Roda dos Expostos
Ainda que a prática de abandonar crianças na roda tenha sido abolida há mais de um século, muitos italianos ainda carregam o estigma de serem descendentes dos "filhos da roda". Muitas vezes, essas crianças abandonadas eram vistas como impuras ou inferiores, o que pode ter levado a uma discriminação social contínua contra seus descendentes.
Além disso, a prática de abandonar crianças em asilos não era exclusiva da Itália e ocorria em muitos países europeus. Na França, como na Itália, por exemplo, as crianças eram abandonadas nas "enfant-tournes", que eram rodas de madeira giratórias emparedadas em paredes de edifícios. Na Alemanha, os bebês eram deixados em caixas de metal nas ruas ou em igrejas. Essa prática era tão prevalente que a cidade de Hamburgo chegou a ter um caixa giratória para bebê em cada esquina.
Embora a prática de abandonar crianças em asilos tenha sido descontinuada na Itália, o abandono infantil ainda é um problema em muitas partes do mundo. As razões pelas quais os pais abandonam seus filhos são variadas e complexas e podem incluir pobreza, falta de acesso a serviços de saúde, violência doméstica, abuso sexual e falta de recursos financeiros.
Atualmente, existem muitas organizações e instituições que trabalham para ajudar crianças abandonadas e suas famílias. Essas organizações oferecem apoio emocional e material, como moradia, educação, alimentação e cuidados de saúde, para ajudar a garantir que essas crianças possam ter um futuro melhor.
A história dos filhos da roda é um lembrete importante de que a luta contra o abandono infantil e a pobreza é um trabalho em andamento. É importante continuar a apoiar essas crianças e suas famílias e trabalhar para criar sociedades mais justas e igualitárias, onde todas as crianças tenham a oportunidade de crescer em um ambiente seguro e saudável.
A prática de abandonar crianças em asilos foi comum em várias partes do mundo e em diferentes períodos da história. Na Itália, essa prática era bastante difundida nos séculos XVIII e XIX, e muitas dessas crianças eram deixadas nas chamadas "ruotas" ou rodas de abandono, que eram grandes portas giratórias instaladas nas paredes de instituições religiosas ou públicas, onde as pessoas podiam deixar suas crianças anonimamente.
Os filhos da roda, como eram chamadas essas crianças, eram em grande parte filhos ilegítimos de mães solteiras, que por razões variadas, não podiam ou não queriam cuidar delas. Além disso, a falta de acesso a métodos anticoncepcionais e o estigma social associado à gravidez fora do casamento eram fatores que contribuíam para o abandono de crianças na roda.
Essas crianças muitas vezes eram entregues em condições precárias, com problemas de saúde ou deficiências físicas, o que fazia com que muitas delas não sobrevivessem. Além disso, muitas dessas instituições eram superlotadas e não tinham recursos suficientes para atender às necessidades básicas dessas crianças, o que resultava em altas taxas de mortalidade infantil.
Com o passar do tempo, os filhos da roda começaram a ser vistos como um problema social, e o Estado começou a intervir para tentar resolver a questão. Em 1848, a prática de abandonar crianças nas rodas foi oficialmente abolida na Itália, mas isso não impediu que muitas outras crianças fossem abandonadas por seus pais, muitas vezes nas ruas ou em orfanatos.
A situação dos filhos da roda só começou a melhorar no final do século XIX, quando o Estado começou a investir em instituições para cuidar dessas crianças abandonadas. Além disso, a Igreja Católica, que havia sido um dos principais responsáveis pela gestão das rodas de abandono, começou a criar instituições que acolhiam essas crianças, oferecendo-lhes cuidados médicos, alimentação e educação.
No entanto, a estigmatização social das crianças filhas da roda continuou por muitos anos, e elas eram frequentemente consideradas como inferiores e marginalizadas pela sociedade. Ainda hoje, muitas pessoas na Itália carregam o estigma de serem descendentes dos filhos da roda, o que mostra que as consequências do abandono infantil podem se estender por várias gerações.
Em resumo, a história das filhas da roda é um lembrete importante de que o abandono infantil é um problema social sério e que requer uma abordagem ampla e multifacetada. É importante que governos, organizações não-governamentais e a sociedade em geral trabalhem juntos para fornecer recursos adequados e serviços de apoio para as famílias em situação de vulnerabilidade, para que possam cuidar de seus filhos e evitar que a prática de abandoná-los se repita.
Alguns sobrenomes que eram comuns entre as crianças abandonadas na Ruota eram nomes de famosos artistas, cantores e compositores da época. Entre os sobrenomes mais comuns estavam: Rossini, Verdi, Puccini, Vivaldi, Stradivari, Bellini, Donizetti, Monteverdi, Mascagni, Leoncavallo, entre outros.
Esses sobrenomes eram frequentemente utilizados como uma forma de identificar a origem das crianças abandonadas, mas também como uma forma de dar a elas um senso de pertencimento e de valorização, já que esses nomes eram associados a figuras importantes da cultura italiana.
No entanto, é importante ressaltar que o uso desses sobrenomes não significava necessariamente que essas crianças eram filhas legítimas desses artistas, cantores e compositores, mas sim que eram adotadas pela instituição e recebiam o sobrenome como uma forma de identificação.
Embora o sistema de abandono de crianças tenha sido abolido na Itália no final do século XIX, os sobrenomes associados a esses artistas continuaram a ser utilizados pelas crianças que foram abandonadas na Ruota. Esses sobrenomes também foram transmitidos para as gerações seguintes e, atualmente, é possível encontrar pessoas na Itália que carregam esses sobrenomes sem ter qualquer relação de parentesco com os artistas que lhes deram origem.
Apesar de terem recebido esses sobrenomes, as crianças abandonadas na Ruota eram geralmente vítimas de discriminação e preconceito por parte da sociedade italiana. Muitas vezes, elas eram tratadas como cidadãos de segunda classe e eram marginalizadas por causa de sua origem desconhecida. Alguns eram encaminhados para trabalhos forçados ou para a vida em conventos, enquanto outros eram adotados por famílias ricas ou estrangeiras, mas mesmo nesses casos, muitas vezes eram submetidos a condições de vida precárias e abusos.
Hoje, a história das crianças abandonadas na Ruota é um tema de interesse para muitos estudiosos e pesquisadores da história da Itália. Essas crianças representam uma parte importante da história da Itália e de sua cultura, e o uso dos sobrenomes associados a figuras importantes da cultura italiana é uma lembrança da complexa história do país e das dificuldades que muitas pessoas enfrentaram no passado.
Texto
Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS
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