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quinta-feira, 30 de março de 2023

Curiosidades Sobre a Origem de Alguns Sobrenomes Italianos




Com o crescimento acelerado da população, com as cidades ficando cada vez maiores, já no período romano sentiu-se a necessidade de identificar melhor um individuo para evitar confusões que o mesmo nome causava. Assim foram criados três nomes para identificar as pessoas.
O primeiro nome "praenomen", era o nome próprio da pessoa e era imposto no nono dia de nascimento, denominado "dies nominalis". Somente os membros mais chegados da família chamavam uma pessoa pelo seu prenome. 
O segundo, o "nomen", indicava a "gens" e era o mesmo para todos os seus membros. 
O terceiro, o "cognomen", cuja origem etimológica da palavra "sobrenome" do latim "cognomen", composto por "cum" e "nomen", enfatizava uma característica física ou moral ou o local de origem e, tendo se tornado hereditário, passou a designar a "família" a que pertencia, ou seja, um dos ramos, patrícios ou plebeus, em qual era subdividida a "gens" original. Além disso, alguns nobres adicionavam outros nomes e sobrenomes a seu gosto, às vezes criando longas listas.
O uso sistemático do sobrenome latino cessou no fim do império romano do ocidente em 476 d.C. com o período de decadência política, cultural e social que se seguiu passando o seu uso ao esquecimento. 
Nessa época da Alta Idade Média prevaleceu o uso do primeiro nome, aquele recebido por ocasião do batismo. Assim, cada pessoa voltou a ser identificada apenas pelo nome de batismo pessoal, às vezes também referindo-se às características da pessoa ou ao lugar de origem ou paternidade.
A confusão progressivamente foi aumentando e os casos de inúmeras pessoas tendo o mesmo nome criava enorme confusão nas cidades que estavam novamente em expansão.
Foi por volta dos séculos IX e X que novamente a sociedade da época sentiu a necessidade de distinguir melhor os diversos indivíduos com o mesmo nome, de os identificar claramente para os devidos atos legais. Usava-se a expressão "filho de fulano" ou quando o genitor já era morto de "filho do falecido fulano".
Essa medida não durou por muito tempo, pois a formação de combinações possíveis começou a escassear e a confusão novamente se instalou tornando-se necessário diferenciar os indivíduos. Assim surgiu o sobrenome moderno o qual poderia ser originado do nome paterno ou materno, de um apelido, de um local de origem, de um ofício ou de uma profissão. 
Com o passar dos anos o sobrenome tornou-se hereditário e passou a ser obrigatório por lei. Ao longo dos séculos, o sobrenome sofreu transformações sucessivas e a forma usada atualmente pode ser muito diferente da que se usava no começo.
Na Itália, o uso de sobrenomes no início foi exclusividade de famílias ricas, mas em 1200 em Veneza e no século seguinte em outras áreas, ainda que com alguma resistência e demora, o uso se estendeu às camadas menos abastadas da população. Com o Concílio de Trento de 1564, foi sancionada a obrigação dos párocos de manterem um registro ordenado dos batismos com nome e sobrenome, para evitar casamentos entre parentes. O sobrenome tornou-se finalmente hereditário.


Alguns sobrenomes e suas prováveis origens:

Astuti - com a variante Astuto surgiram de um apelido que indicava uma característica intelectual de um indivíduo, sendo com o tempo incorporado como seu sobrenome.

Barbieri - e variantes Barbiera, Barbere, Barberio, Barbero, Barbera, Barbè, Barberaz, De Barbieri, Debarbieri, De Barberis; La Barbera, Barberini, Barbierato é um sobrenome originário do apelido dado à quem exercia a profissão de cortar a barba, cabelos e bigode. Em tempos mais antigos se usava para denominar aquele que fazia as sangrias, extrações ou pequenas cirurgias. 

Basso - com as variantes Bassi, Bassa, Bassis, Bascio, Basciu, De Bassis, Bassich, Lo Basso, Lobasso, Li Bassi, Lobascio, Lovascio, Bassetti, Bassetto, Bassini, Bassin, Bassoli, Bassolino é um sobrenome que indicava pessoa de estatura baixa, no início apenas um apelido e depois passou a ser incorporado como sobrenome.

Bellagamba - com a variante Bellegambe, é um sobrenome derivado de um apelido de constatação que com o passar do  tempo foi incorporado como um sobrenome.

Bellaver -  e as variantes Bellavere, Bonavera significa a “bonita conquista”, tem caráter gratulatório. 

Belli - com as numerosas variantes Bello, Bella, De Bello, De Bella, De Belli, Debelli, De Bei, De Bellis, Di Bello, Di Bella, Del Bello, Debello, Della Bella, Bellich, Lo Bello, Lobello, Lubello, Lubelli, La Bella, Labella, Bellelli, Belleli, Belletti, Bellettini, Bellini, Bellino, Bellin, Belloli, Belloi, Bellucci, Belluzzi, Bellotti,Bellocci, Bellozzi, Bellotti, Belotti, Bellotto, Bellotta, Belloni, Bellacci, Bellaccini, Bellacchini, Bellazzi, Bellami, Bellemo, Bellen, Bellandi, Bellando, Bellendi, Bellanti, Bellante, Bellentani, Bellani, Bellano, Bellan, Bellardo, Bellasi e Bellocchi sobrenome originado pela constatação de beleza de uma pessoas ou mesmo de augúrio dirigido à um filho para que crescesse bonito.

Benedetti - e as variantes Benedetto, Benedet, De Benedetti, De Benedetto, De Benedettis, De Benedictis, De Beneditti, De Benedittis, Di Benedetto, Benedettini, Benditti, Benetti, Benetto, Benet, Benetelli era um sobrenome muito usado para dar uma origem familiar para as crianças enjeitadas, abandonadas pelos pais nas "Ruota degli esposti", acolhidas e adotadas por instituições religiosas e tinha relação com o culto de São Benedito.

Benigni - com as suas variantes Benigno, Benigna, Benignetti era também um sobrenome muito usado como sobrenome pelos gestores dos orfanatos para as crianças enjeitadas, abandonadas pelos pais e adotadas pelas instituições e tem o significado de benévolo.

