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quinta-feira, 6 de outubro de 2022

O Brasil Italiano


 

Com base em dados estatísticos do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), mais de um milhão de italianos emigraram regularmente para o Brasil antes do ano de 1900. 

Nos cinquenta anos que se seguiram, mais de um milhão de outros italianos se dirigiram para o nosso país em busca de trabalho e uma vida melhor. Esse grande número de italianos no Brasil colocou o país como o maior destino dos emigrantes italianos. 

Conforme estimativas, consideradas modestas, das autoridades italianas, vivem atualmente no Brasil mais de 25 milhões de descendentes de emigrantes italianos. Calcula-se que hoje em dia São Paulo seja a segunda mais populosa cidade italiana do mundo, depois de Roma. 

Os estados brasileiros que mais receberam os emigrantes italianos foram os estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e também os estados de São Paulo, Espírito Santo e Minas Gerais. 

Nos primeiros anos da emigração as condições do transporte marítimo dos emigrantes era muito precário. Navios lentos, com muitos anos de uso no transporte de mercadorias, carvão e minérios, foram rapidamente mal adaptados para o transporte de seres humanos. As condições de vida a bordo eram muito precárias, sobretudo pela superlotação de passageiros, muito acima da capacidade legal. As acomodações coletivas eram deficitárias, com falta de ventilação adequada nos compartimentos, onde a falta de higiene e a promiscuidade se faziam notar depois de alguns dias de viagem. Em muitas ocasiões a falta de comida suficiente a bordo foi a reclamação mais ouvida desses emigrantes ao desembarcarem.

Não é de estranhar que muitos desses antigos navios, que não passavam de velhas sucatas prestes a serem aposentadas, sem passarem por revisões a muito tempo, não aguentassem as duras condições da viagem e afundassem com toda a sua carga de passageiros. Milhares deles que tentavam a sorte no Novo Mundo tiveram as suas vidas ceifadas, encontrando o seu fim no fundo do oceano.

A superlotação a bordo aumentava muito o risco de transmissões de doenças infecciosas graves, que acometiam os mais débeis, como os idosos e as crianças. Vários casos de sérias epidemias surgidas durante a travessia do oceano causaram milhares de mortes. 

Quando um navio chegava ao porto do Rio de Janeiro, se tivessem ocorrido doenças epidêmicas a bordo com mortos, ele não recebia a permissão de atracar. Devia ficar fundeado alguns quilômetros longe do porto esperando a visita da inspeção sanitária do porto. Caso não recebesse a permissão obrigatória para atracar, o comandante deveria imediatamente empreender a viagem de volta ao porto de origem, com toda a sua carga de passageiros, para a grande frustração dos emigrantes que, vendo a terra prometida tão próxima, não puderam desembarcar. Para a viagem de retorno o navio era totalmente desinfetado e reabastecido com medicamentos, alimentos e água, levados até ele por um pequeno barco da capitania do porto. 

O cólera e o tifo eram e são ainda duas doenças transmissíveis muito graves, mas, que naquela época ainda não tinha um tratamento eficiente. A facilidade de propagação e os altos índices de letalidade causavam muito medo nas autoridades das cidades portuárias de todo o mundo, que com essa drástica medida, impediam a propagação e contaminação das enfermidades pelos passageiros. Essa era a conduta então usada em todos os portos do mundo e não só no Brasil.

Entre os muitos navios que zarparam da Itália para o Brasil, lembramos a trágica viagem do vapor Sirio. Era o ano 1906 quando aconteceu o desastre. O Sirio tinha capacidade nominal de embarcar 1500 passageiros, dos quais 1.300 na terceira classe, mas era praticamente só utilizado para o transporte de emigrantes, muitos deles ilegais e em número superior ao permitido.

O navio partiu de Genova no dia 2 de agosto de 1906 para fazer o trajeto Brasil, Uruguai e Argentina. Em 4 de agosto o navio se encontrava perto do Cabo Palos, na costa mediterrânea da Espanha, entre as pequenas ilhas Hormigas. Devido a um erro do comandante não se afastou o suficiente da costa, para evitar as grandes pedras já mapeadas. 

O violento choque abriu um rombo no casco pelo qual rapidamente entrou a água do mar, causando a explosão as caldeiras e aos poucos afundando parcialmente o navio, pois estava encalhado nas pedras. 

A rapidez da entrada da água causou a morte de muitos passageiros dentro da embarcação,que não conseguiram ser resgatados com vida pelas tripulações dos navios que rapidamente acudiram o pedido de socorro do Sirio. Estimou-se que mais de 500 passageiros morreram nessa tragédia, entre eles o bispo de São Paulo, Dom José de Camargo Barros, então com 48 anos de idade que estava retornando de Roma. Também pereceram: o Prior da Ordem dos Beneditinos de Londres e oito missionários que vinham para o Brasil. Também morreu no desastre o cônsul da Áustria no Rio de Janeiro, Leopoldo Poltzer.
Uma canção popular italiana da época, ainda cantada com tristeza pelos descendentes de italianos nos seus encontros, descreve em sua letra a história do Sirio:




Il Sirio

E da Genova il Sirio partiva
Per l’America il suo destin
Ed a bordo cantar si sentiva
Tutti allegri varcando il confin

Il quattro agosto le cinque di sera
Nessuno vedeva il rio destin
Urtava il Sirio terribile scoglio
Di tanta gente la misera fin

Tra i passeggeri un vescovo c’era
Come tutti aveva l’angoscia nel cuor
Porgeva aiuto e molto amoroso
E dando a tutti la benedizion

Si sentivano le grida strazianti
Padri e madri tra l’onde invocar
Abbracciavano i cari lor figli
E sparivano tra l’onde del mar




Texto 
Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS




segunda-feira, 9 de abril de 2018

O Naufrágio do Vapor Sirio



O vapor Sirio, de propriedade da companhia Navigazione Generale Italiana, zarpou do porto de Gênova no dia 2 de Agosto de 1906 para mais uma viagem transatlântica rumo ao Brasil, Uruguai e Argentina, levando uma grande quantidade de emigrantes italianos. A bordo estavam 1.418 passageiros, na grande maioria emigrantes, que lotavam a terceira classe, com os seus 1.290 lugares, localizada nos porões da embarcação, abaixo da linha d’água. 
No dia 04 do mesmo mês ao passar por Cabo Palos, uma porção de terra pertencentes à Espanha, vizinha da Isla Hormiga, local cartografado desde muitos séculos, conhecido pelos seus perigosos baixios, bateu nas rochas submersas, seguindo-se uma forte explosão das suas caldeiras. Mais tarde veio a afundar completamente.
Toda a cena foi presenciada pelo comandante do vapor francês Marie Louise, que navegava muito próximo e rapidamente ajudou no salvamento dos náufragos, que foram jogados violentamente ao mar, devido a violência do impacto. 
De acordo com declarações de sobreviventes, muitos passageiros, na maioria mulheres e crianças, ficaram presos em uma parte do barco que se inundou rapidamente, e com a forte pressão da água do mar que entrava, não conseguiram mais sair e nem serem socorridos. Morrem afogados.
Os barcos salva vidas que conseguiram ser jogados ao mar, se encheram rapidamente e também não foram suficientes para recolher o grande número de náufragos que sobreviveram ao impacto das explosões. Cerca de vinte e cinco ou trinta homens conseguiram se salvar, nadando até alguns destroços flutuantes da embarcação e foram retirados do mar no dia seguinte. 
Declarações de sobreviventes dão conta que passado os primeiros momentos de espanto, logo após o grande impacto da embarcação com as rochas, os passageiros foram tomados de pânico, gritando desesperadamente, correndo enlouquecidos pelo navio, rapidamente se instalando uma confusão generalizada que tomou conta do barco, impedindo os trabalhos de salvamento.
Além do vapor francês também se aproximaram outros barcos, como o Jovem Miguel, que ao encostar no navio naufragado, conseguiu salvar trezentas pessoas. 
As vítimas chegaram a um total de 500 passageiros e entre eles estava o bispo de São Paulo Don José de Camargo Barros. 
No Cabo Palos, vizinho ao local do acidente, hoje um parque de preservação marinha, foi construído um museu para lembrar aquele naufrágio, onde estão expostos alguns objetos pessoais e equipamentos do navio. 
Uma canção, por sinal muito triste, ainda é cantada até hoje nos encontros culturais nas antigas colônias italianas do Rio Grande do Sul, dedicada ao naufrágio do Sirio e a grande perda de vidas humanas. 

Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS