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segunda-feira, 6 de novembro de 2023

Tragédia no Mar: O Naufrágio do Navio Sirio com Emigrantes a Bordo

 

Naufrágio do Navio Sirio


O navio partiu de Gênova em 2 de agosto de 1906 com destino a Buenos Aires com escala em Barcelona, ​​Cádiz, Gran Canaria, Cabo Verde, Rio de Janeiro, Santos e Montevidéu. Depois de embarcar outros passageiros, o navio deixou a capital catalã com destino a Cádiz ainda na Espanha.

Em 4 de agosto, o navio passou em frente ao Cabo Palos, na costa mediterrânea espanhola.  Neste ponto, o promontório se estende sob a água para, em seguida, emergir novamente para formar as pequenas Ilhas Hormigas (Formigas). 

A profundidade da água na linha ideal que une o cabo a essas ilhotas pode ser muito rasa, atingindo em algumas áreas, chamadas de baixios, apenas três ou quatro metros. As rotas marítimas da época então se desviaram das ilhas para evitar o perigo de colidir com elas. Também acima de Capo Palos, um grande farol já tinha sido construído em 1864, que alertava para o perigo desta costa.

No dia 4 de agosto de 1906, por volta das quatro da tarde, o navio, navegando com força total, encalhou perto do Cabo Palos, por manter um curso muito próximo da costa. A proa foi vista subindo violentamente da água devido à alta velocidade. Este é o depoimento do comandante do navio francês Maria Louise, que presenciou o acontecimento e participou dos trabalhos de resgate:

"Vi passar o vapor italiano Sirio a todo vapor. Falei da sua passagem ao colega de bordo quando observei que havia parado de repente ... Vi a proa subir, afundar a popa. Não havia mais dúvidas: o Sirius havia sofrido uma colisão. Imediatamente mandei Marie Louise ser direcionada para Sirius. Ouvimos então uma explosão violenta: as caldeiras estouraram. Pouco depois vimos cadáveres nas ondas, ao mesmo tempo gritos desesperados de socorro chegavam aos nossos ouvidos". 

Os botes salva-vidas foram colocados fora de serviço pelo impacto violento, enquanto muitos passageiros foram atirados ao mar e se afogaram. Segundo o depoimento de um passageiro, o engenheiro Maggi, a água entrou nas cabines da primeira classe, invadiu então o corredor direito e por fim o espaço ao redor da escotilha de ré e o corredor à direita da casa de máquinas. 

Nesta área do navio haviam inúmeras mulheres e crianças que ficaram presas sem poder sair e sem poder ser resgatadas. A tripulação lançou uma jangada ao mar, que ficava na popa, e saiu do navio junto com o terceiro imediato, que se chamava Baglio. Apenas os oficiais permaneceram a bordo, mas logo perderam o controle da situação. O jornal L'Esare, de Bagni di Lucca, assim relatou:

"As lanchas foram atiradas ao mar, mas logo se encheram de tantas pessoas mas, devido ao peso excessivo, as fizeram afundar e assim todos os infelizes que ali caíram em vez da salvação encontraram a morte. A costa ficava a 3 quilômetros de distância do vapor e das rochas que ultrapassavam a água cerca de um quilômetro e meio. Vinte e cinco ou trinta homens salvaram-se nadando até as rochas onde permaneceram todo o dia e a noite seguinte, sem nada para comer".


Página da edição dominical La Domenica del Corriere, do jornal 
Corriere della Sera 


O jornal Corriere della Sera relatou que:

“A primeira sensação de espanto degenerou em um piscar de olhos em um pânico louco, produzindo uma confusão indescritível. Os passageiros, correndo loucamente e gritando desesperadamente, tornaram o trabalho de resgate impossível. "

Como o acidente ocorreu em plena luz do dia e a poucos quilômetros da costa, as equipes de resgate partiram imediatamente. Alguns barcos de pesca como o Joven Miguel e o Vicenza Llicano partiram de Cabo Palos e fizeram o possível para resgatar os náufragos. 

O comandante do Joven Miguel, Vicente Buigues, trouxe o seu navio para o costado do Sírio e assim embarcou trezentos náufragos. O Joven Miguel, porém, não tinha carga a bordo e a presença de tantas pessoas no convés colocava em risco sua estabilidade e, assim, poderia tombar. Apesar dos apelos, os passageiros do Sirio não queriam descer do convés e foi necessário ameaçá-los com uma arma para fazê-los obedecer. 

O alívio também foi proporcionado por dois navios a vapor que, naqueles mesmos minutos, contornavam o Cabo Palos: o francês Marie Louise e o austro-húngaro Buda.


Navio a Vapor (piroscafo) Sirio


Jornais britânicos, como o Daily Telegraph, insistiram em cenas de violência e brigas de faca para conseguir os poucos coletes salva-vidas disponíveis. Uma crônica da época conta que a maioria dos tripulantes conseguiu escapar simplesmente porque permaneceram no navio que, estando encalhado, permaneceu flutuando por mais dez dias.

As vítimas foram estimadas inicialmente em 293 pessoas para depois chegar a um total final de mais de 500 passageiros e tripulantes.  Devido à presença a bordo de inúmeros imigrantes ilegais, nunca foi possível estabelecer quantas pessoas realmente embarcaram no Sirius e quantas se afogaram. Entre as vítimas do naufrágio estava o bispo de São Paulo no Brasil, José de Camargo Barros. 

Os sobreviventes do Sírio foram hospedados na cidade vizinha de Cartagena. Os que decidiram seguir rumo à América do Sul embarcaram na Itália e Ravenna, enquanto os que desejavam voltar à Itália embarcaram no Orione.

As investigações sobre o acidente foram imediatamente abertas e eles verificaram que o capitão Giuseppe Piccone dirigiu as operações de resgate com bom senso e julgamento e foi o último a ser salvo. As primeiras notícias veiculadas pelos jornais da época indicam, ao invés, um comportamento inadequado do capitão e da tripulação que levaram ao naufrágio.


Navio Sirio pouco tempo antes do naufrágio


A imprensa espanhola também denunciou que o Sirio costumava fazer escalas não oficiais ao longo da costa ibérica para embarcar passageiros clandestinos. Na verdade, estes eram conduzidos para baixo da lateral do navio por barcos improvisados ​​e depois transbordados. Isso explicaria por que o Sirius estava navegando tão perto da costa.

Em Capo Palos, um museu foi dedicado ao naufrágio do Sirius. Ele também exibe os folhetos que possibilitaram a entrada de imigrantes ilegais no navio nas escalas extras.

Os restos mortais do Sirius repousam em grande profundidade nos arredores do Cabo. A popa está a cerca de 40 metros de profundidade, enquanto a proa a cerca de 70 metros. Após ser declarada Reserva Marinha de Capo de Palo e das Ilhas Formigas, em 1995, a atividade de mergulho na área é limitada, e para uma visita, é necessária a autorização do "Conselho do Meio Ambiente do Governo Regional de Murcia".



Dr. Luiz Carlos Piazzetta

Erechim RS


segunda-feira, 9 de abril de 2018

O Naufrágio do Vapor Sirio



O vapor Sirio, de propriedade da companhia Navigazione Generale Italiana, zarpou do porto de Gênova no dia 2 de Agosto de 1906 para mais uma viagem transatlântica rumo ao Brasil, Uruguai e Argentina, levando uma grande quantidade de emigrantes italianos. A bordo estavam 1.418 passageiros, na grande maioria emigrantes, que lotavam a terceira classe, com os seus 1.290 lugares, localizada nos porões da embarcação, abaixo da linha d’água. 
No dia 04 do mesmo mês ao passar por Cabo Palos, uma porção de terra pertencentes à Espanha, vizinha da Isla Hormiga, local cartografado desde muitos séculos, conhecido pelos seus perigosos baixios, bateu nas rochas submersas, seguindo-se uma forte explosão das suas caldeiras. Mais tarde veio a afundar completamente.
Toda a cena foi presenciada pelo comandante do vapor francês Marie Louise, que navegava muito próximo e rapidamente ajudou no salvamento dos náufragos, que foram jogados violentamente ao mar, devido a violência do impacto. 
De acordo com declarações de sobreviventes, muitos passageiros, na maioria mulheres e crianças, ficaram presos em uma parte do barco que se inundou rapidamente, e com a forte pressão da água do mar que entrava, não conseguiram mais sair e nem serem socorridos. Morrem afogados.
Os barcos salva vidas que conseguiram ser jogados ao mar, se encheram rapidamente e também não foram suficientes para recolher o grande número de náufragos que sobreviveram ao impacto das explosões. Cerca de vinte e cinco ou trinta homens conseguiram se salvar, nadando até alguns destroços flutuantes da embarcação e foram retirados do mar no dia seguinte. 
Declarações de sobreviventes dão conta que passado os primeiros momentos de espanto, logo após o grande impacto da embarcação com as rochas, os passageiros foram tomados de pânico, gritando desesperadamente, correndo enlouquecidos pelo navio, rapidamente se instalando uma confusão generalizada que tomou conta do barco, impedindo os trabalhos de salvamento.
Além do vapor francês também se aproximaram outros barcos, como o Jovem Miguel, que ao encostar no navio naufragado, conseguiu salvar trezentas pessoas. 
As vítimas chegaram a um total de 500 passageiros e entre eles estava o bispo de São Paulo Don José de Camargo Barros. 
No Cabo Palos, vizinho ao local do acidente, hoje um parque de preservação marinha, foi construído um museu para lembrar aquele naufrágio, onde estão expostos alguns objetos pessoais e equipamentos do navio. 
Uma canção, por sinal muito triste, ainda é cantada até hoje nos encontros culturais nas antigas colônias italianas do Rio Grande do Sul, dedicada ao naufrágio do Sirio e a grande perda de vidas humanas. 

Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS