de determinação e necessidade, Luca desembarcou nas promissoras terras da Argentina. Os amplos horizontes de Buenos Aires, onde permaneceu por apenas três dias, se desdobravam diante dele, trazendo consigo a promessa de um recomeço. Logo encontrou trabalho em uma grande fazenda nos pampas argentinos, onde se viu envolvido na colheita de trigo ao lado de seu novo amigo, Giovanni.
Os dias se desenrolavam sob o sol escaldante dos pampas, entre os campos dourados de trigo. Luca encontrou satisfação no trabalho árduo e na conexão com a terra. À noite, exausto após uma jornada extenuante de trabalho nos campos dourados de trigo, Luca partilhava refeições com seus colegas. Em um cansaço profundo, os laços entre eles eram forjados na fadiga compartilhada, mais do que nas delícias culinárias. Esses momentos, marcados pelo silêncio que sucede um dia de árduo labor, tornaram-se a essência da conexão entre aqueles que, à luz das estrelas, buscavam forças para enfrentar o nascer precoce do próximo amanhecer.
Mesmo distante, Luca não esqueceu suas raízes e a responsabilidade para com sua família na Itália. Regularmente, enviava alguma ajuda financeira para seus pais e irmãos. Com o passar do tempo e já estabilizado financeiramente, Luca tomou uma decisão que mudaria o destino de sua família: mandou as passagens para os irmãos Giovanni, Marco e Antonio poderem se unir a ele na Argentina.
Na Itália, ficaram Martina, que havia se casado com um rapaz da própria vila onde moravam, e Zeno, com 18 anos, e Sofia, ainda menor, que ficaram responsáveis por cuidar dos velhos pais.
Após dois anos na fazenda de trigo, Luca e Giovanni decidiram dar um novo rumo às suas vidas. Deixaram o emprego e mudaram-se para a Província de Córdoba, onde adquiriram dois grandes lotes de terras do governo argentino a preços subsidiados. Essa mudança representou um novo capítulo na vida de Luca e Giovanni, de trabalhadores assalariados a proprietários de terras, vislumbrando um futuro mais estável e independente.
A história de Luca e Giovanni se expandiu para além das plantações. Fundaram uma cooperativa local, unindo esforços com outros agricultores da região para fortalecer a comunidade. Seus esforços culminaram na construção de uma escola para as crianças da região, proporcionando educação e oportunidades que eles mesmos não tiveram.
Com o passar dos anos, a família de Luca e Giovanni cresceu, multiplicando-se em gerações. Os netos, inspirados pelos feitos de seus avós, seguiram diversos caminhos. Alguns continuaram na agricultura, modernizando as práticas herdadas, enquanto outros buscaram carreiras nas cidades, levando consigo os valores fundamentais transmitidos por Luca e Giovanni.
À medida que a Província de Córdoba se transformava e crescia, a história de Luca e Giovanni se tornou parte integrante do legado da região. Suas conquistas ecoaram nas pradarias argentinas, simbolizando a tenacidade e a visão que moldaram não apenas suas vidas, mas também o destino das futuras gerações. A história desses dois amigos imigrantes, que transformaram a adversidade em triunfo, permaneceu viva nas tradições e na memória de uma comunidade que eles ajudaram a construir.
A chegada dos irmãos Giovanni, Marco e Antonio à Argentina trouxe uma alegria renovada para Luca. Reunidos novamente, a família começou a construir um novo capítulo de suas vidas juntos. Giovanni, seguindo os passos de Luca, encontrou uma parceira chamada Rosalia, e juntos, estabeleceram-se em uma fazenda próxima. A terra generosa dos pampas argentinos parecia sorrir para eles, recompensando os anos de trabalho árduo.
Marco, o irmão mais jovem, apaixonou-se por uma jovem argentina chamada Elena. Eles decidiram explorar novos horizontes, optando por um pedaço de terra próximo à cidade, onde fundaram um pequeno comércio que prosperou com o tempo. Antonio, o mais jovem, encontrou em Luisa uma companheira para a vida. Juntos, decidiram investir na produção de laticínios, aproveitando a vastidão de terras para criar um negócio próspero.
A vida na Província de Córdoba era desafiadora, mas a união da família tornou cada obstáculo mais fácil de superar. As festividades italianas misturavam-se com as tradições argentinas, criando um lar onde o amor, o trabalho duro e a celebração se entrelaçavam.
Enquanto Luca e Giovanni colhiam os frutos de sua visão pioneira na cooperativa local, seus irmãos construíam legados próprios. O eco das risadas das crianças, dos negócios bem-sucedidos.



Dr. Luiz Carlos B.Piazzetta

Erechim RS