Rosalia nasceu na tranquila localidade de Spineto, aninhada nas colinas verdes do município de Belmonte Calabro, na Calábria. O sol dourado e os fortes ventos soprados do Tirreno acariciavam as oliveiras que pontilhavam a paisagem, testemunhando o início da vida de uma criança destinada a enfrentar desafios extraordinários.
O ano era 1885, e desde cedo, a vida de Rosalia estava entrelaçada com as histórias de emigração que fluíam como o vento pelas vielas de sua vila. Seu pai, Giuseppe, cultivava uma pequena parcela de terra herdada de gerações passadas, mas as colheitas eram magras, e a promessa de uma vida melhor pairava sobre a mente da família.
Rosalia cresceu sob o aroma picante de ervas frescas e o calor da cozinha de sua mãe, Maria. A família era modesta, mas a resiliência e a esperança eram ingredientes fundamentais em suas refeições diárias. Conforme os anos passavam, a ideia de emigrar para uma terra distante começou a ganhar força na mente de Giuseppe e Maria.
Foi no início do século XX, em 1907, que a vida de Rosalia, então já uma mulher casada, tomou um rumo decisivo. O marido, Domenico, havia recebido uma carta de chamada de um tio que emigrara alguns anos antes, descrevendo oportunidades e sonhos que aguardavam do outro lado do oceano. A família decidiu embarcar no paquete Ravenna, com destino à distante Argentina. O sonho de uma vida melhor para os filhos e netos estava entrelaçado com o murmúrio das ondas do Mediterrâneo.
O que deveria ser uma jornada cheia de esperança transformou-se em tragédia durante a primavera daquele ano. Uma epidemia de sarampo varreu o navio, como uma tempestade silenciosa e mortal. Rosalia, então uma jovem de 22 anos, estava grávida e testemunhou a crueldade do destino quando cerca de um terço das crianças a bordo adoeceu.
Ela viu a angústia nos olhos dos pais que perderam seus filhos para a doença, enquanto a própria Rosalia lutava para manter a saúde de seu bebê por nascer. Entre os 80 falecimentos ocorridos durante a travessia, 65 eram de recém-nascidos e crianças inocentes, uma dor profunda que ecoou através das águas do Atlântico.
Rosalia deu à luz uma filha a bordo, entre lágrimas e suspiros. O choro do bebê misturou-se ao lamento triste que pairava sobre o navio. Essa pequena alma, nascida no meio da tormenta, simbolizava tanto a perda quanto a esperança. A despedida de sua vila natal foi marcada pela dor, mas Rosalia estava determinada a honrar a memória dos que partiram.
A chegada à Argentina trouxe um novo capítulo para Rosalia. Ela enfrentou as adversidades da emigração, construindo uma nova vida em uma terra estrangeira. As memórias daquele trágico episódio nunca a deixaram, mas, com o tempo, ela encontrou força para transformar a dor em resiliência.
Rosalia, a imigrante italiana de Spineto, deixou um legado de coragem e esperança para as gerações que seguiram. Sua história é uma ode àqueles que enfrentaram os desafios da emigração, carregando consigo a bagagem de sonhos e a saudade da terra natal, mas sempre avançando em direção a um futuro incerto, guiados pela promessa de uma vida melhor.