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domingo, 16 de junho de 2024

Fatos da Velhice e da Morte nas Colônias Italianas do Rio Grande do Sul


 

Na vivência da velhice e na confrontação com a morte nas colônias italianas do Sul do Brasil, os desafios eram abundantes. Nas colônias da Serra Gaúcha, as condições de vida se mostravam precárias, com os imigrantes habitando casas rudimentares e muitas vezes para sobreviver, sendo submetidos a trabalhos compulsórios, como a abertura de estradas.
Além disso, as comunidades italianas enfrentavam inúmeras epidemias e doenças, frequentemente relacionadas à falta de infraestrutura e à proximidade com áreas de mata virgem, o que contribuía para a elevada taxa de mortalidade, especialmente a infantil e acidentes de trabalho fatais.
Estavam isolados em grandes áreas de terra onde a ausência de estradas, de meios de transporte e estabelecimentos comerciais adequados também representavam um grande desafio, dificultando o acesso a serviços essenciais e a comunicação com outras regiões.
Os imigrantes italianos encontravam significativas dificuldades ao se estabelecerem em um novo país, tendo que assimilar a língua, as leis e os costumes brasileiros, além de enfrentarem o distanciamento dos laços familiares e sociais na Itália. A saudade dos entes queridos que lá ficaram era motivo de muitos desistirem do sonho.
Apesar dessas adversidades, a imigração italiana deixou um legado cultural marcante no Sul do Brasil, como a criação da língua vêneto brasileiro, ainda preservado em quase todas as  comunidades de descendentes italianos.
A integração dos imigrantes italianos à política local foi um processo complexo, marcado por sentimentos de isolamento em relação às autoridades brasileiras e receios de envolvimento em conflitos políticos, com a Igreja Católica desempenhando um papel significativo nesse processo.
Esses aspectos ressaltam que a experiência da velhice e da morte nas colônias italianas do Sul do Brasil foi marcada por uma complexa teia de desafios e dificuldades, entrelaçada com uma valiosa contribuição cultural e uma persistente busca por estabelecer-se em uma nova terra.
Nas comunidades italianas em geral, e particularmente nas vênetas, os idosos eram respeitados e influentes, sendo comum que filhos e netos solicitassem suas bênçãos como gesto de reverência.
Ao contrário do nascimento, a morte era encarada como um evento extraordinário, permeado de solenidade e envolto em diversas superstições. Os mais velhos, ao se aproximarem desse momento derradeiro, o encaravam com serenidade, convictos de terem cumprido seu dever na vida.
Diante de doenças prolongadas, a comunidade se mobilizava para prestar assistência à família enlutada, com vizinhos e amigos revezando-se para cuidar do enfermo, e em alguns casos membros voluntários da comunidade religiosa oferecendo-se para auxiliar no cultivo e colheita nas terras do enfermo.
Nas colônias italianas no Sul do Brasil, os anciãos enfrentavam um cenário desafiador, compartilhando das mesmas condições de habitação dos demais colonos, com escassez de transporte e acesso limitado a serviços essenciais de saúde, o que os tornava vulneráveis às enfermidades e dificultava o atendimento de suas necessidades.
Não existiam instituições específicas para o cuidado dos idosos nesse contexto de colonização, o que os fazia depender do apoio familiar e comunitário para suprir suas demandas na velhice.
Em suma, a experiência da velhice nas colônias italianas do Sul do Brasil era caracterizada por desafios, carência e ausência de suporte especializado. Os idosos compartilhavam das mesmas agruras dos demais colonos, enfrentando as adversidades impostas pelo ambiente hostil e pela infraestrutura limitada.
À medida que a morte chegava, era comum que os familiares se aproximassem do leito para pedir perdão ao moribundo por eventuais desavenças ocorridas ao longo da vida. Velas eram acesas, água benta era espalhada pela casa, e parentes e amigos se reuniam em oração.
Após o falecimento, o corpo era cuidadosamente lavado e vestido com as melhores roupas e calçados disponíveis. Manter os olhos do falecido fechados era crucial, e qualquer desvio disso era considerado um mau presságio.
O velório ocorria inicialmente no próprio leito de morte, posteriormente transferido para um suporte improvisado enquanto o caixão era preparado pelo carpinteiro local. Durante esse período, entre orações e cânticos religiosos a comunidade se unia em uma última homenagem, oferecendo conforto e apoio à família enlutada.
O funeral era conduzido até a igreja local, caso já existisse, onde um breve serviço religioso era realizado. Quando ainda não haviam padres, o ofício era presidido por um dos vizinhos mais apto para essa tarefa. Posteriormente, o cortejo seguia até o cemitério, onde os presentes prestavam suas derradeiras homenagens ao falecido.
O período de luto variava de acordo com o grau de parentesco com o falecido, com durações específicas estabelecidas para filhos, irmãos e primos. Durante todo esse período, era costume vestir roupas escuras e abster-se de participar de festividades.
Naquela época, os fotógrafos eram escassos e seus serviços muito caros na zona colonial italiana do Rio Grande do Sul. Quando ocorria um falecimento, especialmente de alguém que não havia sido fotografado anteriormente, era comum que o fotógrafo fosse chamado para registrar o momento, muitas vezes capturando a cena do falecido dentro do caixão, cercado pela família. Com o passar dos anos, os casamentos tornaram-se oportunidades para registrar momentos importantes, com retratos pintados à mão emoldurados nas paredes das casas, documentando a vida e as celebrações da comunidade.
Nas colônias italianas no Rio Grande do Sul, algumas crenças e práticas supersticiosas relacionadas à morte, ao enterro e ao tratamento do defunto eram amplamente difundidas:
Diziam que não se devia costurar roupa no corpo de uma pessoa, pois isso poderia levar à sua morte iminente; apenas a mortalha do defunto deveria ser costurada. Se houvesse necessidade de realizar a costura, era aconselhável fazê-lo dizendo: "eu te coso vivo e não morto".
Acreditava-se que dormir com os pés virados para a porta da rua era um presságio de morte iminente. Também se afirmava que um doente que mudasse de cabeceira na cama estava próximo da morte. Outra superstição era a de que dormir sobre a mesa atraía a morte.
Nos cemitérios, havia um esforço em perpetuar a memória e a saudade dos mortos, de modo que de alguma forma continuassem presentes no cotidiano dos vivos. Os memoriais construídos à beira da estrada por familiares ou amigos das vítimas de acidentes também simbolizavam essa necessidade constante de lembrar aqueles que partiram.