Benvenuto - e as variantes Benvenuti, Benvegnù, Venuti, Venutti, Venuto, Venutelli, Begnudelli, Vignudelli, Vignodelli, Vignudini, Nuti, Nutini, Gnuti, Gnudi. Esse sobrenome tem caráter congratulatório, referido a um filho muito desejado. O sentido que o sobrenome encerrava era o de que “a criança era bem-vinda”. 

Bergamo - com as variantes Bergami, Bergomi, Bergamelli, Bergamini, Bergamino e Bergamin, Bergamaschi, Bergamasco, Bergamas, Bergamasi sobrenome toponímico que surgia do apelido que exprime que o indivíduo é proveniente de um determinado lugar, no caso de Bergamo

Bevilacqua - com as variantes Beviacqua, Bevacqua, Bevelacqua, Bevillaqua é um sobrenome jocoso e irônico de ordem comportamental, originado de um apelido, dado para quem era um conhecido bebedor de vinho ou "grappa". Por outro lado também poderia ser o contrário, um apelido dado à alguém que fosse abstêmio. 

Bianchi - e suas variantes Bianco, Bianca, Blanco, Blanca, Blanc, De Bianchi, Del Bianco, Della Bianca, Lo Bianco, Lobianco, La Bianca, Labianca, Bianchetti, Bianchetto, Bianchet, Bianchini, Bianchinotti, Biancucci, Biancoli, Biancolini, Biancotti, Biancotto, Bianciotti, Bianconi, Biancone, Bianconcini; Biancani, Biancato, Biancat, Bianchedi, Biancheda, Biancheri, Bianchera, Bianchessi e Bianchessi sobrenome que deriva de apelidos relativos de característica física, da constatação da cor da pele, dos cabelos, da barba, etc.   

Biondo - e as suas variantes Bionda, Biondi, Biundo, Biunno, Biunni, Blondi, Blundo, Blunno, Brundu, Biondelli, Biondellini, Biondetti, Bionducci, Biondelli, Biondetti, Blondetti, Blondet, Blundetto originam-se de um apelido de constatação física, como a cor dos cabelos loiros, pele clara, barba loira e que posteriormente passaram a ser sobrenomes.

Bonafortuna - e a variante Buonafortuna. É sobrenome derivado de um nome pessoal de caráter gratulatório, de significado transparente, augurio de boa sorte. 

Bonaventura - e a variante Buonaventura. É um sobrenome de caráter augurante e gratulatório. Era usado como augúrio no sentido de que a criança recém-nascida se constituísse “para a família boa ventura, sorte”. 

Boschetti - e suas variantes Boschetto, Boschet, Boschi, Boschis, Bosco, Boschi, Bosche, Busco; Busca, Boschian, Boscato, Boscati, Boscaro, Boscari, Boscarini, Boscarin, Boscardin, Boscain, Boscarello, Boscolo é um sobrenome toponímico derivado de Boschetto ou derivado de profissão de quem trabalhava num bosque ou que nele vivia.

Brescia - e suas variantes Bresci, Bressa e Bressi; Bressani, Bressano, Bressan, Bressanelli, Bressanini, Bressanin Bressanutti sobrenome de origem toponímica de um indivíduo ou família cuja origem estava em Brescia ou era proveniente dela.

Caccialupi - como também Fumagalli, Pappalardoapelidos que se tornaram sobrenomes e aludem a ações ou fatos ocasionais.

Capitani - com as variantes Capitanio, Capitano indica posto militar de um indivíduo e que passou a ser usado como sobrenome. 

Cardinali - com as variantes Cardinal, Cardinale é um sobrenome indicativo de cargo religioso que passou a ser sobrenome.

Casagrande - e suas variantes Casagranda, Casagrandi, Case, Dalla Casa, Dallacasa, Della Casa, Da Ca, Duccà, Da Cha, Dachà, Dalla Ca, Dallacà, Dalla Cha, Dallachà, Casella, Casello, Caselli, Casel, Casiello Casetta, Casetti, Caset Casina, Casine, Casabianca, Casabassa, Casabella, Casagrande sobrenome composto muito usado para as crianças enjeitadas que significava casa grande, orfanato. Casadei, Casadio, Cadei, Casadidio também usados para dar sobrenomes aos órfãos enjeitados, adotadas e criadas por um orfanato, instituto religioso ou hospital de caridade.

Colombo - e suas variantes Colombi, Colomba, Columbo, Colombro, Columbro, Colombani, Colomban, Colombetti, Colombetta, Colombini, Colombin, Colombrino, Colombazzi, Colombari, Colombara, Colombarini, Colombera, Colomberini, Colomberotto significam inocência, pureza e mansidão até mesmo de escuro. Muito usado para sobrenome das crianças enjeitadas.

De Martino - e outros como Di Giulio, Di Maria, Lo Monaco, La Franca, Della Marta, são sobrenomes patronímicos e matronímicos que indicam o nome pessoal do pai ou da mãe.

Diotaiuti  - usado para dar um sobrenome para as crianças abandonadas pelos pais na "ruota" dos orfanatos e acolhidas e adotadas pelas instituição religiosas.

Diotallevi - o mesmo que o sobrenome anterior.

Fabris -  com as variantes Fabbro, Fabbri, Fabbris Fabro, Fabri, Faber, Favro, Fàveri, Fàvero, Fàvaro, Fabrini, aquele que trabalhava com ferro, isto é, ferreiro; era usado também em sentido mais amplo para designar o artesão. 

Fattori - com as variantes Fattor, Fattore, Fattor, Fattur, Fator, Fattorelli, Fattorello, Fattoretto, Fattoretti, Fattorini, Fattorino denominava o caseiro, administrador e feitor de propriedade ou empresa agrícola 

Ferrara - e as variantes Ferrarese, Ferraresi sobrenome que deriva de ferraria ou também um sobrenome toponímico como pessoa ou família proveniente de Ferrara.

Ferro - variantes Ferri, Fierro, Ferretti, Ferretto, Ferin, Ferrini, Ferrucci, Ferruzzi Ferraro, Ferrario, Ferraris, Ferrai, Ferrero, Ferreri, Ferreli, Ferèr nome dado a alguém que exercia a profissão de ferreiro, ou o caráter da pessoa ou ainda a cor do ferro.

Fontana - com as variantes Fontani, Fontanella, Fontinelli, Fontanelle, Fontanino, Fontanini, Fontanin, Fontanotti, Fontanot, Fontanazzi, Fontanari, Fontanesi é um sobrenome toponímico proveniente de uma localidade onde surgia uma fonte, tanto na zona urbana como rural.

Genovese - com as variantes Genovesi, Genoves sobrenome que indica lugar de origem, ou procedência de uma família ou de uma única pessoa, no caso de Gênova.  

Gobbo - e as variantes Gobbe, Gobbi, Gobbino partiu de um apelido irônico por constatação de um defeito físico o qual  passou com o tempo se incorporando ao nome de uma pessoa como o seu sobrenome.

Innocenti - e as variantes Innocente, Degli Innocenti, Nocenti, Nocentini e Nocentino, Innocentin, Innocentini com o significado de não faz o mal, era também um dos sobrenomes dados no passado para as crianças abandonadas pelos pais e confiadas e adotadas por um orfanato.  

Longhi - e suas variantes Longo, Longa, Luongo, Lunga, Del Lungo, Lunghi, Del Lungo, Della Lunga, Del Luongo, Slongo, Longhini, Longhin, Lunghini, Lungherini, Longhetti, Lunghetti, Longato, Longoni, Longon de apelido para pessoas altas e magras passou a ser sobrenome.

Magnani - variantes Magnano, Magnan, Magnino, Magnini, Magnanelli, Magnanini, Maagno, Magni nome de profissão para o fabricante de chaves, de buracos de fechaduras, de corrimões e dobradiças; funileiro, estanhador ambulante que com o tempo foi incorporado como sobrenome. 

Magro - com suas variantes Magri, Magris, Magheri, Magretti, Magrini, Magrino, Magrin, Magrello, Magherini, Magrotti, Magroni e Magrone é um sobrenome que indica uma característica corporal contrária a gordo.

Mancini - com as variantes Mancino, Mancin, Manciana, Mancinelli, Mancinetti derivado do apelido dado à pessoas que usam mais a mão esquerda ou que nela tem mais força. É o chamado canhoto.

Mantovani - com as variantes Mantova, Mantovi, Mantovano, Mantovan, Mantovano, Mantovanelli, Mantoani, Mantoan, Mantuano, Mantuan é um sobrenome toponímico que indica ser proveniente da cidade de Mantova. Geralmente era um apelido que depois passou a ser usado como sobrenome. 

Marangon - e as variantes Marangone, Marangoni dizia da profissão de quem trabalhava a madeira que em vêneto podia também ser carpentiere, de carpinteiro. 

Milani - com as variantes Milano, Milan, Milana, Milanese, Milanesi, Milanesio, Milanello, Milaneschi, Milanetti, Milanetto é um sobrenome toponímico indicando proveniência  de Milano 

Muratori - com as suas variantes Muratore, Murador, Muratorio derivado da profissão de pedreiro 

Omoboni - e a variante Omobono no significado de homem bom, ou um augúrio para o bebe para que seja um homem ou mulher para o bem.

Pellizzer - e suas variantes Pelliccia, Pelliccio, Pellizzaro, Pellizzari, Pellizzieri, Pellizzeri, Pellizza, Pellizzi, Pelliccioni, Pellicciari, Pellicciaro, Pellissero, Pelissero, Pelisèr, Pelisseri, Pelison sobrenome derivado de que trabalhava ou vendia peles.

Piazza - com as variantes Piazzi, Piazzetta, Piassetta,  Del Piazzo, Del Piaz, Del Piaz, Piazzini, Piazzola, Piazzolla, Piazzoli, Piazzese, Piazzera e Piazzesi é um sobrenome toponímico de piazza como lugar aberto, mercado, pátio ou mesmo estrada larga. De um apelido com tempo passou a ser usado como sobrenome.

Preti - com a variante Dal Prete, Dal Prette sobrenome que indica cargo religioso.

Proietti - e as suas variantes Proietto, Proietta, Projetto, derivado de "jogado fora", abandonado, usado para as crianças rejeitadas pelos pais e era o sobrenome dado nos orfanatos que os abrigou e adotou.

Rossi - com as variantes Rosso, Rossa, Russi, Russo, Russa, Ruggiu, Ruiu, Ruju, Rubiu, Del Rosso, De’ Rossi, De Rossi, De Russi, De Rubeis, Della Rossa, Lo Russo, Lorusso, La Russa, Larussa, Rosselli, Rossello, Rossellini, Rossellino, Rosselo, Rossillo, Rossetti, Rossetto, Rosset, Rossettini derivado provavelmente da cor rosada da pele, dos cabelos e barba de um indivíduo. Primeiramente podia ser um apelido, posteriormente foi usado como sobrenome.

Spagnolo - e as variantes Spagnoli, Spagnol é um outro sobrenome que indica lugar de origem, ou prodecedência de uma família ou de apenas uma única pessoa. 

Sartori - e suas variantes Sarti, Sarto, Sarta, Sartin, Sartini, Sartori, Sartor, Sartore, Sartorio, Sartoris, Sartorel, Sartorelli, Sartorello sobrenome derivado da profissão de quem fazia corte e costura de tecidos para a confecção de roupas como o alfaiate e a costureira.

Sperindio - e a variante Sperandio sobrenomes muito usados pelos orfanatos para vários enjeitados abandonados na "ruota" acolhidos e adotados pela instituição.  

Trovato - e as variantes Trovati, Trovatello, Trovatelli, Trovarelli, Trovarello, Trovarella, Trovè, Trovò era dado pelas instituições ou ordens religiosas que acolhiam as crianças abandonadas pelos pais, encontrados pelas estradas, ruas ou mesmo deixadas na roda dos orfanatos.

Vassallo - com a variante Vassali é um sobrenome que indica um cargo, título ou posto social.


Observação: 

Na Itália do século XVIII, era comum que os sobrenomes dados às crianças encontradas fossem genéricos e compartilhados com outras crianças na mesma situação. No entanto, em algumas regiões da Itália, havia sobrenomes que eram exclusivos para crianças encontradas ou abandonadas. Aqui estão alguns exemplos: 

Trovato - "encontrado" 
Esposito - "exposto" 
Proietti - "lançado" 
Sgariglia - "andarilho" 
Troiano - "troiano" (referência a Troia) 
Egidi - "filho de Giles" 
Voltaggio - "volta à estrada" 
Oliva - "azeitona" 
Pace - "paz" 
De Santis - "do santo" 
Diotallevi - "Deus te ajude" 
Acquaroli - "pequena água" 
Corazza - "armadura" 
De Carolis - "do Carlos" 
Dragoni - "dragões" 
Genovesi - "de Gênova" 
Leone - "leão" 
Marcantoni - "Marcos Antônio" 
Paci - "paciência" 
Pirozzi - "pimenta" 


É importante lembrar que esses sobrenomes exclusivos não eram universais na Itália e podem ter sido limitados a certas regiões ou instituições que cuidavam de crianças encontradas. Além disso, muitas vezes esses sobrenomes eram alterados posteriormente à medida que informações adicionais sobre a origem da criança se tornavam conhecidas.



sábado, 11 de março de 2023

Filhos da Roda: a luta pela sobrevivência dos Trovatelli

 

Roda dos Expostos



Ainda que a prática de abandonar crianças na roda tenha sido abolida há mais de um século, muitos italianos ainda carregam o estigma de serem descendentes dos "filhos da roda". Muitas vezes, essas crianças abandonadas eram vistas como impuras ou inferiores, o que pode ter levado a uma discriminação social contínua contra seus descendentes.

Além disso, a prática de abandonar crianças em asilos não era exclusiva da Itália e ocorria em muitos países europeus. Na França, como na Itália, por exemplo, as crianças eram abandonadas nas "enfant-tournes", que eram rodas de madeira giratórias emparedadas em paredes de edifícios. Na Alemanha, os bebês eram deixados em caixas de metal nas ruas ou em igrejas. Essa prática era tão prevalente que a cidade de Hamburgo chegou a ter um caixa giratória para bebê em cada esquina.

Embora a prática de abandonar crianças em asilos tenha sido descontinuada na Itália, o abandono infantil ainda é um problema em muitas partes do mundo. As razões pelas quais os pais abandonam seus filhos são variadas e complexas e podem incluir pobreza, falta de acesso a serviços de saúde, violência doméstica, abuso sexual e falta de recursos financeiros.

Atualmente, existem muitas organizações e instituições que trabalham para ajudar crianças abandonadas e suas famílias. Essas organizações oferecem apoio emocional e material, como moradia, educação, alimentação e cuidados de saúde, para ajudar a garantir que essas crianças possam ter um futuro melhor.

A história dos filhos da roda é um lembrete importante de que a luta contra o abandono infantil e a pobreza é um trabalho em andamento. É importante continuar a apoiar essas crianças e suas famílias e trabalhar para criar sociedades mais justas e igualitárias, onde todas as crianças tenham a oportunidade de crescer em um ambiente seguro e saudável.

A prática de abandonar crianças em asilos foi comum em várias partes do mundo e em diferentes períodos da história. Na Itália, essa prática era bastante difundida nos séculos XVIII e XIX, e muitas dessas crianças eram deixadas nas chamadas "ruotas" ou rodas de abandono, que eram grandes portas giratórias instaladas nas paredes de instituições religiosas ou públicas, onde as pessoas podiam deixar suas crianças anonimamente.





Os filhos da roda, como eram chamadas essas crianças, eram em grande parte filhos ilegítimos de mães solteiras, que por razões variadas, não podiam ou não queriam cuidar delas. Além disso, a falta de acesso a métodos anticoncepcionais e o estigma social associado à gravidez fora do casamento eram fatores que contribuíam para o abandono de crianças na roda.

Essas crianças muitas vezes eram entregues em condições precárias, com problemas de saúde ou deficiências físicas, o que fazia com que muitas delas não sobrevivessem. Além disso, muitas dessas instituições eram superlotadas e não tinham recursos suficientes para atender às necessidades básicas dessas crianças, o que resultava em altas taxas de mortalidade infantil.

Com o passar do tempo, os filhos da roda começaram a ser vistos como um problema social, e o Estado começou a intervir para tentar resolver a questão. Em 1848, a prática de abandonar crianças nas rodas foi oficialmente abolida na Itália, mas isso não impediu que muitas outras crianças fossem abandonadas por seus pais, muitas vezes nas ruas ou em orfanatos.

A situação dos filhos da roda só começou a melhorar no final do século XIX, quando o Estado começou a investir em instituições para cuidar dessas crianças abandonadas. Além disso, a Igreja Católica, que havia sido um dos principais responsáveis pela gestão das rodas de abandono, começou a criar instituições que acolhiam essas crianças, oferecendo-lhes cuidados médicos, alimentação e educação.

No entanto, a estigmatização social das crianças filhas da roda continuou por muitos anos, e elas eram frequentemente consideradas como inferiores e marginalizadas pela sociedade. Ainda hoje, muitas pessoas na Itália carregam o estigma de serem descendentes dos filhos da roda, o que mostra que as consequências do abandono infantil podem se estender por várias gerações.

Em resumo, a história das filhas da roda é um lembrete importante de que o abandono infantil é um problema social sério e que requer uma abordagem ampla e multifacetada. É importante que governos, organizações não-governamentais e a sociedade em geral trabalhem juntos para fornecer recursos adequados e serviços de apoio para as famílias em situação de vulnerabilidade, para que possam cuidar de seus filhos e evitar que a prática de abandoná-los se repita.

Alguns sobrenomes que eram comuns entre as crianças abandonadas na Ruota eram nomes de famosos artistas, cantores e compositores da época. Entre os sobrenomes mais comuns estavam: Rossini, Verdi, Puccini, Vivaldi, Stradivari, Bellini, Donizetti, Monteverdi, Mascagni, Leoncavallo, entre outros. 

Esses sobrenomes eram frequentemente utilizados como uma forma de identificar a origem das crianças abandonadas, mas também como uma forma de dar a elas um senso de pertencimento e de valorização, já que esses nomes eram associados a figuras importantes da cultura italiana.

No entanto, é importante ressaltar que o uso desses sobrenomes não significava necessariamente que essas crianças eram filhas legítimas desses artistas, cantores e compositores, mas sim que eram adotadas pela instituição e recebiam o sobrenome como uma forma de identificação.


Embora o sistema de abandono de crianças tenha sido abolido na Itália no final do século XIX, os sobrenomes associados a esses artistas continuaram a ser utilizados pelas crianças que foram abandonadas na Ruota. Esses sobrenomes também foram transmitidos para as gerações seguintes e, atualmente, é possível encontrar pessoas na Itália que carregam esses sobrenomes sem ter qualquer relação de parentesco com os artistas que lhes deram origem.

Apesar de terem recebido esses sobrenomes, as crianças abandonadas na Ruota eram geralmente vítimas de discriminação e preconceito por parte da sociedade italiana. Muitas vezes, elas eram tratadas como cidadãos de segunda classe e eram marginalizadas por causa de sua origem desconhecida. Alguns eram encaminhados para trabalhos forçados ou para a vida em conventos, enquanto outros eram adotados por famílias ricas ou estrangeiras, mas mesmo nesses casos, muitas vezes eram submetidos a condições de vida precárias e abusos.

Hoje, a história das crianças abandonadas na Ruota é um tema de interesse para muitos estudiosos e pesquisadores da história da Itália. Essas crianças representam uma parte importante da história da Itália e de sua cultura, e o uso dos sobrenomes associados a figuras importantes da cultura italiana é uma lembrança da complexa história do país e das dificuldades que muitas pessoas enfrentaram no passado.

Texto
Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS



quarta-feira, 13 de outubro de 2021

A Roda dos Inocentes em Veneza

Ruota dello Monastero della Pietà




Em Veneza existiram quatro instituições filantrópicas que se ocupavam em receber as crianças abandonadas pelos genitores, a maior parte delas eram filhos ilegítimos, cujos pais não desejavam ou não podiam assumir. 

Essas instituições eram administradas por ordens religiosas e no seu interior, além de freiras, viviam algumas amas de leite que se incumbiam de amamentar os recém chegados. Em outras ocasiões, os recém nascidos eram enviados para amas de leite que moravam na zona rural, que recebiam uma compensação financeira pelo trabalho. Terminada a fase de aleitamento essas crianças voltavam para a instituição que se encarregava da sua criação.

Na parede do orfanato, ao lado da roda, durante algum tempo existiu uma fenda na pedra que se denominava "scafetta", onde eram deixadas doações para o monastério e também algum sinal, um objeto que identificava a criança e que consentiria ao anônimo genitor de poder um dia reave-la em caso de arrependimento. 

Esses sinais consistiam geralmente da metade de um objeto: jóia, imagem sacra, uma moeda, roupas, das quais o genitor ficava com uma das metades, na esperança de talvez um dia poder reencontra-lo. Quando foram abolidas as fendas para ofertas em dinheiro e sinais, estes continuaram a ser usados, agora entregues junto com o recém nascido, os quais eram por sua vez catalogados pela administração do orfanato, anotados em um livro junto com o dia e a hora do recebimento do bebê ao lado do nome que ele foi batizado pela  irmãs ou pelas funcionárias plantonistas encarregadas da roda. Os sinais ficavam guardados durante muitos anos em caixas, custodiadas pela administração da instituição. 

Milhares foram os nomes e sobrenomes inventados pelos administradores desses orfanatos para nominar dignamente essas crianças abandonadas, que depois, quando adultos, deram origem a cepos familiares que ainda hoje continuam dando dor de cabeça aos pesquisadores e genealogistas contratados para organizar uma linha familiar. Sobre esse tema dos sobrenomes inventados recomendamos o nosso post já publicado:


Nesses orfanatos algumas crianças que desde cedo apresentavam talento, eram educadas na música e no canto. Mais tarde, com os valores arrecadados dos concertos que pudessem realizar, ajudavam na manutenção da instituição. Outros internos, principalmente os meninos, eram educados para o trabalho e assim poderiam entrar mais facilmente para as diversas corporações de ofícios e assim darem início a uma nova vida. 

 
Próximo da famosa Piazza San Marco, ao longo da Riva degli Schiavoni, encontramos vestígios do talvez mais famoso "Ospedale" de Veneza, situado junto a grande igreja neoclássica da Pietà. 

Na antiga igreja, pois ela foi reconstruída, realizavam-se concertos de música de Antonio Vivaldi que, durante a sua vida, foi o mestre de coro daquela piedosa instituição.
 

Ainda hoje podemos ver duas colunas que faziam parte do antigo Ospedale della Pietà, assim chamado porque era um local  onde se praticava a hospitalidade. A palavra hospital deriva do verbo hospedar, no caso as crianças abandonadas ou aquelas de famílias pobres que não tinham condições financeiras para sustentá-las.

No local ainda podemos ver o que restou da roda dos Inocentes, o dispositivo que permitia que crianças fossem deixadas no hospital em anonimato absoluto dos genitores. Atraídas pelo som do sino, cuja corda ficava acessível ao lado da roda, as freiras acudiam e na sua parte interna recebiam, em completo anonimato, a criança que estava sendo abandonada pelos pais. 

Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS









sexta-feira, 26 de março de 2021

As Crianças Enjeitadas I Trovatelli



A questão da infância abandonada na Itália nos últimos quarenta anos do século XIX está repleta de implicações sociais: 150 mil crianças, geralmente menores de dez anos, eram então cuidadas anualmente por orfanatos e entidades assistenciais locais; cerca de 40 mil recém-nascidos eram abandonados todos os anos  entregues à caridade pública e privada. Diversas eram as causas deste fenômeno social e muitas vezes difíceis de identificar: muitas vezes o motivo eram as más condições das famílias de origem. 
As entidades que os abrigavam precisavam dar um nome de batismo e um sobrenome à todas essas crianças. Durante muitos séculos, em quase todas as grandes cidades da Itália, as crianças enjeitadas recebiam um nome de batismo, ao qual era adicionado um sobrenome igual para todos, indicando assim a sua experiência comum em um orfanato. Em Florença, cidade da Toscana, a instituição que tradicionalmente abrigava essas crianças abandonadas pelas suas mães, durante séculos foi o Hospital de Santa Maria degli Innocenti, e todas as crianças expostas na roda recebiam o sobrenome de Innocentin, com algumas variantes de Innocente, Degli Innocentio, Nocentida e os derivados Nocentini, Nocentino. Em Milão, na Lombardia, a entidade que se ocupava das crianças abandonadas era o hospício de Santa Caterina della Ruota, que ficava anexo ao antigo complexo do hospital Sforza. Como símbolo da entidade tinha uma pomba e por isso as crianças enjeitadas recebiam freqüentemente os sobrenomes relativos, como Colombo e Colombini. Pelo mesmo motivo, em Pavia, também na Lombardia, as crianças abandonadas e colocadas na roda recebiam frequentemente os sobrenomes de Giorgi, enquanto que na cidade de Siena, na Toscana, recebiam o sobrenome de  Della Scala. Dessa forma se fortalecia o vínculo que ligava o filho abandonado à instituição que o acolheu. Com maior frequência, porém, os abandonados eram chamados com sobrenomes que evidenciavam claramente sua condição de abandono: Exposto, Exposto, Orfano, Proietti, Sposito, Spositi, Trovatello, Trovatelli, Ventura, Venturelli, Venturini. Outra forma de conferir à eles um sobrenome era referir-se a condição do seu nascimento ilegítimo: Bastardo, Bastardi, Dell'Incerti, D'Ignoto, D'Ignoti, D'Incerti, D'Incerto, D'Incertopadre, Ignoto, Incerto, Incerto, Incertopadre, Parentignoti, Spurius, Spuri. Também eram usados ​​para nomeá-los sobrenomes referentes à piedade pública ou religiosa: Cadei, Casadei, Casadidio, Casagrande, Di Dio, Diotallevi, Diotiguardi. Em todo caso, nem todos os sobrenomes mencionados podem ser rastreados até uma infância abandonada. 
No início do século XIX, esses sobrenomes que explicitavam a sua condição  de enjeitados deixou de ser seguida, devido uma maior sensibilidade de ordem ética, a fim de não sobrecarregar mais a criança o enjeitada com a humilhação decorrente de um fácil rastreio de seu passado de criança abandonada. Em 1811, por decreto foi finalmente abolido o antigo uso do Reino de Nápoles para chamar quase todos os enjeitados de Esposito ou Proiettie e foi decidido que os administradores dos abrigos deveriam estabelecer os sobrenomes dos abandonados. Em 1813, uma disposição semelhante impôs a obrigação do sobrenome a todos os habitantes do Reino da Itália. Com uma circular imperial subsequente datada de 29 de novembro de 1825, foi imposta a regra segundo a qual todo enjeitado deveria ter recebido um sobrenome individualizado. 
A partir desse momento, foi criado um novo problema para as instituições voltadas para o acolhimento dos enjeitados: o de inventar um sobrenome fictício para cada um deles. Assim, o apelido inventado não ficava na dependência da criatividade do administrador da instituição de acolhimento, mas também deveria ser o reflexo da imaginação, mentalidade e dos acontecimentos da época da sua atribuição. Muitas, portanto, foram as variáveis: a inspiração do momento; uma referência à aparência física da criança ou às suas origens sociais ou geográficas; um prenúncio de um destino possível; uma referência a fatos históricos ou notícias do momento. Em todo caso, era preciso encontrar um sobrenome que ninguém mais tivesse, para evitar que um dia a reclamação aparecesse diante de alguém que tinha esse sobrenome pedindo-lhe que explicasse uma paternidade recusada: isso se tornou fundamental no caso de filhos ilegítimos.
Entre as várias formas de operar, o Spedale degli innocenti em Florença desde 1812 atribuiu um sobrenome distinto a cada enjeitado. Aqui, os sobrenomes escolhidos terminavam com a letra "i" a fim de harmonizá-los com a terminação vocálica prevalecente dos sobrenomes mais comuns na Toscana e sobrenomes começando com a mesma letra foram escolhidos para determinados períodos. Outra abordagem usada foi indicar, no nome e no sobrenome, a data específica de recepção (por exemplo, Prima Gennai). Em 30 de junho de 1875 foi o último dia de operação da roda de expostos deste abrigo florentino, então as crianças nomeadas naquela conjuntura foram uma Laudata Chiusurand, uma Sinistra Ultimo. 


La ruota era um dispositivo rotativo onde se podia deixar as crianças a serem abandonadas Ao rodar este cilindro com as mãos, levava a criança com segurança para o interior da entidade. Ao completar o giro a mãe acionava um pequeno sino, para advertir a plantonista do outro lado, da chegada da criança


As fontes de inspiração na busca por sobrenomes possíveis foram muitas: objetos atuais (conchas, cadernos, tintas, tetos, malas); plantas (choupos, pereiras, ameixas, limões); flores (Rosai, Jasmine, Geraniums); comércios (Artistas, Hosts, Tintori, Merciai); nomes (Adeli, Angeli, Alberti, Teodori); figuras históricas (Benvenuto Napoleoni, MariaStuarda); geográfico (Mantovani, Romanos, Senesi, Thames, Sassarini, Asiáticos, Tiroleses); alguns sobrenomes famosos, ainda que proibidos (Levi, Peruzzi, Tornabuoni); uma chamada para o abandono (Portati, Venuti, Abbandonati, Soccorsi, Lasciati, Trovetti, Bastardi, Bastardini, Incerti, Ignoti); o mês em que a criança foi abandonada (Gennari, Marzi, Maggi, Maggini); o dia do mês (Tredici, Sedici, Quattordici); o santo do dia ou a celebração religiosa específica (Natale, Carnavali, Quaresimini); um desejo (Fortunati, Benarrivati, Bonaventuri); uma dificuldade (Cascai, Borbotti, Scacciamondi); dados morais e comportamentais (Ridenti, Giusti, Pietosi, Placidi). Às vezes, sobrenomes já existentes ou vogais de um sobrenome já atribuído eram alterados (Aschi / Eschi; Ameri / Amiri); ou as consoantes (Faci / Fami, Fadi / Fapi / Fasi) ou o nome da criança era repetido no sobrenome (Anna Annetti). 
Em Lucca, cidade toscana, começaram somente a partir de 1848, após a anexação do Ducado de Lucca ao Grão-Ducado da Toscana: aqui os nomes dos lugares e cidades de origem dos enjeitados (Lucchesi, Carraia, Carmigliano, Farneta, Camaiore, Nocchi).
Em Pavia, no final de 1825, cessou o costume de chamar os enjeitados de Giorgi e decidiu-se escolher uma letra para cada ano com a qual os sobrenomes deveriam começar, extraída de uma lista suficientemente longa.
Em Palermo, o Conservatorio di Santo Spirito seguia o mesmo sistema alfabético de Pavia (aqui uma letra durava alguns meses e era substituída por outra). Aqui, como em Annunziata de Nápoles, foram usados ​​sobrenomes toponímicos, ou seja, extraídos de topônimos das mais variadas naturezas (nomes de cidades, regiões, nações, rios).
Um sistema de alfabeto semelhante também foi usado em Crema, mas aqui uma letra inicial podia ser usada por anos. Até 1839, os sobrenomes eram muitas vezes quase impronunciáveis ​​derivados de nomes científicos de plantas, e então decidiram usar anagramas e trocadilhos que poderiam se referir tanto às características físicas e de caráter dos enjeitados (Accampoloni = "mão pequena") ou a ações realizada pela criança (Aberlacusi = "se beija grita") ou pelas atitudes dos pais (Decorcipo = "corpo que cedi") ou pelas ações realizadas pelo inventor do sobrenome (Cittastore = "seu resgate"). 
Para fornecer um ambiente adequado para esses órfãos, Veneza estabeleceu quatro hospitais especiais ainda no Renascimento, que deveriam ser institutos de bem-estar e centros musicais. A sua função era muito importante: além de cuidar dos doentes, acolhia os órfãos e ensinava-lhes a prática do canto e o uso de alguns instrumentos musicais. Esta função era muito importante, pois permitia que as crianças tivessem um trabalho a explorar quando saíssem do convento, garantindo assim a independência econômica. Em Veneza, as crianças abandonadas também aprendiam outros ofícios ao mesmo tempo, enquanto as meninas se dedicavam totalmente à música. As meninas permaneciam no instituto até os 40 anos, quando podiam decidir se iam casar, dar aulas de música aos mais jovens ou fazer votos entrando na carreira religiosa.
Na Itália houve também o caso de se dar sobrenomes inventados pelos institutos de recepção entre 1885 e 1896 vinculados a lugares, personagens e fatos ligados à primeira colonização italiana; eles estão espalhados por toda a península: Adua, Alagi, Ambalagi, Asmara, Dogali, Eritreo, Macallè.
Muitos desses sobrenomes permaneceram no arquivo, dada a alta mortalidade infantil naquele período; sobrenomes femininos, logicamente, foram extintos após os casamentos; alguns sobrenomes desapareciam após as adoções. 
De qualquer forma, muitos ainda existem nos dias de hoje.






Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS


sexta-feira, 20 de julho de 2018

Sobrenomes Dados a Crianças Enjeitadas


La Guardia alla Ruota dei Trovatelli - Opera di Gioacchino Toma 1846-1891

Sobrenomes Dados A Crianças Enjeitadas 
Vitalina Maria FROSI
A expressão l’enfant trouvé do francês, literalmente, a criança encontrada, designava um bebê de filiação desconhecida. No italiano, a palavra usada com esse mesmo sentido era trovatelli, literalmente, encontradinhos. Enquanto, em português, a ação era centrada no ato do abandono ou rejeição, no francês e no italiano, a ação expressa pelos respectivos verbos deslocava o sentido para o ato de encontrar, respectivamente, l’enfant trouvé i trovatelli. De qualquer forma, no registro civil, o que, de modo geral, constava era a expressão filho ou filha de pais incógnitos ou desconhecidos, ou filho natural ou ainda filho bastardo, isso no Brasil, na Itália e na França. Criava-se, assim, o estigma que haveria de acompanhar essas pessoas por toda a vida e, além disso, o sobrenome inventado e imposto passava a seus herdeiros. 




Dauzat (1950, p. 108) diz que a criança, na origem, recebia um apelido que, em geral, trazia à memória “as condições de seu nascimento”. Eram nomes, portanto, fáceis de serem reconhecidos. Às vezes, afirma Dauzat (1950, p. 108-109), dava-se à criança um nome de santo. É o caso do matemático e filósofo francês Jean Baptiste Le Rond d’Alembert que fora abandonado na escadaria da igreja de St. Jean Le Rond e entregue, depois, a um orfanato, onde recebeu o nome de Jean Le Rond. Outras denominações tinham caráter genérico, como Champi (=encontrado num terreno) ou Trouvé (=Encontrado), por exemplo. Nos nomes dados a crianças enjeitadas, alguns eram chocantes, constituindo para os descendentes uma herança penosa (DAUZAT, 1949, p. 256). 




Na Itália, não foi muito diferente. As crianças abandonadas, de modo geral, eram deixadas nas ruas, nas portas de igrejas ou de casas de famílias, nas entradas de Institutos de Caridade, em portas de hospitais, em orfanatos. Os nomes eram dados pelas pessoas prepostas às funções de administração dessas casas ou eram determinados e impostos pelo próprio tabelião no momento de efetuar o registro de nascimento. As crianças enjeitadas eram também, frequentemente colocadas na Ruota degli Esposti ou Ruota dei Trovatelli. Essa Roda giratória existente nos Orfanatos era destinada a receber as crianças abandonadas. Esta exposição sucinta visa a propiciar entendimento a respeito de alguns sobrenomes que ultrapassaram as fronteiras da Itália e foram preservados e transmitidos em área geográfica brasileira de povoação italiana. 
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Benedetti. De Felice (1987, p. 75) registra as variantes Benedetto, Benedet, De Benedetti, De Benedetto, De Benedettis, De Benedictis, De Beneditti, De Benedittis, Di Benedetto, Benedettini, Benditti, Benetti, Benetto, Benet, Benetelli. A palavra é de origem latina benedicere, nome composto de bene dire(=dizer bem) (ZINGARELLI, 1983, p. 202). Antropônimo frequente entre os cristãos, em Roma. O uso do nome liga-se ao culto de São Benedetto, com documentação já no século VIII na Toscana. A forma Benedetti, a mais frequente, denomina 23.000 pessoas e é bastante distribuída seja na Itália do norte, seja na central (CAFFARELLI; MARCATO, 2008, p. 195-196). 




Benigni. Possui as variantes Benigno, Benigna, Benignetti (DE FELICE, 1978, p. 75; CAFFARELLI; MARCATO, 2008, p. 198). Derivado do latim benignu(m), de boa natureza (ZINGARELLI, 1983, p. 203). O significado literal é benévolo, muito usado pelos primeiros cristãos pelo seu sentido positivo. A forma benigna, isto é, terminada em –a, é bergamasca. É sobrenome comum na Sicília e tem sentido augural (CAFFARELLI; MARCATO, 2008, p. 198). 
Casagrande. De Felice (1987, p. 96) e Caffarelli e Marcato (2008, p. 409) apresentam as variantes Casagranda, Casagrandi, Case, ca, Dalla Casa e Dallacasa, Della Casa, Da Ca e Duccà, Da Cha e Dachà, Dalla Ca e Dallacà, Dalla Cha e Dallachà, Casella, Casello, Caselli, Casel, Casiello Casetta, Casetti, Caset Casina, Casine, Casabianca, Casabassa, Casabella, Casagrande. É um nome composto, derivado do latim casa(m) e grande(m), de etimologia incerta (ZINGARELLI, 1983, p. 315 e p. 842). Este sobrenome tem como base uma relação toponímica: construção, edifício grande, mas Casagrande era também o Orfanato, no sentido de Casa Grande de Piedade. Portanto, também este sobrenome, assim como Casadei, Casadio, Cadei, Casadidio era dado às crianças enjeitadas pelos pais e adotadas, criadas num Orfanato, num Instituto religioso ou num Hospital de Caridade (CAFFARELLI; MARCATO, 2008, p. 409). 
Colombo. Esta forma base possui as variantes formais Colombi, Colomba, Columbo, Colombro, Columbro, Colombani, Colomban, Colombetti, Colombetta, Colombini, Colombin, Colombrino, Colombazzi, Colombari, Colombara, Colombarini, Colombera, Colomberini, Colomberotto (DE FELICE, 1987, p. 105). Derivado do latim columbu(m)/columba(m), provém de uma raiz indo-europeia que significa “escuro” (CORTELAZZO; ZOLLI, 1979, p. 254). A forma base Colombo é mais frequente no norte da Itália. É também muito frequente em toda a Lombardia. No sul, Colombo é numericamente menos representado, mas ocorre com a 
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formaPalumbo. Colombo Colomba, no âmbito do cristianismo, significavam inocência, pureza e mansidão. Conforme De Felici (1987, p. 105), em alguns casos pode ter se originado de um apelido, com derivação direta de colombocolomba. Como sobrenome augural, em Milão, onde atinge alta frequência, é representado pela forma Colombini, e, em dialeto milanês, Colombit.Com esses últimos termos eram denominadas as crianças enjeitadas, acolhidas no Hospital de Santa Catarina da “Ruota” (=Roda). Os trovatelli desse hospital eram chamados de colombit (=pombinhos). Esse hospital fazia parte do complexo do Palácio Sforzesco de Milão, hoje, ponto de visitação turística. De acordo com Caffarelli e Marcato (2008, p. 500-501), as localidades mais representadas, em número de ocorrências, são Milão, Monza e Brianza, ocupando Milão o 2o lugar em ordem de frequência. A região da Lombardia ocupa o 1o lugar. No total, o sobrenome Colombo denomina 60.000 pessoas. 





Innocenti. Registram-se as variaantes Innocente, Degli Innocenti, Nocenti, Nocentini e Nocentino, Innocentin, Innocentini (DE FELICE, 1987, p. 146), Caffarelli e Marcato (2008, p. 931). Proveniente do latim innocente(m), é palavra composta pelo prefixo in- (=negação) e nocens/nocentis, com significado de não faz o mal (CORTELAZZO; ZOLLI, 1979, p. 598). É sobrenome difundido, principalmente, na Toscana. Innocente mais a variante Degli Innocenti, é, em Firenze, o primeiro sobrenome em ordem de frequência. É um dos tantos sobrenomes dados, no passado, às crianças e bebês abandonados pelos pais, ou confiados a um orfanato. Em Firenze, o antigo edifício destinado a acolher as crianças abandonadas, foi construído, segundo o projeto de Brunelleschi, em 1400. Nele funciona hoje um hospital pediátrico, precisamente chamado Spedale degli Innocenti (DE FELICE, 1987, p. 146-147). 
Omoboni. Apresenta a variante Omobono (CAFFARELLI; MARCATO, 2008, p. 1229). Omobonié derivado de nome de pessoa com o significado de homem bom. Tem sentido augurante, isto é, de que seja um homem para o bem (CAFFARELLI; MARCATO, 2008, p. 1229). 
Proietti. Possui as variantes Proietto, Proietta, Projetto (CAFFARELLI; MARCATO, 2008, p. 1389) e é derivado do latim proiectus, jogado fora, abandonado. É um sobrenome difundido no centro-sul da Itália e ocupa o 2o lugar em ordem de frequência na Umbria e o 6o em Roma na forma pluralizada com –i final. A forma Proietto, no singular, foi usada, principalmente, na Sicília e na Calábria. Denomina, aproximadamente, 14.000 pessoas. No 
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passado, era usado tanto como nome quanto como sobrenome (CAFFARELLI; MARCATO, 2008, p. 1389). 
Trovato. Tem as variantes Trovati, Trovatello, Trovatelli, Trovarelli, Trovarello, Trovè, Trovò (CAFFARELLI; MARCATO, 2008, p. 1690). Sua etimologia, segundo Cortelazzo e Zolli (1979, p. 1380-1381), é discutível. Pode ser originário do latim tropāre, da trŏpus ; da trovato (=encontrado). Usado no passado como nome e como sobrenome. Como nome era dado à criança abandonada pelos pais, portanto, encontrado pela estrada, ou na roda dos orfanatos (DE FELICE, 1978, 252). Trovato “é sobrenome, sobretudo, siciliano, na ilha, ocupa o 27o lugar, com o 5o lugar na província de Enna” (CAFFARELLI; MARCATO, 2008, p. 1690-1691). Trovato denomina mais de 10.000 pessoas na Itália. Outra fonte geradora de sobrenomes é devida a sentimentos de alegria e de gratidão por parte dos pais pela chegada de um filho, depois de uma longa espera. Seguem alguns exemplos de sobrenomes de caráter gratulatório. 

Sobrenomes Italianos: um estudo onomástico 
de Vitalina Maria FROSI 
Link


Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS