Hábitos Sociais dos Vênetos na Zona Rural do Rio Grande do Sul
Entre os importantes hábitos sociais
cultivados pelos imigrantes vênetos que colonizaram as terras gaúchas, estava o
do "filò", que era um encontro fraternal entre os componentes de
famílias vizinhas, que tinha início com o cair da noite, após uma jornada dura
de trabalho no campo. Era um momento para o relaxamento e descontração, que
unia jovens e velhos de ambos os sexos. Este hábito, que foi trazido da Itália,
servia como um momento de ajuda recíproca com a troca de informações pessoais e
coletivas, de confidências e conselhos sobre a saúde, o andamento da plantação
e das colheitas. Era o espaço em que se podia saber das novidades ocorridas com
as famílias vizinhas, tanto as boas como também aquelas tristes. Este encontro
informal ocorria cada vez na casa de um vizinho, sempre nas estrebarias, junto
com o gado, que com o seu calor aquecia o ambiente, assim como se fazia por
séculos nas terras de origem, deixadas para trás com a emigração. Cantavam se
estavam alegres, jogavam, contavam histórias e ao mesmo tempo faziam pequenos
trabalhos manuais, em que todos participavam. As mulheres, enquanto falavam,
faziam cestas, bolsas, estas chamadas de "sporte" e chapéus com a
palha entrelaçada - la dressa - para uso da família e à vezes também para serem vendidos
no mercato mais próximo. Nos dias de inverno também faziam trabalhos com a lã,
como o tricot ou remendavam as roupas da família. As moças que pretendiam se
casar e aquelas já noivas, aproveitavam para fazer o próprio enxoval. Sempre
era servido alguma coisa para comer e beber, conforme a estação do ano. Cada
família levava alguma coisa de casa, aquilo que podia, e juntos, dividiam alegremente. O filó
era também o momento esperado, em que os rapazes e moças travavam conhecimento
e começavam fortuítos namoros, início da maioria dos casamentos daquela época. O
filó foi também a maneira encontrada pelas coletividades de imigrantes para,
com o estar juntos reunidos, poderem mitigar o sofrimento e as saudades da
terra natal, dos parentes e amigos deixados para trás com a radical mudança de
vida causada pela emigração. Com esses encontros firmava-se cada vez mais o
sentimento de pertencer a uma comunidade e isso criava as condições para a
fixação e o enraizamento daqueles imigrantes. Juntamente com a forte e decisiva
presença feminina, os filós muito concorreram para o sucesso alcançado pela
imigração vêneta e italiana em solo gaúcho.
Dr. Luiz Carlos B.
Piazzetta
Erechim RS