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sábado, 13 de dezembro de 2025

Sobrenomes Italianos do Alto Uruguai e Suas Origens nas Regiões da Itália



Sobrenomes Italianos da Região do Alto Uruguai e Suas Origens nas Regiões da Itália


AITA – GEMONA UD
BAGGIO – VILLARASPA VI
BALDISSERA – GEMONA UD
BANDIERA – RIESE PIO X TV
BARBIERI – DUEVILLE VI
BARICHELLO – LOREGGIA PD
BATTISTELLA – SCHIAVON TV
BEAL – BELLUNO
BENINCÀ – CORNUDA TV
BERTOLDO – FERRARA – MONTE BALDO VR
BEVILAQUA – BUSCO TV
BINOTTO – DUEVILLE VI
BISOGNIN – LONIGO VI
BOIANI – SAN BENEDETTO PÒ MN
BONATTO – TV
BORDIGNON – VEDELAGO TV
BORTOLAZZO – QUINTO VICENTINO VI
BOTTEGA – REFRONTOLO TV / CARBONERA TV
BRAGAGNOLLO - S. MARTIN DEI LUPARI PD
BRESOLIN – CAVAZZO DEL TOMBA TV / PEDEROBBA TV
BRIZOTTO – PRATA PN
BRONDANI – GEMONA UD
BUSANELLO – CESSALTO TV
BUSANELLO – MOTTA DI LIVENZA TV
BUSATO – FONGARA VI
BUSETTO – CALDOGNO VI
BUSNELLO – PEDEROBBA TV
CAPPELLETTO – VR
CARLESSO – MAROSTICA
CARLOTTO – BUZZOLLO VI / SELVA DI TREVISO TV
CASARIN – LOREGGIA PD
CASSOL – LIBANO BL
CELLA – CAVALIER TV
CERETTA – MONTICELLO CONTE OTTO VI
CERVI – MELETOLE REGGIO EMILIA
CERVO – PÒSINA VI
COMASSETO – PEDEROBBA TV
COPETTI – GEMONA UD
DAL LAGO – VERONA
DALCIN – VITTORIO VENETO TV
DALLACOSTA – ENEGO VI
DALMASO – VEGLIA – VITTORIO VENETO
DALMOLIN – LIBANO BL
DANESI – RODIGO MN
DE MARCO – TÈRMINE DI CADORE BL
DE DAVID – SEDICO BL
FILIPPETTO – TAMAI PN
FIORAVANTE – MONTEBELLUNA TV
FIORENTIN – PEDEROBBA TV
FRESCURA – MALVENA VI
GIACCOMINI – CHIARANO TV
GIRARDELLO – BREGANZE VI / VALLÀ TV
GOLIN – NAGHERELLO TV
GUARIENTI – RALLO TN
LAZZARI – TRISSINO VALDOGNO VI / BERGAMO BG
LAZZARINI – COGOZZO MN
LAZZAROTTO – VALSTAGNA VI
LORENZI – VALDASTICO VI
LORENZONI – MAROSTICA VI
LUNARDELLI – MANSUÈ TV
MAGNABOSCO – ZEVIO VR / COLOGNA VENETA VR
MANTOVANI – CICUGNAGO MN
MARCHESAN - CASTELFRENCO TV
MARCON – DUEVILLE VI
MASSIGNAN – MONTECCHIO MAGGIORE VI
MAZZONETTO – ROVARÈ TV / CAMPOSAMPIERO PD
MENEGHEL – PRATA UD
MIOSO – SAN GREGORIO VR
MORETTO – TAMBOLO PD
MORO – PRATA PN
MUNARETTO - VI
NARDI – FERRARA MN
PAGLIARINI – BOVOLONE VR
PASELLO – VILLA BARTOLOMEA VR
PASINATO – CITTADELLA PD / RESANA TV
PASSUELLO – S. GIACOMO – LUSIANA VI
PAVAN – TREViGNANO TV
PECCIN – PRATA PN
PEGORARO – ROSSANO VENETO VI
PESSUTTI – PORDENONE PN 
PIAZZETTA – PEDEROBBA TV
PICCOLI - PEDEROBBA TV
PIGATTO – ALCIGNANO VI
PIOVESAN – S. CRISTINA TV
PIVETTA – TAMAI PN
PIVOTTO – VI
POLLASTRI – MEDOLLA MO
POZZOBON – CAVASAGRA TV
POZZOBON – SAN MARTINO TV
PUTTON – PEDEROBBA TV
RIGON – ALBAREDO D´ADIGE VR
ROSA – MANIAGO UD
ROSSATTO – MUZZOLON VI
ROSSO – MANSUÈ TV
ROSTIROLA – PEDEROBBA TV
SANDRI – VI
SARTORI – SCHIO e GRANCONA VI / PRAVISDOMINI TV / PIAZZOLLA SUL BRENTA
SCARIOT – UDINE
SCOLARI – COLOGNA VENETA VR
SEGALLA – VR
SEGATTO – NOVALÈ VI
SERAFINI – GEMONA UD
SOLIMAN – ISOLA DELLA SCALA VR
SPONCHIADO – CARBONERA TV
STANGHERLINI – CASTELFRANCO TV
TONIAL – PORDENONE PD
TONETTO – MN
TRENTIN – MONTEGALDA VI
VEDANA – SÉDICO BL
VEDOVATO – CAMPOSAMPIERO PD
VENDRUSCOLO – RIVAROTTA PN
VICENZI – CASALE RONCOFERARO MN
VIERO – MAROSTICA VI / VILLARASPA VI
VIZZOTTO – PIAVON TV
ZAGO – CHIARANO TV
ZAGO – CIARANO TV E MANSUÈ
ZARDO – LORIA TV


Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS


Sobrenomes de Crianças Enjeitadas: A História Oculta dos Abandonados na Itália



Sobrenomes de Crianças Enjeitadas: A História Oculta dos Abandonados na Itália

O contexto social do abandono infantil

Ao longo dos séculos XVII, XVIII e XIX, o abandono infantil não era um fenômeno isolado, mas parte dolorosa da estrutura social europeia. A pobreza extrema, a orfandade causada por epidemias, as uniões ilegítimas e a ausência de políticas de amparo empurravam milhares de mães a depositar seus recém-nascidos nas rodas dos expostos, esperando que ali encontrassem ao menos uma chance de sobrevivência. Muitas dessas mulheres não deixavam qualquer indício de identidade, seja por vergonha, seja por medo de punição moral ou religiosa. Assim, ao chegarem às instituições, esses bebês precisavam de algo básico, porém fundamental: um nome que lhes permitisse existir perante o mundo. Nascia então a prática de atribuir sobrenomes artificiais, criados pelos administradores, religiosos ou escrivães responsáveis.

A lógica por trás dos sobrenomes inventados

Esses sobrenomes inventados não eram aleatórios; carregavam significados que refletiam a condição da criança, a rotina da instituição ou até um simbolismo religioso. Termos como Esposito, Innocenti, Proietti ou Della Casa serviam tanto para registrar quanto para estigmatizar, marcando para sempre a origem dolorosa da criança. Em muitos casos, o sobrenome funcionava como um código interno para indicar em qual roda de expostos o bebê havia sido encontrado ou qual religioso estava de plantão no momento do registro. Outras vezes, eram sobrenomes que expressavam esperança — como Fortunato, Providenza ou Felice — numa tentativa de oferecer um sopro de destino melhor àquele recém-nascido que chegava ao mundo sem amparo familiar.

