quarta-feira, 9 de setembro de 2020

Emigração Italiana no Paraná

Igreja da Colônia Italiana de Nova Itália

No ano de 1875 chegaram os primeiros italianos na Província do Paraná. Eles eram constituídos por famílias de vênetos e foram destinados às colônias imperiais recém criadas de Morretes e Antonina, localizadas próximas de Paranaguá. Essas colônias foram idealizadas dentro de um grande projeto imperial de imigração,  que pretendia trazer milhares de famílias italianas para serem assentadas na região. Grupos de corretores, terceirizados por uma companhia de imigração constituída a propósito, que havia ganho a indicação imperial para a prestação deste serviço,  passaram a percorrer as vilas e cidades mais afetadas pelo grande desemprego que assolava a Região do Vêneto em particular e a Itália em geral, naquele período situado nos últimos 25 anos do século XIX. 



Distribuíam panfletos e visitavam os locais onde se reuniam os camponeses diaristas à espera de trabalho, como pontos de reunião, praças, bares, igrejas, festas paroquiais e, com muita conversa mas também com inúmeras  promessas, exageradas e quase sempre não verdadeiras, conseguiam com facilidade convencer aqueles mais desesperados a empreenderem a longa viagem. Milhares deles respondiam quase prontamente, assinando o devido contrato. Outros os levavam para casa, junto com os panfletos de propaganda, para junto da família decidirem qual o caminho que deveriam tomar. No entanto estavam decididos a mudar de vida, pois, aquela que estavam vivendo não poderiam continuar por mais tempo. 

Carroças com Imigrantes Italianos levando produtos agrícolas para Curitiba 

O desemprego atingia cada vez mais trabalhadores camponeses e pequenos artesãos e a fome já rondava há tempo os lares mais pobres em todo o Vêneto. O recrutamento era uma atividade legal, estimulada quase sempre pelo governo italiano para evitar a explosão que se aproximava . A companhia de emigração tinha a autorização para funcionar, e mesmo, falar em nome do governo imperial brasileiro. As autoridades italianas faziam vista grossa, pois, a situação era de calamidade. Foram muito poucos, aqueles que levantaram a voz pedido a interrupção da liberdade para emigrar. Eram especialmente os produtores rurais donos de terras e mais alguns políticos, aqueles que viam na emigração um mal maior para o país.  Evidentemente que estavam falando em causa própria, pois, com a saída de uma grande parte da população os deixaria sem aquela mão de obra barata e de fácil contratação que estavam acostumados. A Igreja em geral apoiava os esforços para liberação da emigração e, em muitos casos, também dela participou em várias paróquias, onde os sacerdotes partiram junto com os seus fiéis em busca de uma nova vida em terras distantes. 

Igreja Matriz Santa Felicidade início século XX

As Colônias Italianas de Alexandra e a de Nova Itália, localizadas nas regiões de intorno a Morretes e Antonina, tiveram inúmeros problemas, desde o início da instalação, que desiludiram e irritaram a maioria dos imigrantes, os quais chegaram a se rebelar contra as suas administrações. Estes acontecimentos influíram decisamente na vida dos primeiros imigrantes vênetos assentados na Província do Paraná. 

Os problemas surgidos  nessas duas colônias foram sobretudo, decorrentes da má administração dos funcionários da companhia de imigração encarregados em zelar no bem estar dos recém chegados. As precárias instalações colocadas à disposição das famílias; a comida que era servida, escassa e até totalmente  desconhecida pelos imigrantes; o clima de litoral  encontrado na região, muito quente e úmido, era diferente do que eles estavam acostumados nas suas terras natal; a má qualidade da terra e os tipos de culturas que eram obrigados a cultivar, que não estavam habituados, foram, entre outros, o motivo que levou ao fim dessas colônias italianas no Paraná. 

Igreja Matriz de Colombo 

A maioria dos imigrantes foi remanejada para terras férteis próximas da capital paranaense, onde desde 1872 já se encontravam outros imigrantes. Também, aqueles imigrantes trabalhadores do campo e os pequenos artesãos que tinham trazido consigo algum dinheiro, geralmente este obtido da venda dos poucos bens que deixaram na Itália, reuniam-se em grupos e adquiriam, por conta própria, terrenos bem situados na periferia de Curitiba e ali se instalavam constituindo uma comunidade. Da venda da produção agrícola desses lotes tiravam o sustento para as famílias, com a venda de produtos hortifrutigranjeiros comercializados por toda a Curitiba. 


Os artesãos logo conseguiam trabalho abrindo oficinas e negócios por conta própria ou trabalhando como operários nas indústrias da capital. Essas colônias se tornaram o ponto de partida para o surgimento de inúmeros importantes bairros curitibanos como: Santa Felicidade, Água Verde (colônia Dantas), Colombo (colônia Alfredo Chaves), Umbará, São José dos Pinhais, Araucária, Campo Largo, Piraquara (colônia de Santa Maria do Novo Tirol da Boca da Serra) e em algumas cidades vizinhas como Cerro Azul (colônia Assunguy) colônia de origem mista, criada em 1860, com recursos próprios da Província do Paraná. 

Colombo

Segundo as estatísticas, no início do século XX, no ano de 1900, viviam no estado do Paraná uma população de mais de trinta mil italianos, espalhados por 14 colônias somente de italianos e em mais 20 outras com população mista com imigrantes de outras procedências. 

Colônia Faria 1888 - Colombo 

Uma outra original colônia italiana no Paraná foi criada em 1890, no atual município de Palmeira, quando um grupo de italianos com ideal libertário, mobilizados por Giovanni Rossi, criaram a primeira experiência anarquista no Brasil. Nos quatro anos que durou a vida dessa colônia chegou a ter uma população de 250 pessoas. Ela tinha uma área de 80 alqueires de terra, doadas pelo Imperador D. Pedro II, pouco antes da Proclamação da República. O fim do experimento anarquista da Colônia Cecília se deu por motivos econômicos e sócio culturais. 


Dr. Luiz Carlos Piazzetta

Erechim RS