A trajetória desses sobrenomes no Brasil

Com a imigração italiana para o Brasil entre os séculos XIX e XX, milhares desses sobrenomes criados artificialmente atravessaram o oceano e se enraizaram definitivamente em terras brasileiras. Nas colônias agrícolas do Sul, em São Paulo e até no Espírito Santo, muitos descendentes carregam até hoje sobrenomes cuja origem está ligada a antigas casas de acolhimento italianas — sem que suas famílias conheçam essa história. Essa migração fez com que sobrenomes antes restritos às instituições europeias se misturassem à sociedade brasileira, perdendo a marca de abandono, mas preservando o valor histórico. Hoje, compreender essa tradição é resgatar uma parte silenciosa da formação de diversas famílias ítalo-brasileiras, dando voz aos que um dia foram registrados como “ninguém” e que, graças a um sobrenome inventado, puderam reescrever seu destino.

A criação de sobrenomes nas instituições de acolhimento

Durante séculos, milhares de crianças nascidas sem reconhecimento familiar foram registradas com nomes e sobrenomes criados especialmente para elas. Em vez de refletirem a herança de um clã, esses sobrenomes carregavam a memória de um abandono e, ao mesmo tempo, a tentativa de lhes oferecer uma identidade mínima. No mundo latino, a ideia de “encontrar” uma criança — em francês l’enfant trouvé e em italiano i trovatelli — suavizava a dura realidade do abandono, ainda que os registros oficiais costumassem indicar “pais desconhecidos”, “filho natural” ou expressões semelhantes.

A prática era comum em diversos países europeus, especialmente na Itália. Muitas crianças eram deixadas em portas de igrejas, hospitais ou instituições de caridade. Outras eram depositadas nas tradicionais Rodas dos Expostos, mecanismos instalados em orfanatos que permitiam deixar o bebê anonimamente. Quem registrava a criança — administradores, religiosos ou o próprio tabelião — ficava responsável por criar um sobrenome que a distinguisse e, ao mesmo tempo, a identificasse como pertencente àquela condição.

Significados e categorias dos sobrenomes inventados

Diversos sobrenomes surgiram a partir desse sistema. Alguns eram inspirados no local onde o bebê foi encontrado; outros evocavam sentimentos de esperança, proteção divina ou até referências moralizantes. Havia também sobrenomes carregados de significados duros, como Abbandonati, Ignoti, Incerti, Bastardi, Trovatelli, entre outros — embora progressivamente desestimulados no século XIX. Certos nomes tornaram-se tão recorrentes que ultrapassaram fronteiras e chegaram ao Brasil com os imigrantes italianos.

Entre os sobrenomes inventados mais comuns estavam:

Benedetti e variantes, ligados a “abençoado”, expressão de bom augúrio.

Benigni, associado à bondade e benevolência.

Casagrande, que podia indicar tanto um edifício imponente quanto a “Casa Grande” das instituições de acolhimento.

Colombo, ligado à pureza da pomba, muito usado na Lombardia, onde os pequenos abandonados eram chamados colombit.

Innocenti, um dos mais emblemáticos, especialmente em Florença, ligado ao histórico hospital dos Inocentes.

Omoboni, mesclando origem pessoal e desejo de virtudes futuras.

Proietti, que remete ao ato de ser “lançado” ou “posto fora”.

Trovato e Trovatelli, diretamente derivados da ideia de criança encontrada.

A mudança de sensibilidade no século XIX

Essa prática passou por profundas transformações ao longo do século XIX. À medida que novos debates sobre dignidade humana surgiam, tornou-se evidente que certos sobrenomes condenavam seus portadores a um estigma perpétuo. Em regiões como Nápoles, tornou-se proibido registrar bebês com cognomes que denunciassem explicitamente sua origem.

A partir desse novo olhar, sobrenomes passaram a ser criados de maneira mais criativa e menos discriminatória. Muitos refletiam o imaginário da época:

objetos cotidianos: Quaderni, Mestoli, Tetti

plantas e flores: Pioppi, Susini, Limoni, Rosai

ofícios: Tintori, Merciai

nomes próprios de cantores e políticos famosos da época nou lugares: Puccini, Mantovani, Tamigi

datas e festividades religiosas

sentimentos e virtudes: Fortunati, Benarrivati, Bonaventuri

elementos moralizantes: Giusti, Placidi, Pietosi

Esses sobrenomes criados artificialmente se tornaram parte da identidade de milhares de famílias e, com o tempo, foram naturalizados nas comunidades.

Da Itália ao Brasil: herança, memória e identidade

No Brasil, especialmente nas regiões de imigração italiana, muitos desses sobrenomes foram mantidos, transmitidos e incorporados à cultura local. Hoje, uma simples assinatura pode carregar séculos de história — não apenas de origem geográfica, mas de sobrevivência, anonimato e reinvenção.

Compreender a origem desses sobrenomes significa revisitar práticas históricas ligadas ao abandono infantil, às instituições de assistência e aos sistemas de acolhimento que moldaram identidades familiares inteiras. É uma história de dor, sobrevivência e estigma — mas também de esperança, reconstrução e novos começos. 

Conclusão 

Os sobrenomes atribuídos às crianças enjeitadas revelam uma parte pouco conhecida da história italiana e ajudam a compreender a formação de muitas famílias que hoje buscam suas raízes. Esses nomes, criados entre a dor do abandono e o desejo de oferecer uma nova chance, cruzaram oceanos e passaram a fazer parte da herança de milhares de brasileiros. Entender sua origem amplia o conhecimento genealógico, resgata identidades e fortalece a memória dos antepassados que, apesar das adversidades, deram início a novas linhagens.

Nota do Autor 

Escrevo sobre esse tema porque, em tempos recentes, milhares de descendentes de imigrantes italianos têm buscado reconstruir suas histórias familiares e compreender o significado de seus sobrenomes. Muitos se surpreendem ao descobrir que determinadas denominações nasceram em orfanatos, casas de caridade ou rodas dos expostos. Minha intenção é oferecer clareza e contexto sobre esse fenômeno histórico, ajudando cada leitor a encontrar, em seu próprio sobrenome, uma parte da trajetória de seus antepassados.

Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta



quarta-feira, 10 de dezembro de 2025

A Origem dos Sobrenomes: História, Evolução e Formação dos Nomes de Família desde a Roma Antiga

A Origem dos Sobrenomes: História, Evolução e Formação dos Nomes de Família desde a Roma Antiga

A necessidade dos sobrenomes na história da humanidade

A origem dos sobrenomes remonta às primeiras formas organizadas de sociedade, quando o simples nome próprio já não era suficiente para identificar os indivíduos. Nos tempos mais antigos, as pessoas eram conhecidas apenas pelo nome pessoal, tanto entre povos europeus quanto em diversas outras civilizações. Com o crescimento populacional, essa forma de identificação tornou-se insuficiente, dando início ao desenvolvimento de sistemas mais complexos de nomeação.

Os nomes na Roma Antiga e o nascimento do sistema familiar

Foi na civilização romana que surgiu um dos modelos mais estruturados de identificação familiar.

O praenomen e os nomes pessoais romanos

O praenomen correspondia ao nome individual, semelhante ao que hoje chamamos de nome próprio. Exemplos comuns entre os homens eram Caio, Publius, Marcus, Flavius, Gaius e Quintus. Entre as mulheres, eram usados nomes como Tullia, Valeria, Julia, Catulla, Servillia e Flora.

O nomen, o gens e a identidade familiar

O nomen era o elemento central, pois indicava o gens, ou seja, o grupo familiar ao qual o indivíduo pertencia. Era ele que diferenciava as grandes famílias romanas, como o gens Tullia e o gens Julia.

O cognomen e o verdadeiro sobrenome romano

O cognomen era o terceiro elemento, responsável por identificar o ramo específico dentro do grande clã familiar, funcionando como um verdadeiro sobrenome.

O agnomen como elemento de distinção pessoal

Em casos específicos, podia-se acrescentar ainda um quarto elemento chamado agnomen. Esse nome adicional não era hereditário, mas assumido pelo próprio cidadão, como forma de distinção pessoal. Um exemplo histórico é Marcus Porcius Cato Censorius, em que o termo Censorius foi acrescentado para distingui-lo de seus descendentes em épocas posteriores.

Apelidos que se transformaram em sobrenomes

Cícero e a origem dos sobrenomes por características físicas

Outro exemplo clássico é o do orador romano Cícero, cujo nome completo era Marcus Tullius Cicero. Nesse caso, Marcus era o praenomen, Tullius o nomen e Cicero o cognomen, sendo este derivado de cicer, que significa grão-de-bico, possivelmente referindo-se a uma característica física.

Calígula e a força dos apelidos históricos

O mesmo ocorreu com o imperador conhecido como Calígula, cujo nome verdadeiro era Caius Caesar Germanicus. O apelido Calígula, que significa “pequena sandália” dos soldados romanos, fixou-se de tal forma que ultrapassou seu nome formal e tornou-se sua principal identificação histórica.

O surgimento do supernomen na Antiguidade Tardia

Por volta do século V, as distinções entre nomen e cognomen começaram a se enfraquecer, dando origem ao chamado supernomen ou signum. Esse novo modelo era mais direto, simples e de compreensão imediata, mas ainda não possuía caráter hereditário.

A identificação por filiação na Idade Média

O uso de filius nos registros antigos

Já no século VIII, consolidou-se outro modelo de identificação, baseado na filiação. Tornou-se comum acrescentar ao nome a expressão latina filius (filho de), criando estruturas como “Paulus filius Alberti”.

O significado de filius quondam

Em casos de falecimento do pai, surgia a expressão filius quondam, indicando ser filho do falecido.

O impacto do cristianismo e das invasões bárbaras

O avanço do cristianismo e as invasões dos povos chamados bárbaros contribuíram de forma decisiva para a diversificação dos nomes. Esse processo ampliou significativamente as possibilidades de identificação individual e reduziu os conflitos de homonímia.

O nascimento do sobrenome moderno

Entre os séculos X e XI, com o crescimento acelerado da população europeia, consolidou-se a necessidade do sobrenome moderno.

Principais origens dos sobrenomes

Os sobrenomes passaram a ser formados a partir de:

Nome do pai ou da mãe

Local de origem

Profissão exercida

Características físicas ou sociais

A popularização dos sobrenomes na Europa

O uso entre as famílias nobres

Inicialmente, esse sistema foi adotado apenas por famílias ricas e influentes, como nobres e grandes proprietários.

A expansão para toda a sociedade

A partir dos séculos XIII e XIV, seu uso se espalhou gradativamente por todas as camadas da sociedade europeia.

O Concílio de Trento e a fixação dos sobrenomes

Em 1564, com as determinações do Concílio de Trento, as paróquias passaram a ser obrigadas a manter registros organizados de batismos, com nome e sobrenome definidos.

O sobrenome como patrimônio familiar

A partir desse momento, o sobrenome tornou-se hereditário, sendo transmitido de geração em geração.

O papel dos sobrenomes na prevenção de casamentos consanguíneos

Esse sistema também teve como objetivo evitar casamentos entre parentes próximos, fortalecendo a organização social e religiosa.

Conclusão 

A origem dos sobrenomes revela a evolução das sociedades na construção da identidade familiar. Mais do que simples nomes, os sobrenomes guardam história, memória e pertencimento.

Nota do Autor

Este artigo foi escrito com o objetivo de valorizar a história dos sobrenomes e despertar o interesse pela genealogia, fortalecendo o vínculo entre pessoas e suas raízes familiares.

Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta


segunda-feira, 16 de janeiro de 2023

Como Surgiram os Nomes de Família: os Sobrenomes


 


O uso do sobrenome para identificar uma determinada família surgiu no tempo dos antigos romanos. Desde os tempos mais remotos usava-se somente o nome da pessoa para individualizá-la. São conhecidos muitos nomes famosos: Caio, Publius, Marcus, Flavius, Gaius, Quintus, para os homens e Tullia, Valeria, Julia, Catulla, Servillia, Flora, para as mulheres. Aos poucos, com o aumento da população, foi se tornando necessário adotar uma outra maneira para individualizar uma pessoa. Assim, ainda na época dos romanos, apareceu uma outra forma de distinguir as pessoas livres. Era formada por três nomes: o praenomen, semelhante ao nosso nome; o nomen, que era o mais importante, referia-se ao grupo familiar a que pertencia o indivíduo e que distinguia a família a qual pertencia a pessoa, era conhecido também com gens. Então por exemplo o gens Tullia, o gens Julius. Para distinguir as várias famílias, entre os vários gens, que pertenciam a um mesmo cepo, que tinham uma raiz comum, foi acrescentado o cognomen,ou sobrenome de família. Este era então o elemento que individualizava uma pessoa no seio do grande grupo familiar e era característico de um só indivíduo. Em alguns casos com menor frequência ainda podiam acrescentar um quarto nome, ou novo cognomen, que era chamado de agnomen, para diferenciar ainda mais uma pessoa de outra. Geralmente, era o próprio cidadão romano que assumia mais este nome por livre e espontânea vontade. Assim, no século III A.C. temos o nome Marcus Porcius Cato Censorius, onde o agnomen Censorius (censor) foi acrescentado para distingui-lo de seus descendentes da época de Júlio César do século I A.C.

Como exemplo de nomes completos dos antigos cidadãos, podemos citar o nome completo de Cicero, o famoso escritor e orador romano, que viveu entre os anos 106 a 43 A.C. , que era assim: Marcus Tullius Cicero onde o praenomen é Marcus, o nomen derivado do gens ou família Tullia e Cicero é o cognomenpróprio do escritor ou da família em âmbito menor, inserida no grande clã chamado gens Tullia. Nesse nome Cicero é um apelido derivado de cicer, ciceris que queria dizer grão de bico ou figurativamente, que tinha uma verruga. Outro exemplo como um apelido podia se fixar e se transformar em um verdadeiro sobrenome: Calígula era o apelido de um imperador romano, que viveu entre o ano 12 D.C. e 41 D.C., um diminutivo da palavra sandália, usada pelos soldados romanos, que era denominada de caligae ou caliga. O seu nome era Caius Caesar Germanicus, mas ficou conhecido por Calígula. 

Por volta do século V a distinção entre nomen e cognomen foi gradativamente se reduzindo e surge o chamado supernomen, ou signun. Era um nome único, de procedência não por hereditariedade, mas, ao mesmo tempo claro e de imediata compreensão.

No século VIII surgiu uma fórmula para fazer a distinção de um indivíduo de outro, que era citando o nome do pai, na expressão latina filius de. Ela pode ser vista na maioria dos textos e documentos da época. Como exemplo temos: Paulus figlius Alberti (ou seja Paulus filho de Alberti). Logo a seguir surgiu também a expressão latina filius quondam, que quer dizer filho do finado fulano de tal. 
O cristianismo e as invasões dos bárbaros contribuíram para difusão de novos nomes que por sua vez, sobretudo, pela quantidade tão vasta de opções, que não deixavam margem a confusões para os indivíduos serem diferenciados. 

Com o passar dos anos, já entre os séculos X e XI, por causa do grande crescimento da população, ficava cada vez mais difícil para se distinguir uma pessoa da outra. Se tornou necessário, mais uma vez, se distinguir entre os o indivíduos com o mesmo nome pessoal e todos aqueles pertencentes a mesma descendência. Nesse momento nasceu o sobrenomemoderno que podia ser originado do nome paterno ou materno, do lugar de proveniência, do trabalho e profissão que tinham. 
No início o uso desse sistema era utilizado somente pelas famílias mais ricas, mas, a partir do século XIII e XIV se popularizou por toda a parte. 

Com o Concílio de Trento, no ano de 1564 ficou estabelecido que os padres deviam manter um registro organizado e ordenado dos batismo nas suas paróquias, usando o nome e o sobrenome do recém nascido. À partir de então o sobrenome passou a ser hereditário. Este procedimento também tinha como objetivo evitar casamentos consanguíneos.


Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS